Meu amado é um lobisomem escrita por Lailla


Capítulo 19
Capítulo 19: Amigo selvagem - Shouya e Hanabi


Notas iniciais do capítulo

Vou falar o nomes de duas comidas: Melan Pan e Yakisoka Pan. São pães mesmo 'kk Mas aqui está o link para entende-se melhor o que são.
http://www.japaoemfoco.com/10-paes-diferentes-para-experimentar-no-japao/



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Hanabi decidiu sair da trilha naquela tarde. Pegara o turno da manhã no mercado e queria caminhar um pouco. Andou por um tempo, até que avistou uma flor solitária próxima de uma árvore. Se aproximou e ajoelhou-se no chão, cheirando-a enquanto segurava seu cabelo atrás da orelha. Ela usava um short e uma blusa de mangas curtas, era verão. Ouviu um barulho e virou a cabeça, vendo um grande lobo negro. Hanabi arregalou os olhos, com medo. Já ouvira que havia lobos na floresta, porém nunca imaginou que veria um. Ela continuou abaixada na esperança de que fosse embora. Mas o lobo se aproximou. Hanabi começou a chorar, fechando os olhos e vendo seu fim próximo. Porém o lobo apenas aproximou o focinho de sua bochecha, fazendo-a olhá-lo em um estado paralisado.

Hanabi despertou com sua mãe a chamando.

— Ha-na-bi! Acordou? Vamos, está na hora do trabalho!

— Hum... Trabalho. – resmungou ela, olhando para o calendário – Sábado... Não...

Ela cobriu-se, resmungando mais e se perguntando por que trabalhava tanto. Ao lembrar-se rapidamente como sempre fazia, ela tirou a coberta de cima de seu rosto e olhou para o teto. O motivo era Shouya. Ela levantou e foi em direção ao banheiro para despertar debaixo do chuveiro.

Hanabi trabalhava em tempo integral no verão, trabalhando meio expediente às vezes. Ela conseguia economizar bastante, mas ainda faltava muito dinheiro para alcançar seu objetivo. E com a volta às aulas, voltou ao seu emprego de meio período, trabalhando também aos sábados.

— Vai vir almoçar? – sua mãe perguntou quando Hanabi chegou na cozinha, a mulher de curtos cabelos marrons.

— Não. Vou para a floresta com meu almoço.

— Ora, quase todo o verão você trabalhava, ou ficava com seus amigos ou na floresta.

— Eu gosto de lá. – dizia ela quase sendo apática.

— Tudo bem, mas vamos jantar juntas hoje.

— Ok.

Hanabi era filha única e apenas sua mãe vivia com ela. Quando tinha seis anos, seu pai mudou-se para outra cidade após o divórcio. O motivo foi uma mulher mais jovem. Hanabi não sentia raiva dele e nem de outros homens. Ele pediu perdão à ela alguns anos antes ao desejar reencontrar a filha. Porém o motivo por ela não odiar todos os homens era porque ela amava um em especial. Um jovem que Hanabi tinha certeza de que era diferente de todos. Um jovem que ela não desistiria de amar até que ele mesmo dissesse que não gostava dela. Algo que Shouya nunca disse.

“Você é mais jovem.”, “Há garotos bons da sua idade.”, “Não serei bom para você”.

Era tudo o que ele dizia. Se a idade era uma desculpa, o que ele faria quando ela tivesse 20 anos e ele 28? Hanabi era paciente. Estava esperando por ele desde os oito anos de idade. Faltava apenas ele olhá-la diferente.

— Hanabi, depois compre calças novas. Essa está começando a ficar velha.

— Vou ver.

— “Vou ver”. – sua mãe debochou – Trabalha tanto e não gasta com nada? Que tipo de adolescente é você?

— Uma que guarda suas economias. – ela sorriu levemente.

Hanabi trabalhava como caixa no mercado e atendia aos clientes, porém também trabalhava como repositora e entregadora às vezes. Tudo para conseguir mais dinheiro. E aquele dia foi duro, como todos os dias em que colocava na cabeça que podia ganhar trocados a mais.

Hanabi trabalhou as três primeiras horas de seu meio expediente atendendo como caixa, a quarta hora repondo mercadoria e a última hora – hora extra – entregando com a bicicleta do trabalho pedidos de compras em algumas casas da cidade. Algumas longe e outras perto, como a casa de Hayato.

Quando Kaya Sana, a mãe de Hayato, agradeceu pela entrega, ele a viu e se aproximou do portão, cumprimentando-a.

— Hanabi.

— Ah... Oi, Hayato. Pensei que estaria com Mai.

— Não. Desde que as aulas voltaram ela não quer mais me encontrar na lanchonete. Isso está assim desde o festival. Acho que ela ficou mesmo triste ao ver Yoshiro-sensei com Satoru-sensei. Fora que eles estão chegando juntos de manhã no colégio.

— Que pena. Pensei que iria conseguir.

— Ficávamos apenas conversando. Mas eu tinha esperança. – ele pôs a mão na nuca – Por que está trabalhando no sábado?

— Eu trabalho todos os sábados.

— Por que trabalha tanto?

— Futuro. – Hanabi sorriu levemente – Você devia fazer o mesmo se quer casar com Mai-chan.

Hayato arregalou os olhos, seu rosto corou por completo.

— Idiota! Não quero me casar com ela!

— Não? Que tarado... Então só quer...?

— Cala a boca!

Hayato entrou em casa, tampando as orelhas. Hanabi deixou uma risada baixa escapar e foi embora, pedalando.

Hanabi terminou seu expediente, despedindo-se dos colegas de trabalho e indo em direção à trilha. Ao invés de virar na bifurcação que dava para sua rua, ela continuou. Carregava uma sacola do mercado na mão. Virou à direta e saiu da trilha, observando cautelosamente se não havia ninguém por perto.

Caminhando, ela observava as árvores e pássaros cantando, cantarolando alto:

— Cadê, cadê você? Trouxe algo gostoso hoje. Eu sei que está aí. Está es-con-di-do. Te achei! – sorriu ao ver seu amigo.

Um lobo grande com pelagem negra saiu de trás da árvore ao lado de Hanabi, que sorriu ao vê-lo.

— Oi. – cantarolou, tombando a cabeça.

Hanabi sentou na grama, escorando as costas na árvore. Deixou a sacola do mercado à sua esquerda. O lobo deitou ao seu lado com o focinho farejando e sentindo o cheiro de comida.

— Já sentiu o cheiro, não é? – disse Hanabi – Hoje eu trouxe Melan Pan e Yakisoba Pan. – mostrou-o – Qual você quer?

O animal olhou consecutivamente para os dois e pegou com a boca o Melan Pan, pondo no chão e começando a comê-lo em grandes mordidas.

— Eu sabia. – sorriu Hanabi – É bom mesmo você comer isso? Eu não sei.

Ela desembalou seu Yakisoba Pan e começou a comê-lo.

— Queria saber se você tem um nome. A gente se conhece desde o verão. Você sabe o meu nome, mas eu não sei o seu. Qual é? – Hanabi o olhou – Você tem um?

Ele apenas comia.

— Hum... – Hanabi pensava – Haruhiro.

Ele continuava a comer.

— Hiroki? Não. Hiromi?

Nada.

— Ichiro?

Nada.

— Bem, esse é um nome de um amigo. Minha amiga gosta dele, mas não tem coragem de se declarar. E agora as coisas estão um pouco estranhas.

Ele a olhou e Hanabi sorriu.

— Interessado? Ele anda dando mais atenção à outras meninas desde que as aulas voltaram. E foi Ame que aproximou todos nós. Eu fico triste por ela e queria ajudar, mas não sei como. Tudo bem... Qual o seu nome?

Ele continuou a olhá-la. Hanabi suspirou, sorrindo levemente.

— Queria que falasse.

Ela sorriu, pensando em algo, e o lobo voltou a comer o Pan.

— Vou te chamar de Shou.

Ele tossiu e olhou-a em seguida com as orelhas bem altas.

— Gostou? Eu chamo Shouya de Sho-chan. Na verdade você é parecido com ele. – ela sorriu – Ele tem cabelo preto e olhos amarelos, como os seus. Mas acho que ele não vai se importar se eu te chamar de Shou. Às vezes acho que ele não se importa com nada que eu faço, então...

Seu sorriso se tornou triste e ela abaixou o olhar. O lobo levantou e lambeu a bochecha de Hanabi. Ela sorriu e limpou a lágrima que se formava no canto de seu olho.

— Eu trabalhei muito hoje. – falou – Eu gosto, mas preciso mesmo é de dinheiro. Um segredo, sabe. – sorriu – Não vou te contar agora.

Ele se sentou, esperando e batendo as patas levemente no chão.

— Quer outro? – ela sorriu.

O lobo deitou no chão com a cabeça sobre suas pernas. Hanabi tirou outro Pan de dentro da sacola.

— Êh! – sorriu ela – Eu sei como você gosta de repetir. Tem até um terceiro se quiser. – riu.

Ela deu a comida à ele, que comeu mais uma vez. Hanabi abraçou os joelhos, apoiando a cabeça neles e vendo-o comer. Estava cansada do dia de trabalho e acabou deitando no chão, apoiando a cabeça sobre as costas do lobo.

— Só vou deitar um pouquinho... – falou – Não se importa, né? – sorriu.

O lobo terminou de comer e deitou a cabeça em direção à Hanabi, vendo-a cair no sono. Quando adormeceu, o lobo levantou cuidadosamente e cheirou a cabeça de Hanabi, que suspirou ainda dormindo.

— Hana-chan? – ele a chamou.

O lobo sorriu levemente e se foi. Hanabi ficou dormindo, deitada ao lado da árvore por alguns momentos. Shouya se aproximou, vendo Hanabi e se aproximando dela. Se ajoelhou ao seu lado e tirou seu cabelo loiro da frente de seu rosto para vê-lo.

— Hana-chan. – chamou-a – Hana-chan. Acorde.

Hanabi despertou, abrindo os olhos lentamente e vendo Shouya, arregalando os olhos e sentando.

— Sho-ch...? Eh... Shouya-kun? – perguntou com o rosto completamente vermelho.

Ele sorriu, sentando ao seu lado.

— O que faz aqui sozinha?

— Ahm... – ela desviou o olhar – Eu não estava sozinha.

— Não? – Shouya sorriu – Não me diga que estava com um garoto na floresta?

— Não! – Hanabi exclamou, corando novamente – Eu nunca...! Eu...

— Estou brincando. – Shouya sorriu, fazendo-a corar mais – Quer que eu a leve para casa?

— Por quê?

Shouya franziu a testa.

— Não quer?

— Claro que quero! – exclamou Hanabi, desviando o olhar em seguida por ter falado tão rápido – Mas eu não... Quero incomodar.

— Não vai. – ele levantou, oferecendo a mão.

Hanabi pegou sua sacola de compras, segurando a mão de Shouya e levantando, soltando sua mão em seguida, envergonhada.

— Veio pra cá com uma sacola de compras?

— Comprei Melan Pan pra um amigo.

— Ah. – falou Shouya ao começarem a andar.

— N-Não é um amigo garoto... – ela corou – É um amigo... Da floresta.

— Um animal?

— H-Hum. – assentiu.

— De que tipo?

— Não vou contar. – ela encolheu os ombros.

Hanabi sabia bem que se contasse que Shou era um lobo, Shouya diria para ela parar de ir à floresta, pois era perigoso ficar com um lobo. Porém ela mal sabia que Shou, o lobo, era Shouya, sua paixão.

Shouya não estava brincando com Hanabi sem que ela soubesse. Ele a encontrou sem querer e ela o viu sem querer como lobo. Não era para acontecer. Porém ele não podia deixá-la com medo da floresta, indo embora como lobo. Conquistou sua confiança, deixou-a confortável. Porém algo que ele nunca imaginou que pudesse, estava acontecendo. Ele estava começando a gostar de Hanabi de uma forma diferente.

Antes, ele dizia que era apenas preocupação. Olhava-a de longe ela ir embora da floresta depois de algumas horas. E ele sabia bem que ela estava esperando por ele. Mas após se encontrarem, algo mudou. Shouya começou a encontrá-la, pondo em sua mente que não era nada demais, pois na verdade não era ele, mas apenas um lobo. Porém Hanabi conversava com ele, afagava sua cabeça e deitava a cabeça sobre ele. Poderia pensar que eram apenas amigos, mas ele sabia que não eram. Hanabi já se confessara há oito anos para ele, quando era uma menina. Ele sabia que ela tinha coragem para isso e sabia que ela ainda gostava dele. Porém ele tinha medo de gostar dela. Por vários motivos.

Ele não podia, não devia. Ele não queria que ela sacrificasse sua vida se os dois ficassem juntos. Então ele não correspondia aos sentimentos de Hanabi. Pelo menos era o que ele pensava.

Ambos caminhavam lado a lado, calados. Shouya olhava de vez em quando para Hanabi, que o olhava frequentemente pelo canto do olho, corando.

— Então... Não vai mesmo me contar que amigo é esse? – perguntou Shouya.

— Não posso.

— Mas eu descobri uma coisa.

— E-Eh! Mentira! – Hanabi o olhou com os olhos arregalados – Mas eu não disse nada...

Shouya gargalhou, olhando-a em seguida.

— Eu apenas ia dizer que ele gosta de Melan Pan.

— A-Ah... – ela abaixou o olhar, envergonhada – Desculpe.

— Então ele também gosta de Melan Pan, né.

— H-Hum... – ela assentiu, lembrando-se de algo.

Shouya gostava de Melan Pan também. Hanabi se sentiu estúpida por não se lembrar disso antes, então parou e tirou o último Pan da sacola.

— S-Shouya-kun...

— Hum? – ele se virou para ela, parando.

— Quer...? É o último.

Shouya sorriu. Os dois se sentaram em um tronco deitado na grama que havia perto da trilha e dividiram o Pan. Na verdade Hanabi ia deixá-lo para Shouya, porém ele ao pegá-lo ofereceu a ela e o dividiram ao meio. Enquanto comiam, continuavam a conversar. Hanabi nunca se sentiu tão feliz quanto naquele momento.

— Eu já li aquele livro que você me deu.

— Qual?

Shouya achou graça.

— Os dois. Pretende me dar mais?

— Sim.

— Eh? – ele a olhou, sorrindo e vendo que ela falava sério – Verdade?

— Hum. – Hanabi assentiu – São dois. Mas vou dar aos poucos pra poder ver mais você.

Ela corou extremamente ao dizer. Hanabi não entendia como tinha coragem de falar certas coisas à Shouya. Parecia surgir uma súbita bravura em si que a fazia dizer essas coisas. Mas sempre ficava com vergonha logo após fazê-lo.

— Hana-chan é direta. – Shouya sorriu – Sempre foi. Desde os oito anos.

Hanabi o olhou, surpresa, e pensou.

— Foi quando me declarei pra você. – lembrou-se – Ainda se lembra disso?

— Claro. – ele sorriu – Não é todo dia que uma menina de oito anos se declara pra você.

— Você não é tão velho. – resmungou ela – Apenas oito anos.

Shouya sorriu e pôs a mão sobre a cabeça de Hanabi, afagando-a.

— E você nunca ligou pra isso, não é? – disse ele.

Hanabi o olhou, semicerrando os olhos. Shouya parou de sorrir ao notar aqueles grandes olhos verdes e brilhantes o olhando, parando de afagar sua cabeça. Abaixou o olhar, vendo o que ele mesmo fazia. Era bonzinho demais com Hanabi e se esquecia às vezes que ela não era mais uma menina, mas uma jovem. Ele corou, percebendo como seus olhos verdes e brilhantes o atraíam.

— Desculpe.

— Você realmente não percebe que ainda gosto de você, Sho-chan? – perguntou Hanabi, percebendo como o chamou – Ou apenas finge que não sabe?

Shouya desviou o olhar, corando levemente e não sabendo o que fazer, o que era raro.

— Você é amiga da minha irmã. E mais nova que eu.

— Pare de dizer as mesmas coisas. – pediu ela – Ame não se importa e a idade não conta. O que vai fazer quando eu tiver 20 ou 25 anos? Você não vai mais poder usar essa desculpa.

Shouya a olhou, vendo sua expressão séria e triste.

— Hana-chan...

— Pare de me chamar assim. Não sou mais criança.

— Hum...

— Diga que não gosta de mim.

Shouya abaixou o olhar.

— Eu... Eh...

Hanabi se aproximou, ainda olhando-o com os olhos semicerrados.

— Diga que não sente nada por mim.

— Claro que sinto. Você é a amiga da minha irmã. – ele sorriu, tentando convencer a si mesmo.

— Não vale. – Hanabi sorriu, contendo as lágrimas – Se... – sua voz ficou embargada – Se disser eu desisto... Eu desisto de você... Desisto de tudo. Apenas fale de uma vez.

As lágrimas começaram a escorrer por suas bochechas enquanto ela esperava por uma resposta. Shouya apenas a olhava. Ela estava corada, suas bochechas bastante vermelhas. Hanabi então pôs a mão no rosto de Shouya, que estava imóvel. Ele não conseguia responder. Ela aproximou o rosto lentamente e o beijou sem hesitar. Shouya não fechou seus olhos, porém quando Hanabi cessou o beijo e abaixou sua mão, ele pôs a mão atrás da cabeça dela e a puxou, beijando-a e cerrando os olhos.

A partir desse momento, nenhum dos dois sabia o que aconteceria dali pra frente.


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Notas finais do capítulo

Obs: Os capítulos que conterem nomes como este e o anterior de Haru e Takashi são em terceira pessoa. Os capítulos sem nomes, apenas o nome do capítulo mesmo, são com Ame contando a história. Que está mais voltada para a história dela mesmo.

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