Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 10
O sentido real


Notas iniciais do capítulo

Heey!

Sejam bem vindos os novos leitores! ♥ *-*

Boa Leitura!



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Meu esforço para entender o que acontecera comigo na conversa de Alby, Minho, Thomas e Newt era cansativo. Eu só me lembrava de ter desejado ver os mapas e depois de estar no chão com meu coração batendo muito forte. Havia um grande espaço entre isso, um espaço onde certamente algo havia acontecido. Eles disseram que eu não falara nada por muito tempo até cair e fiquei frustrada com isso; qualquer coisa que eu tivesse balbuciado atiçaria as minhas lembranças agora.

 E o que aumentava meu desejo de lembrar era um estranho fenômeno que passou a acontecer comigo.

  — Se machucou? — Newt disse abaixado com Thomas na minha frente. No mesmo instante em que sua voz chegou aos meus ouvidos, vi uma linha amarela brilhante serpenteando pelo chão. Olhei para ela, mas havia sumido. Corri os olhos ao redor da Cozinha e pisquei algumas vezes para ter certeza de que não estava alucinando. — Nelly?

 Ela apareceu de novo, junto a uma mancha luminosa da mesma cor que oscilou uma vez no ar, e então sumiram. Apertei os olhos com mais força e tornei a olhar em volta.

  — Não é melhor chamar Jeff e Clint? — Thomas disse, e desta vez foi uma linha marrom que dançou no ar por brevíssimos segundos. Involuntariamente, eu sorri. Por alguma razão me senti feliz em ver aquilo.

 Minutos após ter me levantado do chão, eu ouvia e sentia tudo de um modo muito mais claro, literalmente. Os sons ao meu redor sempre associavam-se com cores. O sotaque de Newt trazia a cor amarela à minha mente, diferente das vozes dos outros Clareanos, que alternavam-se entre tons de marrom, todos sem nenhuma razão que eu conseguisse entender.

 Meu cérebro passou a relacionar cada lugar da Clareira com uma temperatura, e eu conseguia ter uma sensação mais forte de frio no Campo-Santo do que em qualquer outro lugar. Os raros latidos de Tagarela colocavam cores fluorescentes perante os meus olhos, por isso passei a odiá-los; era irritante e doía a minha visão. Por outro lado, sempre que o via caminhar ou correr, uma linha tênue de luz azul-esverdeada o circundava e apenas pensar nele o relacionava a essa cor.

 Era uma verdadeira mistura de sentidos no meu cérebro, mas tudo parecia ter muito mais coerência agora. Talvez fosse pela minha intuição de Socorrista ou o sentimento de familiaridade que eu tinha, mas tudo isso soava muito habitual. Parecia até melhor assim.

 Apesar disso, não comentei com ninguém. Já bastava tudo de estranho que acontecia, eu não precisava fazer esse fenômeno mental parecer ser anormalidade quando não era.

 Eu estava sentada num tronco em frente aos Jardins no dia seguinte. Meu facão estava fincado num vão entre duas rochas do chão, enquanto eu trançava uma mecha do meu cabelo, na tentativa de arranjar outra mania inconsciente que não fizesse meu lábio sangrar. Não estava adiantando; precisei puxar-me duas vezes dos pensamentos frustrantes sobre o ocorrido para perceber que estava trançando errado.

  — Melhor deixar isso para lá. — Newt disse ao se aproximar de mim e sentar ao meu lado. Ele estava calçando luvas grossas e seu rosto tinha pequenos e finos cortes. Seu cheiro me lembrava a cor verde. E lembrei-me de achar tê-lo visto trabalhando com outros Clareanos no Campo-Santo também. — Thomas vive tendo umas lembranças que fogem dele antes que façam sentido.

  — Não... Foi diferente... Tenho certeza disso, eu não teria caído se fosse simples assim. O que foi que eu disse? Só o seu nome...?

 Ele assentiu com a cabeça e mais nada. Era tão frustrante tamanha falta de controle da minha mente. Aquilo me confundia demais. Virei o rosto para o lado oposto e abracei minhas pernas.

  — Eles vão me pagar tão caro, Newt... Cara... — sussurrei tão baixo que ele não poderia ter ouvido. Para o meu espanto, um nó se formou na minha garganta e imediatamente comecei a coçar os olhos para impedir as lágrimas. Tinha sido algo importante, eu podia sentir, e, no entanto, estava longe demais, inalcançável. — Mértila.

 Newt continuava sentado ali. Eu não podia ver seu rosto nem estávamos muito perto, mas desejei que não se levantasse, mesmo que ficasse calado por não saber o que dizer. Só queria que ficasse ali. Não me perguntei o porquê de querer isso; apenas me agarrava a esses curtos momentos em que ele fazia eu me sentir bem sem expressar nada relevante. Tantas perguntas assolavam minha mente que parecia automutilação querer questionar até o que amenizava meu sofrimento.

  — Finalmente começou a falar como gente de verdade. — Newt disse e mordi o lábio inferior entre um sorriso.

  — É, de certa forma me sinto bem falando como vocês. — respondi com a voz rouca.

  — Boa. Por que não me ajuda no Campo-Santo? — seu rosto estava novamente franzido contra o sol. Não impedi o impulso de arrancar outra pele do meu lábio.

  — Não me trate como criança, seu plong. — repreendi-o com falsa severidade.

  — Falou. — ele se levantou e tirou seu facão da própria bainha, apontando-o para mim, seu semblante tornando-se sério e raivoso rapidamente. — Levanta, sua trolha, e vá fazer alguma mértila útil que não seja se lamentar da maldita vida!

 Eu ri e ele me estendeu a mão e segurei-a para me ajudar a levantar, enquanto puxava o meu facão do chão.

  — De que droga você está rindo? Anda, anda logo! — Newt exclamou, cutucando-me com a ponta da lâmina.

 Poucos dias depois, os suprimentos da Caixa vieram, mas eu já não precisava mais dos absorventes adequados. Newt tinha me deixado dormir na Sede enquanto eu estava sem um saco de dormir e quase me desfiz do que os Criadores mandaram apenas para continuar usando a cama. Até que a compreensão do quanto aquele pensamento era egoísta caiu sobre mim e dei de ombros; era o que menos importava. Eu só conseguia pensar em quando eu deixaria de ser a Novata.

 Fazia quase duas semanas do meu segundo mês ali e ninguém fora mandado. Eu já tinha parado para pensar se era mais um sinal, além do Verdugo morto, de que as coisas estavam mudando.

 Eu estava pensando nisso e em como seria se uma garota surgisse daquela Caixa na próxima vez. Seria um alívio, com certeza, não ser o centro das atenções nesse quesito, e ter alguém com quem conversar normalmente sobre coisas normais de garotas para me distrair do constante estresse. Thomas podia ser um bom confidente, mas ainda era um garoto e eu evitava fazer certos comentários pelo risco de ele levar para o lado pessoal. Já bastava que Gally levasse qualquer frase minha para o lado pessoal.

 Ele tinha sido solto do Amansador no terceiro dia e Newt admitiu para mim que ele e Alby só não o deixaram por mais tempo porque os Construtores precisavam dele. Não era mentira. Uma grande desordem instalava-se nas áreas em que se consertava alguma coisa, tanto que uma vez me vi no meio de um amontoado de Construtores, gritando e gesticulando o que estava certo e o que estava errado, certa de que não me entendiam porque gritavam uns com os outros também. A mistura dos marrons de cada tom de voz e do que diziam era tão absurda que me deixava tonta.

  — Aquela mértila está horrível, olhe como está torto! — eu berrava, minha garganta rasgando com o esforço de sobressair os gritos dos outros ao redor.

  — Por isso não dá para ter mulheres nessa joça. — um deles replicou.

  — Pelo menos faço alguma coisa direito!

  — Vá lavar alguns pratos! — outro gritou.

  — Que tal eu dar um jeito na sua boca?! — Mike ameaçou com o punho erguido.

  — E você também, a mesa da Cozinha quase caiu! — gritei para Mike.

  — Eu precisava consertar as janelas! — retrucou no mesmo volume, as veias do pescoço saltadas.

 Até que Newt apareceu para organizar as coisas. Eu ainda estava rouca por causa desse dia. Os amigos de Gally foram cumprimenta-lo quando ele foi solto, mas percebi que isso passou longe de animá-lo. Sua feição era mórbida, como se não tivesse dormido uma única vez desde que fora jogado no Amansador, e eu associava seu tom e sua feição à cor negra. Pensei em ir falar com ele, mas não adiantaria; a atitude que eu deveria ter tomado era pedir para que Newt ou Alby o soltassem. Mas eu não o fizera, então era inútil tentar uma conciliação agora. Além disso, Gally não demorou a ditar ordens para nós. Ele melhoraria com o tempo.

 Mike estava ajudando Winston e Caçarola com algo relacionado a um porco na Cozinha; Thomas tinha ido para o Labirinto; Newt estava nos Jardins. Então fiquei sozinha trabalhando na pintura da cerca do Sangradouro. Não era realmente necessário, mas estava sendo o primeiro dia em que eu tinha quase nenhuma atividade para fazer, e como a desocupação era como um bicho de sete cabeças por ali, Tagarela tinha me dado a ideia de ir para o Sangradouro.

  — Assim que os Jardins ficarem desocupados, dou um banho em você, prometo. — falei enquanto mexia o pincel com o pulso excessivamente mole de tédio.  

 Um grito lancinante veio de algum lugar próximo. E depois veio de novo. A cor negra escureceu meus pensamentos, linhas dançando ao meu redor como aranhas venenosas. Olhei para o lado à procura da origem, quase certa do dono daquela voz, e precisei de apenas alguns segundos para ver Thomas disparando para fora da Porta Sul, ao lado do Sangradouro. A velocidade com que corria mal me deixava acompanha-lo.

  — Thomas? — ele passou por mim sem parar de correr. — Thomas!

 Alguns Clareanos tinham saído de seus locais de trabalho para ver e Thomas se dirigiu ao mais próximo. Aproximei-me deles largando o pincel de qualquer jeito e percebi que ele falava muito rápido com Newt; suas pernas tremiam, ele gaguejava.

  — Um deles está vindo... Encontramos um perto do Penhasco agora mesmo...

  — O quê?! — Newt indagou, claramente nervoso também.

  — Um Verdugo! Um deles está vindo! — Thomas exclamou.

  — Não, é impossível...

  — Newt! — ele agarrou-o pela camisa com força, a urgência e o pânico estampado em seu rosto. Newt encarou-o por alguns segundos antes de assentir em compreensão.

  — Todos para a Sede agora! — Newt gritou e se virou para mim. — Avise o Alby...

 Nesse momento, vi Thomas começar a cair. Coloquei minha mão por baixo de sua cabeça instintivamente e senti a rocha do chão me machucar quando não fui capaz de sustentar seu peso.

  — Ei... Ei, o que aconteceu? — indaguei. Seus olhos estavam focados para cima e era possível ouvir pequenos grunhidos de sua garganta. — Thomas, você foi picado?

  — Ele não conseguiria correr se tivesse sido. — Mike comentou acima de mim. Meu corpo começava a sentir mais frio que o normal.

  — Me ajude a levá-lo para dentro.

 Passei um dos braços dele por sobre meus ombros e Mike fez o mesmo do outro lado. Outro grito, parecido com o de Thomas, veio da Porta Sul, e percebi que Newt não estava mais ao meu lado. Olhei na direção do som e o vi estacar no meio do caminho para a Porta. Um segundo Corredor saía correndo da entrada do Labirinto, sua camisa prendendo-se a alguma coisa antes de se rasgar e ele conseguir escapar. Um Verdugo surgia por entre os muros. Um Verdugo exatamente como os que me perseguiram lá dentro. Em plena luz do dia, com as Portas abertas. Tinha como piorar?

 Newt tirou seu facão da bainha, mas não saiu do lugar.

  — EI! — Alby gritou furioso, saindo de trás da Casa dos Mapas com sua flecha erguida pelo arco na direção do Verdugo. Ele soltou a flecha, que acertou a carne nojenta do animal com um barulho surdo, enfatizando a inutilidade do ato, e rapidamente uma das serras metálicas a cortou em boa parte, sem parecer alterado. O Verdugo fez um som estridente para Alby e olhou ao redor, como se escolhesse quem atacaria.

  — Ei, ei... — ouvi Mike murmurar e me virei para ver Thomas sustentando-se sozinho e abanando a cabeça. Eu não sabia ao certo no que prestar atenção. Nunca tinha desejado tanto ter uma arma em mãos.

  — Vá para a Sede e tranque tudo. — ele mandou e seu tom autoritário deixou claro que estava bem. Mike tratou de obedecer, entrando na Sede com os últimos. — Anda, vai. — Thomas me empurrou naquela direção também, mas me neguei a sair dali.

  — Socorristas! — um garoto berrou lá da Sede. “Jeff e Clint dão conta... Jeff e Clint dão conta...”, pensei, tentando me agarrar a isso. Até lembrar o fato de eu ser a maldita que sabia de coisas que eles não sabiam.

 Com uma última olhada para o Verdugo, que continuava nos observando, disparei da direção do som, e torcendo para que fosse algo em que minha ajuda realmente fosse necessária. Abri a porta com um empurrão e encontrei Clint segurando as pernas de um Clareano que agitava-se freneticamente no chão. Era uma cena horrível. Sua boca espumava, seu corpo balançava para todos os lados... Sua cabeça batia diversas vezes no chão.

 Tratei de me abaixar e agarrá-la e, quando mais um daqueles pressentimentos me disse ser o melhor, forcei seu corpo a ficar de lado.

  — Que droga é essa?! — Jeff indagou assim que terminou de descer as escadas.

  — Ele vai ficar bem, só precisamos esperar um pouco... — respondi. Esperar. Tive muito ódio daquela palavra naquele momento, enquanto Thomas, Newt e Alby estavam lá fora com um Verdugo.

 Eu sabia que precisava ajudar o garoto que se contorcia ali no chão, mas deixar os três lá fora, mesmo que eu não fosse muito útil na arte de lutar, soou como uma ofensa que rasgava a minha consciência com uma lâmina cega.

  — Mantenha ele desse jeito até que melhore. — falei a Jeff e o puxei para que se abaixasse. — E não deem nada pra ele quando voltar a si.

 Dizendo isso, saí da Sede seguindo os sons dos gritos vindos da Porta Sul. Corri até lá, vendo Alby com seu arco erguido na direção do Verdugo numa posição rígida, o semblante inexpressivo, como se apenas mirasse um alvo de madeira num treinamento. Thomas desviava dos ferrões, da tesoura e das lâminas do Verdugo que tentavam acertá-lo. Desta vez ele tinha um facão em sua mão, que usou para acertar um dos braços, errando apenas pelo medo de ser atingido por outra coisa.

 Contornei a vista de longe, olhando para todos os lados em busca de Newt, torcendo para que não estivesse machucado ou que naquele momento estivesse correndo para bem longe dali. Contudo, eu não tinha visto Newt evitar defender algum dos Clareanos uma única vez, e essa realidade pesou na minha mente quando o vi surgir por trás do Verdugo, espreitando com as mãos vazias e o olhar atento, os passos leves. Ele estava em frente à entrada para o Labirinto. Se continuasse daquele jeito, conseguiria escapar sem ser notado. Os segundos ficaram muito lentos; meus olhos iam de Newt, para o Verdugo, para Thomas e Alby... Qualquer atitude para tomar que me veio à mente acompanhava uma consequência desastrosa. Fiquei parada ali, sem reação, os passos de Newt sendo a única referência de que o tempo corria, o ar de repente trazendo ao meu nariz o cheiro de abacaxi. Por que diabos eu estava sentindo cheiro de abacaxi?!

 Não sei como em meio a toda aquela agitação, mas notei quando um besouro mecânico passou por baixo do Verdugo. A besta parou de tentar atingir Thomas e virou-se para mim. Depois, como se eu estivesse invisível, recolheu seus braços, transformou-se numa bola nojenta de pele e movimentou-se onde estava. Não entendi o que ele estava fazendo até seus braços surgirem de novo; todos virados agora na direção de Newt.

 O besouro havia delatado que havia uma presa mais fácil.

 Cerrei os punhos com o retorno do desejo de ter uma arma e comecei a correr na direção deles. Calculei diversas formas inteligentes de atacar a coisa sem que ele fosse ferido. Eu não estava muito longe. Newt estava encurralado entre o Verdugo e a entrada; sua única opção para fugir era entrar no Labirinto, onde poderia haver ainda mais daquelas bestas ativas. Mas não parecia que Newt estava pensando muito em suas opções. Seus olhos estavam arregalados de puro medo da criatura; seu peito subia e descia muito rápido com a respiração. Vê-lo daquela forma era pior do que vê-lo vulnerável como na parada cardíaca. Ele experimentaria todos os piores sentimentos antes de ser morto pela coisa, ou depois que fosse picado.

 A imagem disso me assolou de tal forma que meus planos inteligentes sumiram da minha mente. Minha capacidade de pensar sumiu pelo caminho. Acelerei meus passos, sentindo minhas pernas arderem. O Verdugo ergueu suas pinças e agulhas. Qualquer dor ou cansaço que tivesse passado pelo meu corpo durara pouco. O cheiro de chocolate agora me envolvia. Era inútil tentar entender por que isso acontecia.

 Num instante eu estava ao lado de Newt e no outro o empurrava para longe com tanta força que quase tropecei nos meus próprios pés com a parada brusca. A esperança de sair dali sem ser picada só durou até eu olhar para o Verdugo.

 Pontadas dolorosas paralisaram meu corpo, mas senti-o bater no chão. Rolei os olhos para todos os lados à procura de uma brecha para fugir e minha única opção era o Labirinto. E mesmo que eu quisesse não conseguiria levantar e correr. Cada centímetro do meu corpo doía, minhas pernas estavam doloridas. A visão do Verdugo acima de mim piscava. Uma fisgada particularmente dolorosa me arrancou um berro que foi cortado ao meio pela incapacidade da minha garganta de continuar. As agulhas não paravam... Por todo lado elas me atingiam... Eu tentava proteger meu corpo com os braços, mas eles sofriam com a defesa também.

 Nada mais passou pela minha cabeça além da necessidade latente de que aquilo parasse. Eu só quis que parasse, não me importava como. Senti lágrimas quentes rolarem pelos cantos dos meus olhos.

 As pontadas começaram a diminuir, a ficarem mais lentas. Relaxei com a ideia de que ou eu estava morrendo ou estava desmaiando. Achei que minha perda de consciência tivesse desligado algumas partes do meu corpo para que eu não sentisse dor, mas não foi isso.

 O Verdugo tinha parado de se mover e o ouvi bater no chão. Tentei mover meu corpo para me levantar e não senti nenhuma parte dele de tanta dor. Eu não conseguia gritar, não conseguia me mexer... A única forma de descarregar aquilo tudo era chorando.

 Alguém puxou meus braços e meu corpo foi arrastado por poucos centímetros. Eu não soluçava, mas queria muito. Simples lágrimas descendo pelo meu rosto pareciam prender a maior parte da dor dentro de mim. O rosto de Newt surgiu, preocupado, suado, ofegando, mas aparentemente bem. Em meio ao torpor de dor, pude sentir uma fraca chama de satisfação por isso. Mas ela logo foi embora. Abracei-me com mais força e cerrei os dentes.

  — Nelly, acalme-se. Está tudo bem... — ele disse e quis muito, muito mesmo que aquilo me reconfortasse. Formas amareladas pontilhavam minha visão. Balancei a cabeça negando, caso ele não conseguisse ver por si mesmo o quanto aquilo era ruim. — Está sim, fique calma...

 Abri a boca querendo gritar, mas rolei os olhos aleatoriamente e gemi, completamente sem forças. “Pense na cor amarela, pense na cor amarela...”, eu repetia mentalmente para mim mesma com urgência. Newt gritou alguma coisa para o lado e senti outra agulhada no meu braço. Quis afastar o que quer que fosse, mas um calor espalhou-se pelo meu corpo imediatamente e a dor suavizou-se. Vários Newt apreensivos estavam na minha frente, várias cores misturando-se, mas senti apenas suas duas mãos percorrerem meus braços. Ele disse alguma coisa e, mesmo que eu não soubesse o que, seu tom foi novamente como uma tolha morna por todo o meu corpo. Pisquei lentamente e então não senti mais nada, mergulhando numa profunda e calma escuridão. 


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Notas finais do capítulo

Bem, o que acharam?
Perguntinha: o fenômeno da Nelly ficou claro? Ele tem um nome e tals, mas os capítulos são no ponto de vista dela, então por enquanto vai depender do conhecimento próprio de vocês kkk Uma hora todos nós descobrimos u.u

Mereço reviews?

Até o próximo! ♥



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