Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 10
A Escolha


Notas iniciais do capítulo

ALÔ DREAMCAST
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"Por vezes, precisamos tomar a direção correta. Ela é quem nos definirá no futuro."
— Hazel



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Hazel

Em uma tarde comum num dia de sábado, Hazel decidiu comparecer a uma reunião religiosa realizada no interior do Templo Sagrado de Horgeon. As reuniões aconteciam com grande frequência durante os fins de semana e as noites dos demais. O local era de livre acesso a qualquer horário antes do toque de recolher, caso alguém desejasse conversar em particular com o sacerdote ministrante. Sempre que tinha a oportunidade, a ama dos Wildshade, dos Trannyth e dos Yorkan visitava o local, buscando entrar em harmonia com os poderosos deuses de Grimwerd.

Escolheu um vestido formal de coloração vinho, cujos detalhes eram brancos nas extremidades. As mangas não tão longas chegavam aos cotovelos. Os cabelos naturalmente brancos, aos poucos, voltavam a crescer, estando, naquele momento, um pouco abaixo da altura dos ombros. O rosto possuía algumas rugas, o que a lembrava diariamente que, aos quarenta e sete anos, estava começando a envelhecer.

Colocou uma coroa de flores vermelhas sobre a cabeça e seguiu pelo trajeto mais curto. Gostava das paisagens calmas de Horgeon, preferindo caminhar tranquilamente por elas, permitindo-se sentir o ar fresco e puro.

Parou diante de um largo coreto de pedra, com vista para dois lugares importantes: a praia, próxima aos portos, nos quais estavam presentes inúmeros navios de viagem, para quando surgisse a necessidade de utilizá-los, e o cemitério, onde eram enterrados todos os que viviam na cidade ou possíveis amigos e aliados.

Os outros cidadãos ali presentes estavam ocupados demais para repararem em sua presença. Era um ambiente em que as famílias se reuniam para vivenciarem momentos juntas, às vezes fazendo piqueniques repletos de músicas, brincadeiras, histórias, jogos e cantigas de roda. Três crianças se divertiam juntas. Duas delas seguravam uma corda antiga, enquanto a terceira se encontrava no meio. O objetivo da atividade era obter o maior número de saltos possíveis, sem que a pessoa em questão fosse derrubada pela corda manipulada. Os participantes se revezavam e o que tivesse maior pontuação seria o vencedor. Hazel praticava aquela brincadeira na aldeia com os seus antigos vizinhos.

Ao avistar o Templo, surpreendeu-se ao encontrar um movimento intenso no lado de fora. Havia um aglomerado de pessoas nas portas, impossibilitando a passagem daqueles que desejavam entrar. Aproximando-se, Hazel percebeu que estas aguardavam que a porta fosse aberta. Filas imensas se formaram, na tentativa de organizar a multidão.

Hazel pediu explicações a uma senhora, que, gentilmente, a respondeu:

— Ouvi dizerem que George, nosso sacerdote, passou mal e está sem forças para se levantar da cama desde a manhã. Não há muito tempo em que essa informação foi espalhada...

— Por que não chamaram o rei ou a rainha? — Ambos saberiam resolver aquele problema com rapidez. Não compreendia a atitude daqueles indivíduos, suspeitando um pouco de seus motivos.

— Um grupo de rapazes foi avisá-los. Espero que já os tenham encontrado e conseguido se comunicar. Até chegarem, ficaremos do lado de fora, aguardando notícias.

A ama se sentou sobre um paralelepípedo alto e esperou até que um dos dois governantes aparecesse diante da multidão e acalmasse a movimentação. Elliot surgiu, acompanhado de um grupo de guardas, fazendo com que todos se calassem, demonstrando respeito diante de sua presença. Abriram caminho, possibilitando a sua passagem. Os guardas e os homens mais fortes que estavam presentes conseguiram quebrar os trancos e arrombar as pesadas portas.

— Entrem, mas fiquem na parte principal! Não venham até os corredores! — Elliot falou no tom mais calmo que conseguiu. Durante a fala, localizou a ama, acenando para que viesse ao seu encontro. — Por favor, venha comigo. Não sei exatamente o que encontraremos por detrás dessa entrada e talvez a sua ajuda seja necessária. Dos que virão comigo, a senhora é a que eu mais confio. Espero que saiba disso.

A ama sorriu e abaixou a cabeça, sentindo-se honrada.

Os fiéis, obedecendo à ordem, descansaram seus corpos sobre os largos bancos de madeira localizados no ambiente principal em que as reuniões eram ministradas. O salão no qual ocorria assembleias, cultos e casamentos. Enquanto isso, o grupo comandado por Elliot seguiu por um corredor escuro cujo destino era o único aposento da construção, pertencente ao sacerdote que comandava o templo. No fim, havia uma grande janela com vitrais coloridos, simbolizando os deuses elementares.

Hazel e Elliot adentraram o recinto, encontrando um homem inconsciente deixado sobre a cama. Seu corpo estava repleto de suor e os olhos, completamente arregalados. As suas forças se esvaíram havia tempo, sem que tivesse alguém para auxiliá-lo ou socorrê-lo.

— Não existe mais nada que podemos fazer. — A mulher disse ,após constatar aquilo que já estava esperando. — Ele está morto. Não resistiu à doença que o atormentava. George foi resistente por ter aguentado a dor até esse tempo. — Sentou-se ao lado do corpo, fechando, com cuidado, os olhos do falecido. Entristeceu-se. — Em uma de novas conversas, descobri dos problemas que ele tinha relacionados ao coração, e dos remédios que tomava para tentar se manter o mais saudável que conseguia. Se tivéssemos chegado mais cedo, talvez fosse possível tratá-lo...

Elliot segurou as suas mãos.

— Evite pensar dessa maneira... Isso só a fará mal e a trará pensamentos que nunca poderão se tornar parte de uma realidade. — Após as palavras, dirigiu-se aos homens. — Apanhem cobertores e envolvam o corpo. Faremos uma cerimônia fúnebre. Um caixão será preparado.

...

A despedida do sacerdote contou com a presença de inúmeras pessoas que gostavam de suas pregações e do modo como eram feitos os ensinamentos sobre as relações com os deuses. Charlotte e Elliot estavam acima do altar, de frente para o grande caixão, diante de um emocionado povo que se espremia no salão principal. Alguns permaneceram sentados enquanto outros, que chegaram mais tarde, foram obrigados a ficarem de pé.

O rei iniciou o discurso.

— Geroge foi um homem que nos acompanhou por anos. Nos momentos em que Horgeon precisava da ajuda e da benção divina, nos ofereceu seus grandes conhecimentos e formas carinhosas de lidar com o povo. Jamais nos esqueceremos de sua importância para conosco. Foi também o homem que me uniu a Charlotte, minha amada esposa.

A rainha se pronunciou.

— Não tive a oportunidade de conviver com ele, mas soube que era uma boa pessoa pelos poucos momentos em que interagimos. Sempre esteve disposto a ajudar o próximo e se importava com todos os problemas que chegavam ao seus ouvidos, nunca os diminuindo. Por isso, peço para que todos nós fechemos os olhos e façamos orações silenciosas por sua alma. 

Hazel e os demais cumpriram a ordem. Minutos se passaram, as orações chegaram ao fim e o pesado caixão foi conduzido para fora pelos guardas mais altos e fortes. Carregaram-no até o cemitério de Horgeon. Seguindo-os a pé, a população arrancou flores dos campos e as levou, para lançarem sobre o túmulo.

Após o enterro, Elliot disse:

— Precisaremos de uma nova pessoa que esteja disposta a abandonar o seu lar para se dedicar ao estudo e aos cuidados dos ensinamentos religiosos da cidade. Se não tivermos voluntários verdadeiramente prontos para a função, nos veremos na necessidade de escolher alguém por nossa própria conta e, possivelmente, contra a sua vontade. Uma pessoa que receberá vestimentas, alimentos e acessórios novos. Faremos uma reforma no aposento, de acordo com os desejos do novo sacerdote ou sacerdotisa. — Olhou ao redor, à procura do sujeito ideal. — Temos alguém interessado? 

A ama fez o mesmo, mas ninguém ousou levantar a mão. Subitamente, em uma decisão não planejada, a própria andou um passo para a frente e ergueu a sua, surpreendendo a todos ao seu redor.

— Eu irei.

Elliot e Charlie se entreolharam. Curiosa e incrédula, a rainha se aproximou da sua mãe de criação, segurando as suas duas mãos. Seu olhar parecia confuso e entristecido. Buscava compreender o motivo da sua escolha.

— Irá nos deixar? — perguntou, em um tom baixo. — Não fomos bons anfitriões ou a magoamos de alguma forma?

Hazel sorriu, comovida.

— Não é nada disso, querida. É apenas uma missão que coube a mim ser cumprida. Sempre fui uma fiel seguidora dos deuses e continuar o legado de George seria uma verdadeira honra. Terei um imenso prazer em fazer todos se sentirem próximos das divindades do nosso mundo, recebendo as suas bênçãos. Jamais os abandonarei e sempre os ouvirei. Quero que vocês me visitem sempre que for possível, pois eu também farei isso quando conseguir. Nunca deixarão de ser a minha amada família!

Charlie a abraçou.

— Terei que me acostumar a uma nova rotina... — Seus olhos lacrimejavam, como se a ama estivesse viajando para um lugar longe e não fosse voltar. Era muito apegada à mulher, pois esta fizera parte de sua vida como um todo. — Confesso que não estava preparada.

Seguiriam vertentes diferentes. Uma, como monarca. A outra, como sacerdotisa. Seria, realmente, uma nova forma de vida. As histórias, o carinho e a bondade de Hazel seriam oferecidos a toda a cidade, deixando de ser restritos à sua família. Eles a veriam por menos tempo e sentiriam saudades de sua presença, mas sabiam que seria por uma causa justa e nobre.


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Notas finais do capítulo

Eu falei que a personagem teria a sua própria jornada, e achei que o que aconteceu foi mais do que condizente com a personalidade e com tudo o que ela tem mostrado desde o início da trama. O que vcs acharam? ♥



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