A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 33
Jardim em Decadência


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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j a r d i m   d e   c i m a

Alvo Rowan não pôde deixar de segurar a emoção quando viu a sua única irmã daquele jeito. Vestida de preto, os olhos cobertos por pequenas pedras pintadas e as mãos unidas sobre o ventre. Trazendo uma imagem de serenidade e de esplendor até mesmo na morte, pois a coroa que ela sempre sonhou em ter na cabeça ainda estava aninhada nos cabelos loiros, um último desejo dela sendo realizado e ele sabia que se aquilo não tivesse sido feito como ela queria, Elizabeth iria puxar seu pé durante a noite.

O lorde olhou rapidamente para o meistre quando o erudito entrou no pequeno salão.

— Alguma nova informação?

O homem de túnica simple e cinzenta meneou a cabeça em respeito antes de responder.

— Os guardas e eu mesmo vasculhamos o quarto em busca de qualquer pista. Os homens que estavam à porta da falecida rainha não tiveram culpa, pois a mesma havia ordenado estritamente que não a interrompesse em hipótese alguma e eles fizeram como dito a eles, mesmo com todo os sons estranhos que eles ouviram de dentro do quarto. — O homem velho e cansado fez uma pequena pausa antes de continuar. — Procuramos em todos os cantos e encontramos apenas uma adaga manchada de sangue, além do líquido por vários lugares do cômodo, junto de vômito.

Ela apenas levantou os olhos quando resolveu lançar suas verdadeiras suspeitas para o meistre.

— E a garota Fossoway? A rainha de John que os guardas disseram que estava no quarto quando tudo aconteceu? — Ele questionou sério e rígido com suas palavras. — Os guardas disseram que ela e toda a comitiva da mesma saíram daqui às pressas dois dias antes de eu chegar aqui. Bate muito com os fatos do assassinato.

— A própria Lady Ellynor deixou uma carta para ser entregue a mim antes de sair com a família de volta para a casa deles. Disse que a irmã da mesma estava em puro choque e que a Rainha Roslin havia dito em meio ao choro e dor que um assassino havia sido mandado pelos Hightower como retaliação, ele teria atacado as duas senhoras com a adaga e depois jogado ambas pela varanda. Porém, apenas a rainha mãe teria morrido com a queda, enquanto Roslin havia caído sobre o corpo sem vida de nossa querida Elizabeth, assim tendo a vida poupada e corrido para os braços da irmã mais velha que fora libertada das masmorras pela própria Roslin. Por fim Lady Ellynor disse que o castelo não era mais seguro depois da morte de dois monarcas, fugindo assim para Solar de Cidra.

Era uma história plausível, embora ele ainda tivesse suas suspeitas. Mas não havia o que fazer naquele momento, sua irmã estava morta e aquelas pobres garotas tinham ido embora de toda a confusão da corte. Ele faria o mesmo com suas filhas e Aeden se pudesse, mas com a condição de Eyla tão delicada não poderia mover a filha para longe de sua cama. Por mais que ele quisesse fugir daquele local tanto quanto as Fossoway haviam feito.

— Meu senhor, como gostaria que o velório acontecesse?

— Isso é de minha responsabilidade? — Uma sobrancelha se ergueu junto da dúvida.

O meistre ficou também um pouco confuso.

— O Rei luta no Sul, a Rainha fugiu do próprio castelo, a antiga princesa deve estar em Monte Chifre e você é o único membro próximo da família real que eu poderia pensar para cuidar de tal situação. Não consigo pensar em outra pessoa para tomar conta dessas responsabilidades.

Alvo passou uma mão cansada e calejada pela face, segurando um suspiro de pesar. Elizabeth mesmo morta o odiaria pelo que ele estava para decidir.

— Prepare tudo para o sepultamento quanto antes, todos nesse palácio estão com tanto medo que mantém as portas trancadas. Não é hora de um velório, mesmo que seja de minha irmã. Não vou obrigar as pobres senhoras desta corte e participar de um luto nesse momento conturbado. — Ele se desculpou silenciosamente, pois sabia que Elizabeth queria que o velório dela fosse tão grandioso quanto ela havia desejado em vida, mas não seria possível. — Onde posso encontrar o capitão da guarda?

— Ele morreu, durante o cerco de Jardim de Cima.

— Quem assumiu o posto dele?

O meistre deu de ombros, sem realmente saber a resposta.

— Pelos deuses, quem estava cuidando desse castelo?

— Eu passo a maior parte do meu tempo cuidado dos feridos da batalha, como sua própria filha e não tenho horários vagos para pensar em guardas ou da defesa desse lugar.

Alvo finalmente soltou o bendito suspiro.

— Apenas… — Ele ignorou qualquer coisa que fosse dizer. — Cuide do sepultamento como eu disse e continue com seu trabalho, irei visitá-lo a noite e esteja com um corvo pronto.

O homem com a corrente cheia de anéis apenas concordou com um aceno e o Senhor de Bosquedouro deixou o lugar.

Teria de escrever o mais rápido possível para John e contar a situação precária em que Jardim de Cima se encontrava e como tudo estava um caos naquele lugar. Alvo logo notou que ele mesmo teria de tomar conta do castelo a partir daquele momento, pois ninguém mais parecia disposto ou apto para tal trabalho difícil. Tinha que achar algum homem que soubesse de números, estoques e de quantos homens ainda tinham de pé protegendo o castelo. Pelo menos agora as forças dele ajudariam a reforçar as muralhas, protegendo todos de mais outro ataque surpresa.

Com a saúde de sua filha mais nova tão debilitada e Jardim de Cima em completo frenesi decadente, Lorde Rowan teria de permanecer ali e adiar seu tão desejado encontro com o próprio castelo que lhe trazia tanta falta.

 

 

Aeden nunca fora de chorar e demonstrar seus sentimentos abertamente. Fora ensinado a ser um homem! Forte, corajoso e sem sentimentalismo bobo que era comum no meio das damas. Entretanto, quando viu sua irmã, daquela forma… 

Um braço faltava a Eyla, sobrando apenas um toco na altura do ombro. O meistre havia amputado o membro inteiro para acabar de vez com a infecção, mas ela ainda estava debilitada e fraca demais, havia perdido muito sangue e mal conseguia manter qualquer coisa que fosse dentro da do estômago. Tendo de sobreviver a base de água, sopa dada na boca por Aella e é claro, muito leite de papoula para que ela conseguisse suportar tudo, o que a fazia ficar a maior parte do tempo desacordada.

Ver a sua irmã mais nova daquele jeito fez com o que o grande rapaz secasse as lágrimas dos olhos.

Aella, que era a mais velha e a que parecia mais pé no chão no meio de toda aquela situação, se aproximou fazendo um carinho em seu braço. Enquanto Ayla já tinha os joelhos duros e acostumados depois de dias dela na base da cama orando por Eyla aos sete deuses a todos os momentos. Parando apenas para se alimentar, ir na latrina e dormir por poucas horas da noite. Fazendo assim que Aella cuidasse da irmã enferma e de todas as necessidades da mesma.

— Sabe… — O rapaz Rowan começou passando os braços pelos ombros da garota. — Eu nunca pensei que você fosse tomar tanta iniciativa como estou vendo você ter aqui nesse momento, você que sempre teve o mundo rodeado por vestidos belos e jóias para lhe adornar dos pés a cabeça.

Aella riu mostrando um pouco de divertimento depois de tantos dias.

— Eu poderia te dar uns bons tapas por você pensar que eu sou apenas isso. — E ela realmente lhe deu um peteleco fraco. — Mas eu imagino que seja o mínimo que eu deveria fazer, afinal eu sou a mais velha e tenho que cuidar de todos vocês.

— Até de mim? Eu achei que eu que fosse proteger vocês três da guerra.

— E protegeu, lutou por nós no campo de batalha e cuidou para que alguns dos inimigos não chegassem até aqui. — Ela começou, mas seu tom foi mudando durante a fala para algo mais sombrio e melancólico. — Porém mal sabíamos que um dos grandes monstros dessa guerra estava aqui mesmo dentro do castelo.

E ele sabia que sua irmã estava se referindo a Olyne Redwyne. Aeden pensou amargamente desejando que ela estivesse ardendo em um dos sete infernos pelo que havia feito com uma alma tão bondosa como Eyla.

A mais nova se remexeu na cama e Aella seguiu até a garota.

— Aeden, vá chamar o meistre, acho que ela precisa do leite de papoula.

Ele concordou com um aceno ligeiro e saiu do quarto rumo aos corredores praticamente vazios de Jardim de Cima. Aquele lugar que sempre foi cheio de pessoas e animação, mas que no momento mais parecia um lugar deserto e abandonado. Uma prisão onde a corte definhava enquanto John lutava sua guerra como um fraco e agora cabia a seu pai tentar arrumar. Sendo que a tia dele havia sido assassinada e nenhum culpado tinha sido encontrado, o que apenas mantinha a névoa de medo e suspeita sobre todos eles.

Jardim de Cima que já fora lar de alegria e festejos, banquetes e comemorações, tornou-se um túmulo de portas trancadas.

Ele questionou aos guardas em busca do meistre, mas nenhum deles sabia do paradeiro do erudito. Então ele resolveu que deveria ir diretamente à torre do homem, onde achava que iria finalmente achá-lo. Caminhou pelos corredores quietos e calmos até se deparar com duas damas com vozes exaltadas, mulheres que ele reconheceu quando se aproximou mais, como sendo Lady Crane e uma de suas filhas. Elas também notaram a chegada dele e se viraram imediatamente, cessando a conversa e fazendo uma mesura.

— Sor Aeden, que bom vê-lo bem mais uma vez neste castelo. — A mais velha disse depois de um silêncio constrangedor.

— É um prazer revê-las, uma pena que seja em tal situação.

— É claro, sentimos muito por sua irmã.

— Obrigado. — Respondeu se preparando para sair em continuar em sua busca, mas notou que a mais importante das Crane não estava ali, sua noiva. — E onde está Lady Amélie? Minhas irmãs me contaram que ela costuma visitar bastante o quarto dela e ajuda bastante, gostaria de agradecê-la pessoalmente por tanta bondade.

As duas mulheres se entreolharam.

— Amélie… ela... 

A Crane mais velha se perdeu nas palavras e a mais nova resolveu tomar dianteira.

— Sor Aeden, está indo para algum lugar em que eu poderia acompanhá-lo e assim eu possa te explicar melhor a situação?

Elas se entreolharam, com a senhora olhando friamente para a sua filha e a outra devolvendo o olhar com a mesma intensidade. O Rowan se sentiu incomodado com aquilo tudo, resolvendo voltar a falar para que elas parassem com aquilo.

— Situação? — Ele questionou e realmente tinha um pouco de preocupação em sua voz, mesmo que não conhecesse a moça muito bem, mas sabia que era uma boa pessoa e não desejava que nada de ruim lhe abatesse. — Aconteceu algo com minha noiva? Algo ruim?

A Senhora Crane estava pronta para falar novamente, mas a outra foi ligeira e entrelaçou seu braço leve e protegido por luvas de renda nos fortes e musculosos de Aeden.

— Por favor Sor, ande um pouco comigo e deixe que eu lhe conte algumas coisas.

A mãe da dama continuou a lhe lançar olhares horríveis, por isso Aeden resolveu aceitar a companhia da garota ao menos enquanto ele seguia até a torre do meistre. Ele se despediu cordialmente de sua futura sogra e tratou de ir carregando a menina que ele nem ao menos se lembrava do nome.

— Perdão milady, sei que isso é um pouco mal-educado de minha parte e nada cortês, mas eu realmente não consigo me recordar de seu nome com clareza. — Ele resolveu ser sincero e ela piscou os dois belos olhos castanhos docemente, sem demonstrar mágoa.

— Oras, não existe grande problema aí, você era noivo de minha irmã, não meu. — Ela respondeu se entrelaçando mais ao aperto de braços, o que o deixou incomodado. — Mas meu nome é Evangeline, meu senhor.

— Era noivo? — Ele estava confuso e a garota pareceu achar aquilo divertido, pois riu um pouco.

— Preciso ser direta, Sor. — Ela revelou deixando a graça de lado. — Minha irmã não era quem você imaginava e antes de você mesmo colocar os pés nesse castelo fugiu com um soldado qualquer de nossa casa, para onde apenas os deuses sabem. Amélie nunca foi uma verdadeira dama, sempre se deu melhor com a plebe do que com as pessoas que realmente importam.

O tom dela não o agradava nem um pouco e nem as coisas que dizia.

— Que os sete me perdoem, mas ela deveria ter nascido no meio da lama do que em uma casa tão honrada como os Crane.

Aeden engoliu em seco, chocado, mas com mais raiva das palavras de Evangeline do que com o que havia acabado de ouvir sobre o que Amélie havia feito.

— Se ela fugiu eu tenho certeza que é porque acreditou que eu não a faria feliz e eu começo a crer que talvez a própria família dela tenha influenciado nessa situação. — Ele comentou sincero e se lembrou que suas irmãs haviam apenas comentado da visita de Amélie, nada de Evangeline e sua mãe.

— Como? — Ela ficou pasma com o que ele havia acabado de dizer, mas retomou a compostura voltando usar a pose de boa dama. — Enfim, ela fugiu sim e agora você voltou a ser um herdeiro solteiro.

Havia malícia e puro interesse na voz dela.

— Creio que sim… — Aeden queria ver até onde aquela menina pretendia chegar.

— Bom, eu serei prática sor, você não irá encontrar melhor escolha para uma noiva do que eu. — Todas as palavras dela eram cheias de orgulho e egocentrismo. — Minha irmã foi uma péssima escolha e nunca estaria nos padrões de Bosquedouro, aquela ali pode se perder no mundo enquanto eu sim seria uma boa senhora para você.

As mãos pequenas e delicadas da moça foram ousadas ao repousar sobre seu peito amplo.

— Um casamento entre nós dois para beneficiar ambas as casas e manter o acordo entre nossas famílias. — Os olhos delas eram cheios de ganância e toda a doçura de segundos atrás haviam se perdido. — O que me diz?

Ele sorriu para ela ao tirar com muito gosto as mãos de Evangeline de si mesmo.

— Obrigado pela oferta, mas eu acho que você deveria procurar alguém mais… da sua laia para se casar com você. — O queixo dela caiu e sua expressão ficou mais surpresa do que nunca. — Sua irmã pode ser o que for, mas foi gentil com minhas irmãs e se mostrou boa no pouco de contato que eu tive com ela, você ao contrário aparenta ter as características de um pequeno ser interesseiro e sem qualquer emoção pela própria família. Agora, se me der licença eu tenho que continuar andando.

Aeden virou as costas para uma Crane em fúria e subiu as escadas indo buscar o meistre.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo mais calmo depois das emoções do último e resolvendo algumas pontas soltas. Como toda a trama da família Rowan, o rumo dos Fossoway e o que se deu do noivado do Aeden.
Próximo capítulo provavelmente será para desenrolar as coisas em Bosquemel ou em Torralta. Ainda não me decidi.
Espero que tenham gostado :)



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