Meu amado é um lobisomem escrita por Lailla


Capítulo 20
Capítulo 20: Primeiro encontro




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Dizem que se apaixonar é ótimo. Porém apenas quando o amor é correspondido.

Hayato, Mai, Hanabi e eu éramos três tolos que gostavam de pessoas que nem sequer nos olhavam diferente. Hanabi gostava do meu irmão, que apenas ficava com ela como lobo até onde eu sabia. Hayato gostava de Mai, que gostava de Satoru-sensei, que gostava de Haru. Triângulo amoroso? Isso era um quadrado amoroso bem distorcido. Uma confusão. E Hayato gostava mesmo de Mai, mas ela o olhava apenas como amigo. E eu? Eu gostava de Ichiro-kun, que antes parecia gostar de mim, mas que agora está dando bastante atenção à Seiko e Nana, colegas da outra turma. E isso acabava comigo.

Todos os dias eu o via no colégio e queria me declarar. Porém me faltava coragem e sempre me lembrava de que “estava feliz por sermos amigos”, como ele disse no verão. Foi a coisa mais estúpida que já disse. Pensei que assim o ajudaria a melhorar, mas não tenho mais certeza. Nos tornamos mesmo amigos, mas acho que ele queria algo mais. E eu estraguei essa chance. Ele não disse mais nada e agora deveria pensar que eu não queria nada. Que porcaria!

Hanabi, Mai e eu conversávamos em sala de aula durante o intervalo entre as aulas. Hayato e Ichiro-kun conversavam com outros meninos do outro lado da sala.

— Quais eram as páginas que foram dadas mesmo? – perguntou Mai.

Eu estava sentada em minha carteira, olhando para Ichiro-kun e vendo seu sorriso, tentando imaginar se estavam conversando sobre algo engraçado ou fazendo uma piada. Mai repetiu a pergunta, que não ouvi mais uma vez. Hanabi estava sentada sobre minha mesa, balançando as pernas levemente e me olhou, sorrindo levemente. Ela me cutucou com o dedo.

— Ai. – torci a expressão, olhando-a – Que foi?

— Lembra as páginas que foram dadas?

— Ah... 125 à 135.

— Hum... – pensou Mai, pondo nas páginas do livro – Não entendo muito disso. Será que Hayato-kun me ajudaria?

— Ele faria uma cópia do trabalho dele se você pedisse. – disse Hanabi.

— Ele é bem disposto a me ajudar, mas não precisa tanto.

Hanabi e eu nos entreolhamos.

— O que vocês vão fazer nesse fim de semana? – perguntei.

— Estudar. – disse Mai.

— Trabalhar e ir à floresta. – disse Hanabi.

— Vai ver meu irmão? – sorri.

— Vou. Vamos passear na trilha, ele vai me mostrar o rio.

Franzi a testa em dúvida.

— O que...?

— Conto depois. – sussurrou Hanabi.

— Hanabi...

— Satoru-sensei chegou. – disse Mai, indo para seu lugar.

Hanabi saiu de cima da minha mesa e sentou em sua carteira ao meu lado. Olhei-a, querendo saber o que aconteceu entre aqueles dois. Franzi as sobrancelhas, emburrada. O que raios Shouya fez? Hanabi parecia diferente. Abaixei o olhar, pensando. Ela parecia feliz, estava até sorrindo!

Quando Hayato e Ichiro-kun se sentaram em seu lugar, Hayato atrás de Hanabi e Ichiro-kun atrás de mim, Ichiro-kun se inclinou um pouco, perguntando:

— Está irritada com algo?

Olhei para trás, corando.

— E-Eh... Mais ou menos.

Ele sorria levemente em minha direção, o que me fazia ficar cada vez mais vermelha. Ele era tão bonito que me fazia quase desmaiar.

— Estou querendo bater no meu irmão.

Ichiro-kun riu.

— Você é muito engraçada, Ame.

— H-Hum. – fiquei vermelha e me voltei para frente.

Durante a aula de Satoru-sensei, foram escritas várias fórmulas matemáticas no quadro. Com certeza eu iria estudar bastante para as provas. Enquanto anotava no caderno tudo o que era passado, um pedaço de papel dobrado foi jogado em meu colo por cima do meu ombro. O olhei sem compreender e virei um pouco a cabeça para trás, vendo Ichiro-kun sorrindo e fazendo um gesto com o lápis para que eu lesse o papel.

Peguei o papel e o desdobrei, lendo-o. “Quer sair comigo nesse sábado?”. Arregalei os olhos, corando extremamente. Senti meu rosto quente, meu coração acelerou. Peguei o lápis, hesitante, e escrevi minha resposta quase quebrando a ponta de tanto tremer. Dobrei o papel e o joguei rapidamente em cima de sua mesa. Minha resposta foi “Seria incrível!”.

Essa resposta me vez corar mais ainda, mas pensei que se mostrasse como queria ficar com ele, ele descobriria que eu gostava dele. A única coisa que me deixou na dúvida seria se todo o pessoal iria conosco. Porém só saberia no sábado. Duas coisas agora para me preocupar.

Na ida para casa, Hanabi e Ichiro-kun vinham comigo pela trilha. Ele não comentou nada com Hanabi sobre sábado. Me senti um pouco feliz, talvez fossemos apenas nós dois. Quando Ichiro-kun chegou à bifurcação para sua rua, se despediu de nós e foi para casa. A próxima bifurcação seria a de Hanabi. E até aquele momento, ela não dissera nada sobre mais cedo.

— Então... – comecei – Você disse que iria me contar por que vai sair com meu irmão.

— Eh... – ela sorriu, abaixando o olhar – Não é nada demais.

— Hanabi. Você vai sair com meu irmão. Como assim não é nada demais?

— Apenas não é. – ela corou – Nos encontramos sem querer um dia desses e dividimos um Pan. Vamos apenas andar pela trilha.

Franzi as sobrancelhas, duvidosa. Não sei se ela estava mentindo, mas algo com certeza parecia ter acontecido. Ela estava diferente. Olhei para o outro lado, pensando melhor. Ela era minha amiga e ele meu irmão, mas não era problema meu.

— Hanabi...

Ela me olhou e viu meu sorriso leve em sua direção.

— Pode me contar qualquer coisa, tudo bem? Estou sempre aqui.

Ela ficou surpresa e relaxou a expressão, sorrindo levemente.

— Obrigada.

O problema realmente não era meu, mas não queria dizer que minha curiosidade se extinguiu. Apenas me conteria até ela decidir me contar tudo. E meu irmão? Não queria nem olhar pra cara dele, se não bateria nele. Tudo bem eles estarem juntos, mas ele sempre disse que não queria ninguém. Então por que agora decidiu se envolver com Hanabi?

No sábado, me arrumei e fui para a cidade. Ichiro-kun me disse em outro pedaço de papel para nos encontrarmos em frente ao mercado. Esperei por alguns minutos, sentada no banco em frente e o vi chegar, ficando contente por concluir que seríamos apenas nós dois. Ele usava uma calça jeans, botas marrons, uma blusa azul-marinho de mangas compridas e um casaco verde-escuro. Seu cabelo sempre foi um pouco bagunçado, mas estava penteado naquele dia.

— Ame. – sorriu – Você está bonita.

Levantei, corando. Eu usava um vestido rosa, sandálias brancas e um casaco bege ao qual abotoei apenas um botão.

— Obrigada. – abaixei o olhar – Eu não sabia bem pra onde vamos, então...

— Ah, desculpe. – ele sorriu novamente – Culpa minha. Pensei que poderíamos ver um filme.

— Seria ótimo! – exclamei, desviando o olhar e corando por ter dito tão rápido.

Ele apenas sorriu e pegou em minha mão para irmos. O olhei, corando um pouco mais. Durante os cinco minutos que andamos, eu olhava admirada Ichiro-kun por atrás. Nossas mãos estavam dadas e ele andava um pouco mais a frente. De fato, eu estava tão envergonhada que estava andando devagar e praticamente ele me puxava.

Ichiro-kun me olhou de repente e parou.

— Você está bem?

— Eh?

— Está corada? – disse ele, pondo a mão em minha testa – Está com febre?

Arregalei os olhos, corando mais ainda.

— Não. – falei, minha voz saiu esganiçada – Não estou. Andamos um pouco, deve ser o calor.

— Hum. – ele concordou, abaixando a mão – Talvez, mas estamos no outono.

Não soube o que dizer, apenas sorri e desviei o olhar. Voltamos a andar e logo chegamos ao cinema. Todos nos olhavam, curiosos. Logo meus pais saberiam, tanto quanto minha irmã, que eu estava com um menino no cinema. Todos nos conheciam e muitos falavam demais. Mas meus pais sabiam que eu havia saído com Ichiro-kun e minha irmã apenas sorriria de forma maldosa para mim. Não seria nada demais, apenas indicava que ninguém poderia ter segredos na cidade. Ainda bem que nossa família sabia esconder nossos segredos muito bem.

Antes de começar o filme, guardei um lugar para nós e Ichiro-kun veio com pipoca e refrigerante em seguida.

— Obrigada. – falei quando ele me deu – Gosta de assistir filmes? – gaguejei.

— Sim. Meus pais e eu víamos muitos filmes.

— Hum. – sorri – Devia ser legal.

— Era. Agora apenas minha mãe e eu vamos de vez em quando. Meu padrasto não gosta muito e ela agora está com a barriga enorme.

— Ah, verdade. – lembrei-me – Mas quem não gosta de ver filmes? – achei graça.

— Foi o sempre pensei. – ele riu.

Sorri novamente e o olhei mais atentamente.

— Ele não...?

— Estamos um pouco melhor. – Ichiro-kun falou, olhando para a pipoca – Descobri que também não gosto muito dele.

— Sinto muito.

Ichiro-kun sorriu para mim e o filme começou de repente, deixando toda a sala do cinema escura. As duas horas que ficamos sentados nas poltronas foram as mais emocionantes que já vivi em minha vida. Eu estava com um menino no cinema. Saí com um menino pela primeira vez. Não sei ao certo se era um encontro, mas eu estava muito feliz por Ichiro-kun ter sido o primeiro menino com quem saí.

Saímos do cinema conversando e rindo sobre o filme após acabar. Fomos para casa pela trilha sem parar de conversar. Ele era tão engraçado e bonito. Tudo estava indo bem e pensava em me declarar ali mesmo. Porém vi Hanabi ao longe com meu irmão.

— Ame? O que houve?

— Se esconda! – agarrei o braço de Ichiro-kun e o puxei para trás de uma árvore.

Nos escondemos. Hanabi estava andando pela trilha com Shouya. Me perguntei por que estavam na trilha, mas me lembrei de que ela o encontraria no sábado. E como Ichiro-kun estava me levando até em casa e a bifurcação de Hanabi já havia passado, Shouya devia estar acompanhando Hanabi até em casa.

— Ei, Ame, o que houve?

— Shh. – sussurrei – Shouya e Hanabi estão aqui.

— Hã?

Os dois passaram e eu os espionei, passando de árvore em árvore por dentro da floresta. Quando começavam a se afastar, eu puxava Ichiro-kun para ir comigo. Antes de entrarem na bifurcação quando chegaram, Shouya e Hanabi pararam. Quando se viraram um para o outro, pensei que nos veriam, então fiquei atrás de uma árvore com Ichiro-kun novamente.

— Pode me dizer o que estamos fazendo? – ele perguntou.

— Quero saber o que estão fazendo.

— Por quê?

— Ele é meu irmão.

— Ah. Hum... Ainda não entendi.

— Eu acho que estão juntos, mas não me contaram nada.

—Irmã e amiga traída? – ele sorriu.

— Não tem graça.

Voltei a olhá-los, acompanhada de Ichiro-kun, e arregalei os olhos ao ver. Eles se beijaram, o que demorou alguns segundos, e Hanabi entrou pela bifurcação. Shouya ficou olhando-a ir por alguns momentos.

— Não aconteceu nada demais.

— Eles se beijaram. – falei em tom óbvio.

Quando Shouya se virou para ir embora, Ichiro-kun me puxou de repente, dizendo que ele nos veria, e caímos no chão. Eu caí em cima dele e me sentei rápido pela vergonha, ficando, infelizmente, sobre seu quadril. Ichiro-kun se sentou e ficamos extremamente próximos naquele momento, literalmente. Corei, meu rosto ficou vermelho e quando ele me olhou, perguntou:

— Tem certeza de que não está com febre?

— T-Tenho.

Por um momento Ichiro-kun corou ao ver como estávamos e levantou, simplesmente me segurando com os braços. Fiquei de pé novamente, imóvel. O que eu diria naquele momento? Por que isso tinha que acontecer?

— Bem... – ele disse enquanto limpava a parte de trás de sua calça – Eles parecem estar juntos. O que tem de errado nisso?

Parei de corar um pouco, lembrando a razão de tudo isso.

— Não sei. – pensei, abaixando o olhar – Hanabi sempre gostou do meu irmão. E agora acho que ele está gostando dela. Melhor eu não me meter.

— Nunca vi isso.

— O que? – o olhei.

— Uma menina não querer se intrometer no assunto de suas amigas. – disse ele – Eu via muito isso em Tokyo. Às vezes era por causa de irmãos também, mas normalmente acontecia por que uma namorava o garoto que a outra gostava, ou queria ter certeza de que ela ficaria bem com o garoto que estava. Eram quase as mesmas desculpas, mas sempre se intrometiam.

— Não acho legal. – pensei, abaixando o olhar.

— Eu gosto.

— Eh?

— Disso em você. – ele sorriu.

Fiquei surpresa, corando levemente. Ichiro-kun gostava disso em mim. Me senti feliz novamente.

Ichiro-kun me levou pra casa e falou que foi ótimo termos saído, incluindo a parte que espionamos meu irmão. Foi realmente engraçado quando se tira as partes vergonhosas. Entrei em casa querendo pular e contar sobre meu dia, porém vi Haru sentada à mesa com meus pais. Ela parecia aflita, nervosa. E meus pais pareciam preocupados.

— Ame. – disse mamãe, surpresa – Já chegou?

— Já... – falei sem entender – Eu disse que chegaria essa hora. O que houve?

Haru abaixou a cabeça, tremendo. Parecia chorar.

— Haru?

— Haru estava nos contando sobre seu professor. Satoru Takashi, né? – disse papai.

— O que tem ele? Eles estavam saindo.

— Ele descobriu, Ame. – disse mamãe.

— Descobriu o que?

Haru me olhou. Vi seus olhos cheios de lágrimas e marcas secas das lágrimas anteriores em suas bochechas.

— Ele descobriu que eu sou metade lobo. – disse ela, chorando mais.

Senti meu corpo gelar. Minhas pernas tremeram e eu caí de joelhos no chão. Minha mãe exclamou, levantando e me ajudando com meu pai a me sentar na cadeira. Demorei a assimilar e esperei que fosse uma brincadeira de mau gosto. Mas não era.

— Eu havia decidido parar de me encontrar com ele porque muitas meninas no colégio gostavam dele e eu não queria magoá-las. Mas depois de duas semanas, ele me puxou de repente pra dentro de uma sala e perguntou se eu gostava dele. Ele disse que se não, me deixaria em paz. Mas...

— Você gosta dele. – falei.

Ela assentiu.

— Eu devia ter dito não... Porque quando me beijou ele disse que gostava de mim porque sou metade lobo.

Arregalei os olhos.

— O que você fez?

— Corri. –disse ela, desesperada – Eu não sei se fiz certo. Fiz? Será que isso não vai apenas confirmar o que ele disse?

— Não. – disse papai seriamente – Ele não tem como provar.

— Eu nunca me transformo e nem vou à floresta. Fui apenas com ele uma vez. Como ele descobriu?

— Ele não descobriu nada. – continuou papai – Trate-o de forma normal. Não fale com nervosismo. Ele não tem como provar. Você é apenas a professora da escola.

Haru assentiu.

— E se ele chegar à Shouya de alguma forma? E à Ame? – ela me olhou por um momento – Ela é aluna dele.

— Ele falou apenas em relação à você. – disse mamãe – Ame ficará bem. Você apenas deve ignorá-lo quanto a isso. Faça o que seu pai disse.

— Ame, não se aproxime dele. – papai avisou-me – Não pergunte nada sobre a matéria, não chegue perto dele. Mantenha distância.

Assenti, nervosa.

— Vamos esperar que ele apenas se esqueça quando achar que falou algo sem sentido para Haru.

Assentimos, sentados à mesa.


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