Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 5
Um presente para Nós


Notas iniciais do capítulo

Boa noite aqui quem vos fala é a Belrapunzel ou (Bel Knightley). A One era pra ser a Gabi a postar (semana passada foi a vez dela), mas contratempos surgiram e continuaram, por isso ela não pôde estar aqui, mas me deu todas as coordenadas para postar. Bem quem desafiou ela foi a nossa querida Paty Everllark e deu como tema "Adoção" e a Gabi criou um universo incrível aqui que, modéstia parte, vocês irão se emocionar e amar. Então curtam mais uma One...

Sinopse

Peeta e Katniss Mellark são casados. Ambos apaixonados pelo patriotismo, juntos nas Forças Armadas Americanas. Convocados para a guerra, em meio a escombros e desastres a Capitão encontra o amor. O mais puro e sincero amor.

— São um presente enviado para nós, Peeta!



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— Capitão, todos já estão reunidos.

— Obrigada sargento.

Recolho os papéis me levantando e acompanhando Boogs até o auditório. Conforme vou chegando ao local tento acalmar os nervos. Ontem recebi ligações informando que minhas  bases estariam indo para Síria. Meus homens e mulheres já esperavam  por isso, visto que, outras bases foram convocadas e cada dia que se  passava as coisas complicavam-se mais no país asiático. 

Iríamos como equipe de resgate. Acompanharíamos setenta enfermeiros, médicos formados e em formação. As tropas anteriores eram  de combatentes, e pelo que pude entender, havíamos perdido contato com pelo menos duas delas. 

Ainda no corredor observo soldados conversando descontraídos, mais a frente vejo o primeiro tenente na porta. Seu olhar cúmplice me  proporciona à coragem que me faltava. 

— Ei delícia, vai ficar tudo bem. ​Ok? – diz assim que passo por ele.

— Sabe que posso suspende-lo por assédio, tenente? – falo enquanto caminho para o dentro da sala.

— ​Humm... adorei esse lance de suspender. Trouxe-me lembranças e novas ideias! – sussurra em meu ouvido para logo em seguida se afastar e manter a postura.

Ao entrar noto alguns olhares curiosos e outros displicentes. Momentos como este me fazem repensar sobre a carreira que decidi seguir. O olhar de quem sabe que não há volta. Não a essa altura do campeonato.

— Serei breve. Iremos para Síria. Partiremos pela manhã. Posso estar sendo rude, mas pretendo ser objetiva, assim dispenso vocês para fazerem o que quiserem antes de nossa partida. Peço apenas que estejam aqui às quatro. A última coisa que desejo é ter que tomar medidas contra algum dos meus . – Sou firme e rápida nas palavras. A verdade é que todos sabem o que quero dizer. Afinal, não sabemos se voltaremos de lá. Então, para muitos podem ser o último abraço, ou beijo. Ou até mesmo o último “eu te amo” ​ de suas vidas. – Todos dispensados.

************

— Saiu-se bem docinho! – cabo Abernathy diz ao entrar em minha sala minutos depois.

— Não tenho tanta convicção disso, Haymitch – digo bloqueando o computador. 

— Não pense desse jeito garota, a verdade é que todos já sabíamos que isso poderia acontecer. Esperávamos por algo assim. E, se te conheço bem, esse lance de fazer o que “​quiserem” esta noite, é aquele papo de oportunidade de dizer o ​último “eu te amo”. ​Acertei? – não consigo conter o sorriso. Hay era cabo muito antes de eu nascer. Quando perguntava a ele por que não subia de patente, sua resposta era sempre a mesma “Eu não Cabo em outro lugar a não ser esse”. Digamos que demorei a entender, entretanto quando nos aproximamos e nos tornamos íntimos, dentro e fora das forças armadas, passei a admira-lo pela sábia escolha.

— E se for? Qual o problema? Te conheço bastante, e sei que aproveitará essa brecha para levar à ​senhora extravagância em pessoa para jantar e apreciar um bom vinho...

— E logo depois tomarei meu último porre pré-combate. Agora vamos? – diz num tom sarcástico, o que me faz ​fuzila-lo manifestando certa repreensão. – E não me olhe assim. Saber que essa é a realidade que escolhemos me causa um frio na barriga – se defende. – Eu voltarei e você também. Só que essa será a minha maior aventura. Estou velho demais para esperar outras como esta. Effie e eu conversamos e decidi que se, realmente fosse convocado, essa seria minha última missão.  Agora dá para andar Capitão?

— Fico feliz por vocês. E já era tempo de se aposentar – tranco a porta e saio em direção ao estacionamento. Conversamos mais um pouco enquanto Haymitch me dá uma carona até em casa.

O caminho não é longo, mas é o suficiente para colocarmos o papo em dia. Digo para mais tarde trazer Effie, para darmos um abraço nela. O ​Jeep Grand Cherokee preto na calçada, me revela que ele já chegou. Um arrepio involuntário percorre minha nuca, ignoro os pensamentos negativos e jogo a mochila nas costas. Entrando em casa sinto um aroma de ervas, e antes mesmo de supor o que ele está  aprontando na cozinha, Miley e Liam pulam sobre mim alvoroçados  recebendo minha total atenção.

Forte e descalço. Certo loiro aparece no corredor rindo da alegria  dos “filhos”, estes quando o nota, saem correndo em sua direção.

— Delícia, a pizza fica pronta em quinze minutos! Sobe e toma um  banho... –  decreta, enquanto se agacha e acaricia nossos ​dobermans.

— ​Ok, Magic Man. Desço em dez minutos – acato seu pedido aproximando-me dele e dando um selinho em seus lábios.

************

De banho tomado e uma trança lateral nos cabelos recém hidratados, desço as escadas seguindo o som do rádio que toca a canção​ I Feel It Coming. Ainda no meio do caminho ouço Peeta estalando os dedos e não contenho a curiosidade de vê-lo dançando. Paro no batente da porta e me deparo com seu​ Moonwolk desajeitado, nos ombros o pano de prato. Por sorte, ou azar o forno apita avisando que a pizza está pronta. Enquanto ele está concentrado em não derrubar nosso ​almoço, resolvo dar o ar da graça pegando os copos e posicionando-os na bancada que contém uma jarra com suco.

​Buon appetito ragazza, spero che tu sei così caldo come si. (Bom apetite menina, eu espero que esteja tão quente como você) – fala  risonho me arrancando gargalhadas.

— Também espero meu amor! – o friozinho que senti na entrada de casa volta com força total. Tento dispersar tais pensamentos comendo. Sei  que está tão nervoso quanto eu. No entanto, como é melhor com as  palavras, consegue disfarçar melhor.

— Maracujá com hortelã. Resolvi inventar um sabor diferente, alguém aqui precisa relaxar – afirma depositando o líquido no copo preto quadrado.

— Parece até seu padrasto querendo fazer arte. Antes que me  esqueça... Effie virá com Haymitch mais tarde. Revelo colocando mais um  pedaço da deliciosa massa na boca. – Tudo bem, ​mas falando em padrasto. Eles virão jantar, não quer convidar a sua... – olha-me de soslaio antes de terminar a frase, tenho quase certeza que estou vermelha.

— Não obrigada! – respondo com desdém o interrompendo. – Por favor, Peeta, não quero começar uma discussão. 

— Katniss, você sabe...

— Não Peeta, eu não sei! É fácil falar quando seus pais sempre te apoiaram. Eu cresci sozinha e sem o apoio dela. Não será agora que as coisas vão mudar. – digo exasperada. – Agora podemos almoçar tranquilamente? 

************

Estávamos no sofá deitado quando ouvimos a campainha, seu corpo  quente deixa o meu para ver quem é. Quando Peeta abre a porta uma Effie abatida passa por ela ignorando meu marido completamente, um Haymitch silencioso vem logo atrás, dá um aceno para o loiro e acompanha sua esposa para dentro. 

— Uou, boa tarde pra ti também Trinket! – Peeta quando fica irritado tem o costume de falar português, sua língua materna. A senhora extravagância olha-me num pedido mudo para que eu traduza as palavras dele.

— O que ouve Effie? – pergunto indo direto ao assunto.

— Eu não estou tendo um pressentimento bom sobre essa missão, Katniss. Não quero que Hayhay vá. – Haymitch revira os olhos, antes de sentar no sofá. 

— Sente-se aqui – chamo-a delicadamente, no fundo a entendo. – Sabe que nem eu ou Peeta podemos fazer nada, certo? É o nosso trabalho, Effie. Foi o que escolhemos fazer. ​É o que fazemos!

— Não é como das outras vezes meninos. Haymitch está velho. Olhe para ele minha menina... 

— Eu não estou velho. – meu amigo tenta se defender, mas sem sucesso. 

— Cale-se Hay! – Effie volta-se para mim novamente após mandar o loiro se calar. – Eu só sinto que ele não deve ir. Difícil explicar, porém eu sinto, entende? – uma lágrima discreta cai em seu rosto e uma fisgada no peito me acerta desprevenida. 

Esses dois são como os pais que não tive. Quando criança meu pai servia a força área, minha mãe era médica cirurgiã do hospital militar. Passei a maior parte da minha vida em internatos. 

Aos 67 anos meu pai foi afastado devido a um câncer terminal. Oito dos quatorze meses finais de sua vida, papai permaneceu em casa e pude ficar ao seu lado. Esses meses derradeiros foram o suficiente para resgatar os quinze anos perdidos.

Vi várias histórias sobre seus combates e resgastes pela televisão. Lembro-me de algumas bases que visitei junto com ele nas poucas férias de verão que passamos juntos. O amor incondicional que sentia pela pátria tornou-se o meu também. Acabei entendendo melhor seu trabalho e via em seus olhos que ele não se arrependia das escolhas que fizera durante a vida. Foi aí que decidi, que queria ser como meu pai. E, eu tive a chance de lhe contar isso. Seu sorriso orgulhoso me deu a certeza de que não poderia escolher uma profissão mais honrosa. Mesmo internado no hospital aonde minha mãe trabalhava eu mal a via, quando ele veio a falecer voltei a viver sozinha até conhecer Peeta no colegial.

— Effie ficará tudo bem​, ok? Eu cuido do velho. Promessa de Mellark. ​Ma chère amie fantaisie! (Minha querida amiga fantasia)— meu marido brinca usando seu dom com as palavras e idioma, para chamar atenção. Acho que notou meu devaneio somado ao medo.

— Fica tão fofo falando francês... Quero aprender. – riu notando como a senhora drama se distrai facilmente. 

Conversamos por mais alguns pares de horas até a mãe e padrasto de meu marido chegar e se juntar a nós quatro. Após o jantar assistimos a uns programas de auditório. Sempre descontraídos.

Minha sogra e seu marido Jorge nos trouxeram algumas guloseimas interioranas típicas da fazenda. Recolheram-se cedo, os dois passariam a noite e no dia seguinte levariam consigo Liam e Miley para que os cães não ficassem sozinhos até nossa volta. Por volta das oito horas, Hay e Effie foram embora. Antes de ir, Effie deu-me um abraço,​como a mesma disse “de mãe” e se foi. 

Eu e meu marido conversamos e trocamos carinhos resultando em uma noite quente e apaixonada. Mal dormimos, sempre era assim, só dormíamos pelo excesso de cansaço ou quando estávamos sãos e salvos em casa.

Por volta das duas da manhã levantamos e tomamos um banho relaxante na hidro que tínhamos em nossa suíte. Um nos braços do outro. 

Com as malas prontas e devidamente fardados ajustamos o sistema de segurança acionando a seguradora. Blenda e Jorge nos levaram até a base junto com nossos cachorros que fiz questão de ficar agarrada durante toda a curta viagem.

— Se cuidem, ​ok? Quero os dois bem e saudáveis quando voltar. Nada de me darem sustos. Amo vocês!

— Mãe ficaremos bem. Cuide bem das minhas crianças. – Peeta diz alegre referindo-se aos nossos cachorros. Nós três nos abraçamos emocionados, e por fim nos despedimos. 

— Também te amamos Blenda. Até mais Jorge. – acenei para meu sogro. 

Sigo para dentro e vejo Peeta parado observando o carro sumir na extensa estrada, volto e o abraço. Não sei por quanto tempo ficamos assim, na nossa bolha particular, mas vejo Luany, uma dos poucos soldados que por terem filhos ou alguma outra responsabilidade no país, só são convocados em caso de extrema urgência. Ela se aproxima e pigarreia chamando nossa atenção. 

— Capitão. Tenente – faz uma pequena pausa para bater continência, porém volta a falar assim que nos posicionamos. – A força aérea chegou.

— Obrigada soldado Campbell. 

Junto com meus homens, entro na aeronave e rumamos para o desconhecido. 

************

Um país assolado pela guerra, e um povo que desaprendeu a viver em paz. Suas crianças tiveram a infância roubada e milhões de sírios  viraram refugiados. Essa foi a realidade com a qual nos deparamos ao descer de nossa aeronave. Para nós não era nenhuma novidade afinal a crise humanitária virou crise política na Europa e o mundo inteiro se compadece da situação atual da Síria. 

— Capitão Everdeen! – Castor, o responsável por nossa base no país, bate continência, e lhe retribuo o gesto. 

— Tenente Coronel!

 Depois de fazer as devidas apresentações e de nos colocar a par de toda a situação atual de nossas tropas, o tenente nos permite fazer um “tour” pela base. Concedo a meus homens alguns minutos para que possam se estabelecer e também se recuperar de nossa primeira impressão, diga-se de passagem, não foi das melhores. A base em questão é para onde eram levados os soldados feridos durante o conflito. Militares a mando do comandante descarregaram as aeronaves, retirando delas alimentos e remédios. Os médicos e enfermeiros que nos acompanham recusam-se a descansar e logo buscaram se inteirar da situação dos doentes. 

— Tudo ficará bem, Katniss – a voz suave de meu marido me alcança em outra dimensão.

Mesmo tendo passado por muitas situações de guerrilha, não havia a possibilidade de me acostumar com o saldo delas. Correr os olhos ao redor me fazia ter certeza disso. Ele me conhecia o suficiente para saber o que se passava em minha mente e o quanto estava angustiada no momento. Saber que na manhã seguinte eu, ele e toda a minha equipe invadiríamos o cativeiro onde se encontravam presos prisioneiros de guerra, incluindo civis. 

— Eu estou com medo Peeta. E, se algo der errado? São muitas vidas, sob a minha res... 

— Shhhh... – com um olhar terno, o loiro não apenas me cala, ele me dá a fortaleza que preciso para me manter firme. Não conseguiria sem tê-lo aqui, no entanto temo por sua vida. Somos apenas nós dois. Há anos não me relaciono com minha mãe e nem pretendo. 

— Vai dar tudo certo. Você não foi escolhida para nos liderar ao léu – fecho meus olhos e me recomponho. Não podemos demonstrar intimidade na frente dos outros, mas eu precisava senti-lo ao menos por um instante. Nós caminhamos e tentamos se afastar ao máximo para podermos trocar um simples beijo.

— Eu te amo. 

— Eu também te amo minha delícia – sorri ao ouvir o apelido carinhoso que ganhei no início de nosso namoro. Agora era preparar-se para a missão. 

 ************

Entramos na base rebelde as 05 h 18 min. Gritos de desespero podiam ser ouvidos a quilômetros de distância. Dois de meus melhores homens incluindo Haymitch haviam sido feridos por atiradores de elite que se encontravam no alto de um dos prédios. Conseguimos resgatar alguns soldados e algumas famílias inteiras que foram feitas reféns por simpatizantes do governo. Não dava para saber se existia mais alguém em meio ao caos que se tornara o acampamento inimigo. 

— Equipe verde, equipe verde. Alguém na escuta?— Agradeci mentalmente por ouvir a voz de Peeta ecoando através das ondas sonoras do transmissor. Após o intenso confronto saber que ele estava vivo já bastava.

— Capitão Everdeen na escuta – pelo áudio dava para notar seu suspiro de alívio. Decerto comungávamos do mesmo pensamento. 

— Estão bem? Tem algum ferido entre vocês? 

— Estamos bem! Como estão o cabo Abernathy e o soldado Hanter? 

— Eles estão bem e foram levados de helicóptero para a base, junto com alguns reféns que foram vítimas de tortura. Precisamos retornar o quanto antes para prestar os primeiros socorros. Alguns rebeldes capturados estão sendo direcionados aos ônibus...— enquanto meu marido me passava informações, vi um garoto de pele morena, cabelos  negros correndo para dentro de um prédio destruído.

Ando calmamente para não o assustar, mas infelizmente piso em falso derrubando algumas pedras. Estranho o fato dele continuar andando e volto a segui-lo. Segundos depois uma grande explosão é ouvida e sinto o chão tremer sob meus pés. No mesmo instante, gritei no rádio para meus homens. 

— Bater em retirada. – gritei. Certamente tínhamos sido alvejados, a percepção que tive, é que o prédio em que estávamos iria desabar a qualquer momento. Corri em direção à saída, no entanto voltei lembrando da criança. Ao alcançar o lado oposto senti uma pancada forte na cabeça e meu corpo fora arremessado a uma distância considerável de onde eu me encontrava. 

  ************

Abro os olhos lentamente, minhas últimas lembranças se resumiam a cinzas e estrondo. A voz que pelo rádio transmissor chamava meu nome se ecoou. 

— Katniss, meu amor fala comigo, por favor, responde...— o apelo desesperado na voz de Peeta foi à primeira coisa que ouvi. Me sentei sentindo minha cabeça pesar toneladas. Respiro profundamente ocasionando uma tosse seca.

Levantei-me o mais rápido possível, a consequência foi uma tonteira súbita, e uma sensação de dor intensa no braço esquerdo. Toquei  a pele exposta no local em que se localizava um rasgo na farda, apenas para constatar que de fato estava ferida. “Onde estou?” Analisei tudo ao redor. Aquele não era o lugar em que ocorreu o ataque, com certeza. Porém ainda era uma área de escombros. Meu rádio e minha arma estavam posicionados no chão, ao lado em que antes eu estava como se tivessem sido postos ali por alguém. Agachei-me e liguei o aparelho transmissor. 

— Equipe azul, equipe azul. Alguém na escuta... Droga! Deve estar quebrado. – pensei em voz alta. Entretanto um barulho de coisa caindo as minhas costas despertou meus sentidos.  – Quem está aí?

Não obtive resposta, todavia um vulto deslocou-se rapidamente do meu lado direito, se embrenhando entre pedaços de concreto e vigas do desabamento. Atestei se tratar de uma pessoa e coloquei-me em sua perseguição. 

— É apenas o menino! – Exclamei, quando a figura trajando vestes rasgada e cobertas de poeira estacou no lugar e olhando para trás me fitou. – Ei espere... – o garoto devia ter uns sete, ou oito anos e sua expressão era de terror. Não disse nada apenas colocou-se em disparada. 

— Eu não irei te ferir, espere... aqui não é um lugar seguro para você – ele parecia não me ouvir. Entrou em uma casa, parcialmente destruída, me obrigando a entrar também.  – Ei, onde você está? – percorri os corredores da casa com cuidado, temendo se tratar de uma emboscada e o menino estar servindo de isca  para me tornarem refém. Porém ao dobrar o corredor e me deparar com uma escada que dava para o andar superior da residência mirei o moreno no topo da escada. 

  ************

O menino me olhava e apontava para sua esquerda, com gestos nervosos e lágrimas nos olhos.

— Calma, calma – pedi.

Por conseguinte, joguei minha arma para as costas, e levantei as mãos em sinal de rendição. O baixinho correu novamente e entrou no que julguei ser um quarto. Lá dentro só precisei seguir os prantos para acha-lo dentro de um armário, no entanto não estava sozinho, em seus braços, segurava uma menininha no alto de seus cinco anos.

— Ah, moça é você. Está melhor? Sabia que tinha um moço falando "oh meu Deus, meu amor” no seu telefone? Deve ser seu namorado - a enxurrada de palavras me cala instantaneamente. A pequena garotinha de olhos azuis opaco e sorriso no rosto estava sendo protegida e amparada pelo menino aparentemente mais velho. - Eu sou Prim e esse é meu irmão Gale.

Os observo e Prim me conta mais sobre eles, até que passos e gritos são ouvidos no andar de baixo. Olho para o rádio, sem códigos ou ordens noto que não são meus homens. Pego as crianças pelo braço me escondendo no armário junto a eles. Observo Prim fazer gestos conversando com o irmão. Não consigo conter o sorriso ao imaginar tamanha inteligência. O medo no olhar de dois pequenos inocentes me causa revolta. 

Tento "acalma-los" de alguma forma. Começo contando a Prim sobre meu marido já que ela se mostrou interessada desde que o ouviu no rádio. 

— Shhh, ei Prim sabe esse? Ele é meu marido. Ele pode ensinar a vocês muitas coisas. Peeta é brasileiro, sabia? Na verdade, era. Hoje é nacionalizado americano. Ele sabe falar Francês e Italiano. Você tem os olhos dele.

— E, Gale tem os seus Kat. - diz animada.

Acredito que se passaram horas, acabamos cochilando já era noite. Um chiado é ouvido e pego o rádio na esperança de ser nosso resgate.  A voz de Peeta é ouvida como um sussurro, reconheço seu tom de choro e meus olhos se enchem d’agua.

— Katniss posso te perguntar uma coisa? - aceno com a cabeça para que ela possa prosseguir. - Por que seu marido te chama de delícia?

Fico espantada com a pergunta não sabendo responde-la. Quando penso em contornar a situação, sou salva pelo gongo, mais conhecida como Johanna Mason. A vejo pela fresta do armário, dentro do cômodo. Quando saio ela aponta sua clock e relaxa assim que me reconhece, saltando e me abraçando.

  ************

— Peeta, eu não suporto pensar no que estas duas crianças passaram. Ver os próprios pais serem torturados... 

— Katniss, eles ficarão bem, vai ver. Só precisam de tratamentos médicos especializados. Gale e Primrose são crianças espertas, é claro que o trauma pelo qual passaram não será esquecido facilmente, mas assim que os órgãos responsáveis encontrarem um novo lar para os dois, tudo se ajeitará. 

Era difícil olhar para os dois irmãos brincando no jardim de nossa casa e não pensar nos acontecimentos dos últimos meses. Depois do dia que os encontrei no meio dos escombros, foi impossível não me apaixonar. Filhos de dois correspondentes estrangeiros, os pequenos juntos com os pais tornaram-se reféns dos inimigos. Passaram anos no cativeiro, testemunharam horrores inimagináveis. 

Gale, mesmo com todos os problemas na fala, era um garoto prodígio. Se não fosse por sua coragem, agora eu estaria morta. Ele me arrastou para longe do conflito, e mesmo sendo tão mirradinho conseguiu.

Primrose era uma flor. Doce e amorosa como poucas crianças. Os dois despertavam em mim desejos que eu nem sonhava em ter, principalmente o desejo de ser mãe. 

— Eu não sei se conseguirei me separar deles.

— Nem eu. 

— São um presente enviado para nós, Peeta!

Quando meu esquadrão veio em nosso socorro, após quase vinte quatro horas de aflição, sem ao menos a possibilidade de comunicação, por conta do defeito do rádio transmissor. Cuidar deles, fez com que surgisse um laço de afeto incondicional entre nós. Sendo cidadãos americanos, as crianças retornaram com as tropas. Como seus únicos parentes vivos eram os pais, e os repórteres agora estavam mortos, foram obrigados a ir para uma instituição. Eu e meu marido nos prontificamos a cuidar deles até que o estado decidisse por fim o que fazer com os dois. Para mim e Peeta era uma monstruosidade deixá-los em um orfanato após tudo pelo que passaram.

— Katniss... Eu sei que nunca pensamos nisso e que a vida nos leva por caminhos que jamais pensávamos em seguir, mas eu queria te fazer uma proposta...

— Eu quero Peeta...

— Mas nem sabe o que eu ia te dizer! – olhei mais uma vez para meus pequenos e sorrindo abracei mais ainda meu marido, sabia o quanto seria complicado para conseguir a guarda definitiva deles, mas uma certeza eu já tinha em meu coração desde que me deparei com aqueles dois pequenos cobertos de poeira em meio aos resquícios da guerra.

— Eles já são nossos filhos. Eles já são nossos filhos, meu amor!

  ************

— Peeta.

Grito alto o suficiente para que até nossos vizinhos escutem. Gale põem a mão no rosto balbuciando um “que vergonha”. Meu marido desce as escadas correndo que até chegou a tropeçar.

— Meu Deus, Katniss, o que foi mulher? - diz sem folego. Me conhecendo bem sabe que algo não está certo.

— Seu filho... venha aqui moleque— o puxo pelo braço. - Vou busca-lo na escola e a diretora diz que quer conversar comigo – tento explicar, mas logo sento sentido minhas costas doerem. - Chegando lá tem uma senhora mal educada que me disse que Gale anda se agarrando com a filha dela. Eu quase parti pra cima. Até a ranzinza da Margaret me mostrar nas câmeras esse menino em horário de aula, saindo todo desarrumado da sala do zelador. Vê se pode! Dá um jeito. 

— Katniss não se estressa, sabe que não pode, é perigoso. E, você - diz apontado para o adolescente de 16 anos. - Sobe lá pra cima agora, que iremos conversar - meu marido diz acariciando minha protuberância. Estou com 32 semanas e pelo que parece esse neném não está a fim de sair. 

— Eu sei - digo com lágrimas nos olhos. - Eu só não aguento mais essa pressão. Nunca fiquei tanto tempo sem trabalhar Magic Man. Estou com saudades.

— Shh, vai ficar tudo bem amor, quando você piscar vai estar de volta.

A porta é aberta e minha garotinha entra toda sorridente. Vê-los crescidos me assusta. O tempo passou tão rápido. Ela nos olha e levanta as mãos em rendição.

— Eita, o clima está tenso. Posso voltar para casa da Rue? Minha cota de ficar no meio do fogo cruzado já foi batida - faz piada com o passado e a olho feio.

— Primrose sem gracinhas ou você ficara de castigo. - Peeta diz sério, porém um lampejo de riso passa pelos seus olhos. Tudo o que Prim fazia aos seus olhos era gracioso. Até uma piada sem graça como essa.

— Foi mal. Entendi. Não faço mais! Promessa de Mellark. 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam. Eu adorei rss...

Bem a querida Yasmin chega em breve (se não for nessa semana será na próxima) com a One dela e a nossa amada Ester até o dia 11/6 vem com a One dela tbm... espero que estejam gostando. Se a resposta for um "sim" kkkkk terá segunda rodada com novas autoras espetaculares, aguardamos vocês e tenham todos uma ótima semana.