Fuyu | Inverno

(Dezembro/21 — Março/13)

Hinata estava sentada de frente para a janela. Observava a neve cair em pequenos flocos e se juntar as demais que se acumulavam no chão. Enquanto seus olhos acompanhavam os flocos de neve, sua mente voltava à mesma época no ano anterior.

Foi há um ano que tinha decidido agir, que decidira que não ia mais ficar quieta sobre os seus sentimentos, que iria dizer, após toda a tensão da guerra, após o luto passar, que iria abrir seu coração e mostrar os seus verdadeiros sentimentos, definitivamente.

O que ela não imaginou naquela época é que o destino resolvera lhe ajudar com uma grande reviravolta. Tudo acabara bem. Tudo acabara seguindo para onde ela estava. E pensar naquilo lhe arrancava um sorriso saudoso e feliz.

— Bom dia! — A voz rouca de Naruto cortou o silêncio daquela manhã. Hinata se virou, ainda sorrindo para ele, e o Uzumaki, ainda coçando os olhos, sorriu de volta. — O que faz acordada tão cedo?

— Olhando a neve — ela respondeu e apontou para a janela logo em seguida.

— Minha época do ano preferida — ele comentou, sentando-se ao lado dela e a abraçando.

Hinata sempre imaginou que Naruto gostasse do verão, pois ele sempre reclamava do frio. Mas bastou que ele a olhasse para que entendesse que o motivo era o mesmo que o dela. Ele tinha as mesmas memórias que a esposa.

— Faz um ano... — ele comentou em um tom baixo. Não havia esquecido a data, da mesma forma que ela.

­— Eu te amo... — ela sussurrou, deitando a cabeça no ombro dele.

No mesmo instante os braços do Uzumaki a apertaram em um abraço, e ele suspirou.

— Eu te amo mais a cada dia. Eu não imaginava que isso fosse acontecer, mas aconteceu. — Após constatar aquilo, ele riu baixo e Hinata o acompanhou.

— Você irá fazer algo hoje? — ela perguntou após alguns segundos em silêncio.

— Sim. — Era como se estivesse esperando que ela perguntasse. No mesmo instante, Naruto se levantou e correu para o quarto. Hinata não entendeu de imediato.

Ele voltou com um envelope comprido e estendeu para ela.

— O Festival Rinne está chegando, mas como até lá podemos fazer outros planos, decidi que hoje seria uma boa data.

Hinata pegou o envelope de sua mão, abrindo devagar. Dentro havia duas reservas para as termais naquele dia. Os dois passariam o dia lá, com massagem, buffet e, claro, um banho nas águas termais. A última vez que estiveram em um lugar assim foi em sua lua de mel, com o presente que Shikamaru dera.

— Isso é... demais! — Hinata ficara um pouco envergonhada, porque não imaginara algo tão grande assim para um presente do Festival Rinne.

— O presente é mais meu do que seu, eu sei. É só que eu queria muito curtir um pouco mais um dia assim com você. Faz tempo desde a última vez e como essa data a gente comemora um ano, eu pensei que poderia ser uma boa ideia. Você gostou?

Só então ela percebeu que ele estava com medo de ela não ter gostado. No mesmo instante Hinata sorriu e se levantou também. Ela o abraçou, dando um beijo no queixo do marido, que abaixou um pouco mais para conseguir alcançar seus lábios e transformar aquele beijo casto em um mais intenso.

— Antes de irmos, tenho algo para você também. — Ela se afastou um pouco, apenas para pegar uma caixa de presente em cima da mesa de centro. O Uzumaki estivera tão distraído que não a percebeu, como era muito comum. — Não é algo tão grande, mas acredito que o significado seja.

Pegando o embrulho da mão de Hinata, Naruto o abriu com rapidez. Quando viu o seu conteúdo, o sorriso doce, que Hinata recebia com frequência, apareceu nos lábios dele.

Ali havia um novo cachecol. Ao contrário do último, que ela refizera pouco depois e ele ainda tinha guardado, este era laranja e ele poderia usar com sua roupa de missão como se fosse parte desta. Mas o que o fez se emocionar foi que ela se deu ao trabalho de fazer mais um sem que ele visse. Ela garantiu em colocar seus sentimentos naquele trabalho, como fizera no ano anterior.

— Eu adorei, Hinata. Obrigado! — Se inclinou e a beijou nos lábios. — Acho que vou usar para irmos para as termais, o que acha?

Hinata riu, concordando enquanto o acompanhava até o quarto, onde se trocariam.

...

Assim que chegaram, foram encaminhados para a massagem para casais. Naruto não gostava muito dessa parte, mas quando olhava para Hinata relaxada e com um sorriso nos lábios ao seu lado, valia a pena. Isso era a única coisa que o impedia de reclamar. Mas o conhecendo como conhecia, Hinata não aceitava muito tempo naquela parte.

Eles almoçaram no local e foram descansar. Apenas quando duas horas se passaram, após a refeição, eles puderam ir para as águas termais juntos. Estavam apenas os dois e Naruto não conseguia evitar olhar para a esposa quando ela se livrava da toalha para entrar e até quando a água cobriu seu corpo. Ele não conseguia ver muito, porque o vapor que subia impedia, mas era o suficiente para que não resistisse em puxá-la para perto.

Ficaram por lá o quanto conseguiram, saindo quando o calor começou a tornar suas peles vermelhas. Haviam tido uma ótima tarde juntos e sozinhos depois de muito tempo. Não havia como não estarem felizes.

Ao voltarem no quarto, o jantar estava os esperando já posto à mesa. Em meio a uma conversa leve e risadas, eles comeram juntos. Ao terminar, seguiram para o tapete de frente para a lareira que havia no cômodo. Tinham seguido toda a programação do lugar e agora, com a noite chegando, tinham o tempo livre para ficarem juntos em frente ao fogo.

— Gostou? — por fim, Naruto perguntou.

— Impossível não gostar, Naruto. Foi perfeito!

— Foi, não foi? — ele falou, animado, abrindo um grande sorriso.

Hinata riu baixo. Ele era o mesmo Naruto por quem se apaixonada. Capaz de ter receio de algo bobo e ao mesmo tempo, ter certeza do que fazia. Bastava uma palavra dela e ele mostrava-se mais confiante, como ela amava. E como sempre, era sem ao menos notar que isso acontecia.

— Naruto? — o chamou, virando-se. Hinata estivera encostada dele, sentada entre suas pernas e sendo abraçada, mas ao virar-se, ele a soltou. — Preciso te contar uma coisa. Sei há alguns dias, mas queria lhe contar hoje, pois é um dia especial.

— Sim, hoje é um dia especial. Então acho o que vai falar é especial também, não é mesmo?

— Sim, eu acho que sim. Espere apenas um momento.

Hinata se levantou e caminhou até a sua bolsa. Eles ainda estavam com os roupões do lugar, pois tinham saído das termais e, até então, não haviam trocado de roupa.

Quando voltou para junto dele, Hinata tinha um papel nas mãos. Logo o estendeu para Naruto.

Ela, assim como o próprio, reconheceram aquela caligrafia. Ino ficara responsável por retirar os pedidos feitos no festival de Outono e, assim como Hinata, soube que aquela letra meio bagunçada era de Naruto. Recebera o pedido da Yamanaka no mesmo dia e agora, tanto tempo depois, sentia que poderia mostrar a Naruto que o tinha.

— Como conseguiu isso? — Ele não parecia bravo, o que a tranquilizava.

— Ino foi quem retirou os pedidos da árvore e ela reconheceu sua letra.

— Ah! Não da nem pra manter os desejos anônimos. — Apesar do comentário, Naruto estava com o rosto avermelhado. — Olha, Hinata, não é nada que eu queira para agora, sabe? É que eu já tenho praticamente tudo que eu poderia querer e... — Ele parou, suspirando. — A quem quero enganar? Estou só me complicando mais, não é?

— Um pouco. — Ela riu baixo. Havia se sentado de frente para, mas se aproximou mais naquele momento e pegou as duas mãos de Naruto. — Gosto disso em você também. Não precisa esconder o que quer, o que pensa e, mais ainda, o que sente. Ainda é o seu desejo?

— Pra ser sincero, sim. — O comentário saíra em voz baixa e da mesma forma estava a cabeça de Naruto.

Hinata, ainda sobre o roupão, levou as mãos de Naruto até sua barriga e esperou que ele a olhasse. Quando isso aconteceu, a mulher tinha um sorriso nos lábios e seus olhos estavam marejados. Em sua mão esquerda havia um papel, com a sua caligrafia, e ela o deixou sobre a mão de Naruto.

— Nossos desejos se realizaram.

Em ambos os papéis havia um mesmo desejo. Desejo que começava a se realizar naquele momento, se desenvolvia no ventre de Hinata. Um desejo que fez Naruto rir e chorar ao mesmo tempo; que o fez se debruçar na direção dela e lhe beijar a barriga nua, após abrir o roupão que usava. Um desejo que, mais uma vez, mudaria completamente suas vidas.