Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 11
Gênese


Notas iniciais do capítulo

"Há momentos em que nos sentimos inteiramente impuros." - Thomas Earn



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Thomas

O pequeno menino desejava fechar os olhos e nunca mais abri-los. Pelo menos, não enquanto estivesse naquele espaço.

Com leves iluminações, inúmeras mesas estavam repletas de homens que jogavam cartas, consumiam alimentos e bebidas alcóolicas. Garçons e garçonetes satisfaziam às suas vontades alimentícias. Jovens moças se encontravam despidas, apoiadas nas pernas dos senhores que as contratavam. Rapazes também os seduziam, de acordo com as suas preferências, de forma mais discreta e em cantos mais escondidos. Thomas era reparador, e os havia percebido com facilidade.

Theseus cumprimentou os seus conhecidos e se sentou em um lugar que se encontrava vazio, deixando-o em pé.

— Este é meu filho. Cumprimente-os, garoto. — O pai o empurrou com indelicadeza, forçando-o a se aproximar dos sujeitos estranhos. — Mostre a eles a educação que sua família te dá.

— Bem-vindo, rapazinho. — Um deles disse, exibindo um sorriso assustador. Vários de seus dentes já não estavam mais na boca, fazendo a criança enxergá-lo como uma espécie de monstro. O mesmo deu um leve tapa em suas costas, gargalhando.

— A mãe enche a cabeça dele de baboseiras... — disse, com desprezo. — Por isso, decidi mostrar como um verdadeiro homem deve agir. No melhor lugar possível para isso, é claro.

— Você não tomou decisão melhor! — O colega elogiou, erguendo uma caneca e iniciando um brinde em conjunto com os demais. — Nossas crianças precisam ser bem treinadas, para não caírem na perdição e não seguirem os maus exemplos...

Thomas sabia quais eram os maus exemplos aos quais ele se referia. Mas preferiu não tocar no assunto, pois não desejava conversar sobre nada. A visão de um local em que as pessoas se relacionavam romanticamente e sexualmente o fazia sentir desejo de retornar imediatamente à sua residência. Sentia-se acuado, assustado, desconfortável.

Uma bela meretriz caminhou pelas mesas e Theseus segurou a sua mão, exibindo um sorriso que acreditava ser provocante e galanteador. A mesma o retribuiu, pois provavelmente estava à procura de um cliente para atender. Thomas arregalou os olhos. Não desejava ver o pai se envolvendo com qualquer mulher que não fosse a sua mãe. E sabia que seria obrigado a isso.

— Vamos a um lugar mais... reservado? — Theseus piscou e a jovem assentiu. Com uma mão sendo segurada pela meretriz, ele utilizou a livre para puxar Thomas consigo. O menino tentou permanecer no lugar em que estava, mas não era capaz de resistir à força do patriarca.

— Papai, por favor... Não! — O menino berrou, no instante em que os três adentraram um quarto preparado para a satisfação dos prazeres dos clientes. — Não faz isso comigo!

Theseus o esbofeteou, fazendo-o se calar.

— Você vai observar quietinho tudo o que irá acontecer. Depois de mim, será a sua vez. Se ousar desobedecer a mim e sair deste quarto, sua mãe irá sofrer as consequências. Quer que ela se machuque? Tenho certeza que não. Portanto, é bom que aprenda a me respeitar e a ser um verdadeiro homem.

Ele retirou as suas vestimentas, despindo-se por inteiro. Em seguida, fez o mesmo com a moça, beijando-a e acariciando-a durante o processo. Assombrado, Thomas Earn assistiu a tudo, e aquela cena nunca mais sumiu de seus pensamentos e lembranças.

...

As portas do salão principal se abriram e uma garota o adentrou, acompanhada de guardas que a escoltaram desde a entrada da cidade. Os mesmos carregavam os seus poucos pertences, que consistiam em uma sacola grande repleta de vestimentas trazidas do sul e restos de alimentos que havia colhido durante a viagem.

— Bem-vinda a Arroway. — Katherine Wildshade a cumprimentou, levantando-se do trono e descendo os pequenos degraus, caminhando em sua direção. — Charlotte e Elliot me falaram a respeito de você, Demetria.

 — Obrigada, Majestade. É uma honra ter a chance de conhecê-la. Sempre ouvi falar de seus feitos, de sua generosidade e bondade para com o povo. Sou muito grata por ter aceitado me hospedar.

— Uma amiga dos Trannyth também será minha amiga. Fizemos o comunicado oficial para a cidade inteira há poucos dias. — Thomas estava próximo de Katherine quando isto ocorreu. A cidade reagiu com espanto, mas não viu alternativa a não ser engolir em seco as propostas da rainha. — Semana que vem, se iniciarão as inscrições para a competição na praça central. Quando comparecer, diga seu nome a uma das pessoas responsáveis por anotá-lo. Depois disso, basta aguardar até que as selecionadas sejam divulgadas. 

Grande parte da população de Hastryn não sabia escrever o próprio nome, com exceção daqueles que obtinham, de alguma forma, a oportunidade de serem minimamente alfabetizados e conseguirem anotar algumas palavras. Pessoas como Demetria ainda não haviam chegado a tê-la, mas Katherine certamente a proporcionaria. Guardas e funcionários responsáveis pelo processo seletivo os escreveriam.

A semana se passou de forma ágil. Após o fim das inscrições, a monarca teve acesso a inúmeros pergaminhos com os nomes e anotações a respeito de suas histórias de vida, suas necessidades e seus sonhos de se desvencilharem de uma situação em que se encontravam presas para buscarem o seu próprio espaço dentro da sociedade. Thomas estava ao seu lado, pois a mulher pediu para que a auxiliasse.

— Acredito que eu a conheço... — O rapaz disse, observando a um nome em meio aos demais. Ergueu uma sobrancelha, curioso. — Podemos ler sobre a sua história neste momento? Estou com uma dúvida.

— Willow... — Katherine leu o seu nome em voz alta. — Seu sobrenome não foi anotado. — Prosseguindo com a leitura, descobriu o motivo. — De acordo com as informações, não o disse, pois não o tem. Foi deixada na porta de um orfanato, e uma das mulheres que trabalhavam ali a nomeou. Alega ter crescido em um mundo cruel, no qual restava obedecer às ordens dos carrascos que cuidavam do lugar. Quando cresceu, em busca de sua sobrevivência, foi à procura de um bordel... — Katherine parou, por um instante, temendo o que viria a seguir. Olhou momentaneamente para o teto e, relutante, dirigiu o olhar de volta ao pergaminho. — Esteve em várias casas de prostituição, sem nunca parar de trabalhar com isso...

— Willow era amiga de Evelyn.

Katherine se virou para o conselheiro, surpresa.

— Mas não me lembro de sua presença no Rosa Indomável. Pelo menos, não nos dias em que fui até lá.

— Conheceram-se por pouco tempo, mas tinham um laço forte. — Thomas se lembrava daquele momento com exatidão. — Um laço de empatia, pois Evelyn a havia acolhido após a proprietária de outro estabelecimento explorá-la e expulsá-la do ambiente de trabalho. — Um dos últimos bons feitos da amada, antes do momento da guerra. — Durante a batalha, Willow se perdeu pela cidade e não retornou ao Rosa Indomável por vários dias. Acreditávamos que estivesse morta, mas, ao saber da morte de Evelyn, não teve a coragem de pisar naquela casa e lidar com o luto. Apareceu somente depois de um tempo.  

— Eu a compreendo... Creio que devo conhecê-la.

...

A porta do Rosa Indomável se abriu e os funcionários se surpreenderam com a inusitada visita de Katherine e Thomas. Ambos sentiam um forte desconforto ao estarem de volta àquela casa, mas eram sentimentos que necessitavam ser reprimidos naquele instante.

— O que Vossa Majestade deseja conosco? — Um rapaz a cumprimentou, realizando uma educada reverência. Thomas não o conhecia. Deveria ser novo em seu trabalho.

— Gostaria de falar com Willow. — Katherine respondeu, com uma seriedade gentil. — Ela está presente?

Assentindo, o mesmo foi em busca da meretriz. Voltou acompanhado de uma moça bela, com pele escura, cabelos negros que desciam até a região das axilas e um vestido simples roxo. A vestimenta e a aparência de Willow se alteravam conforme o momento em que se encontrava. Quando chegava a hora de atender aos clientes, parecia não ser a mesma pessoa, pois utilizava roupas mais elegantes e calçados mais caros. Thomas se recordava dessa transformação.

— Sente-se, por favor. — Os três escolheram uma mesa próxima da janela, com vista para as ruas da cidade e as atividades comerciais que ocorriam àquela hora do dia. — Thomas me disse que era uma pessoa próxima de minha irmã gêmea. Diante disso, acreditei ser importante conhecê-la.

Ele se manteve em silêncio, sem prestar atenção no que se sucederia. O diálogo era entre Katherine e Willow, e não deveria contar com sua intromissão. Por mais que estivesse presente a pedido da rainha e pelo assunto envolver a pessoa que amava, Thomas se sentiu no dever de não invadir a intimidade e o espaço pessoal de ambas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da nova personagem? Qual função pensam que ela terá?



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