r i o   v a g o

Uma garoa fina caía, o tempo havia esfriado rapidamente. Os dias quentes e ensolarados deram lugar para cinco dias chuvosos e gélidos. Niklaus não conseguia ver mais do que a três metros a sua frente por conta da forte neblina que estava a sua volta.

Mais três dias e eles estariam perto o suficiente para desembarcar. Então teriam de tomar Jardim de Cima, o que não seria fácil. Tinha trago comida suficiente para dois meses de cerco completos se tudo ocorresse bem. Ele esperava pegar o castelo desprevenido, afinal quem esperaria um ataque tão repentino pela água?

Todos os pescadores que haviam visto a frota eram pegos e presos, era crucial que eles pudessem se manter escondidos por tanto tempo quando pudessem.

Os capitães davam ordens aos marinheiros e os generais aos soldados. A cada manhã todos tinham de estar prontos para a batalha, não sabiam o que podiam encontrar pelo caminho.

Niklaus suspirou profundamente e ajeitou a postura. Tinha de se manter firme e forte, ele deveria mostrar força e coragem para as tropas. Tinha de ser alguém em que eles procurassem força e bravura antes da batalha.

— Meu príncipe — Diz Lorde Darius aparecendo ao seu lado, o Alto Almirante vinha de armadura e com a espada na bainha. Pronto para lutar.

— Lorde Redwyne — Cumprimentou ele cordialmente.

Os dois não falaram mais nada, apenas ficaram observando o que conseguiam da popa. As velas estavam presas pela falta de vento, contudo braços fortes de marinheiros remavam e faziam as embarcações seguirem Vago acima.

Parados eles não ficariam...

A luz não foi difícil de notar. Vários pontos brilhantes no meio da floresta encoberta pela neblina. Como pequenas estrelas tremeluzentes. Logo todos os homens já apontavam para os pequenos focos brilhantes.

Niklaus olhava para aquilo perplexo, tão perplexo que não percebeu no perigo iminente que o afligia.

As luzes repentinamente subiram ao céu nublado, subiram alto para depois cariem em direções ao barco. Logo ele percebeu, não eram luzes e sim flechas, flechas incendiarias.

O máximo que ele conseguiu fazer foi mandar todo se protegerem antes de uma enxurrada flamejante caísse sobre todos os navios criando pânico e caos. O Hightower percorreu os olhos pelo convés dos navios, vendo sangue, homens feridos e já alguns mortos. Não demorou muito para ele estar de espada e escudo em mãos, pronto para lutar.

— Em formação — Rugiu o príncipe a todos que tinham ouvidos. — Preparem-se para a batalha.

Alguns homens seguiram suas ordens e foram para o seu lado, enquanto os prováveis arqueiros já preparam mais flechas. Ele gritou ordens e mais ordens, tinha de se organizar e atacar. No meio de toda a loucura era difícil se ouvir, mas ele tratou de tomar partido na situação e fazer os barcos irem até a margem.

Assim que as águas ficaram mais rasas ele mandou colocarem a prancha e desceu rapidamente adentrando na mata fechada. Foi recebido por arqueiros prontos e cavaleiros a postos. Ele ergueu o escudo e defendeu-se das flechas, logo matou o primeiro que viu pela frente, então o segundo, terceiro, quarto, logo havia perdido as contas.

Estava em desvantagem, era um fato, mas os inimigos não estavam em melhor forma. Os homens com a mão verde dos Gardener estavam espalhados aleatoriamente pela floresta cheia de neblina. Ele tinha de tomar cuidado para não matar um aliado.

A garoa havia dado lugar para uma chuva forte, mesmo com a proteção das arvores era fácil sentir os pingos que deixavam o chão lamacento e escorregadio. Ele se mantinha em pé com dificuldade, as botas sujas e o cabelo grudava na testa por conta do suor e da chuva.

Seu braço já dóia por conta do movimento continuo que ele fazia para matar os inimigos. Morte, sangue, chuva, lama e suor, tudo junto no meio daquela floresta fechada. A guerra estava ali.

Niklaus foi seguindo e deixando um rastro de corpos atrás de si. Os treinos desde a infância faziam toda a diferença no campo de batalha, muitos ali eram apenas camponeses que haviam ganhado uma espada e mal sabiam como usá-la direito, já ele não, Klaus era um príncipe, um espadachim habilidoso.

O príncipe Hightower se viu em uma clareira, a neblina havia se dissipado dando uma visão melhor do que acontecia a sua volta. Corpo e mais corpos estavam jogados pelo chão, tanto seus homens como os inimigos. Na extremidade da clareira um homem robusto rugia com seu enorme machado de guerra. Sua capa longa e azul ostentava uma pala de garças, Teobaldo Crane, ele já havia visto o homem em treinos, era um verdadeiro monstro e agora vinha em sua direção com fúria no olhar.

Klaus levantou o escudo com a torre dos Hightowers pronto para impedir os golpes do grande machado de guerra. Apertou o punho da espada e se colocou em postura de batalha. Teobaldo era forte e grande, mas lento e se cansaria rapidamente. Ele era mais rápido e ágil, usaria isso a seu favor.

O primeiro golpe foi do Crane, o machado passou próximo a seu braço, contudo ele havia sido mais rápido como esperava. Mais um golpe, dessa vez o escudo o havia defendido. Ele aproveitou e desferiu um corte na panturrilha do inimigo que rugiu.

Niklaus continuou naquele jogo, fugindo, se esquivando e atacando quando possível. Logo o adversário respirava profundamente e ele viu que aquela batalha estava ganha.

Mais um ataque do machado, dessa vez não ouve tempo para se esquivar e o Hightower levantou o escudo que se rachou ao meio. O impacto o fez escorregar e cair. Em um piscar de olhos Niklaus estava no chão e Teobaldo pronto para descer seu machado sobre o príncipe. Ele tentou achar uma escapatória, mas ai já era tarde demais, o machado descia sobre sua cabeça.

Um barulho de aço contra madeira fez Klaus perceber o escudo de um soldado que o protegia, logo uma dezena de cavaleiros o cercavam e o protegiam.

— Meu príncipe, temos de ir! — Afirmou Darius aparecendo ao seu lado.

— Temos de lutar — Rebateu ele se levantando do chão.

— Estamos em desvantagem numérica, os inimigos estão nos cercando contra o rio, temos de ir enquanto ainda temos chance! — Disse o Alto Almirante.

— Não podermos largar nossos homens aqui! — Respondeu o Hightower.

— São apenas soldados comuns Niklaus, temos mais em Vilavelha, morreram com honra, lutaram por seu rei! Agora vamos! — O mais velho disse puxando o príncipe e os cavaleiros formando um circulo protetor a sua volta.

Em poucos minutos estavam na beira do rio onde um barco os aguardava, muitos já fugiam rumo ao mar, dois pegavam fogo. O pior era os homens, que corriam e nadavam rumo aos barcos, alguns afundavam por conta da armadura ou eram abatidos por flechas.

Niklaus subiu a rampa e os remadores começaram a se afastar da margem. Por fim o príncipe fugiu com o que restou da frota.