Até As Últimas Consequências - Rota Reversa escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 3
O Falcão Branco


Notas iniciais do capítulo

Segue o 3º capítulo de Até As Últimas Consequências – Rota Reversa.
Enjoy!



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Raven tinha se preparado para a viagem ao submundo. Kelly insistiu que ele se alimentasse. Mesmo contrafeito, comeu algumas guloseimas feitas pela garota. A criada pessoal de Lydia tinha certa recaída pelo mordomo do casal. Parecia que se entendiam bem.

No início, Raven era introvertido e de poucas palavras, um contraste com o ar vivaz de Kelly. Sempre sorridente e falante, no momento, sofria a perda de Lydia. E, convenhamos, as duas eram de idades muito próximas. Ela não sabia exatamente o que iria acontecer, mas torcia que Edgar desse um jeito.

― Você irá tomar cuidado, né, Raven? – perguntou antes do rapaz-fada sair da mesa.

― Sim, Kelly. E para ser sincero... Não é a primeira vez que vou para lá...

A confissão a deixou intrigada, mas não procurou se aprofundar.

O mordomo caminhou até o quarto de hóspedes com as roupas de Edgar. Bateu três e ouviu:

― Entre, Raven.

Edgar estava abatido, descabelado e de roupão. Olhava a janela como procurasse respostas. Seu ar era desacorçoado, algo que Raven não estava acostumado. Era difícil de abater, desistir ou se amedrontar.

My lord.

O rapaz parecia que tinha acordado de um sonho. Quando viu as suas roupas nas mãos de Raven, foi como ponto norteador à realidade.

― Bem, Raven. Me ajude e vamos buscá-la o mais rápido possível.

O mordomo só consentiu com a cabeça.

Banhou-se, vestiu-se com a ajuda de Raven. Depois de pronto, Edgar se olhou no espelho. Olhos inchados, olheiras marcadas, sinais de cansaço o deixavam com ar quase fantasmagórico. Mas, nesse momento, o que mais importava a ele não era a sua aparência e sim salvar Lydia. Estava determinado a fazer impossível para obter sucesso. Apanhou a Espada Merrow e a colocou na bainha.

―  Vamos? – indagou para o rapaz-fada.

― Sim, lord.

Edgar e Raven se dirigiam à escada e encontraram Lota e Paul os esperando. A neta do Duque de Cremona disse:

― Edgar, nós ficaremos aqui até vocês voltarem. Faremos o possível para ajudar os Senhores Elementais.

― Isso mesmo! – completou Paul. – Há algo que nós possamos fazer agora?

Edgar colocou as mãos nos ombros de cada um deles e respondeu:

― Só torçam pela gente. Zelem por Aurthur. E quanto à Lydia... – nessa hora a voz quase sumiu.

― Ela voltará para nós... – disse Lota com a voz sufocada.

O conde só fez sim com a cabeça e voltou a caminhar, seguido de Raven. Desceram as escadas da mansão. Tytânia, Lugh e Sereia os esperavam na sala. O Senhor dos Leprechauns apontou para o jardim de inverno e, assim, eles os seguiram. Ao chegar ao local, Edgar percebeu que havia uma reunião de fadas, leuprechauns, ondinas e salamandras em círculo.

― Edgar, Raven, dirigiam-se ao centro do círculo. Nós abriremos uma passagem para o submundo.

O jovem conde o olhou interrogativo, mas desta vez quem deu a explicação foi Sereia.

― Estudamos o local mais apropriado da mansão para abrir esta fenda. E concordamos que aqui, o jardim de inverno, é o lugar ideal.

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Os dois homens obedeceram às instruções e caminharam para o centro do círculo. Eles foram acompanhados por Tytânia, Sereia e Lugh. Os Senhores dos Elementais estenderam cada um suas espadas mágicas e estas se uniram demarcando um ponto no chão.

― Edgar e Raven, estejam preparados. Assim que abrirmos a passagem, entrem e boa sorte! – informou Lugh.

A partir do ponto, surgiu uma luz que se expandia conforme a abertura aumentava. Edgar e Raven caminharam e adentraram à luz. Ela se fechou rapidamente e com certa violência.

****

Lydia acordou em algum lugar que não lhe era familiar. Trajava um vestido negro, e se encontrava em uma espécie de cama adornada com veludo. Sabia que não era a sua. Queria se mexer, mas, o torpor e o cansaço que sentia não a deixavam se movimentar. Nesse minuto, sentiu alguém acariciando seus cabelos. Sabia que não era Edgar, ou seu filho. Era uma presença feminina. Pensou em Lota, porém não era um costume da garota fazer isso. Kelly? Não. Apesar de ser bem próxima da criada, era um gesto que não é o seu comum.

― Tente descansar, Lydia.

A voz era suave, elegante.

― Onde estou? – indagou de forma tênue.

― Não é momento para perguntas. Apenas descanse.

Seus olhos não a obedeciam, assim como o corpo, que se encontrava rígido. Assim, adormeceu.

****

Edgar abriu os olhos e se viu em outra dimensão. Olhou em volta e se deparou com um campo aberto. Sentiu-se perdido, sem direção. O cheiro de terra molhada era forte e dominava o ambiente.

Sem jeito, ele perguntou ao mordomo:

― Já esteve aqui antes, Raven?

― Não, my lord. Aqui é novo para mim. – foi a resposta do garoto-fada.

Notou que assim como ele, o rapaz também se encontrava desorientado.

― Bem, já que estamos aqui, precisamos manter a calma e seguir, não é? – a sua fala foi mais um pedido de ajuda do que outra coisa.

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Raven então reparou que mais à frente, se encontravam três entradas que eram envoltas por uma mata densa. As apontou:

― Veja.

Edgar ficou pensativo e examinou cada uma delas. Ainda desnorteado, indagou:

― E agora, qual delas devemos se dirigir?

Raven olhou fixamente para cada uma delas. Apontou a do meio e respondeu:

― Pressinto que seja essa.

― Se errarmos, será que poderemos retornar e escolher a direita ou a esquerda?

O rapaz-fada olhou novamente para as entradas e pronunciou:

― Acredito que sim, lord.

― Então vamos, Raven.

Seguiram lado a lado e adentraram a mata. No início era estreita, cheia de zumbidos de insetos que passeavam para lá e para cá. O solo envolto de muitas raízes nodulosas das árvores e que se cruzavam entre si, isso dificultava a caminhada. Sem contar a lama que as rodeava. Caminhavam devagar, tomando cuidado para não escorregarem.

Edgar se sentia cheio de dúvida. Com o coração pesado, chegou-se a se perguntar se a empreitada faria sentido ou valeria a pena. “O que estou fazendo aqui? Será que assim que vou trazê-la de volta?”. Pensamentos que o torturavam.

A estrada começou a alargar e apresentar menos obstáculos no caminho. E por conta disso, o conde deu graças aos Deuses.

O trajeto ficava mais largo, conforme avançavam.

― Raven, me responda uma coisa: Afinal para onde estamos indo? – questionou Edgar com a cabeça voltada para o mordomo.

Quando ele virou para frente deu de cara com uma espada na altura do seu pescoço. Imediatamente, ele parou.

― Para onde vai, forasteiro? – perguntou uma mulher bonita com roupas douradas e brancas. Tinha as pernas expostas, algo incomum, até mesmo escandaloso, entre as mulheres na Era Vitoriana. Na cabeça, um capacete dourado que nas laterais saiam duas asas, como as de um falcão. Para completar, ostentava uma capa que ia até o chão. Era loura com os cabelos volumosos. Boca carnuda, bem vermelha e os olhos cor âmbar.

― Quem são eles? – uma segunda mulher apareceu. Vestida como a primeira, os seus cabelos eram negros e escorridos. Seus olhos eram verdes, quase escuros. Olhava-os com curiosidade.

Edgar se perguntou quem eram. Nunca imaginaria que no submundo existissem mulheres tão sensuais. Não que isso o desagradasse, mas se repreendeu quando percebeu que as olhava de modo indiscreto. O lado arteiro foi recriminado pelo Edgar mais adulto. “O que afinal, estou fazendo? Deveria perguntar a elas sobre Lydia, não?”. “Edgar, deixe de ser estúpido! Você não tem mais 12 anos!!!”.

O rapaz-fada até pensou em apanhar sua adaga, no entanto, se fizesse isso, a situação fugiria do controle. O que era praticamente uma idiotice praticar um ato deste naquela situação.

Uma terceira veio com outras duas garotas mais baixas, muito parecidas entre si, provavelmente gêmeas.  Eram louras com os cabelos ondulados, apresentavam narizes aquilinos, e com muitas sardas.

― Eu posso me apresentar? – indagou o conde.

― Oh, ele fala! – falou a ruiva que era acompanhada das duas garotas, enquanto comia uma maçã.

A espada ainda encostava a garganta de Edgar, que chegou a engolir a seco. No seu íntimo, seu pensamento beirava ao caótico. “Afinal, quem são elas? São responsáveis por tomar conta dos mortos?”.

As mais novas deram a volta ao redor dos dois rapazes. Com ar malicioso piscavam uma para a outra.

― Bonito. Mas, é sem-graça! Louro, alto, magro... No entanto, não tem músculos e nem barba! O que é um homem sem barba? – questionou a ruiva terminando a maçã. Era evidente que ela falava de Edgar.

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― Já terminou a minha descrição? – O rapaz não conseguiu por muito tempo segurar a língua na boca.

― E o outro? O gato comeu a sua língua? – perguntou a morena para Raven.

As mulheres caíram na risada, o que deixou Edgar levemente exasperado.

― Ótimo! A brincadeira já acabou? Posso me apresentar e dizer para que estou aqui? – questionou quase perdendo a paciência.

― Você está aqui para buscar a sua amada, eu acho... – respondeu uma mulher fora do grupo de garotas. Era muito mais bela e surpreendente do que todas juntas.

As mulheres se inclinaram em sinal de respeito. Ela se aproximou de Edgar e Raven e ordenou a loura abaixar a espada.

― Quer matar nosso convidado? Oras! Seja mais refinada, não?

A mulher ficou frente a frente com o jovem conde. Era de estatura mediana, loura com cabelos anelados que desciam como uma cascata dourada. Sua pele alva mostrava uma variedade de sardas que lhe davam um ar sapeca. Seus olhos cor de âmbar miravam os homens com languidez. E seu corpo voluptuoso era adornado com vestido longo, branco com um laço dourado na cintura finíssima, e com um decote profundo, que revelava seus seios. E em seu colo se encontrava um magnífico colar.

― Pois vejamos... Primeiramente, bom-dia. Segundo, deixem-me ver se não estou enganada. Você – e apontou para Edgar- é o Conde Cavaleiro Azul, certo?

Ele quis completar com:

― Edgar Ashen...

Porém, foi interrompido pela mulher que completou seu raciocínio:

― Sylvanford... Aliás, Duque de Sylvanford... Estou correta?

O rapaz engoliu a seco e respondeu:

― Faz tempo que não me chamavam assim...

― Pois bem, mas no mundo dos humanos e fadas, você é o Conde Cavaleiro Azul. Bom, - A mulher olhou para Raven e continuou: - O rapaz que o acompanha é seu mordomo, criado e fiel amigo, Raven.

E sua próxima pergunta foi quase à queima-roupa:

― Você é uma fada, meu jovem?

― Meio-fada... – ele respondeu.

― Hum... Quase lá! – falou com tom que não foi vencida.

Ela deu as costas para os homens, caminhou alguns passos e voltou-se com ar de superioridade para falar:

― Senhores, sou Freya, dona dessas terras. Essas são as minhas vassalas, as Valkyrias. Somos guerreiras, portanto, é bom que vocês tirem os olhos das pernas das garotas. Não estamos aqui para ficar de saias rodadas e fluflus. – e encarou em especial Edgar. – Portanto, senhores, serei a sua guia nesta jornada. Sejam bem-vindos.

A trajetória só estava começando.


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Notas finais do capítulo

Aqui você conhece a primeira entidade que irá nos nortear dentro do submundo: Freya! Deusa nórdica de extrema beleza, ela é responsável por trazer nosso lado guerreiro e sedutor. Estranhou pelo fato de chamá-la de Deusa? Pois bem, como sou wiccana, aqui a tratarei assim. Também conhecida como o Falcão Branco, animal que a representa. Rainha das Valkyrias, diz a lenda que ela as liderava em batalhas. Não vou falar mais para não estragar maiores surpresas. E na próxima semana... Uma torre, um reflexo. Será que Lydia estará lá?
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