Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 8
Going up to You


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal. Sejam muito bem-vindos a segunda rodada de Encontros, Acasos e Amores.

Muito prazer, eu sou a Débora (deboraduarteb) e estou imensamente feliz e honrada por estar participando desta coletânea de Ones ao lado de autoras tão incríveis, que tanto me inspiram e pelo qual sou uma eterna admiradora. Por isso deixo aqui meus eternos agradecimentos a todas vocês meninas, está sendo um prazer enorme para mim participar desse projeto, então, muito obrigada! :-)

A minha desafiadora foi a Silvia, e o tema do desafio foi: “Repensar suas escolhas”. Os personagens principais serão Peeta e Katniss, e a história basicamente mostra como muitas vezes nos arrependemos de nossas escolhas, em como de certa forma tentamos remedia-las. Entretanto, muitas vezes não há como reverter o que já foi dito ou feito, e só nos resta arcar com as consequências disso. O capítulo ficou um pouquinho grande, mas espero ter alcançado as expectativas tanto da Sil, como a de vocês leitores. Então, boa leitura e nos vemos lá embaixo.

OBS: Banner feito por mim.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/731702/chapter/8

"Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências."

— Pablo Neruda

***

— Não Johanna! Já disse uma vez e vou repetir. Não vou sair com o Cato! — exclamo abrindo a porta de meu apartamento.

Qual é Katniss?! Quer dizer que você vai ficar encalhada para sempre? — pergunta com certa incredulidade do outro lado da linha.

— Qual o problema? Eu não ligo. — respondo sem muita importância e a ouço resmungar — Estou muito bem sozinha, ok? — deixo as chaves sobre a mesa e vou até a cozinha, o cansaço já consumindo meu corpo.

Não. Você não está. — suspira pesadamente — Amiga, já se passaram anos. Está mais do que na hora de você recomeçar, de esquecê-lo de vez.— argumenta fazendo-me revirar os olhos enquanto encho um copo com água.

— Olha Jôh, estou super cansada, o plantão hoje tirou todas as minhas energias. Só quero descansar e não discutir minha vida amorosa, então, por favor, não enche! — exclamo com raiva. Meu dia já havia sido ruim o suficiente, e ela como minha melhor amiga em vez de melhora-lo, só o estava piorando.

Não se preocupa, não vou mais te incomodar. Mas você melhor do que ninguém sabe que eu só quero o seu bem, e enquanto você não resolver essas amarras que te prendem ao passado, nunca será completamente feliz. — e com isso ela desliga o telefone, fazendo minha raiva se dissipar e em seu lugar o peso da culpa. Sei que não devida ter falado com ela desse jeito, mas realmente não estou em um bom dia.

Bebo toda a água que contem no copo e sigo em direção à sala. Tiro os meus sapatos, sentindo instantaneamente o alivio por ter meus pés livres e deito-me no sofá.

— Dia exaustivo? — a voz de Prim ecoa pelo cômodo fazendo-me erguer minimamente meu corpo para encara-la.

— Você não imagina o quanto. — respondo fazendo-a sorrir enquanto se aproxima para depositar um beijo em minha bochecha — Vai sair?

— Vou. Oliver me convidou para jantar e eu aceitei.

— Humm... Depois vou querer saber quais são as intenções dele com você. — aviso, arrancando uma leve gargalhada sua enquanto se aproxima da porta.

— Você não existe Niss. Beijos, até mais tarde.

— Beijos e trás torta pra mim! — falo alto quando ela passa pela porta.

— PODE DEIXAR. — grita do outro lado, sorrio. Ainda é surreal para mim, ver o quanto Prim cresceu. O tempo passou tão rápido e aquela garotinha de nove anos que vivia em meu encalço, hoje já está com dezenove e cursando direito.

Volto a me acomodar no sofá fechando meus olhos na tentativa de relaxar, de esquecer o dia exaustivo que tive hoje. Contudo, as palavras de Johanna martelam em minha mente. Esquecer, recomeçar, desprender-me das amarras do passado. Será que eu consigo fazer isso?

Abro meus olhos e desbloqueio a tela do celular, vou em meus contatos e lá está seu número, acompanhado de uma bela foto sua sorrindo. Mesmo depois de tantos anos, nunca fui capaz de apagar seu contado. Perdi a conta de quantas vezes fiquei encarando seu número, na indecisão se ligava ou não para ele. Mas no fim das contas, sempre desistia.

Ainda encarando sua foto na tela de meu celular, imagens da última vez que nos vimos veem como bombardeios em minha mente. Cada palavra dita, com tanta intensidade, com tantos sentimentos envolvidos... Fecho meus olhos novamente e é como se eu houvesse voltado para aquela primavera há dez anos.

“Peeta me encara com incredulidade, seus lábios estão em uma perfeita linha reta e seu cenho está levemente franzido. Ele parece ter perdido a capacidade de falar e eu, bem, estou aflita e sentindo um nó em minha garganta. É uma sensação angustiante, como se eu fosse sufocar a qualquer momento. Seus olhos desviam-se dos meus e encaram o belo lago a nossa frente. O silencio se torna insuportável.

— Fala alguma coisa, por favor. — imploro nervosa. Ele respira fundo e volta seus belos olhos azuis para mim novamente.

— Quer dizer que... Que você vai se mudar para Massachusetts? — sua voz sai baixa e fraca.

— Sim.

— Katniss, isso por acaso é algum tipo de brincadeira? Porque se for, por favor, não tem graça. — vejo em seus olhos que ele quer que eu diga que sim, que aquilo não passa de uma brincadeira, entretanto, não posso mais ocultar a verdade.

— Não Peeta, não é brincadeira. Sinto muito. — digo baixinho, sentindo um gosto amargo instalar-se em minha boca e vejo seus olhos, consequentemente, se tornarem tristes.

— Massachusetts fica do outro lado do país Katniss! Eu... Eu não entendo. Achei que você fosse cursar sua faculdade aqui, que fosse ficar aqui comigo, eu... — ele parece atordoado e as palavras, que tantas vezes saíram de sua boca facilmente, já não eram mais encontradas — Por que você não me falou antes? Por que não me contou que havia se inscrito em Harvard? — pergunta, minutos depois.

— Porque eu não esperava ser aceita. — solto um longo suspiro antes de continuar — Você sabe que meu sonho sempre foi cursar medicina...

— Mas você nunca citou Harvard. — interrompe-me.

— Porque para mim sempre pareceu um sonho impossível! Mas sempre sonhei em cursar medicina lá, e dois meses atrás, quando Effie me chamou em sua sala e disse que estaria disposta a mandar uma carta de recomendação, para qualquer faculdade que eu tivesse interesse, não pensei duas vezes. — falo tudo em um fôlego só — Mas nunca passou pela minha cabeça que, dentre milhares de pessoas, eu fosse uma das escolhidas.

— Você devia ter me contado! Esse sempre foi um ponto muito importante em nosso namoro, nunca escondermos nada um do outro.

— Eu sei tá legal?! Eu sei... Desculpa. — o silencio paira novamente entre nós, ficamos somente um encarando o outro, presenciando o sofrimento um nos olhos do outro, até esse sofrimento vir em forma de lágrimas e sem me conter, envolvo seu pescoço em um forte e caloroso abraço, sendo correspondida com a mesma intensidade por ele.

 Desde o momento que recebi minha carta de confirmação, soube que não seria nada fácil ter que contar para Peeta. Assim como não estava sendo nada fácil para mim. Eu estava entre a cruz e a espada. De um lado estava Peeta, o cara que eu amo. Do outro estava a grande chance de realizar meu maior sonho. Eram dois caminhos e uma escolha. Escolha essa que mudaria minha vida para sempre.

Não sei por quanto tempo permanecemos abraçados, mas aos poucos nos separamos. Peeta delicadamente levou sua mão até minha bochecha e suavemente começou a enxugar minhas lágrimas, esse simples gesto seu me fez fechar os olhos para apreciar melhor a tão reconfortante sensação de ter sua mão em contato com minha pele. Eu sentiria muita falta de seus toques, de nossos momentos.

— Você vai embora... — murmura e essas simples palavras parecem tortura-lo, assim como a mim também — Como a gente fica Katniss? — sua pergunta vem acompanhada de um olhar melancólico.

— Eu não sei Peeta. Sinceramente não sei. — solto um suspiro frustrado — Talvez a gente posse continuar juntos. Muitas pessoas namoram a distancia. — argumento e o vejo torcer os lábios em uma leve careta.

— Qual é Niss? Nós dois sabemos que namoro a distancia não funciona.

— É. Eu sei. — resmungo. Suas mãos afastam-se de meu rosto para que possa entrelaçar nossos dedos.

— Você tem mesmo que ir? Eu sei que é importante para você, mas, olha aqui em Los Angeles tem ótimas faculdades também, não precisamos nos separar. Basta você ficar e eu prometo que vou te fazer muito feliz.

— Eu não acredito que você está me pedindo isso! — exclamo puxando bruscamente minhas mãos das suas. Suas palavras me deixaram com raiva, muita raiva. Ele estava mesmo me pedindo para desistir do meu sonho?

— O que foi? — pergunta assustado devido ao meu comportamento.

— Esse sempre foi meu sonho desde que me entendo por gente Peeta! Não vou deixar de realiza-lo por causa de um simples namorico de colegial, que futuramente possa vir a ser nada! — pronuncio enraivecida, porém me arrependo no mesmo instante ao ver o peso de minhas palavras caírem sobre seus ombros. Não queria magoa-lo, mas naquela altura do campeonato, era inevitável, tanto para ele quanto para mim.

— Depois de tudo que vivemos é assim que você pensa? Que nossa relação não passa de um namorico de colegial? Bom saber. — ri sem humor e em seus olhos vejo a dor causada por minhas palavras.

— Peeta e-eu não...

— Já vi que estava errado a seu respeito. — interrompe-me secamente ao se por de pé. O encaro confusa e também me levanto, ficando a sua frente.

— O que você quer dizer com isso?

— Que você é igualzinha a sua mãe, Katniss. — suas palavras são como socos em meu estomago. Se ele tivesse me chamado de vadia, ainda sim, doeria bem menos do que ser comparada com aquela mulher pelo qual sinto tanta repulsa.

— Não ouse me comparar com aquela mulher! — pronuncio entre dentes. Raiva, dor, angustia, magoa, tristeza, todos esses sentimentos estavam borbulhando em meu interior.

— Fica difícil quando você está agindo exatamente igual a ela, fria e calculista. Sem dar a mínima para os sentimentos dos outros. — seus olhos me encaram e vejo que neles estão presentes os mesmos sentimentos pelos quais compartilho.

— Quer saber? Não vou ficar aqui discutindo com você! Tenho coisas muito mais importantes para fazer! — as lágrimas já faziam caminho novamente por minhas bochechas. Estava me sentindo completamente quebrada por dentro, era como se um buraco houvesse se formado em meu coração. E naquele momento a única coisa que eu queria era sair dali, por isso peguei minha bolsa e lhe dei as costas.

— Eu já devia ter imaginado. Você sempre deixou claro desde que nos conhecemos que seu sonho sempre viria em primeiro lugar. Mas eu achei que meu amor por você, que o nosso amor pudesse vir a ser uma prioridade para você também Katniss, assim como foi para mim, mas eu me enganei, não é mesmo? — suas palavras me fazem virar novamente em sua direção, e quando o encaro, a dor em meu peito se intensifica ainda mais. Lágrimas escorrem por suas bochechas enquanto seu lábio inferior treme levemente. Ele estava tão quebrado quanto eu.

— É Peeta. Você se enganou. — as palavras saem de minha boca em um sussurro, esmagando ainda mais meu coração. Lanço-lhe um último olhar, guardando para mim cada detalhe de sua face tão bela, e então, dou-lhe as costas novamente e vou embora de sua vida, mas deixando consigo uma parte minha que, nem mesmo eu, sabia que existia.”

Sento-me no sofá e enxugo minhas lágrimas. Essas lembranças estão sempre me atormentando. Éramos jovens demais, imaturos, nos decepcionamos, quebramos o coração um do outro e o mais triste de tudo, é que fomos nós mesmos os culpados, nós e as circunstancias.

Respiro fundo e recosto-me no sofá, meu corpo reclama devido ao cansaço, porém não consigo dormir, não quando minha cabeça está a mil, principalmente por conta de um certo loiro de olhos extremamente azuis. Ligo o radio no intuito de relaxar e ver se consigo organizar meus pensamentos, mas quando as primeiras batidas da melodia ecoam pela minha sala acabo rindo. É a mesma música que Peeta e eu dançamos no baile de formatura, irônico não? É. O universo hoje resolveu tirar o dia para me fazer relembrar o loiro.

Hold up (Aguente)
Hold on
(Aguente)
Don't be scared
(Não se assuste)
You'll never change what's been and gone
(Você nunca mudará o que aconteceu e passou)

May your smile, may your smile (Que seu sorriso, que seu sorriso)
Shine on, shine on
(Brilhe, brilhe)
Don't be scared, don't be scared
(Não tenha medo, não tenha medo)
Your destiny may keep you warm
(Seu destino talvez te mantenha aquecido)

Essa música sempre me trouxe boas recordações, a noite do baile realmente foi uma das melhores da minha vida. Sorrio com as lembranças. Peeta e eu dançávamos no meio do salão, sem nos importamos com os passos errados. Devo admitir, nunca fomos bons dançarinos.

'Cause all of the stars (Porque todas as estrelas)
Are fading away
(Estão desaparecendo)
Just try not to worry
(Apenas tente não se preocupar)
You'll see them some day
(Você as verá algum dia)
Take what you need
(Pegue o que você precisa)
And be on your way
(E siga seu caminho)
And stop crying your heart out
(E faça seu coração parar de chorar)

Get up, get up (Levante, levante)
Come on, come on
(Vamos, vamos)
Why're you scared? “I’m not scared”
(Porque você está assustado? “Eu não estou assustado”)
You'll never change what's been and gone
(Você nunca mudará o que aconteceu e passou)

Peeta foi o primeiro homem da minha vida, ele me fez sua, me tornou mulher. E não posso evitar todas as lembranças que estão sempre me assolando, seja de um jeito bom, ou de um jeito ruim. Peeta deixou suas marcas em mim, não posso negar, eu realmente fui muito feliz ao seu lado. Entretanto, a vida é feita de escolhas e com essas escolhas vêm suas consequências. Para realizar meu sonho tive que abrir mão do amor que sentia por ele. E as consequências dessa escolha foram que nos magoamos muito, e em todos esses anos, não consegui me envolver com mais ninguém.

'Cause all of the stars (Porque todas as estrelas)
Are fading away
(Estão desaparecendo)
Just try not to worry
(Apenas tente não se preocupar)
You'll see them some day
(Você as verá algum dia)
Take what you need
(Pegue o que você precisa)
And be on your way
(E siga seu caminho)
And stop crying your heart out
(E faça seu coração parar de chorar)

Às vezes eu me pego pensando em nós dois. Como estaríamos hoje se eu não houvesse ido embora? Ainda estaríamos juntos? Casados? Com filhos? Eu teria me formado em medicina? Ou teria escolhido outra profissão? Seriamos felizes? São muitas perguntas para muitos “eu não sei”.

We're all of us stars (Nós somos todas as estrelas)
We're fading away
(Nós estamos desaparecendo)
Just try not to worry
(Apenas tente não se preocupar)
You'll see us some day
(Você nos verá algum dia)
Just take what you need
(Apenas pegue o necessário)
And be on your way
(E siga seu caminho)
And stop crying your heart out
(E faça seu coração parar de chorar)

Ele foi muito importante para mim, na verdade, continua sendo. E não há um único dia que não me arrependa de tê-lo feito sofrer. Aquele definitivamente não era o final que eu queria para nossa história. Eu o amei tanto, mas hoje, as lembranças felizes estão sempre associadas à dor que causamos um no outro.

Stop crying your heart out (Faça seu coração parar de chorar)
Stop crying your heart out
(Faça seu coração parar de chorar)
Stop crying your heart out
(Faça seu coração parar de chorar)

A música acaba me fazendo chegar a uma conclusão. Sim, Johanna estava certa. Eu nunca serei completamente feliz, não enquanto os nós que ainda me prendem ao passado não estiverem completamente desatados. Eu preciso resolver esse impasse, recomeçar. Preciso fazer meu coração parar de chorar. A letra da música está certa quando diz que não posso mudar o que aconteceu e passou, mas posso por um ponto final nesse passado, para só então, seguir meu caminho livre em direção ao futuro.

Olho mais uma vez para sua foto, ele sempre foi tão lindo. Como será que ele está hoje em dia? O que está fazendo? Será que encontrou outro alguém? Esse último pensamento causa um leve aperto em meu peito. A verdade é que, nunca me envolvi com outra pessoa não por medo de me machucar, mas sim porque em meu coração só há espaço para um único homem, e esse tem nome e sobrenome: Peeta Mellark.

Como eu pude ser tão tapada? Passei tantos anos tentando convencer a mim mesma que o amor que sentia por ele havia acabado, quando na verdade, só estava crescendo cada vez mais em meu interior, inconsciente, sem que eu percebesse, como um pequeno botão de rosa, que se regado todos os dias floresce lindamente. Durante todos esses anos sempre senti que faltava algo em minha vida. No começo achei que fosse bobagem ou até mesmo saudades, a final de contas, tive que me mudar para o outro lado do país, longe de meus amigos, longe do meu pai e da minha irmã. Então eles vieram morar comigo, entretanto, aquele vazio permaneceu lá, mesmo eu tendo realizado meu sonho, mesmo tendo alcançado todos os meus objetivos, mesmo tendo minha família por perto, sempre faltou algo, sempre faltou Peeta. Essa é a realidade que tantas vezes tentei ocultar, eu o amo, nunca deixei de amar.

Eu fui orgulhosa demais, imatura demais ao por meu sonho – que no fundo não passou de um capricho a fim de mostrar para a mulher que se disse minha mãe que eu era capaz de chegar onde eu quisesse –, acima dos meus sentimentos, assim como os de Peeta. Hoje eu sou considerada uma das mais renomadas profissionais na área da medicina, mas de nada adianta esse posto, se no final da tarde for para eu chegar em casa e não ser recebida por um confortável abraço e um beijo apaixonado do cara que amo. Não vai valer apena ser bem sucedida financeiramente, se no final for para dormir e acordar sozinha todos os dias.

Um pouco antes de meu pai falecer a cerca de três anos, ele me disse que, ao longo da vida a gente pode gostar de varias pessoas, se apaixonar inúmeras vezes, viver incontáveis histórias, mas que o amor, o amor de verdade você só sente uma vez na vida e ele é para sempre. Não importa quantos anos passem, não importa o quão distante estejam um do outro, não importa se seguiram caminhos diferentes, com pessoas diferentes. O amor permanecerá intacto em seus corações. Na época eu não dei muita importância, mas hoje eu vejo que suas palavras foram especialmente para mim. E ele tinha razão. Ao longo desses dez anos eu tentei seguir minha vida, tentei esquecer Peeta, mas a questão é que, nenhum cara jamais chegou aos seus pés, nenhum deles me fez sentir as famosas borboletas no estômago ou o coração acelerar sempre que chegava perto. Essas sensações só Peeta conseguia me causar, mas fui tão idiota que dei as costas para o único cara que realmente mexeu comigo.

Eu sinto falta de estar ao seu lado observando as estrelas sobre nossas cabeças. Sinto falta das noites que invadíamos a casa do vizinho para mergulharmos na piscina. Sinto falta de ter suas mãos acariciando meus cabelos. Sinta falta do jeito que o brilho do sol iluminava seu rosto. Eu sinto falta de todas essas coisas pequenas, nunca imaginei que elas significariam tudo para mim. Enxugo mais algumas lágrimas que caem enquanto recordo-me de nossos momentos juntos. Eu só queria que ele estivesse aqui comigo. Só queria poder voltar no tempo e fazer tudo diferente, mas infelizmente isso não é possível.

Mas, ninguém é perfeito, certo? Todos nós cometemos erros e temos o direito de nos arrependermos, de tentar uma segunda chance. E é refletindo sobre tudo isso que tomo uma decisão. Pego meu telefone e começo a discar os números já conhecidos por mim.

KitKat, quanto tempo! — exclama animadamente a voz grosa do outro lado da linha, fazendo-me revirar os olhos ao ouvir meu apelido de infância.

— Oi para você também Finnick. — resmungo e as ondas sonoras de sua risada ecoam por meu ouvido.

Oi esquentadinha. A que devo a honra de sua ligação?

— Eu preciso do endereço de Peeta Mellark.

+++

— Katniss, você sabe que isso é loucura não sabe? — pergunta-me Johanna ao sentarmos em nossas poltronas.

— Sei. Mas foi você quem disse que eu precisava resolver meu passado e é isso que estou fazendo.  respondo enquanto abotoo o cinto de segurança.

— Estou começando a me arrepender disso. — resmunga e acabo rindo. Johanna nunca foi muita fã de aviões.

— Qual é Jôh? São só algumas horinhas de voo.

— Horinhas?! São quase 10 horas de voo Katniss! — exclama me fazendo rir mais ainda de seu desespero — Para de rir! Eu ainda não sei por que sou sua amiga.

— Porque você não vive sem mim. — abraço-a de lado — Não se preocupa. Vai ficar tudo bem e o avião não vai cair.

— Assim espero. — murmura apertando fortemente o cinto. Depois de alguns minutos o piloto dá partida em direção a Los Angeles.

Conforme nos aproximávamos do nosso destino, meu nervosismo se intensificava ainda mais. Milhares de perguntas rodeavam minha mente. Como será que ele vai reagir? Será que vai me ouvir ou vai me ignorar? Será que ele vai nos dar mais uma chance? Eram muitas as perguntas e eu estava quase enlouquecendo. Apertei fortemente a mão de Johanna e ela retribuiu o aperto. Nós duas estávamos nervosas, porém, as causas eram diferentes.

É Peeta Mellark, estou indo até você.

+++

— Vamos lá Katniss, você consegue. — murmuro para mim mesma.

Já fazia cerca de três horas desde que havíamos pousamos em Los Angeles, e quando Johanna e eu chegamos ao hotel, não perdi tempo e corri direto para o banho. A ansiedade de reencontrar Peeta estava mexendo consideravelmente comigo. Nem sequer jantei, simplesmente deixei uma Johanna bastante enjoada no quarto e segui rumo ao endereço que Finnick havia me dado.

E cá estou eu, a cerca de vinte minutos parada em frente a um restaurante com o nome Mellark’s tentando criar corangem para entrar.

— Vamos lá Katniss, você consegue. — repito novamente. Respiro fundo, liberando todo o ar de meus pulmões, finalmente criando coragem e em fim, adentro o restaurante.

A primeira coisa que reparei foi na decoração. O lugar era bem amplo e bonito, seu estilo era uma mistura de clássico com anos 90. Bem ao centro do salão estava localizado um bar e um pouco mais ao fundo, um palco com alguns instrumentos. Sorrio analisando cada detalhe. Estava mais do que na cara que o responsável por aquela decoração era Peeta, ele sempre foi fascinado pelas coisas de décadas passadas, entre elas os seus preferidos eram os carros, filmes e músicas. Estava tão encantada com a beleza do lugar que nem me dei conta quando se aproximaram de mim.

— Sinto muito senhora, mas já fechamos. — uma voz doce e suave surgiu atrás de mim fazendo todo o meu corpo estremecer. Em passos lentos girei meu corpo até estar de frente para a tão conhecida voz.

Meus olhos prontamente prenderam-se nos seus e foi como se todas as estrelas finamente houvessem se alinhado em uma perfeita constelação, o azul ao qual sentia tanta falta nunca esteve tão hipnotizante. Analisei cada pedacinho de seu rosto, vendo seus traços agora um pouco mais duros e fortes do que quando tinha apenas dezessete anos. Ele nunca esteve tão lindo, o ar de menino havia dado lugar aos traços de um homem forte e muito charmoso. Naquele momento um milhão de perguntas passaram por minha cabeça; como ele estava, o que havia feito durante todos aqueles anos, se havia sentido minha falta ou se ainda estava magoado por minhas palavras, porém, nenhuma daquelas perguntas escaparam de meus lábios. Seus olhos estavam arregalados e me analisavam curiosamente com surpresa e incredulidade. E assim permanecemos por segundos, minutos ou até mesmo horas, apenas um olhando para o outro, sem pronunciarmos uma única palavra.

Meu coração batia tão rápido em meu peito que eu tinha a leve impressão de que, a qualquer momento ele pularia para fora de meu corpo. Era quase surreal tê-lo ali, bem a minha frente depois de tantos anos separados por quilômetros e quilômetros de distancia. Tento ao máximo puxar o ar para meus pulmões, pois essa simples tarefa parece ter se tornado bastante complicada.

— Katniss? — a pergunta sai de seus lábios em um sussurro quase inaudível.

— Oi... — sorrio nervosamente, minhas pernas começam a falhar obrigando-me a apoiar meu corpo na mesa atrás de mim, para não correr o risco de desabar. Seus olhos se estreitam em minha direção parecendo incrédulos demais para acreditarem que sou mesmo eu ali.

— Oi. — a voz de Peeta sai rouca — O que... Er... O que você está fazendo aqui? — pergunta surpreso e não conseguindo esconder a curiosidade em seu tom de voz. E não era para menos, já se fazia dez anos — Eu não... Desculpa se pareci um pouco indelicado é só que... Já faz bastante tempo. — comenta ao coçar a nuca, seu famoso e épico sinal de nervosismo. 

— Eu sei que devia ter avisado, mas... — sinto as maças de meu rosto começarem a esquentar. Era estranho estar na frente dele depois de tudo o que aconteceu, depois de ter ido embora sabendo que tanto seu coração, quanto o meu estavam quebrados, assim como também era difícil ignorar as borboletas que brincavam no meu estomago. A forma como meu sangue estava borbulhando. Em como as batidas de meu coração pareciam batucar seu nome em um ritmo desesperado — ...Acabei decidindo vir de última hora, não deu nem tempo de avisar todo mundo ainda. — digo meio sem graça. São tantas emoções se misturando em meu interior que, é como se eu tivesse voltado a ser uma adolescente.

— Vai ser uma surpresa e tanto. — acabo rindo de seu comentário.

— É, vai sim. — Peeta sorri de canto, o famoso sorriso que tantas vezes me deixou desestruturada, e desta vez não foi diferente. Seus olhos passaram a me analisar, o brilho agora diferente do que tinha antigamente — O quê? — pergunto o olhando confusa. Era constrangedor ver ele me encarando tanto sem dizer uma palavra. Angustiante até.

— Nada. — ele coça a nuca — É só que... — ri fraco — Depois de tanto tempo, achei que nunca mais fosse te ver novamente. — bastaram essas palavras para o silencio pairar sobre nós deixando o ar um pouco desconfortável. Começo a andar por entre as mesas buscando algo em minha mente que possa amenizar o clima.

— Então... Esse restaurante é seu? — que droga! De todas as perguntas possíveis, por que eu fui escolher logo a mais idiota?

— Acho que isso é meio obvio, não? — pergunta retoricamente ao juntar as sobrancelhas, divertido.

— É. Eu sei. Foi uma pergunta idiota. — admito vendo um gracioso sorriso surgir em seus lábios, e mesmo depois de ter conhecido tantos outros, o seu sorriso continua sendo o meu preferido — Mas, e a padaria? Seu pai ainda trabalha lá?

— Às vezes. Porém a idade exige bem mais dele agora. — explica enquanto se aproxima até estar parado a minha frente, próximo o bastante para que eu sinta o cheiro de seu perfume que prontamente me inebria — Peter agora é quem passa a maior parte do tempo por lá, administrando tudo, já que eu tenho o restaurante para cuidar e este ocupa bastante do meu tempo.

— Entendo. — é tudo o que consigo dizer, pois meu coração disparou loucamente no peito com sua proximidade.

— Mas, então Katniss? O que te trouxe de volta a Los Angeles? — sua pergunta me deixa desconfortável, já que seu tom de voz é extremamente serio.

— Eu vim especialmente para falar com você, Peeta. — minha resposta parece ter pegado-o de surpresa.

— C-Comigo? — ele franze o cenho em confusão, e eu teria rido de sua expressão se não estivesse tão nervosa.

— Sim. Com você. — mordo meu lábio inferior devido ao nervosismo e respiro fundo, péssima ideia, pois seu cheiro fica impregnado em minhas narinas — Eu sei que as coisas não acabaram muito bem entre nós, mas, eu preciso muito falar com você.

Ele me encara por bastante tempo, parecendo pensar sobre minha proposta. Ele sabia exatamente sobre o quê eu queria conversar, afinal de contas, acredito que estava bem nítido em meu olhar. E se eu já estava nervosa antes, a espera por sua resposta estava praticamente me enlouquecendo.

— Eu não sei se é uma boa ideia Katniss. — responde quebrando nosso contato visual, desconfortável, enquanto me dá as costas e vai até as janelas para fechar as cortinas.

— Por favor, Peeta. Eu sei que nós nos magoamos. Mas eu preciso muito mesmo falar com você, por favor. — Suplico. Ele se vira para mim e seus olhos analisam minuciosamente meu rosto, depois de alguns segundos em silencio ele solta um suspiro derrotado.

— Tudo bem. – não consigo conter o sorriso — Pode ser amanhã? No café do Henry?

— Por mim está ótimo! Às 9 horas?

— Às 9 horas. – confirma.

— Então, até amanhã Peeta.

— Até Katniss.

Lanço lhe um último sorriso e volto para o hotel. Até que, para um reencontro depois de tanto tempo, não foi nada mal. Entro no quarto e dou de cara com Johanna assistindo TV.

— Ainda acordada? — pergunto desfazendo-me de meus sapatos.

— Sim. Estava curiosa pra saber como foi sua conversa com o loiro bonitão. — reviro os olhos para o apelido ridículo que ela deu a Peeta.

— Até que não foi nada mal. Vamos nos encontrar amanhã para conversamos com mais calma. — explico, sentando-me ao seu lado para pegar um pouco da pipoca no recipiente em suas mãos.

— Espero que dê tudo certo, porque ninguém merece passar nove horas dentro de um avião colocando praticamente as tripas para fora, para no final ter sido tudo em vão. — comenta com uma leve careta me fazendo rir.

— Você não tem jeito Jôh. — jogo algumas pipocas em seu rosto e corro para o banheiro, antes que ela tenha a chance de me acertar com o travesseiro.

Eu também espero que dê tudo certo.

+++

Meus olhos analisavam minuciosamente as pessoas andando pela rua através das janelas do café. As coisas estavam um pouco diferentes desde a última vez que estive ali. Aquele café me trazia boas recordações, principalmente com meu pai. Depois que minha mãe nos abandonou, todas as tardes ele trazia a mim e a Prim para tomarmos os famosos cappuccinos do Henry. Aquela era a parte favorita de nosso dia, simplesmente sentávamos os três ali conversando, deixando para trás os problemas que nos assombravam. Ah papai, como eu sinto sua falta.

Não sei por quanto tempo fiquei divagando com minhas memórias, mas fui despertada quando dedos estralaram em frente aos meus olhos. Pisquei algumas vezes e só então encarei a pessoa sentada a minha frente.

— Peeta... Ahn... Oi. Desculpa é que eu estava distraída. — lanço lhe um pequeno sorriso sem graça.

— Eu percebi. Já fazia um tempinho que eu estava te chamando e você estava aí, com um olhar distante. Está tudo bem? — seu tom reflete preocupação e aquilo alegra prontamente meu coração, enchendo-o de esperanças.

— Estou bem sim. Só estava recordando dos momentos felizes que passai aqui com meu pai e Prim.

— Eu soube sobre a morte do Thomas. Sinto muito. — lamenta com o semblante triste.

— Está tudo bem. Eu meio que já me acostumei não tê-lo mais aqui comigo. Mas, ainda é bem difícil para Prim.

— Imagino. E como ela está? — vejo um brilho de curiosidade passar por seus olhos.

— Está bem. Tornou-se uma linda mulher. — sorrio ao lembrar-me de minha irmãzinha – Está cursando direito.

— Fico muito feliz em saber disso. Ela sempre gostou de defender as pessoas. — comenta sorrindo e não consigo evitar o suspiro que acaba escapando. Ele estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

— Com licença. — somos interrompidos pela garçonete — Aqui está seu pedido senhora.

— Oh! Muito obrigada. — sorrio para a jovem que deposita as duas xícaras sobre a mesa e logo em seguida se retira.

— Espero que não se importe, mas acabei pedindo por você. — sinto a temperatura de minhas bochechas elevarem-se, droga! Estou corando, mas felizmente Peeta não percebe por estar encarando a xícara de chá a sua frente.

— Não, está tudo bem. — sorri de lado, porém não bebe o chá. Sua atitude me faz rir — O quê? — pergunta confuso.

— Pode beber. Eu pedi sem açúcar como sei você gosta. — ele ri e por fim o bebe.

— Você ainda lembra.

— Eu jamais poderia esquecer. — olho diretamente em seus olhos, depois desvio minha atenção para seus lábios que, adquiriram um tom bem mais rosado do que o normal por conta da temperatura do chá. Ahh como eu estava com saudades de tê-los sobre os meus, de sentir sua maciez, de ter seus braços me confortando, me dando carinho. Só agora, tendo ele bem ali a minha frente, foi que me dei conta de que a saudade que sentia dele era muito maior do que eu imaginava.

— Então Katniss, quanto tempo vai ficar na cidade? — pergunta parecendo envergonhado por eu está o analisando.

— Estou indo embora amanhã. — respondo bebericando meu cappuccino.

— Mas já? Achei que fosse ficar mais tempo.

— Eu bem que queria, porém só consegui três dias de folga.

— Você ainda está morando em... Em Massachusetts? — pergunta hesitante.

— Não. Atualmente moro em New York. Depois que conclui o curso consegui um ótimo emprego por lá.

— Humm... Então você realizou seu sonho? — seus olhos não encaram os meus quando pergunta, mas sim sua xícara de chá, agora sobre a mesa.

— É. Eu realizei. Porém eu me dei conta de uma coisa, que é justamente a causa por eu ter vindo até aqui, atrás de você. — seus olhos rapidamente se voltam para os meus; confuso.

— E... Que coisa seria essa? — pergunta com as sobrancelhas arqueadas.

Deixo de lado todas as minhas inseguranças, para lhe dizer tudo o que sinto.

— Que eu amo você, Peeta. — declaro, sentindo meu coração falhar algumas batidas.

Seus olhos me encaram arregalados enquanto sua boca abre e fecha diversas vezes, contudo, nenhuma palavra é pronunciada. Seu peito sobe e desce em um ritmo descompassado, ao que parece em uma busca frenética por ar. Devo admitir que meu estado não é muito diferente do seu. Nunca foi fácil para eu admitir meus sentimentos, principalmente falar em voz alta aquelas três palavrinhas. Meu coração batia tão rápido, que parecia que eu havia corrido uma maratona. O silencio entre nós se tornou desconfortável e minha mente me levou para aquele momento há dez anos, onde nos encontrávamos em uma situação parecida, entretanto, agora eu dissera “eu amo você” ao invés de “estou indo embora”.

— E-Eu... Er... Wow! — ele passa as mãos nervosamente pelos cabelos os bagunçando, para logo em seguida soltar um suspiro sôfrego — Eu não... Eu não sei nem o que falar Katniss.

Suas mãos caem sobre a mesa assim como seu olhar sobre mim. Suas pupilas estão levemente dilatadas, revelando assim, a confusão presente em sua mente. Se o ar não estivesse tão denso entre nós e a situação não fosse tão delicada, eu teria até rido. Era engraçado ver Peeta, um cara que sempre soube o que dizer e quando dizer, sem palavras.

Eu estava com medo, muito medo, mas não tinha mais como voltar atrás. Minha razão me mandava ir com calma para não assusta-lo, mas a saudade que sentia dele era tanta, que eu nem sequer me preocupei em perguntar se ele estava ou não com outro alguém, simplesmente comecei a falar.

— Olha Peeta, eu não espero que você sinta o mesmo por mim, até porque se passaram muitos anos e consequentemente você deve ter conhecido outras pessoas, assim como eu conheci, porém, nenhum cara jamais me fez sentir o que eu sentia quando estava com você. — seus olhos azuis começaram a se agitar, enquanto ele fitava meu rosto completamente calado — Eu prometi a mim mesma que ia te esquecer, e no inicio até achei que havia dado certo, pois eu estava magoada, mas a verdade é que eu não consegui. Eu me formei, alcancei todos os meus objetivos, tenho a vida que muitos queriam, mas a verdade é que sempre me faltou algo, sempre me faltou você, Peeta. Eu passei esses dez anos da minha vida dizendo a mim mesma que você era passado, quando na verdade você estava sendo meu presente. E eu me arrependo profundamente de ter ido embora aquele dia, de ter posto um sonho, que no fundo não passou de um capricho a fim de mostrar para minha mãe que eu não precisava dela, acima do nosso amor. Você despertou em mim uma parte que nem mesmo eu conhecia. E o que eu fiz? Eu te dei as costas e fiz com que as consequências disso nos magoassem. Nós erramos, e sempre que me olho no espelho vejo seu reflexo dentro de meus olhos. E eles estão procurando propósito, eles ainda estão procurando a felicidade. Eu quero por um ponto final em nosso passado Peeta. Quero poder seguir livre em direção ao futuro, mas não sozinha, e sim com você. Por isso estou aqui, para te pedir uma segunda chance, para que possamos escrever uma nova história, dessa vez sem magoas e sem dores. Basta você dizer sim.

Falo tudo o que estava preso em minha garganta durante todos esses anos, gritando loucamente para sair. Eu sentia como se houvesse tirado um peso de minhas costas, o que de certa forma era verdade, porque pela primeira vez me senti livre do passado. Enxuguei a solitária lágrima que escorreu por minha bochecha sem que eu me desse conta. Peeta me encarava estático, atordoado. Eu sabia que era muita coisa para sua cabeça processar.

Seus olhos piscaram algumas vezes antes dele levar as mãos até os cabelos novamente, e segurar os fios firmemente por entre os dedos. Sua boca estava entreaberta e sua respiração havia tornado-se descompassada, assim como a minha. O tempo pareceu congelar enquanto eu aguardava alguma palavra sair de sua boca. Mas ele parecia surpreso demais para conseguir dizer alguma coisa. Seus músculos estavam tensos, seus olhos haviam se tornado muito mais agitados e em nenhum momento encaravam os meus. Uma mesclagem infinita de sentimentos nos rodeava naquele instante.

— Você não vai... Falar nada? — pergunto depois do que pareceram horas. O temor era nítido em minha voz e meu coração estava apertado no peito. Seus olhos finalmente pousaram-se sobre os meus, revelando assim, o impacto de minhas palavras sobre ele.

— E-Eu... Que droga, Katniss! O que você quer que eu diga? — seu tom de voz é desesperado, perdido — Você não pode aparecer aqui depois de dez anos e despejar tudo isso sobre mim. É muita... É muita coisa! — exclama ao puxar levemente os fios dourados. É nítido em sua postura que ele está travando uma batalha internamente contra os fantasmas do seu passado, do nosso passado.

— Eu sinto muito Peeta. — lamento e minha visão fica embaçada por conta das lágrimas que rapidamente escorrem por minhas bochechas.

— Eu tive tudo Katniss, ou quase tudo de você, mas então você se foi e eu fiquei sozinho. Eu perdi a conta de quantas noites passei acordado, imaginando ter você novamente em meus braços dizendo que me ama, e agora que você está aqui, se declarando para mim, eu não sei o que dizer. — ele passa as mãos nervosamente pelo rosto e suspira — Eu só preciso de um... Um tempo para pensar, colocar minha cabeça em ordem. Esclarecer, ou melhor, entender tudo isso que estou sentindo em relação a você. Não quero... Não quero tomar uma decisão precipitada que possa vir a nos machucar novamente, entende?

— Sim Peeta eu... Eu entendo perfeitamente. — lanço-lhe um sorriso triste enquanto enxugo minhas lágrimas, e permanecemos em silencio por alguns minutos, cada um preso em seus próprios pensamentos — Meu voo para New York sai amanhã as duas, se você não aparecer... Saberei qual foi sua decisão. Tudo bem? — proponho sentindo um gosto amargo subir por minha garganta.

— Sim, tudo bem. — sua resposta vem em um sussurro.

— Então... Acho melhor eu ir, né? — ele assente levemente, o olhar perdido enquanto encara as duas xícaras sobre a mesa, agora com seus conteúdos já frios — Tchau, Peeta. — mordo meu lábio inferior e sinto minha boca secar ao dizer essas palavras.

— Tchau... Katniss. — seus olhos azuis se voltam para mim, marejados, e me encaram com tanta intensidade que sinto todos os pelos de meu corpo se arrepiarem. Guardo cada traço de seu rosto em minha mente, como em uma fotográfica, para nunca esquecê-lo. Mesmo me doendo eu tinha que ser realista, dependendo da sua escolha, aquela seria a última vez que nos veríamos.

Por fim quebro nosso contato visual e levanto-me, começando a dar os primeiros passos em direção à saída, entretanto, paro ao seu lado e inclino-me em sua direção para depositar um beijo demorado em sua bochecha. Esse pequeno gesto o pega de surpresa, mas eu não poderia perder essa oportunidade.

— Amo você. — sussurro em seu ouvido e saio rapidamente, sem esperar para ver sua reação, torcendo loucamente para que ele aparecesse no aeroporto no dia seguinte.

+++

Encarei a tela de meu celular pela sexta vez, ansiando desesperadamente por pelo menos uma mensagem. Contudo, assim como das outras vezes, não havia nada. O silencio assusta, não é mesmo? Porque a gente não tem ideia se a pessoa está sentindo a nossa falta, ou se está gradualmente aprendendo a nos esquecer.

— Vamos Kat, ou a gente vai acabar perdendo o voo. — chama-me Johanna já de pé com sua mala, despertando-me de meus pensamentos.

— Mas e se...

— Ele não vai aparecer Kat, sinto muito. — interrompe-me cautelosamente. Encaro uma última vez meu celular e logo em seguida o jogo dentro de minha bolsa, com um suspiro frustrado e triste, ponho-me de pé a sua frente.

— Você está certa. Ele não vai mais aparecer. Eu o perdi e tenho que aceitar isso, não é mesmo? — as palavras saem de minha boca rapidamente, mas a voz não parece a minha, estava me sentindo quebrada mais uma vez.

Johanna puxa-me para um abraço apertado e reconfortante, sussurrando palavras de conforto e até mesmo engraçadas para tentar me animar. Ao nos separamos ela enxuga minhas lágrimas e sorri para mim.

— Essa é só uma de muitas outras batalhas que você enfrentará e que poderá perder em sua vida Kat, mas eu sempre estarei aqui com você.

— Obrigada Jôh, eu amo você. — abraço-a novamente.

— Eu também amo você cabeça dura, agora vamos, não quero perder o voo. — rio e de mãos dadas entramos no avião.

O destino escolhe quem vamos encontrar em nossas vidas, mas são nossas atitudes que definem quem fica, e as minhas infelizmente me afastaram do cara que amo, nos fazendo seguir caminhos diferentes. E assim como há dez anos, quando lhe dei as costas e fui embora, hoje foi Peeta quem me deu as suas.

Um mês depois...

Estava bastante concentrada na tela de meu notebook, estudando sobre uma nova descoberta que poderia vir a ser uma possível cura para o Alzheimer, quando a campainha tocou. Olhei para o relógio me dando conta de que havia passado quatro horas inteiras, concentrada naquela pesquisa. A campainha soou novamente me fazendo resmungar baixinho. Pelo horário só podia ser Prim. Levantei-me e segui em passos rápidos em direção à porta.

— Prim, você tem que parar de esquecer as chav... — as palavras morrem em minha boca ao abrir a porta e ver que não era Prim que estava parada na mesma — Peeta? — pergunto incrédula encarando suas orbes azuis.

— Oi katniss. — ele sorri.

Pisco varias vezes, completamente atônita. Isso não é possível, como ele...? Será que eu estou sonhando? Não, é real demais para ser um sonho.

Meu coração perdeu algumas batidas para logo em seguida voltar com toda a sua força. Tento respirar, mas é como se o oxigênio não passasse por minhas vias aéreas, enquanto minhas pernas, bem, essas tremem levemente obrigando-me a apoiar minhas mãos na porta, para não correr o risco de desabar a sua frente.

— O que... Er... — pigarreio, tentando encontrar minha voz que parece ter sumido devido à surpresa — O que você está fazendo aqui?

— Eu precisava falar com você. — responde pondo as mãos nos bolsos — Será que a gente pode conversar?

— Ahn... Claro! Entra. — dou passagem para que ele possa entrar em meu apartamento e assim o faz. O levo até o sofá e nos sentamos.

— Você estava trabalhando? — pergunta ao ver os vários livros de medicina sobre a mesinha de centro — Desculpa, não queria te atrapalhar.

— Não, está tudo bem. — sorrio para tranquiliza-lo, mas na verdade estava tentando tranquilizar a mim mesma. Nem em um milhão de anos poderia imaginar ter Peeta sentado a minha frente novamente, ainda mais em minha casa — Desculpa a pergunta, mas, como você achou meu endereço?

— Finnick. — responde me fazendo rir.

— Eu devia ter imaginado, mas então, o que você queria falar comigo? — tento ao máximo não deixar o nervosismo transparecer em minha voz. Ele olha para os próprios pés por alguns segundos antes de me encarar e começar a falar.

— Sabe? Quando você me falou tudo àquilo lá no café do Henry, eu fiquei perdido, sem saber o que fazer. Eu passei a noite em claro refletindo sobre suas palavras, sobre meus sentimentos, pensei em tudo o que vivemos e cheguei à conclusão de que, o melhor para nós dois era permanecer separados. Por isso não fui ao seu encontro no aeroporto. — desvio meus olhos dos seus.

Era difícil relembrar aquele dia. Estava magoada, sim, mas não poderia culpa-lo, já havia me preparado para caso ele decidisse que não nos daria uma segunda chance, mas tê-lo ali, bem a minha frente, e não poder chama-lo de meu era devastador demais. Entretanto, fui surpreendida quando seus dedos seguraram em meu queixo e erguem minha cabeça, obrigando-me a encara-lo. E fui surpreendida mais ainda quando ele começou a cantar.

Mama told me, when I was Young (Mamãe me disse, quando eu era mais jovem)
Come sit beside me, my only son
(Sente aqui ao meus lado, meu único filho)
And listen closely to what I say
(E ouça com atenção o que eu vou te dizer)
And if you do this it will help you some sunny day
(E se você escutar, isto vai te ajudar em algum belo dia)
Oh yeah!

Oh, take your time, don't live too fast (Não tenha pressa, não viva rápido demais)
Troubles will come, and they will pass
(Dificuldades virão e passarão)
Go find a woman, and you'll find Love
(Encontre uma mulher, e você encontrará o amor)
And don't forget, son there is someone up above
(E não se esqueça filho, existe alguém lá em cima)

And be a simple kind of man (E seja um tipo simples de homem)
Oh, be something you love and understand
(Oh, seja algo que você ame e entenda)
Baby, be a simple kind of man
(Bebê, seja um tipo simples de homem)
Oh, won't you do this for me, son?
(Oh, você não vai fazer isso por mim, filho?)
If you can?
(Se você puder?) [...]

Não consegui evitar as lágrimas que refletiram minhas emoções. E apesar de desafinar em algumas notas, foi à coisa mais linda que já ouvi. Ele enxugou minhas lágrimas carinhosamente e senti minha pele esquentar devido ao contado com suas mãos. Seu toque sempre provocou as mais remotas sensações em meu ser.

— Minha mãe costumava cantar essa música para mim quando eu era criança. Na época ela já sabia que seus dias de vida estavam contados por conta do câncer. Ela sabia que não me veria crescer, que não estaria do meu lado quando as coisas ficassem difíceis. Essa canção foi à forma que ela encontrou de me mostrar qual o caminho certo a se seguir. Em como eu deveria agir quando a ambição batesse em minha porta. Em como eu deveria ser esse tipo simples de homem, sabe? Amoroso, carinhoso... — um sorriso triste surge em sua face e ele aproxima-se mais de mim, deixando nossos rostos a apenas alguns centímetros de distancia — Ela queria que eu encontrasse o verdadeiro amor, que formasse uma família. E por alguma razão, quando eu liguei o radio há algumas semanas atrás, essa música foi a primeira a tocar. Ela foi a responsável por tirar a venda de meus olhos, revelando-me assim, que eu não precisava mais ir à procura da mulher da minha vida, porque esta eu já havia encontrado e ela estava a apenas algumas horas de distancia, mas precisamente morando em New York. — seus olhos me encaram com tanto carinho e intensidade, que tenho a impressão de estarem enxergando minha alma — Peço desculpas por ter te feito esperar um mês Katniss, mas eu precisava desse tempo para me dar conta de que, eu quero sim nos dar uma segunda chance. Quero poder recuperar cada minuto perdido desses dez anos que passamos longe um do outro. Quero ser esse tipo simples de homem, mas quero ser ao seu lado, e poder fazer do “agora” um “para sempre”.

Fico o encarando por alguns segundos, seus olhos carregados de expectativas, e quando finalmente tomo consciência de suas palavras, jogo-me sobre seu corpo, abraçando-o bem apertado. Era indescritível o sentimento de felicidade que invadia todo o meu ser. E pela primeira vez em dez anos, eu me senti completa por estar em seus braços. Ele havia dito sim. Ele queria nos dar mais uma chance e eu não seria nem louca de desperdiçá-la.

— Eu amo você, Peeta. — profiro ao desfazer o abraço, olhando bem dentro de seus olhos. O azul nunca esteve tão límpido e brilhante.

— Eu também amo você, Katniss. — declara sorrindo ao colar nossas testas, fazendo-me sentir o ar se esvair de meus pulmões com nossa proximidade — E nunca mais te deixarei ir embora. — completa, arrancando-me um sorriso. E finalmente unimos nossos lábios, em um beijo lento, cheio de amor e saudade.

Seus braços passaram ao redor da minha cintura e me apertaram contra seu corpo. Ergui minhas mãos e alcancei sua nuca, embrenhando meus dedos em seus fios loiros, agora bem mais cumpridos do que da última vez que nos vimos. Sua língua entrou em contato com a minha, arrancando-me um suspiro de aprovação em meio ao beijo. Naquele momento me dei conta de que Peeta era o que me sustentava, era o barco que me ajudava a atravessar as ondas, uma analogia fraca, porém que me fazia sentir muito bem.

Estar apaixonada por ele era como se jogar de um precipício sabendo que nunca chagaria ao chão. Era sentir aquele famoso frio na barriga, só que constantemente. Era não saber o que aconteceria, mas mesmo assim seguir em frente. Era como assistir a um filme nunca visto, mas que ao mesmo tempo lhe era familiar. Era como ouvir uma boa música, aquela que sempre lhe trazia boas recordações. Era como voar, mesmo sem ter asas. Um sentimento bom ao qual tinha certeza de ser eterno.

Eu sinceramente não sei como consegui passar dez longos anos de minha vida longe dele. Havíamos sido idiotas demais por termos ficado tanto tempo longe um do outro, nosso amor havia fincado raízes em nossos corações, e elas eram tão profundas, que nem mesmo o tempo foi capaz de corta-las.

— Então, vamos esquecer o passado e recomeçar do zero? — pergunto ofegante após o beijo, o sorriso brincando tanto em meus lábios, quanto nos dele.

— Não, porque os erros que cometemos no passado, serão os responsáveis pelos acertos de nosso futuro.

— Humm... Sempre sábio com as palavras, não é mesmo Sr.Mellark? — brinco, arrancando-lhe uma boa gargalhada e voltamos a nos beijar, sem pressa e sem desespero.

Com tudo isso eu aprendi uma coisa: devemos sempre repensar nossas escolhas, sejam elas boas ou ruins. Não devemos ficar nos lamentando pelo que perdemos ou deixamos de viver, pois, apesar de não podermos voltar atrás e criar um novo início, todos nós podemos começar agora e criar um novo final.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então é isso pessoal, espero de coração que tenham gostado, porque eu particularmente amei escrever essa One. *-*
Bom, aqui está os links das músicas:

* Stop Crying Your Heard Out - Oasis
https://www.youtube.com/watch?v=dhZUsNJ-LQU

* Simple Man - Lynyrd Skynyrd
https://www.youtube.com/watch?v=4z3gkq_gWL4

Recomendo a vocês ouvirem, porque são músicas realmente lindas e que mechem com nossas emoções, a 'Simple Man' principalmente. A primeira vez que a ouvi me emocionei bastante... E bem, acho que não seria eu se não envolvesse música na história, não é mesmo? rsrsrs

Comentem aqui o que vocês acharam, e a próxima autora a postar será a Ellen, estou super ansiosa para ler :)
Bom sábado a todos, beijos e até...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encontros, Acasos e Amores" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.