Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 9
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Hello... It's me...

Mais um capítulo! *-*

Boa Leitura!



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Passaram-se alguns dias desde que fui nomeada Socorrista e, ironicamente, foi o período em que todos resolveram ficar bem para me poupar de algo interessante para fazer. Não precisei chegar perto da Sede uma única vez. Ninguém sequer ralava o joelho. Parecia que Gally havia conjurado campos de força ao redor dos Clareanos.

  — Se divertindo? — Thomas perguntou com os braços apoiados sobre a bancada da Cozinha, observando-me lavar os pratos do almoço.

  — Engraçadinho. — ironizei.

  — Achei que tivesse dito que ficou desesperada com o caso do Newt e não estava tão empolgada para fazer aquilo de novo.

 Eu dissera. Thomas já havia se tornado meu confidente e eu a dele. Tudo o que não dizíamos para os Clareanos, dizíamos um para o outro. Não eram confissões muito profundas, mas era bom desabafar com alguém sem receber uma patada no final, como Mike fazia.

  — É, mas mesmo assim... Talvez uma hora eu consiga me controlar. — respondi e guardei o último prato. — Como vão...

  — EI! — um berro raivoso veio do lado de fora e nós dois olhamos na direção da Clareira. Saímos curiosos para ver o que acontecera e encontramos Mike e Gally frente a frente, respirando arduamente como touros raivosos, os punhos cerrados ao lado do corpo. Newt vinha correndo dos Jardins, uma mão calçada com uma luva grossa e a outra largando uma pequena pá no chão.

  — Não olhe para mim outra vez. — Mike mandou, apontando um dedo para Gally, a voz trêmula e grave de tanta raiva que parecia conter. Gally empurrou sua mão para longe e, antes que pudesse fazer mais alguma coisa, Newt o afastou.

  — Que mértila, vocês dois. — ele resmungou. — Vão fazer alguma coisa de útil nessa porcaria.

  — Mande-o fazer direito então. — Gally disse.

  — Por que não resolve as coisas sozinho? — Mike indagou, aproximando-se outra vez e quase passando por Newt, que o empurrou de volta para mais longe. Gally aproveitou-se da distração dele e compeliu o líder para o lado. Instintivamente, com apenas dois passos largos, coloquei-me na frente de Mike, segurando seus braços atrás de mim para garantir que Gally não conseguisse chance de atingi-lo; mas eu não esperava pela força que ele usou para me empurrar.

 Senti o lugar passar pelos meus olhos rapidamente e então minha testa chocou-se contra uma rocha do chão. Apertei os olhos com a dor, odiando-me pela maldita mania de me meter nas coisas. Ouvi uma movimentação de vários pés ao redor e então senti uma respiração pesada acima de mim.

  — Tudo bem? — Newt perguntou. E o sotaque dele soou tão leve que foi como se tivessem colocado um pano quente sobre a minha testa. Sua mão rodeou meu braço para me ajudar a levantar e ele ainda me encarava, provavelmente esperando resposta.

  — Estou bem. — afirmei. Seu olhar voltou-se para a minha testa e eu não soube dizer se a careta foi pelo sol contra seu rosto ou pelo que viu.

 Thomas estava atrás de Gally, segurando-o pelos braços com uma força desnecessária. Mike se afastava, indo para a área dos Construtores dando breves olhadas raivosas para o outro. Gally olhou para mim e me surpreendeu com a expressão melancólica e culpada que tomou conta de seu semblante.

  — Foi sem querer... Eu não... — começou, mais para Newt do que para mim, mas não terminou. Vi o maxilar de Newt se mover quando o cerrou, mas não parecia com raiva.

  — Leve-o para o Amansador. — ele disse simplesmente e desviou o olhar, e outro garoto aproximou-se para ajudar Thomas.

 Gally pareceu assombrado, mas não contestou; deixou que o guiassem.

  — Precisa pôr gelo. — Newt disse encarando minha testa. Observei-o por um tempo e um fascínio palpitou dentro de mim, quase me deixando tonta.

  — Estou bem. — repeti e coloquei a mão por cima do local, sentindo doer, mas não sangrar.

  — Bom isso. — ele meneou a cabeça após mais alguns segundos sustentando o olhar e gritou para todos ao redor que assistiam voltarem ao trabalho, antes de fazer o mesmo.

  — Você tem muito plong na cabeça, não é? — Chuck disse perplexo, o rosto redondo corado e pontilhado de gotas de suor.

  — Chuck... Vá trabalhar. — passei por ele e bati algumas vezes em seu ombro antes de seguir os passos de Mike.

 Ele se recusou a falar enquanto desferia fortes golpes com um machado contra um toco de árvore preso ao chão. As veias saltadas em seu pescoço e braços e a concentração que mantinha deixavam bem claro que o ocorrido tinha o levado a um torpor de raiva. Ninguém sabia dizer o que tinha acontecido, então só pude deixar o assunto de lado. Gally estivera fazendo o trabalho de carregar a madeira que Mike cortava para coloca-la próximo à Sede e resolvi tomar seu lugar.

 A feição de Gally antes de ser mandado para o Amansador ficou presa à minha mente como se as machadadas de Mike fizessem efeito em mim. As brigas e discussões sempre giravam em torno dele, mas, mesmo assim, parecia que ele não gostava disso. Além disso, ele era um dos Encarregados por algum motivo, então devia ter noção dos seus limites. Lamentei por ele, caso realmente não fosse sua intenção me machucar. Todos estavam abalados constantemente com a estada na Clareira, e, depois de ter visto a mudança no comportamento do último garoto que passou pela Transformação, eu me apegava à ideia de que não era total culpa de Gally que ele fosse tão alterado.

 Eu estava largando mais uma braçada de madeira na parte de trás da Sede e descartando o plano de ir falar com ele, já que seria burrice considerando a raiva que já causei, quando Mike aproximou-se por trás de mim e deixou o restante do toco da árvore ali também. Olhei para onde o machado estava largado e vi que o trabalho tinha chegado ao fim, assim como aquele dia.

 Suspirei com o cansaço e passei o braço pela testa para tirar o suor. Mike encostou-se à parede, fazendo careta pela respiração ofegante e tirando as luvas.

  — Está mais calmo? — perguntei e ele apenas me lançou um olhar com o misto de cansaço e irritação de sempre. — Por que estavam brigando, afinal?

 Mike bufou e coçou os olhos.

  — Ele me mandou partir os troncos... Então eu fiz. Deixei todos em duas partes e ele foi falar que deviam ser quatro. Eu já tinha feito mais da metade da mértila toda. Disse que era idiotice fazer isso enquanto ninguém fosse usá-los e mandei ele ir se arranjar com alguma coisa útil. Ele me xingou de alguma coisa e não lembro mais como a gente foi parar perto da Cozinha.

 Ergui uma sobrancelha em descrença àquilo.

  — Sério?

  — Já sabe o que aconteceu! — replicou com desdém, numa deixa para que eu me calasse.

  — Aprecio seu esforço. — ironizei e olhei para as toras de madeira. — Não vai parti-las em quatro?

  — Cale a boca.

 Eu ri e tirei minhas luvas também. Vi os outros Construtores terminando seu trabalho, mas percebi que Mike ainda me encarava, desta vez com mais atenção.

  — Que foi?

  — Você é uma idiota. — disse simplesmente.

  — É, sei, por isso eu vou jantar antes que retome os insultos. — retruquei com um sorriso cínico e comecei a lhe dar as costas.

  — Calma aí.

 Fiz que me viraria de volta, mas nem foi preciso; ele mesmo pegou minha mão e me puxou, e me assustei com o pouco espaço que havia entre nós. Perdi a linha dos meus pensamentos, apenas esperando que dissesse alguma coisa. Contudo, a julgar pelo olhar que ele me lançava, era claro que a intenção dele não era falar. Seus olhos correram pelo meu rosto; pude vê-lo engolir em seco.

  — Nada. — disse por fim.

 Mike continuou onde estava e eu ainda tentava entender o que acontecia, por isso não me dei o trabalho de quebrar o contato das nossas mãos.

 Após segundos que pareceram intermináveis, ele me deu as costas e fez a volta na Sede, sumindo por trás da quina.

A primeira sensação que tive ao acordar no dia seguinte foi de algo muito, realmente muito errado. Não pelo fato de Mike quase ter me beijado, ou de Gally ter se sentido culpado pelo que fez a mim, ou até por Newt ter amenizado minha dor com simples palavras. Não, nada disso. A realidade soava ainda pior.

 Agitei-me nervosamente no saco de dormir para me sentar, ergui a manta que me cobria e, torcendo para que fosse apenas impressão, olhei para entre minhas pernas. E o terror fez minha mente girar. Aquilo não podia ter acontecido. Eu estava trancada numa Clareira com cinquenta garotos e justamente aquilo precisava enfatizar o fato de eu ser uma garota?

 “Ok, calma... Se você conseguir chegar ao banheiro sem ser notada, pode resolver isso sozinha. Depois, vai escrever um bilhete aos Criadores dizendo que esqueceram um item primordial ao mandarem as roupas”, pensei comigo mesma.

 Era isso. Era simples. Contanto que ninguém aparecesse no meio do caminho.

 Respirei fundo e agarrei meu casaco jogado ao lado. Ainda sentada, amarrei-o ao redor da minha cintura com força, mesmo sabendo que eu precisaria andar com passos bem curtos para que ninguém percebesse a mancha avermelhada na parte interna das minhas coxas. Enrolei o saco de dormir rapidamente e percebi que havia alguns garotos dormindo ao redor. “Não faça barulho, vai dar certo”. Prendi o saco embaixo do braço e concentrei-me em parecer apenas uma garota normal indo tomar banho.

 Poucos Clareanos estavam acordados, a maioria começava a se levantar ainda.

 “Mais dez passos... Só isso...”.

  — Nelly?

 Estaquei antes do último passo ao ouvir a voz de Newt e fechei os olhos por um segundo, inspirando o ar com o máximo de paciência que eu podia reunir. “Apenas responda e ele vai embora”, disse mentalmente e ele parou de frente para mim.

  — Isso está uma grande mértila. — comentou com naturalidade e quase me assustei, quando percebi que ele olhava para a minha testa.

  — Ah, é, vai melhorar. — afirmei. Era possível sentir a urgência da situação escoar ainda mais. Mordi meu lábio e automaticamente olhei para baixo, puxando a pele e a arrancando, liberando o gosto metálico de sangue na minha boca.

  — Você está bem? — suas sobrancelhas estavam franzidas, seus olhos analisando-me de cima a baixo, parando no saco de dormir. Descobri que eu não tinha a habilidade de fingir.

  — Quero tomar banho, só isso. — lancei-o um sorriso nervoso de lábios fechados e fiz que avançaria para os vestiários, quando sua mão pousou no meu ombro e me impediu.

  — Ahn... Tem certeza, Nelly?

 Newt tinha os olhos ligeiramente arregalados para baixo. Olhei na mesma direção e vi que a mancha tinha se estendido demais.

  — Droga, Newt... — sussurrei impaciente e abri a porta dos vestiários de uma vez, o empurrando para dentro com força demais. Ele já tinha visto, o melhor que eu fazia agora era pedir sua ajuda.

 O vestiário estava cheio. Escondi-me atrás de dele no momento em que percebi isso. Mais de dez garotos acabavam de se vestir, alguns ainda tinham a toalha ao redor da cintura e outros saíam dos chuveiros.

  — Aí, seus trolhos, nova regra: ninguém nos vestiários enquanto a Novata estiver aqui. — Newt disse.

 Uma sucessão de murmúrios encheu o local.

  — Decidiram isso no Conclave?

  — Não disseram nada para a gente.

  — Estão sabendo agora! — Newt exclamou e todos se calaram. Ele inclinou a cabeça para o lado, obrigando todos a saírem para os chuveiros com as mudas de roupa nas mãos e xingamentos à solta. Pressionei minhas coxas uma contra a outra. Quando o último garoto passou e fechou a porta, Newt se virou para mim, mas não encarou meu rosto e pareceu constrangido ao coçar a parte de trás da cabeça e tentar não olhar para a mancha outra vez. Assim que ele abriu a boca para dizer algo, apressei-me a cortá-lo.

  — Eu só preciso... que me traga papel e lápis para eu pedir umas coisas aos Criadores. E pegue o rolo de algodão na Sede e um saco de lixo também.

 Ele assentiu e começou a sair.

  — Rápido, Newt! – exclamei nervosa; ele correu para a Clareira.

 Continuei parada onde eu estava, certa de que assim diminuiria o fluxo, e contava os segundos para que ele voltasse. Era nojento ficar daquele jeito; certamente eu tomaria mais três ou quatro banhos ao longo do dia.

 Ouvi a porta da saída dos chuveiros abrir-se. Caminhei até a porta entre aquele cômodo e o outro e espiei para lá, vendo que todos já tinham saído. Deixei o saco de dormir enrolado num canto e entrei num dos boxes correndo. Arranquei as roupas de qualquer jeito, liguei o chuveiro e uma calma imensa apoderou-se de mim com a água quente correndo pelo meu corpo. Eu não sabia por que não tinha imaginado isso antes, agora parecia uma coisa muito óbvia de se acontecer.

 Muito mais tempo que o necessário depois, finalmente saí e sequei-me com a toalha. Entrei de novo nos vestiários, vendo Newt gritando com alguém do lado de fora, segurando a porta aberta.

  — Não, seu trolho, que maldita falta de cavalheirismo! — e fechou-a com um estrondo. Eu teria rido se não soubesse que isso pressionaria meu ventre e pioraria as coisas.

  — Pegou?

  — É, está aqui...

 Newt hesitou ao me ver só de toalha, mas ignorei esse detalhe diante da necessidade de dar um jeito naquilo logo e tomei o rolo de algodão de sua mão. Uma pontada insuportavelmente forte atingiu meu abdômen assim que recolhi as mãos. Inclinei-me e cobri a barriga com os braços, contendo um gemido fraco na garganta.

  — Tudo bem? — ele perguntou. Aquela frase estava tornando-se cada vez mais constante. Abanei a cabeça negativamente.

  — Quero dizer, sim. Estou bem, é normal.

 Não consegui desfazer a posição para seguir até os armários. Endireitar-me parecia ser uma estupidez. Newt pareceu perceber, pois vi seus pés sumirem e voltarem rapidamente, e ele empurrou uma muda de roupas minhas para os meus braços.

  — Obrigada.

 Improvisei o melhor que pude com algodão e papel higiênico, mas eu ainda precisaria voltar várias vezes para trocar enquanto os Criadores não respondessem ao pedido.

 Newt já havia saído quando retornei aos vestiários. Escrevi no papel o que eu precisava (incluindo um saco de dormir novo e reprimindo a vontade de escrever uma observação de que os odiava), e saí para a Clareira com a mente mais tranquila. Alguns Clareanos estavam ao redor da Caixa, retirando os suprimentos mandados pelos Criadores. Soltei um gemido involuntariamente. Aquilo significava que levaria mais uma semana até que respondessem aos pedidos daquele dia.

 Aproximei-me deles e um daqueles besouros mecânicos passou na minha frente, no momento em que Alby saía da Caixa. Newt estava lá dentro, prendendo na parede os pedidos de Zart e Caçarola depois de checar o que tinham escrito e zombar Zart com algo sobre ele ser delicado. Entreguei meu papel a ele, que me olhou por um segundo antes de dobrá-lo sem se dar o trabalho de ler; era um gesto muito simples, mas uma gratidão enorme por ele crescia cada vez mais dentro de mim.

  — Só isso? — Newt perguntou aos outros e, sem receber resposta, saiu da Caixa com facilidade pela excessiva altura e fechou a tampa.

 Os garotos começaram a levar os caixotes por todo lado da Clareira; a Sede, a Cozinha, o Sangradouro... Vi Alby e Winston segurando de cada lado de um caixote maior, da onde jurei ouvir o guincho de um porco. Resolvi ajudar e agarrei um dos que restaram, precisando fazer certo esforço para conseguir erguê-lo.

  — Deixa que eu faço. — Newt disse surgindo na minha frente e segurando entre os espaçamentos da madeira. Seu rosto estava franzido pelo sol; ele me encarou quando não deixei que levasse a caixa.

  — Dou conta. — afirmei meneando a cabeça.

 Ele riu fracamente, repuxando o canto dos lábios, pegou um saco de laranjas e deixou em cima do caixote. Sorri cinicamente para ele e segui para a Cozinha.

 Foi estressante passar o dia inteiro parando no meio do trabalho para ir até o banheiro e trocar o absorvente improvisado. E pior ainda trabalhar com aquela dor. Por sorte, ou talvez graças ao silêncio de Newt, ninguém questionou isso nem me procurou para saber por que apenas ele ficara dentro dos vestiários comigo de manhã.

  — E aí, quando mais ou menos um Novato chega? — perguntei a Mike ao me sentar ao seu lado no jantar. Não nos falamos nos curtos momentos que passamos próximos um do outro, mas não era como se ele estivesse me evitando; ele era confiante demais para isso.

  — Uma vez por mês, você sabe. — respondeu sem me olhar.

  — Mas completei um mês aqui faz tempo.

 Ele deu de ombros e continuou a comer. Passei uma perna minha para o outro lado do banco, ficando de frente para ele. Mike relanceou para mim pelo canto do olho e nada mais.

  — Não vai me explicar o que foi aquilo ontem?  

  — Não. — respondeu, direto como sempre.

 Queria perguntar o que passou pela sua cabeça para que pegasse na minha mão daquele jeito; queria perguntar o que o fez tomar o impulso; queria perguntar por que ele hesitou. Mike não era nenhum príncipe que me deixava de pernas bambas, mas tinha seus charmes, com os quais até os defeitos colaboravam. Eu não podia dizer que sentia alguma coisa por ele que ultrapassasse a atração física. Mesmo assim havia atração, e vez ou outra eu me pegava arrancando peles dos lábios, imaginando o que se seguiria caso ele não tive parado.

 Desviei os olhos de Mike, decidindo por fim deixar o assunto de lado para que eu acabasse perdendo o interesse. Vi Alby, Newt, Minho e Thomas reunidos num círculo perto da bancada, concentrados numa conversa aparentemente séria. Esgueirei-me para fora do banco e por entre as mesas, tirando os pratos sujos e colocando-os em cima da bancada para que fossem lavados.

  — Pode significar alguma coisa, se aconteceu de novo. — Thomas disse.

  — Você é mesmo um gênio, Thomas, é a melhor teoria que poderíamos ouvir. — Minho replicou sarcasticamente. — O muro perto do Penhasco nunca tinha se movido antes e agora um Verdugo tenta nos enganar outra vez.

  — Não chegou perto dele, chegou? — Alby perguntou.

  — É claro que não, acha que tenho plong na cabeça? Provavelmente amanhã ele vai ter sumido, vou verificar.

 Tinham encontrado um Verdugo “morto”, era disso que estavam falando. Thomas já havia me contado do motivo de ter ido para o Labirinto logo quando chegou, por isso eu conhecia a história. Se o muro do Penhasco moveu-se pela primeira vez e os Criadores estavam tentando outra armadilha para os Corredores, alguma coisa estava errada.

  — Nenhuma outra área mudou? — Newt perguntou, uma das mãos percorrendo seu rosto de modo pensativo.

  — Nenhuma. Só aquele muro.

 Um prato escorregou da minha mão e fez um barulho insuportável na bancada. A mudança do muro podia ter mudado algo nos mapas também. Percebi que os quatro me encaravam e abandonei o fingimento.

  — Conferiram os mapas? — perguntei a Minho e Thomas, meus olhos arregalados de uma repentina energia. — Conferiram os mapas de acordo com o movimento do muro?

 Minho olhou para Alby como se esperasse que ele me mandasse embora dali, mas Thomas adiantou-se:

  — Já, não tem nada diferente.

  — Bom, então e se lá tiver uma saída? Talvez estejam querendo atrasar isso fechando a passagem às vezes... Talvez seja hora de passar uma noite lá para entrar no Penhasco!

 Alby suspirou impaciente e coçou a testa.

  — Ok, vocês dois precisam tirar isso da cabeça. — disse a mim e Thomas. – Aquela não é a única passagem para o Penhasco, só a única que se fecha às vezes. Os Corredores...

 Olhei para o chão e abanei as mãos energicamente ao lado do corpo, desligando-me do que ele falava. Uma adrenalina muito forte apoderava-se de mim. Minha vontade de ver os mapas nunca foi tão grande.

  — Teve outra coisa também. — Minho continuou e eles ignoraram minha presença para prestar atenção nele. Senti como se minha mente tivesse voado para longe dali por horas. — Juro ter visto uma coisa escrita naquele Verdugo, “Fase 1” ou algo assim...

 Testes. Testes. A palavra se repetiu no meu cérebro com tanta força que pareceu pesá-lo. Uma lembrança ou o que parecia um conjunto de muitas delas encheu minha consciência. Eu sabia alguma coisa sobre aquilo, no fundo eu sabia. A compreensão começou a inflar dentro de mim como uma bolha poderosa. Eu poderia agarrar a resposta com as mãos de tão perto que estava. Meu coração acelerou, meu sangue ferveu. “Sou uma Reparadora”. Mas que diabos de pensamento era aquele? Eu era, sim, uma Socorrista. Havia coisas mais importantes para lembrar. “Thomas”. Sim, obrigada consciência, conheço o Thomas. Uma segunda pessoa me ocorreu, alguém que eu conhecia. O nome parecia embaçado, mas estava ali. Então, sumiu.

 “Newt” foi o terceiro.

 O nome dele parecia mais familiar que o normal agora. A bolha estourou dentro de mim, mas não vi resposta nenhuma, apenas um certo medo. Olhei para Newt assustada. Eu o conhecia. O conhecia há muito mais tempo que apenas um mês. Era confuso, meu cérebro podia estar me enganando. Qual tinha sido mesmo a primeira palavra em que pensei? Ela fora embora.

  — Newt... — dei um passo em sua direção, mas seu semblante franzido duplicou-se. Não senti minhas pernas e caí de joelhos. Apoiei-me na mão e fechei os olhos por um segundo. Quando os abri, encarei o chão com uma questão curiosa rondando minha mente. O que tinha acontecido? 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Mereço reviews?
Pessoal, podem dar uma olhada nessa história divina aqui? É de uma colega e o plot é fabuloso!: https://fanfiction.com.br/historia/734924/O_Jogo_Escarlate

SPOILER DO PRÓXIMO!
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"Um grito lancinante veio de algum lugar próximo. E depois veio de novo. A cor negra escureceu meus pensamentos. Olhei para o lado à procura da origem, quase certa do dono daquela voz, e precisei de apenas alguns segundos para ver Thomas disparando para fora da Porta Sul, ao lado do Sangradouro. A velocidade com que corria mal me deixava acompanha-lo.
[...]
— Um deles está vindo... Encontramos um perto do Penhasco agora mesmo...
— O quê?! — Newt indagou, claramente nervoso também.
— Um Verdugo! Um deles está vindo! – Thomas exclamou."

Hehe'! Mais treta u.u
Espero que tenham gostado ♥

Até o próximo!



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