Aki | Outono

(Setembro/23 — Dezembro/21)

Hinata parou sua caminhada ao ver uma folha alaranjada no chão. Ela estava intacta, como se tivesse sido posta ali, e não caído, como era o caso. Ela se abaixou e pegou a folha com cuidado. Aquela era uma momiji, uma árvore característica do país, que dava a beleza que aquela época do ano pedia.

O calor do verão tinha ido embora pouco a pouco, agora, já em novembro, o frio começava a se anunciar. As pessoas ficavam menos do lado de fora de suas casas, caso pudessem. As crianças já estavam estudando e, por isso, as ruas ficavam bem mais quietas.

Hinata estava vestindo sua saia longa e blusa de manga comprida, mas o vento que batia, sacudindo seu cabelo, estava mais frio do que a sensação térmica sem ele. Ela estremeceu e segurou firme aquela forma. As cores laranja lhe lembravam de Naruto.

O Uzumaki estava em uma missão, prestes a chegar a qualquer instante, levando em conta o que ele lhe disse antes de sair. A saudade apertava seu peito, apesar de fazer apenas algumas semanas que ele tinha partido. E apesar de se preocupar com ele, não temia. Sabia que Naruto em breve chegaria, e muito bem.

Quem mais estava sentindo nisso tudo era Ino. A missão fora dada para o antigo time do rapaz, ou seja, Naruto, Sakura e Sai. O moreno e Ino haviam se casado há pouco tempo e a Yamaka ainda vivia sua lua de mel quando o marido fora chamado para a missão. Fora uma despedida triste.

Era de lá que a antiga Hinata voltava. Sempre que podia visitava a amiga, buscando dar um consolo para a sua solidão e ansiedade. As duas ficavam conversando sobre a vila e alguns planos que faziam, de modo que o tempo passava mais rápido para os dois lados. Aquele dia, porém, Ino estava inconsolável. Haveria o clássico tsukimi, um festival que acontecia todo ano no mesmo dia. Servia para que todas as pessoas admirassem e adorassem a lua.

Era um momento realmente romântico, mas muitos grupos de amigos se reuniam para passar essa noite juntos. Por mais que Hinata tentasse convencer Ino de que isso seria divertido também, a loira estava irredutível: sentira mais falta de Sai naquele dia do que em qualquer outro.

Mas Hinata sabia que era apenas uma manha. Ino raramente se comportava assim, e quando ela e Sai estavam juntos, raramente trocavam muitas carícias. Ela estava chateada por terem interrompido sua lua de mel, todos sabiam disso.

Enquanto caminhava para casa, via algumas barracas colocando enfeites em comemoração àquela noite. Vários balões de luz enfeitavam seus adornos, pois eram redondos e amarelados, como a lua ficaria naquela noite. Procurava um lugar que poderia comer, mas sua mente sempre voltava ao lugar preferido de Naruto: o Ichiraku. Com o tempo, passara a ser o seu também.

Entrou em casa e foi direto para o quarto. Retirou da mesa de cabeceira um caderno grande, e entre suas páginas já anotadas, deixou a folha alaranjada. Só após guardar é que voltou para suas tarefas rotineiras.

...

— Será que dá pra vocês dois serem mais rápidos? Ainda temos que entregar o relatório. Desse jeito não vamos conseguir chegar a tempo!

Naruto corria a frente dos dois amigos. Tinham completado a missão há um dia, mas como era realmente longe, só chegariam no início da noite. Isso se fossem no ritmo que Naruto pedia, caso contrário, seria apenas no final desta.

— Para que tanta pressa? — reclamou Sakura.

— Hoje é a noite de tsukimi — ele falou. Mas pelo silêncio, percebeu que Sakura não entendeu o significado daquilo. — Gostaria de passar essa noite com Hinata.

Apesar de falar em um tom descontraído, era óbvio que ele se importava o suficiente para não permitir que os amigos fossem lentos. Sentindo o olhar deles em si, sentiu suas bochechas esquentarem e se amaldiçoou por corar na frente dos dois.

— Ah! Quem diria? Agora quem fica vermelho é o Naruto. — Como sempre, ao falar, Sai mostrava real surpresa, como se não notasse o quanto suas palavras apenas auxiliavam na vermelhidão do amigo.

— Ah, cala a boca! — o Uzumaki reclamou, arrancando risadinhas da Haruno.

Apesar da implicância com o amigo, os outros dois aceleraram sua corrida, o acompanhando, finalmente.

— E você, Sai, não está ansioso para ver a Ino? Vocês ainda não estavam em “lua de mel”? — Apesar de um pouco atrasado para implicar com o amigo, Naruto se lembrou do que a loira dissera quando estavam se despedindo.

— Ah, acho que pra ela a gente prolongava a lua de mel pra sempre, só pra não ter que ser contrariada. Ela queria mesmo era vir com a gente.

Naruto e Sakura ficaram encarando o amigo com expressões assustadas. Mesmo assim, acreditavam no que ele dizia. Sai nunca perdia o costume de dizer exatamente aquilo que pensava.

...

Hinata se encontrou com seus amigos no Ichiraku. Kiba e Shino já estavam lá quando ela apareceu, Ino chegou um pouco depois e se sentou com eles. O local estava cheio, pois com o clima esfriando, caldos e comidas quentes eram as melhores escolhas.

Os quatro comeram em meio a conversas e risadas, proporcionadas por Kiba e suas histórias.  Kurenai passou por lá com Mirai, parando quando a menina se inclinou na direção de Akamaru. Ela era a única que sempre tinha liberdade de fazer o que quisesse com ele, sem sofrer qualquer dano por isso. As duas se afastaram um pouco depois, com Kurenai a levando pela mão.

A noite começava a chegar. Primeiro o céu ficou com tons de laranja, vermelho e rosa. Eles caminhavam para o monte dos Hokages, mesmo sendo cedo, para garantir uma boa vista. Quando chegaram lá, apenas o horizonte ainda tinha essas cores e foi capaz de arrancar suspiros de algumas pessoas que também resolveram apreciar a vista daquele lugar.

Algumas fogueiras foram feitas para que todos pudessem se manter aquecidos, afinal, durante a noite a temperatura caída ainda mais. Outras pessoas levaram cobertores e conforme escurecia, iam se enrolando neles.

Kiba praticamente deitou em Akamaru, uma mania que ele nunca perdia. Hinata e Ino sentaram lado a lado, com esperança que isso as ajudasse a se manterem aquecidas junto ao fogo. Shino, como sempre, estava sentado ereto e em silêncio, atento a tudo.

Não demorou para que a lua fosse vista. Quando mais escuro ficava, mais nítida e brilhando ela parecia. Hinata se inclinou um pouco para trás, apoiando-se nas mãos, para poder observar o céu melhor. As estrelas também brilhavam, completando aquela visão maravilhosa.

Ela o sentiu antes de o ouvir ou ver. Sua presença era familiar de todas as formas possíveis. Virou-se, encarando-o no meio de tantas pessoas, caminhando ao seu encontro.

Naruto, claramente, havia passado em casa para tomar um banho, pois seu cabelo, um pouco maior do que o normal, estava ainda molhado, e ele usava suas roupas comuns no lugar do seu uniforme de missão. Ele abriu um grande sorriso quando encontrou as pérolas em sua direção e se tornou impossível para ela não sorrir também.

Apesar da imensa vontade de o abraçar, Hinata não se mexeu, e Naruto agradeceu mentalmente por isso. Sentou-se atrás dela, deixando uma perna de cada lado da esposa e a abraçou. Hinata estava um pouco gelada, provavelmente por conta do tempo frio, mas logo se sentia aquecida pelo abraço.

Os dois ficaram naquela posição por vários segundos. Era o jeito simples, íntimo e discreto de eles se cumprimentarem depois de tanto tempo. Ino, por outro lado, não tentava ser discreta. Ela correu e pulou em cima de Sai assim que o viu, e muitos olhavam para os dois agora.

— Onde está Sakura? — Finalmente Hinata perguntou.

— Ela foi entregar o relatório e disse que iria assistir a lua em outro lugar. — Naruto sorriu e Hinata o acompanhou. De certo modo, eles desconfiavam de onde ela assistiria.

— Que bom que conseguiu chegar hoje.

— Não seria assim se fosse por Sakura e Sai. Os dois são muito lerdos depois que completam a missão, parece até que gostam de ficar acampando.

— Como é que é? — Eles ouviram Ino perguntar, parando com o carinho que fazia no marido e fechando a expressão de seu rosto.

— Ih, se ferrou — Kiba soltou, rindo alto logo em seguida.

— Ah, desculpa, Sai! — Naruto comentou, coçando a nuca e sorrindo sem graça. — Ferrei o lado dele agora — sussurrou para Hinata, que riu baixinho enquanto o casal de amigos se afastava, com Ino fazendo perguntas que o marido ignorava.

— Eles vão ficar bem. Ino estava com muita saudade dele.

— E você de mim? — A pergunta poderia soar provocativa aos ouvidos de outra pessoa, principalmente porque Naruto a fazia em um sussurro, mas fora sincera e curiosa.

— Claro que sim. — O rosto não corou, mas o sorriso de Hinata denunciou o quanto ela ficou sem graça em dizer aquilo em voz alta perto dos seus amigos.

— Que bom! Eu também senti a sua. Você me faz bem. — Novamente, quando admitiu aquilo em voz alta, Naruto estava apenas externando um sentimento e pensamento, uma constatação que havia feito naqueles dias. Não notara o quanto aquelas palavras deixaram Hinata feliz. Estava alheio, olhando para a lua. — Ela me lembra uma outra ocasião.

A Uzumaki olhou para cima, encarando a lua mais uma vez.

— Quando nós enfrentamos Toneri — ela sussurrou.

— Quando eu percebi que te amava pelo o que você sempre foi. Percebi que o que eu sentia era amor.

Ele sorria, quase como que chamasse de burro pelo sorriso, por ter demorado para notar o que significava o próprio sentimento. Como antes, ele apenas externava um pensamento.

— Foi quando eu lhe beijei pela primeira vez. — Ele lembrou, finalmente olhando para os olhos brilhantes. — Seus olhos brilhavam exatamente assim antes que eu fizesse isso. — Desta vez, ao ouvi-lo, Hinata corou. — E suas bochechas coraram assim depois.

Sem hesitar mais, Hinata aproximou o rosto do dele, selando os lábios em um beijo leve e carinhoso. Nele havia saudade, pelo tempo que ficaram separados, mas também havia nostalgia, pela lembrança que a lua lhes trouxera. Fora com a lua que a história de amor se consumara, e por isso eles tinham muitos motivos para lhe adorar.