A Vingança de um Herói escrita por Pedro Haas


Capítulo 5
04.A Igreja


Notas iniciais do capítulo

Atrasei um dia por motivos de estar doente Pakas ;-; mas tá aqui, com um adicional!



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Lucas o olhou como se ele tivesse contado uma piada sem graça.

— Muito boa a brincadeira – ele comentou, com uma voz sarcástica – Mas sério, para onde nós vamos?

— Eu já disse, garoto – Seu Oséias parecia mais sério do que nunca – Vamos a igreja ouvir a palavra do Senhor.

— Tá brincando, né?

— Por que estaria?

— Era só essa que me faltava – Lucas nunca fora religioso, religião era ensinada como uma ciência de controle de massas na escola do Hospital, então os alunos eram conduzidos a zombar de fiéis de qualquer tipo de religião. Lucas sempre se manteve neutro quanto a isso, embora fosse cético.

Citar a igreja de qualquer que fosse a religião naquele momento lhe pareceu ofensivo.

— Olha, o que eu menos preciso agora é ir numa igreja, eu já fui em uma e geralmente não acaba bem – ele estava se segurando para não se irritar, ele queria treino, resolução, não ir numa igreja fingindo interesse.

— O que você precisa, garoto – o velho determinou, autoritário – É o que eu digo que precisa – Lucas o encarou como se estivesse prestes a desobedecer, mas escolheu se manter de boca fechada – Você aceitou treinar comigo, se me lembro bem.

Lucas apenas confirmou com a cabeça.

— Então, vá se arrumar, finja que a Igreja é parte do seu treinamento e me acompanhe.

Lucas hesitou por um momento, mas acabou seguindo as ordens de Oséias.

***

Amanda se encolheu, ouvindo a voz daquele estranho. Poderia ser qualquer agente do Hospital, mesmo que não parecesse, pois ele estava descuidado e uma barba branca por fazer era um contraste grande com seu rosto, ele parecia ter no máximo 30 anos mesmo assim era grisalho. Os agentes que ela e Lucas viram eram sempre bem cuidados, mas este homem não, o que não o impedia de ser um agente. Seus rostos acabaram de aparecer na televisão e isso a assustou, a ideia de ter que viver fugindo pelo resto da vida era insanamente preocupante. Ela não percebeu quanto tempo ficou encarando o homem.

— Não se preocupe, menina – ele disse, e sua voz não transmitia agressividade – Posso ajudar vocês, ou preferem ficar...?

Ela olhou ao redor, as pessoas olhavam para a repórter descrevendo o caso.

"Dois adolescentes extremamente perigosos, mataram e roubaram um carro na área rural de Belo Horizonte. Foram perseguidos por dezenas de quilômetros pela autoestrada, causando vários acidentes pelo caminho, deixando 13 mortos e 40 feridos em diferentes acidentes ao longo da rodovia".

O jornal mostrou fotos de carros pegando fogo, pessoas paradas no acostamento, uma ambulância particular da rodovia atendendo os feridos. Pessoas com as mãos na cabeça, feridos e sofrendo por suas perdas. Aquilo pesou na consciência de Amanda.

— Foi o Louco quem fez isso! – a garota exclamou, instintivamente, com a voz chorosa.

As poucas pessoas do estabelecimento a olharam por alguns instantes, tempo suficiente para entenderem a situação.

"Agora, perto de Extrema, o carro dos dois jovens foi encontrado em chamas caído em uma ribanceira, não temos notícias sobre a situação atual dos adolescentes..."

Amanda parou de prestar atenção, apenas encarava as imagens ainda mais claras dos dois na televisão. Uma foto que estavam apenas ela e Lucas, de mãos dadas, num dia que, outrora fora sinônimo de alegria, agora era de desespero.

Lucas já estava de pé.

— Vamos, Amanda – ele sussurrou, colocando a mão no ombro dela e seguiu para a saída.

Amanda foi logo atrás, sendo seguida por aquele homem, vestido com um sobretudo preto, camisa preta simples e uma calça branca repleta de bolsos. Vestido como todos os agentes de campo do Hospital se vestem. Ao sair, viu o homem de camisa branca do self service no telefone, ela o fuzilou com o olhar. Lucas percebeu também e mostrou o dedo a ele. Amanda riu.

***

Amanda acordou com uma dor terrível de cabeça, algumas coisas estavam bagunçadas em sua mente, esquecera até seu nome por um momento, e não reconhecia o lugar em que estava.

Contudo, bastou um piscar de olhos para se lembrar que estava em casa, em sua cama, e sabia que seu nome era Amanda. Sabia também que muitas pessoas em Nova Iorque, dezenas de milhares, iriam morrer se tudo aquilo que ela viu foi verdade. Mesmo não conseguindo determinar quando, quis acreditar que era apenas um sonho, mas foi real demais.

Colocou as mãos no rosto, a luz do por do sol batia diretamente nela, aumentando ainda mais a dor de cabeça. Seu pai, Jonas, estava ao seu lado, como sempre. Segurou sua mão, e estava se sentindo pesado, sua consciência pesava uma tonelada agora e Amanda sentia isso com seus poderes.

— Pai... – ela se sentou, com dificuldades – O senhor está bem?

Ela estava genuinamente preocupada com ele, seu Pai sempre fora forte, mas agora parecia mais frágil que ela. Não importava o quanto ela tentasse, não conseguia lê-lo por completo. Seus poderes estariam enfraquecendo? Ou ele sabia se esconder muito bem como Seu Oséias?

— Filha – sua voz estava um pouco pesada – Seus dons – ele apertou carinhosamente a mão dela – São abençoados, Deus os deu por algum motivo.

Ela acenou que sim com a cabeça, claro, até ali ela já tinha ouvido de outras pessoas, mas seu pai tinha um tom diferente na voz. Amanda nunca tinha de fato procurado saber o porquê de conseguir fazer o que faz, nunca fora um problema, muito pelo contrário, havia apenas ajudado pessoas, e sonhava em ser uma psicóloga, se possível. Deus a presenteou com aquilo para que ela fizesse a obra d'Ele, e aquele era uma explicação mais do que especial para ela. Algo lhe dizia que isso estava para mudar.

— Eu sei agora o motivo certo – disse ele – E é meu dever te ajudar.

Uma aura diferente percorria as emoções dele, ele ainda parecia preocupado, mas também orgulhoso. Ele estava orgulhoso dela.

— Você sempre foi uma filha maravilhosa – ele a abraçou, um pouco eufórico, e Amanda percebeu isso – Obrigado.

Ela ficou sem palavras, era um momento feliz que ela não entendia nada, mas por perceber seu pai feliz ela ficou feliz também. 

— Se arrume – disse ele, já indo para a porta do quarto – Vamos à igreja! Hoje é o seu dia, lembra?

O sorriso dela se abriu, todos os seus problemas sumiram por um momento.

***

O velho não tinha um veículo, infelizmente.

— Por que viver tão longe de todo mundo? – Lucas resmungou, enquanto andavam o longo caminho da casa de Seu Oséias até a cidade – como você faz se precisa comprar alguma coisa?

— Viver perto de outras pessoas não é muito diferente de viver longe delas, garoto.

Lucas entendera, mas não compreendera. Ele passou a maior parte de sua vida na companhia de muita gente, e o período que passou sozinho na rua fora a pior coisa que ele podia imaginar. Lucas não gostava de ficar sozinho.

— A diferença é que você precisa de outras pessoas para sobreviver – disse o garoto – Somos seres civilizados, sociais; trocamos, vendemos e compramos uns dos outros o tempo todo qualquer coisa. Como sobreviver sem essa interação? – Não era intenção dele ofender, mas o velho pareceu ofendido.

— Garoto! – ele engrossou a voz, Lucas parou um pouco a frente dele por conta do passo lento do velho – O que significa ser "Forte" pra você?

— Sei lá – o garoto respondeu, sinceramente – Antes, era só ser útil ao Hospital, mas agora, agora eu quero muito mais que ele exploda.

— Imagine isso então, imagine ele explodindo e todos os seus comandantes mortos, e todos os experimentos livres para fazerem o que quiser da vida – Seu Oséias começou a andar – Imagine isso e mantenha em mente, que você ainda é fraco demais pra conseguir realizar esse objetivo. Anda, vamos logo, estamos atrasado porque você é muito lento.

Lucas ficou confuso, sentiu um calafrio na espinha quando pensou no Hospital, sua antiga casa, em chamas. Ele se achava forte, mas não tinha os poderes para fazer isso, precisava achar o Lar Arsalein e conseguir apoio das outras pessoas que tinham os mesmos objetivos que ele. Por que não parecia ser tão simples?

Levou um golpe de bengala no ombro.

— Para com isso! Já estou indo.

***

Lucas foi até a SUV preta logo na entrada do posto, aparentemente a única que estava por perto. Ela apitou quando o homem desativou o alarme e a destrancou à distância, acordando um enorme Lobo branco em sua traseira. Amanda soltou um pequeno grito. Lucas a olhou, ela estava assustada, esses lobos eram imponentes por si só, principalmente agora que estavam sendo perseguidos por agentes do Hospital. Não restavam mais dúvidas de quem aquele homem era para ela, mas Lucas o conhecia, e se há alguém no Hospital que merece um pouco de confiança, era ele.

Amanda avançava devagar, como se estivesse pronta para fugir, e estava.

— Não se preocupe, mocinha – o homem abriu a porta do carro – Eu sou Octávio, muito prazer em conhecê-la.

Amanda piscou assimilando a informação, Octávio riu sarcasticamente e entrou no carro. Lucas segurou na mão dela e a olhou transmitindo sentimento de pressa, ele sabe que a garota não confiaria no homem, mas era isso ou nada, então entraram juntos nos bancos de trás.

— Vocês deram sorte – comentou Octávio – Mais alguns segundos presos naquele carro e o Louco teria arrancado as portas dele pra pegar vocês.

Lucas e Amanda se entreolharam.

— Então, como você sabia onde encontrar a gente? – Lucas perguntou.

— Não sabia, foi apenas um palpite interessante – Ele ligou o carro, e começou a manobra-lo – o Louco e os agentes infiltrados na polícia estão todos com a certeza de que você se teleportou com o impacto, estão trabalhando com a hipótese que você e sua namorada estão deitados inconscientes em algum lugar no raio de 5 quilômetros de lá – Amanda apertou a mão de Lucas quando finalmente entraram de volta na autoestrada a toda velocidade, ela estava apreensiva – Mas eu sabia que se vocês estivessem acordados, continuariam a seguir viagem, mesmo que a pé.

— E por que nunca te vimos antes? – Amanda perguntou – Há quatro meses, quando o Louco foi responsável de matar o Lucas e capturar o Seu Oséias, você não estava lá...

— Ozzy Mandigold? – perguntou Octávio.

— Isso.

— O Louco é como os Lobos, uma máquina de matar pronta pra seguir ordens, na verdade ele é só um pouco mais inteligentes que os Lobos – ele explicou – Ele não sabia o que Mandigold guardava, poucos no Hospital sabiam pra falar a verdade – ele olhou para trás pelo retrovisor, Amanda olhou nos olhos dele por um instante – Mas agora ninguém sabe onde está, ele deve ter escondido em algum lugar...

Ele acelerou o carro, deixando para trás alguns caminhões.

— Quando descobriu que o Mandigold passou a perna nele naquele dia, ele ficou muito irado e queria vir a qualquer custo terminar o que começou – ele suspirou – o Hospital me encarregou de garantir que o serviço fosse feito, mal sabem eles – ele deu uma risada forçada.

— Por que você trairia o Hospital? – perguntou Amanda, Lucas olhou para ela, e Octávio também, pelo retrovisor.

— Essa não é a primeira vez, não é, Thomas? – Lucas o fitou com uma expressão fria, até Amanda sabia naquele ponto que esse nome causava-lhe remorso profundo.

E ela sabia muito bem o porquê​.

— Desculpe, olha, é muito difícil te chamar de outra coisa, te conheço desde quando você nasceu – Lucas assentiu, um pouco irritado.

O garoto confiava em Octávio com certeza. Ele fora o homem que o ajudara a escapar, e que, alguns meses depois, o ajudou com mais informações sobre o paradeiro de Oséias Mandigold. Octávio era a pessoa menos afetada por toda a loucura do Hospital, sempre sorrindo e sendo gentil, e mesmo assim passando por todos os testes e ajudando seus amigos e até inimigos com provas difíceis. Octávio sempre fora amigo de Lucas, e o homem que seu finado pai confiou para concluir o plano de fuga armando uma terrível tempestade. Quando o garoto viu Octávio no self service, dera um suspiro de alívio, como se seus problemas já tivessem sido todos resolvidos de uma vez. O 'tio' Octávio tinha aparecido para salvar o dia.

Lucas olhou para ele.

— Preciso que nos leve para São Paulo, Otto... Urgente.

— Estava esperando por isso – ele acelerou o carro, a placa da fronteira estava ficando para trás, agora estavam em São Paulo – Não se preocupe, em uma hora estaremos lá, Lucas.

***

A igreja já estava cheia quando Lucas e Oséias chegaram, repleta de adolescentes, pessoas entre 9 a 30 anos, todos conversando e rindo em pequenos grupos. Alguns dançavam e se abraçavam, Lucas não se sentia a vontade ali, definitivamente, o lugar estava especialmente cheio de jovens, tinham em todos os lugares, de todas as idades, Lucas perdeu o ar por um momento. Estava ansioso e desconfortável.

— Você me trouxe logo numa reunião de jovens?

— O certo é "Culto da Mocidade", garoto.

O velho entrou na igreja, trajado de roupas velhas e sujas, mas com a mais bonita de suas roupas velhas e sujas. Sempre se apoiando sob sua bengala de madeira e uma expressão imponente no rosto, pareceu apreciar a expressão dos jovens ao vê-lo; ninguém estava acostumado com a sua presença. Alguns dos mais velhos, os Líderes da Mocidade, vieram lhe cumprimentar, Seu Oséias apenas olhou para eles e balançou a cabeça, depois, se sentou em um banco para convidados. Lucas estava parado na entrada, olhando o lugar de cima a baixo, quando um dos jovens veio lhe cumprimentar todo sorridente. Ele levou Lucas alguns bancos mais a frente de Oséias e deixou uma Bíblia em seu colo, dizendo coisas sobre o culto e sobre Deus.

Lucas se sentia um patinho feio. Estava com a mesma camisa preta com símbolos tribais que achara jogada nos fundos de uma loja de roupa, a calça jeans branca rasgada de duas semanas atrás, o cabelo leve e um pouco ondulado estava grande demais para seus padrões. Enquanto todos os outros estavam com roupas sociais bonitas e limpas.

Ele e Oséias se pareciam bastante.

Olhou para frente, vendo Amanda pela primeira vez, e sentiu certo alívio; mesmo não conhecendo a garota, ela era o rosto mais familiar para ele no meio daquela bagunça. Ela conversava alegremente com um homem que tinha um violão em suas costas, outros jovens também estavam na conversa, pareciam irmãos. Amanda percebeu Lucas e sorriu brevemente, como se estivesse feliz em vê-lo ali. Os dois mantiveram o olhar por mais alguns segundos, até um toque de violão se destacar e tirar a concentração dos dois.

Amanda voltou a conversa, e Lucas abriu a Bíblia.

— Mas o que especificamente eu deveria ler? – Lucas pensou em voz alta, encarando a Bíblia como um artefato estranho – Isso faz parte do tal treinamento?

O garoto abriu o enorme livro um pouco desajeitado, em alguma parte aleatória. "Matheus", aparentemente contava a história de Jesus, Lucas não sabia muito sobre isso, sentia que estava faltando algo. Ele a fechou de novo e decidiu ler do início, "Gênesis". A Bíblia parecia mais frágil cada vez que ele virava uma página, e ele lia sem muito interesse. Deus criou o mundo, Adão e Eva, Caim e Abel, filhos e filhos e Noé e o dilúvio. Parecia loucura que existia alguém que realmente acreditasse em tudo aquilo, tudo soava como uma baboseira fantástica que foi escrita por um ótimo escritor, mas fora levada ao pé da letra por alguns fanáticos.

Lucas fechou o livro outra vez, não passou nem 10 minutos lá dentro, mas já queria ir embora. Seu Oséias mais atrás apenas balbuciando algumas palavras de olhos fechados, parecia mais desajustado que Lucas, mas ao menos ele estava suportando as encaradas e risadinhas de todos os outros que os olhavam com curiosidade.

Um toque, dois toques num microfone, e uma voz feminina falou.

Era Amanda.

— Boa noite a todos! Vamos começar nosso culto, amém? – Sua voz era animada, Lucas se arrepiou com a altura do som de todas as vozes dos jovens gritando em coro um amém. Olhou a sua volta com interesse, viu ao fundo da igreja Seu Oséias sorrindo sarcástico e dando um amém.

— Abram suas Bíblias em 2 Timóteo, versículos 6 e 7. – Ela folheou o livro a sua frente e Lucas suspirou quando viu um telão ao lado da garota ser iluminado com as palavras que ela recitava. – "Por este motivo, te lembro que despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação." Amém? – Ela sorriu e todos se levantaram.

As luzes foram apagadas e as pessoas baixaram suas cabeças. A única iluminação estava sobre o palco, onde Amanda subia agora, ainda com o microfone. O homem ao seu lado tocava uma melodia suave no violão enquanto ela começava a falar.

— Pai, graças te damos por permanecer fiel a nós, Deus. Nós ensine Senhor a não temer nada, pois o seu poder habita em nós. Faça com que tenhamos o seu dom para nos sobrepor às dificuldades e aos inimigos que nos atormentam. Obrigada Deus pela Tua Palavra, Amém.

— Amém irmãos? – O homem com o violão falou, em outro microfone, todos levantaram suas cabeças e gritaram os mais variados tons de amém. – Vamos adorar a Deus nessa noite? – Gritos foram ouvidos de toda parte e o baterista começou a tocar uma música agitada, a banda acompanhava e Amanda estava em um canto do palco junto com outra mulher, em frente ao microfone. A letra da canção aparecia onde antes estava o versículo e todos cantavam. Ele olhou para Seu Oséias que acenou para o telão, e então começou a resmungar a música junto com o coro de jovens ao seu redor.

A música que eles tocavam variava de reggae a rock e o garoto não queria admitir, mas estava divertido. Os rapazes no banco a sua frente faziam dancinhas engraçadas e pulavam com os braços sobre os ombros uns dos outros. Parecia que todos se sentiam tão bem e felizes, e sabiam a letra das canções também. Foram tocadas mais um rap e outra música dançante antes do tom mudar. Ainda parecia um rock, mas era mais lento. Até agora Amanda só havia feito uma segunda voz e Lucas mal pôde ouvi-la.

— Teu, pra sempre, eu sou... – O homem cantava rouco, próximo ao microfone. – Tu és o caminho aonde vou... – Todos os jovens pareciam emocionados com a canção, o toque do violão se tornou mais melódico e a mulher que acompanhava Amanda saiu de perto do microfone. Quando ela começou a cantar uma melodia suave ele sentiu seus braços arrepiarem, sua voz era deslumbrante assim, ouvida sozinha apenas com notas simples do violão. Quando ela terminou a segunda parte da música o baterista começou uma batida forte. A letra falava sobre coisas que ele não entendia, mas conseguia sentir a emoção tanto de Amanda quanto de todos a sua volta quando entoavam a música. Alguns chegavam a chorar.

— Guia-me pra que em tudo em ti confie, sobre as águas eu caminhe, por onde quer que chames. – As notas altas que a garota dava arrepiavam todo seu corpo, ele quase se sentia induzido a cantar com a mesma entrega que as pessoas que o rodeavam. Quando a música chegava ao fim o mesmo homem que tocou violão voltou ao microfone e fez mais uma oração, Amanda desceu do palco e puxou novamente a Bíblia, pedindo para que sentassem e leu outro versículo antes de começar a pregar.

Lucas ainda não entendia o sentido de todas aquelas alusões à vida e referências a cada passagem bíblica que Amanda fazia, mas ela fazia com paixão que ele nunca vira antes. Não parecia que ela havia presenciado uma cena tão bizarramente perigosa algumas horas mais cedo, nem que uma bala passou a alguns centímetros de sua cabeça. Era como se ela tivesse assumido outra personalidade enquanto falava com a igreja, sem medo, sem timidez. Lucas estava tão envolvido na voz da garota que sentiu falta quando ela terminou e se sentou, enquanto o homem do violão fazia as considerações finais, e convidava-os para voltar na igreja na semana seguinte, para o próximo culto de jovens.

Ele disse isso olhando diretamente para Lucas, com um rosto solidário. O rapaz sentiu um calafrio. Por mais que lhe parecesse divertido, ainda lhe parecia idiota e sem sentido, não estava nada disposto a tentar entender nem o culto nem o livro que tinha nas mãos. Lucas devolveu a Bíblia para o mesmo homem de antes, e Amanda veio lhe cumprimentar na hora.

— Você tá bem? – perguntou Lucas.

— Ah, sim.

— Nem parece que aconteceu tudo... – ele olhou em volta, vendo se alguém tava ouvindo – Tudo o que aconteceu hoje mais cedo.

— Meu pai disse pra deixar tudo pra lá, disse pra me concentrar na igreja.

Alguns jovens interromperam Lucas nesse momento, lhe perguntando de onde viera, qual era seu parentesco com o Seu Oséias, quanto tempo ele iria ficar, se ele iria voltar a igreja. Lucas apenas olhou para eles um pouco apreensivo, estava acuado por causa de todas aquelas perguntas, não sabia o que responder a todos eles.

— Claro que vai – Oséias apareceu – Ele é meu neto.

Amanda olhou para Lucas, que estava muito afim de calar a boca do velho de um jeito ou de outro.

— Qual seu nome? – perguntou um dos jovens – Que loucura! Imaginei que o senhor Oséias não tinha filhos.

— Eu sou Lucas – ele respondeu tímido, Amanda deu um risinho.

— Pode esperar – continuou o velho – Com certeza ele voltará aqui, quem sabe ele não faça parte do grupo de jovens, vocês vão conhecê-lo melhor.

O velho colocou a mão nos ombros de Lucas e o puxou levemente para sair. O garoto só esperava que aquilo fosse papo furado, olhou para Amanda enquanto saia, mas ela já estava falando com os outros jovens. Por algum motivo, Lucas queria vê-la novamente.


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Notas finais do capítulo

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