Tradução do título: Coração elástico

And I know that I can survive.
I'll walk through fire to save my life

(Sia, Elastic Heart)

E mais um vai ao chão...

Por que não posso conquistar o amor? Posso ter pensado que éramos um só. Queria lutar nessa guerra sem armas. Queria muito isso. Mas, havia tantas bandeiras vermelhas. Agora mais um vai ao chão. Sejamos honestos, não confiarei em ninguém. Você não me destruiu, ainda estou lutando por paz. Bem, eu tenho uma pele grossa e um coração elástico, mas sua lâmina pode ser muito afiada. Eu sou como um elástico, até que você puxe com muita força. Sim, eu posso romper e mover-me rapidamente, mas você não me verá cair, porque eu tenho um coração elástico. Eu sei que posso sobreviver. Vou andar através fogo para salvar minha vida. E eu quero isso, quero muito a minha vida. Estou fazendo tudo que posso. E, então, mais um vai ao chão... É difícil perder quem eu escolhi. Você não me destruiu. Ainda estou lutando por paz.

xxx

— Josh, deixa eu explicar. — Ed disse, enquanto fechava meu robe. Achei cordial da parte dele.

— Vocês vão ter muito o que explicar. Meester, se veste e eu quero os dois na minha sala em meio minuto. — Ele virou-se e saiu pisando firme.

— Leighton, eu não tenho palavras para me desculpar por isso. — Ele disse, completamente sentido pelo ocorrido. Encarei-o séria.

Desde o momento em que Josh nos pegou, com a corda no pescoço, eu não pronunciei uma só palavra. Estava tentando digerir os últimos 30 segundos para entender como eu fui do céu ao inferno em um piscar de olhos.

Nós não precisávamos pensar muito para entender que aquela era a pior situação que poderíamos nos meter. Tínhamos uma cláusula no contrato que estava exclusivamente reservada para situações como essa. Quando eu li o contrato pela primeira vez, achei um pouco bizarro: "Quem pegaria o colega de elenco no camarim ou nas camas dos cenários?" Mas, agora eu estava naquela situação e não tinha graça nenhuma.

— Ed, pelo amor de Deus. Nós dois fomos responsáveis pelo que aconteceu agora. Não se culpe. — Falei um pouco impaciente. — Agora, por favor, me dê licença. Preciso me trocar. — Falei sem olhar em seus olhos e ele permaneceu parado.

— Você dá um nó na minha cabeça. — Ele respondeu, intrigado e visivelmente tenso.

— Você dá um nó na minha vida, Edward. — Virei-me e encarei-o — Você sabe o quanto eu estou tentando resistir a você? — Me aproximei e encontrei-me diante de seus olhos em menos de um segundo.

— Edward? — Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu.

— Cala a boca e escuta! — Falei alto o suficiente para que ele percebesse que eu não estava para brincadeiras. — Isso não vai ficar assim! — Cerrei os lábios e suspirei, enfurecida. Dentro de mim, havia uma mistura de raiva e desejo — Se você pensa que isso acabou por aqui, está muito enganado. — à medida que falava, fui avançando em sua direção, e ele foi obrigado a recuar, até cair sentado no sofá que estava ao fundo. Em seguida, abaixei e falei em seu ouvido — Isso tem que acabar. — Ele me olhou assustado.

— O que tem que acabar? Leigh, qual é o seu problema?

— Esteja em meu apartamento às nove e você saberá...

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— Leighton... Leigh! Você ainda está aí dentro?

— Quê? — Foi tudo que eu consegui dizer quando percebi que havia sido vítima da minha própria consciência.

— Você ouviu alguma coisa que eu disse?

— Você disse que eu dava um nó na sua cabeça e eu... — Perdi a minha. — Eu ouvi...algumas partes. — Pisquei várias vezes, desejando que aquele pensamento tivesse sido real.

— No que você estava pensando? — Ele se aproximou e acariciou meus braços.

— Em como a gente se ferrou dessa vez. — Me afastei dois centímetros — O Josh já estava furioso desde sexta com o que não chegamos a fazer, imagina o que vai acontecer agora que ele viu tudo... — Falei aflita e mirei o chão. Minha voz soou fraca, havia um nó em minha garganta.

— Ei, Leigh, olha pra mim! — Sua voz soou aveludada. Eu obedeci — Aconteça o que acontecer, eu vou estar ao seu lado. Vamos lá e vamos encarar isso como adultos. — Ele sorriu com carinho e colocou uma mecha de cabelo meu atrás da minha orelha.

— Claro. — Dei um sorriso agradecido. — Obrigada por me apoiar. — Queria dizer que eu saberia me virar sozinha, mas ele estava sendo muito gentil comigo, não quis ser rude. Na verdade, eu nunca quis. Só estava tentando matar o sentimento que estava nascendo dentro de mim. Para a minha própria sobrevivência.

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— Eu nem preciso dizer o quanto estou decepcionado com vocês dois... — Josh começou falando em um tom pouco aletrado, enquanto nós estávamos trêmulos sentados à sua frente, como duas crianças na detenção. — Acho que não preciso mostrar o contrato para ressaltar o quanto me irrita ter encontrado vocês, prestes a se comerem, dentro do meu estúdio. Quebrando as minhas regras... — Balançamos a cabeça em negação ao mesmo tempo. Seu rosto foi ficando vermelho à medida que o seu tom foi se elevando. — Para ser sincero, eu fiz vista grossa na última sexta. Vocês só estão aqui ainda por causa da Stephanie. Ela disse que era normal que, algo do tipo acontecesse no início, mas garantiu que os alertaria, para evitar novos incidentes. — Ele estava tão tenso que não conseguia parar de bater os dedos na mesa de madeira. Essa era a razão pela qual havia uma ligação dela perdida no sábado.

— Eu não vejo problema nenhum nisso. Na verdade, eu acho essa sua regra um pouco radical. — Ed começou a falar sério, como se fosse um advogado defendendo um assassino e eu senti vontade de atirar aquele sapato que usei mais cedo na cabeça dele. Ed, cala essa boca!  — Você trabalha com um monte de jovens, isso vai acontecer uma hora ou outra. — Ele deu de ombros com naturalidade — Pra mim, isso é patético. — Ele estava mesmo falando sério. Não pronunciei uma palavra sequer, mas minha boca arreganhada falou por mim.

— Foi muito bom o garanhão falar... — Josh falou com um sorriso sarcástico no rosto e se levantou — Eu vou te dizer o que é patético, Westwick — Ele falou procurando algo em uma pasta. — Vocês já devem ter se esquecido da primeira reunião que tivemos. Acho que eu não fui suficientemente claro quando falei que não queria relações amorosas entre vocês e o motivo é bem simples...— Ele se virou e caminhou de um lado para o outro, atrás de nós. — Todos vocês são imaturos — Ele gritou. — São inconsequentes e acham que o trabalho é uma grande brincadeira. — Ele parou e pousou uma mão no queixo respirou fundo, como se estivesse pensando em algo, ou tentando controlar os pensamentos. — Hoje vocês se adoram, amanhã estão se odiando. E quando isso acontecer, vocês vão chegar aqui querendo matar um ao outro, como duas crianças da pré-escola. E o que vamos fazer enquanto isso? Cruzar os braços e esperar que as estrelinhas se resolvam na cama? — Nos entreolhamos, desconsertados. Eu esfreguei os braços que estavam arrepiados por conta daquele embrulho de emoções. — Se querem entender o motivo, vejam com seus próprios olhos — Ele falou e em seguida, jogou uma revista em cima da mesa com tanta força que levantou os outros papéis que estavam ao redor.

Olhei para a revista e franzi o cenho por não entender do que se tratava.

— O que é isso? — Falei com os olhos arregalados.

— Vocês sabem ler? — Ele pegou a revista e segurou-a de frente para nós.

Eu juro que gostaria de não saber naquela hora.

— Coluna SPOTTED na revista Insight? — Falei com medo de ler sobre o que realmente se tratava a matéria, mas só de saber que tinha algo a ver com flagra meu estômago revirou. A revista Insight era muito conhecida no país inteiro. Estar nela era como chegar ao topo. Eles falavam da vida dos atores em geral e de forma invasiva. Mas, nunca fizeram uma coluna de flagras com a frase de efeito: "Sejam bem vindos a um mundo sem o privilégio da privacidade" — Eles nunca tiveram isso... — Continuei um pouco incrédula.

— Realmente, Leighton, você está coberta de razão. — Ele ajeitou os óculos com um dedo — Mas, agora eles têm e adivinha quem é a grande atração de lançamento...— Ele não estava mais gritando, mas sua maneira sarcástica de falar as coisas me deixava profundamente irritada.

Peguei a revista da mão de Josh e levei uma mão ao coração, tamanha foi a minha decepção quando finalmente comecei a ler o conteúdo:

"A SAGA WESTWICK"

Olhei para o lado ao ler o título e vi Ed com a cabeça baixa, cotovelos apoiados no braço da cadeira e a mão na testa. Meus olhos se encheram de lágrimas por saber que estávamos envolvidos em algo que começava com esse título.

"Ed Westwick é o novo vilão do mundo das séries. Você vai encontrá-lo em Gossip Girl no papel de Chuck Bass: o coração de pedra. Mas, enquanto na ficção ele faz o estilo descompromissado e durão, no mundo real ele tem um grande coração. Tão grande que tem espaço para duas. Não acredita? Veja as imagens e comprove.

Primeiro temos Ed e Leighton Meester (Blair Waldorf, na série) perdidos no Brooklyn 2. Um pouco desajeitados. Parece que a noite foi tão boa que o relógio não despertou e eles saíram do jeito que estavam. Me pergunto o que eles estariam fazendo longe de Manhattan... Se escondendo? Acho que não adiantou muito.

Parece fofo, mas o coração do nosso Don Juan não é exclusivo.

Na segunda de manhã, ele foi visto com Jessica Szohr (Atriz coadjuvante da série. Não sabemos muito sobre sua participação) em um café da manhã muito romântico. Conversas, mãos dadas, olhares apaixonados... Apenas um cego não conseguiria ver.

Tudo bem, Leighton pode ter ficado no passado. Semana nova, histórias novas, não é mesmo!? Seria bom se fosse assim... A verdade é que essa foto foi tirada apenas uma hora depois de ele ser visto deixando o apartamento da Meester. Do mesmo jeito que ele foi visto deixando o hotel de Jessica no sábado de manhã.

O final dessa história, eu deixo com vocês. Quem é a segunda opção? Leighton ou Jessica? Quem dá mais?

Estarei aguardando as opiniões no nosso site www.spotted.com

Sejam bem vindos a um mundo sem o privilégio da privacidade."

— Ainda vem com um pôster do Ed aqui no meio. Você quer, Leighton? — Josh pegou a revista a minha mão e mostrou-me o pôster. Ele estava lindo e eu odiava achar isso.

Tudo que eu queria naquele momento era sair correndo dali e não voltar mais. Senti medo, senti vergonha e estava completamente decepcionada com Ed. Ele não revidou, não tentou se defender. Seu silêncio foi sua sentença. Ele estava com nós duas ao mesmo tempo. E ele tinha dormido com ela na sexta como eu havia previsto.

— Quem é a segunda opção? — Repeti em voz alta para que ele percebesse o quanto aquilo havia me magoado.

— Leigh, eu... — Ele disse virando-se depressa, como se tivesse captado a mensagem. — Eu... — Ele não conseguiu pronunciar a palavra certa.

— Cala a boca! — As palavras saíram sem a minha autorização, mas eu não procurei me retratar. Meu nariz e maçãs do rosto provavelmente estavam vermelhos com o esforço que eu estava fazendo para não chorar.

— Vocês estão vendo? — Josh sorriu vitorioso — Já começou a guerra. É isso que eu quero evitar. Vocês podem achar que é para o mal de vocês, mas é para o bem. Acreditem em mim. — Ele disse, estranhamente, calmo e entrelaçou os dedos em cima da mesa.

— O que eu não entendo — Falei em um surto de coragem, não sairia dali com aquela história entalada na garganta. — é que se a Jessica está no meio, por que não está aqui para escutar o que você está dizendo. — Encarei-o séria.

— O que você acha, Leigh? — Ele sorriu novamente e eu suspirei fundo — Você leu a matéria? "Atriz coadjuvante", ela está aqui de passagem, não compromete a imagem que eu quero vender da série. Você entende?

— Entendo, mas como uma coluna em uma revista pode influenciar na imagem que você quer vender? É a primeira vez que eles publicam algo desse tipo, como saberemos se é para valer, se as pessoas se importam? É só uma revista. — Falei atropelando as palavras que estavam engasgadas, enquanto Ed estava calado com um dos pés na cadeira e o outro no chão que ele fitava desde o momento em que eu mandei ele se calar.

— Leighton, você é tão ingênua... — Ele falou com uma voz aguda e eu cruzei os braços para tentar conter a vontade de discutir com ele. — A repercussão de uma revista, hoje em dia, é até maior do que a internet. As pessoas leem no salão de beleza, na sala de espera do dentista, no ônibus, no banheiro, enquanto tomam café da manhã e assim vai... — Eu não tinha pensado por esse lado, minha situação era bem pior do que eu imaginava — Além disso, sabe o que dizem de vocês no twitter?

— Twitter? — Respondi espantada — As pessoas falam de nós no Twitter? — Queria ter ficado feliz, mas o motivo pelo qual falavam me deixava aflita.

— Sim, Leighton... Twiiitteer! — Ele falou com as palmas das mãos para o ar imitando o movimento circular, como se fosse uma palavra "mágica" — E eles dizem coisas como... — Ele pegou um bloco de folhas que estavam a sua frente e começou a ler: — "Ed e Leighton juntos me faz pensar em Chuck e Blair... agrrrrrh"; "Amo Blair e Nate"; "Será que tem a ver com algo que vai acontecer na série? Se for, eu paro de assistir"; "Não sei mais o que esperar da vida depois dessa notícia da Insight"; "Ed Westwick faz jus ao personagem na vida real" ... E eu posso continuar dizendo porque há centenas desses aqui.

Quando ele acabou, Ed e eu estávamos boquiabertos. Finalmente, Ed tinha se expressado diante daquele vexame. Josh estava certo, apenas nós dois estávamos sendo mencionados nos tweets. Senti-me vitoriosa e ao mesmo tempo derrotada. Aquela manhã estava sendo uma mistura de sentimentos estranhos. Quando encontrei-me com Ed na manhã de sexta nem sonhávamos que poderíamos estar sendo acompanhados pelas pessoas. Apenas fomos abordados por algumas meninas malvadas que venderam nossa foto para a revista. E eu cheguei a pensar que poderiam ser fãs. Isso justifica a presença delas no Brooklyn logo de manhã. Concordei com Josh mais uma vez, ao constatar quanto eu era ingênua... e estúpida. Não apenas em relação às fotos, mas à vida também.

— Vocês comprometem a imagem da série inteira com esse comportamento adolescente. — Ele voltou a se enfurecer — Comprometem a imagem que eu quero vender na primeira temporada. Vocês não são o centro da série, ok? — Ele estendeu as mãos irritado.

— Então, que imagem você quer vender? — Ed se levantou e se impôs depois de passar longos minutos em silêncio. Senti um misto de alívio e apreensão.

— Logicamente, a imagem da Blair com o Nate. Você estava na reunião e sabe muito bem do que eu estou falando. — Josh também se levantou e encarou-o sério.

— É claro que eu estava! — O tom de voz de Ed se alterou — Mas, eu estou achando isso uma completa idiotice sua. Se não fosse por nós, nem estariam falando da série no Twitter e muito menos em uma das revistas mais famosas do país. — Ele sorriu sarcasticamente — Que tipo de imagem você quer vender, Josh? Seja mais específico, porque esse papo não me convence. — Ed pegou o casaco e colocou o celular no bolso — Quer saber? Essa conversa já me cansou, estou indo! — Ele caminhou até a porta.

— Ed Westwick, você tem noção do que está fazendo? Essa sua atitude desrespeitosa pode te custar muito. — Josh apoiou-se na mesa com as duas mãos.

— Ed, senta aqui! — Gritei desesperada e me levantei. As atitudes deles repercutiriam em nós dois. Além disso, tinha medo do que Josh poderia fazer com ele depois de dizer que aquilo lhe custaria muito. — Ed, faz isso por mim... — Implorei com os olhos, com a alma e com as lágrimas que começaram a rolar.

— Westwick, eu estou mandando! — Josh gritou.

— Foda-se! — Ed berrou em resposta. Senti o sangue subir para a cabeça temendo o que viria a seguir. 

— Quer saber? Eu quero os dois fora! — Ele gritou e apontou para a porta.

— Já estava na hora. — Ed retrucou e revirou os olhos — Vem, Leigh...

— Fora da série. — Ele falou seco e nós ficamos paralisados. Neste exato momento, Stephanie passou pela porta.

— Que gritaria é essa? Vocês estão malucos? — Ela falou em tom de reprovação e olhou para todos nós.

— Leigh, por que você está chorando, meu amor? — Ela se aproximou e me abraçou.

— Josh nos demitiu. — Falei com dificuldade em meio às lágrimas e às vias nasais congestionadas.

— Ele não pode fazer isso. — Ela olhou para ele — Você perdeu a noção? A temporada toda está escrita com eles... — Ela falou em tom calmo, porém foi firme. Steph sempre foi a cabeça por trás de tudo.

— Os dois merecem uma punição pelo que aconteceu, Stephanie. — Ele respondeu, ainda mais irritado.

— A Leighton não tem nada a ver com isso, Josh. Ela foi apenas uma vítima. Eu forcei tudo, eu a usei. Sou eu que estou na matéria como o garanhão, Don Juan e coração de pedra. — Sua voz saiu fraca no final e seus olhos se encheram de lágrimas, que ele relutou para não deixar rolar. — Faça o que quiser comigo. Mas, não a puna mais do que eu já fiz.

Um silêncio mortificante tomou todo o ambiente. Eu não sabia o que dizer depois de ouvir da boca dele que eu fui vítima e que eu fui usada. Aquele dia estava sendo um inferno. Queria muito que fosse uma pegadinha, mas não era. Era a vida real mostrando que eu tinha errado mais uma vez. Que eu ainda era aquela menina boba e assustada do passado. Não importava o que eu fizesse, sempre seria a mesma coisa. Eu luto, me entrego, me machuco e me quebro em mil pedaços. Eu precisava dar um fim daquilo.  Ainda que fosse muito difícil. Havia algo dentro de mim que implorava para eu não desistir porque tudo daria certo no final, mas havia uma neblina nos meus olhos que não me deixavam enxergar. Nesse momento, eu não estava agindo como Chace disse mais cedo. Não estava tentando me esquivar. Apenas tentando manter-me sensata diante dos fatos.

Essa é a escuridão antes do amanhecer
A tempestade antes da paz
Não tenha medo porque as estações mudam

— Pela primeira vez, você está certo, Westwick. — Ele cruzou os braços — Como eu não posso te mandar embora para sempre, quero você fora do próximo episódio e longe do meu estúdio durante todo o período de gravação.

Arregalei os olhos, em sinal de desespero e virei a cabeça para observar a reação dele, mas ele não teve nenhuma.

Ed concordou e saiu batendo a porta com força. Meu coração foi com ele. Estava sentida demais com o que ele havia dito e mais sentida ainda por estar incomodada com a ausência dele na semana que viria. Queria estar sentindo paz, mas eu me sentia devastada e culpada.

— Leigh, não fica assim. Você não teve culpa. — Stephanie voltou a me abraçar e eu respondi apenas com soluços. Não tinha mais o que dizer. Ela me soltou e pegou um copo de água no bebedouro para mim. Ingeri o líquido com dificuldade, pois minhas mãos estavam trêmulas.

— E agora, como vamos tirar o Ed do episódio nove?

— Contate os escritores e peça para eles mandarem o Chuck para Paris, Toscana, República Checa ou para o raio que o parta. Vamos concentrar o episódio em Serena, Blair e Nate e vamos incluir um flashback do ano anterior para preencher os espaços.

— Isso vai dar um trabalho...  — Stephanie falou passando uma mão pelos fios loiros com o olhar preocupado.

— Se for preciso, eu faço com as minhas próprias mãos. Falaremos sobre isso na reunião. — Ele abriu a agenda e rascunhou qualquer coisa — Dispense todos os atores, nossa reunião será longa. — Stephanie assentiu e começou a fazer ligações.

— Leighton, — Josh chamou minha atenção — você não deve ficar se martirizando por isso. — Ele deu a volta na mesa e se aproximou. — Você é linda, talentosa, jovem... Sua carreira não começou agora como a dele. Você tem algo para zelar, ele não tem. Ele não está perdendo nada, você perderia muito. — Ele disse segurando minhas mãos frias.

Levantei a cabeça lentamente e o encarei com uma expressão sobressaltada. Aquelas palavras duras me deixaram indignada. Ed poderia ter agido como pilantra, mas ele era um profissional e merecia ser respeitado. Assim como qualquer um de nós. Não tinha maior ou menor, éramos iguais.

— Josh, eu não concordo com isso. Aonde você está querendo chegar? — Franzi o cenho, completamente intrigada.

— Eu não quero mais vocês juntos e quero que você enxergue o motivo. — Ele foi direto ao ponto. Em seguida, caminhou de volta para a mesa, pegou a revista e os papeis com os tweets impressos e os ergueu. — Se vocês continuarem juntos, sua carreira vai se resumir a isso. Fofocas, fofocas e mais fofocas.

— Mas, são apenas fofocas... — Voltei a me sentar e apoiei os cotovelos na mesa.

— Mas, eles não estão preocupados em saber o que há por trás, Leigh... — Stephanie interviu, posicionando-se atrás de mim e apoiando as mãos em meus ombros, gentilmente. Josh assentiu com a cabeça, como se fosse exatamente o que ele estava prestes a falar.

O que Steph disse me atingiu como um soco no estômago. Ela tinha razão. Ser uma figura pública te faz ser um indivíduo vulnerável a esses tipos de ataque. Eu perdi o direito à privacidade e à liberdade de ir e vir. Não me moveria mais com os meus próprios passos, mas com passos premeditados. Todas aquelas mudanças me apavoraram.

— É como se estivéssemos nas mãos da Gossip Girl? — Respondi ingenuamente.

— É bem pior, Leigh. Vocês estão nas mãos da imprensa. Ela será sua inimiga para o resto da vida. — Steph respondeu compassiva. Se ela não estivesse lá, eu não sei o que seria de mim.

— Vocês acham que eu estou sendo cruel, insensível e ditador. Mas, eu só estou tentando proteger todos vocês, que são como filhos para nós. — Josh falou calmo e eu concordei. — Só quero que você se afaste. Faça esse favor para a série e para a sua carreira.

Eu parei para pensar por um instante. Aquela era uma decisão muito importante a ser tomada. Se eu dissesse sim, estaria jogando toda aquela pequena história no lixo. E, mesmo se eu tentasse voltar atrás, iria sofrer consequências mais graves, porque Josh não permitiria mais uma falta nossa. Se eu dissesse não, viveria constantemente sob a mira furiosa de Josh e, principalmente da mídia. Eu não queria sujar a minha imagem tão cedo e passar parte do meu tempo lutando para abafar os boatos.

Me afastar de Ed significava nunca mais sentir a alma pular de alegria quando ele se aproximava. Eu não teria mais aquela paz que inundava meu coração quando ele dizia meu nome. Eu precisaria me esforçar para agir profissionalmente diante de seus beijos, para não fazer com que aquilo terminasse em meu apartamento. Era estranho estar tão ligada à ele rapidamente. Até a última sexta feira éramos apenas colegas e conversávamos tão pouco... Parei para refletir um pouco e, naquela hora, eu percebi, pela primeira vez, que aquela atração estava dentro de mim há muito tempo e eu só soube quando nossas almas se encontraram no Au Lait. Eu não queria perder isso. Ele despertou em mim algo que eu pensava que nunca mais poderia sentir na vida. E fez isso muito rápido. Mas, eu não podia garantir se ele pensava como eu e se sentia as mesmas coisas e a minha dúvida só aumentou quando ele disse que me usou. Meu coração ainda estava doendo por ouvir aquilo e aquele golpe foi ainda mais forte do que a foto dele saindo do hotel em onde estava a Jessica. Minha cabeça estava um caos. Eu não sabia o que responder. Se eu desse um passo em falso, tudo poderia mudar. Como eu fui me meter nessa encrenca?

Então, eu me decidi.

— Josh, eu concordo em me afastar, mas eu tenho uma condição. — Não sabia se eu tinha o direito de impor algo em troca da minha decisão, mas decidi tentar.

— Diga... — Ele estendeu a mão para eu continuar.

— O que eu vou dizer é muito sério e importante. É até bom que vocês dois estejam aqui. — Falei séria, mas sem expressão. Estava atormentada demais para ter emoção na voz. Stephanie sentou ao meu lado para ouvir o que eu tinha a dizer. Estava correndo um risco muito grande e poderia colocar a cabeça de outras pessoas em risco, também. Mas, eu tinha de fazer isso. Seria a única forma de me libertar.

— Estou ficando assustada... — Steph falou em tom preocupado.

— Vou dizer de uma vez... — Respirei fundo e fechei os olhos — Penn e Blake estão juntos e eu gostaria muito que vocês pudessem fazer uma exceção para eles. Eles se gostam muito e estão dependendo disso para serem felizes.

— Ah, eu não acredito! — Josh bateu na mesa e gritou enfurecido.

— Calma, Josh! — Steph gritou. — Leigh, como isso aconteceu, você sabe?

— Eu não quero entrar em detalhes. Mas, é como o Ed disse mais cedo, é impossível evitar que coisas desse tipo aconteçam, porque somos jovens. — Senti uma pontinha de orgulho por estar dizendo aquilo.

— Eles vão me escutar! — Josh se exaltou mais uma vez e pegou o telefone.

— Não, Josh! — Gritei — Não faz isso ou eu vou continuar próxima do Ed e você não vai gostar nem um pouco das notícias que vão aparecer nas revistas.

Stephanie olhou para mim com um sorriso convencido, como se estivesse sentindo orgulho.

— Você está me ameaçando, Leighton? — Ele levou uma mão ao peito e questionou ofendido.

— Não! Quem sou eu? — Falei sarcasticamente, mas só eu percebi. Atuação. — Só quero fazer uma troca. Se eu não posso ser feliz, que alguém possa ser em meu lugar. O sol não brilha para todos como gostaríamos. — Fiz uma referência ao que ele havia dito sobre o Ed anteriormente.

— Isso é ridículo! — Ele disse com os punhos cerrados sobre a mesa.

— Eu acho ótimo, Josh. — Steph retrucou — Além disso, vamos combinar... todos amam Dan e Serena. Seria uma ótima forma de fazer os boatos circularem a nosso favor. Isso vai acender a esperança dos nossos telespectadores.

Eu ergui uma sobrancelha e balancei a cabeça concordando com um sorriso animado.

— Temos de conversar com eles, estipular algumas regras... — Ele olhou para o teto como se tentasse organizar mentalmente uma lista das medidas que tomaria. — Não vou garantir nada. Mas, vou pensar nisso.

Sorri e comemorei internamente. Salvei o relacionamento da minha amiga e a minha vida com apenas uma tacada. Ed e eu voltaríamos a ser apenas colegas de trabalho e eu ia me esforçar bastante para manter apenas o respeito entre nós.

Levantei-me e caminhei em direção ao camarim para pegar minha bolsa e meu casaco. Blake devia estar mofando enquanto me esperava. Pelo menos toda aquela confusão nos garantiu uma tarde de folga. Meu coração apertou quando passei pela porta. As lembranças de todo o final de semana passaram como um filme na minha cabeça ao som de "Big girls don't cry".

Eu sentirei sua falta como uma criança sente de seu cobertor. Mas, eu tenho que seguir em frente com minha vida. Chegou a hora de ser uma garota grande.  E garotas grandes não choram. O caminho que estou trilhando, eu devo seguir sozinha.  Devo engatinhar até eu ser adulta. Contos de fada nem sempre têm finais felizes, têm? Eu vejo a escuridão a frente se eu ficar.
(Fergie, Big girls don't cry)

Posso ter sido desonesta comigo mesma, quando decidi tirar Ed da minha vida com um acordo. Mas, eu me conhecia e sabia que se não houvesse uma condição mais grave, nada me impediria de voltar. Ele me tinha em suas mãos e eu odiava isso. O melhor o que eu podia fazer por mim era encontrar minha amiga e tomar o máximo de margaritas que eu conseguisse antes de voltar a encará-lo no dia seguinte. Espero que elas sejam fortes o suficiente.

Eu precisava ser mais forte do que aquilo tudo e Ed Westwick não iria destruir minha armadura. Eu ia fazer até o impossível para sobreviver. Mesmo que ele tivesse me puxando com força, eu não ia arrebentar, não ia me romper. Estava distendida, mas seria passageiro. Em breve, eu voltaria à forma original. Recuperada. Como se nada tivesse acontecido. Não é assim que os elásticos fazem?

Você não me destruiu. Ainda estou lutando por paz.