A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 34
Justiça Divina


Notas iniciais do capítulo

may esse capítulo é para você ♥
boa leitura!



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b o s q u e m e l

A respiração de Cecily estava pesada e falha dentro daquele guarda-roupa antigo, cheio de poeira e que lhe escondia completamente, com exceção da pequena fresta que lhe dava uma visão privilegiada do cômodo e onde ela focava seu olhar. Seus ouvidos também se mantinham atentos aos sons que conseguia captar, porém no momento podia apenas distinguir o farfalhar dos papéis de Lorde Tyrell.

Ela suspirou levemente tentando se acalmar e mantendo a calma para o que viria a seguir. Precisava de uma confissão, apenas isso e então poderia voltar a dormir sabendo que teria feito justiça por Gwayne. Mas antes precisava dele proferindo as palavras.

Cecily se empertigou dentro do móvel feito de madeira quando a porta do aposento se abriu e Filip Tyrell parou de olhar seus documentos para observar a pessoa que Cecee esperava com grande ânsia. A fresta lhe dava direção para seu rosto anguloso e longo, os olhos azuis não tinham ideia de que deveriam apenas virar um pouco de posição para notar a fresta e consequentemente ela. Porém Axel se considerava superior demais, ela já havia notado e por isso sabia que o seu marido não vasculharia o quarto com penhor antes de responder o Tyrell.

 — Me chamou, Filip? — A voz era calma, porém tinha algo de aterrorizante em seu tom gélido, tom de voz que ele nunca havia usado com ela e provavelmente não usaria se soubesse que ela estava presente no lugar.

— Precisamos repassar algumas partes do novo plano. — O homem mais velho informou voltando a atenção para seus papéis, como se o assunto fosse algo banal.

— O que ainda falta para ser acertado? — O Senhor de Monte Chifre questionou com um olhar de quem se achava acima de todos e ela se perguntou como nunca havia percebido todos aqueles traços horríveis no homem com quem havia se casado. Também questionando a si mesma se seus pais sabiam disso, seu lado racional dizia que sim e que eles não se importaram em jogá-la naquele casamento se ganhassem algo com aquilo. — Cecily apenas antecipou o inevitável quando fez John aceitar ir em batalha com Niklaus, que já se mostrou um guerreiro formidável na Batalha do Vago.

A mãe de Willas engoliu em seco, continuando a ouvir.

— John irá morrer no combate pela coroa e então atacaremos os Hightower de uma vez por todas.

— Ninguém confiará em nós se atacarmos o vencedor do duelo e Willas nunca receberá apoio se o reinado começar com uma promessa quebrada. — Filip rebateu sabiamente.

— Eu irei cuidar disso pessoalmente, não precisa se preocupar com tais detalhes. — O Tarly assegurou com um sorriso de lábios finos. — John morrerá, atacaremos os Hightower e suas últimas forças, assim acabando a guerra com a coroação de Willas.

Ela apertou as unhas contra a mão, agoniada por todos os planos que tal homem tinha planejado e que envolvia seu filho, sua pequena preciosidade que ela havia lutado tanto para manter longe de toda a intriga da guerra. Os olhos azuis e frios de Axel se focaram nas portas e Cecee sentiu que ele estava pronto para sair do lugar, sem que dissesse o que ela precisava ouvir, mas Filip voltou a falar.

— Você já pensou no fato de sua esposa não ficar feliz em ver o único filho dela envolvido em seu complô?

— Acho que ela apenas vai lamentar a morte do irmão, morte que ela mesma assegurou com o plano estúpido de uma batalha pela Campina. — Cecily cerrou o maxilar ao ouvir tais palavras, mas se manteve quieta. — Imagine, achar que o irmão iria ganhar uma batalha, agora penso se os dois não têm problemas na cabeça.

Algo como uma gargalhada repuxou os lábios de Lorde Tarly, enquanto o intendente real continuava sério.

— Ainda não respondeu o que questionei, você deveria manter ela nas boas graças contigo, ainda mais com os rumores da visita dela até a lápide do verdadeiro homem que ela amava, como dizem as más línguas.

O divertimento no rosto de Axel sumiu.

— Ele não é mais problema, os mortos não incomodam.

O coração dela começou a bater com mais força contra o espartilho.

— Eu me pergunto como um homem tão habilidoso morreu tão facilmente. — Filip foi sutil na afirmação. — Ninguém viu quem o matou no campo de batalha.

— Ninguém deveria ter visto. — O divertimento voltou em um leve sorriso.

— O que quer dizer?

— Não seja tolo Filip. — Parecia que a paciência dele havia-se esgotado. — Eu que mandei matar o infeliz!

Uma única lágrima solitária desceu pela bochecha da mulher, a única que ela deixou cair antes de inspirar profundamente e abrir as portas do guarda-roupa. O rosto de Axel que não era dos mais belos se contorceu em uma careta ao vê-la sair dali, seguido pela máscara rígida e dura que voltou a modelar sua feição. Ele não recuou ou fez a menção de estar arrependido, mas Cecily faria ele se arrepender em breve.

— O que está acontecendo aqui? — Foi tudo o que saiu dos pequenos lábios dele. Nenhum pedido de desculpa, nada de implorar pelo perdão dela.

Aquilo a enfureceu, mas se conteve e apenas bateu no piso polido duas vezes com sua bota.

Dois guardas entraram no lugar e prenderam Axel pelos braços antes que o lorde pudesse ter qualquer reação. O Tarly tentou se debater, se esquivar e se livrar dos braços fortes, mas sua tentativas foram tão inúteis quanto as do assassino que ela deixou aos lobos no bosque.

— O que isso significa, Cecily? — Ele havia perdido toda a compostura enquanto se debatia para sair do aperto das manoplas de ferro. — Perdeu toda a noção? Eu sou seu marido e você me deve…

Ela levantou uma mão firme e um dos guardas Beesbury levou o punho a boca do homem, tirando sangue e deixando um lábio cortado.

— Mais respeito Axel, você me deve mais respeito e muito mais. — Ela respondeu mantendo um rosto de pedra. — Você confessou, disse e eu ouvi, você mandou matar Gwayne e pagará pela morte dele com sua própria vida.

Terror passou pelo azul gélido dos olhos dele.

— Filip! — Pela primeira vez ela conseguiu sentir um pouco de súplica nas palavras dele, mas não para ela, não para a mulher que o mantinha preso, mas para o homem ao lado dela.

Cecily sentiu satisfação ao ver a face de confusão e raiva de Axel. Pois Filip se levantou, deixando sua mesa e seguiu para trás dela, se posicionando na sua retaguarda. A ação dizia por si só e fúria voltou ao semblante do homem preso.

— Você me vendeu, seu bastardo!

— Eu não fiz nada mais do que seguir as ordens de Lady Cecily. — Foi as últimas palavras que Lorde Tarly ouviu antes de ser arrastado para as masmorras, onde ficaria até o julgamento que ela faria questão de ser ainda naquele dia.

— Meus homens não vão deixar isso sair impune! Eu sou Lorde de Monte Chifre! Eu sou um lorde! — Ele gritava enquanto era levado e ela não lhe deu mais do que um meio olhar de volta.

Cecily soltou a respiração presa quando os gritos dele não eram mais audíveis e se escorou nas portas do guarda roupa, cansada e notando que os sentidos ainda estavam a flor da pele. Voltou os olhos para Filip e ele lhe lançou um aceno de respeito, ela o retribuiu, pois sabia onde a lealdade dele estava assegurada. Na Casa Gardener, na família dela acima de tudo. Por isso ele havia vindo contar sobre as tramas de Axel, tinha jurado lealdade a ela e a ajudado no objetivo de conseguir sua confissão.

— Minha senhora, creio que Axel tivesse um pingo de razão em suas últimas palavras. — O homem apontou com calma. — Os homem deles não vão ver com bons olhos a morte de seu lorde. Não podemos nos dar o luxo de perdemos mais um exército, principalmente após o seu tio debandar para buscar sua prima.

Eyla, o cerco, sua mãe, as cartas que haviam trocado e toda a confusão turbulenta que havia pairado em Jardim de Cima. Tudo aquilo eram problemas para depois, coisas que teria de consertar ao lado de John para trazer a estabilidade da Campina de volta. Todavia tudo viria a seu tempo e primeiro ela teria justiça por Gwayne, pelo homem que amara.

— Sem falar no vazio da sucessão de Monte Chifre.

Cecily se desvencilhou do móvel e inspirou profundamente, se preparando para o que ainda viria naquele dia cansativo.

— Axel tem um sobrinho traidor, um que está sob os nossos pés nesse exato momento.

 

 

Os passos dela ecoaram altos pelos corredores praticamente vazios.

Cecily sabia que todos estavam se preparando no pátio para o que viria a seguir, ela mesma estava se preparando internamente para a ordem que devia dar. A senhora arrumou a saia do vestido antes de entrar no quarto preparada para usar todo o poder de persuasão que havia dentro de si e que havia trabalhado por tantos anos.

O quarto estava bem arejado e as cortinas se moviam conforme as mudanças do vento de fim da tarde. Todo o ambiente estava agradável e ela esperava que aquele pequeno ato de bondade tivesse sido o suficiente para que ao menos o humor momentâneo de Arthur Tarly estivesse com mais vigor do que o próprio rebelde. Pois o mesmo estava deitado na cama como se anos de labuta estivessem jogados sobre ele, o que ela mesma imaginava ser o mínimo depois de tudo pelo que ele havia passado.

Cecily e ele trocaram olhares rápidos, mas o peso daquele olhar foi o suficiente para ela escolher seguir até o meistre primeiro. O homem, velho e conhecido dela desde a época que tomou aquele pequeno castelo como seu, cuidava de alguns frascos nas mãos abatidas pela idade, mas ainda assim firmes e ágeis. O erudito vindo da Cidadela deixou seus vidros por alguns segundos quando percebeu a presença de sua senhora tão perto.

 — Milady… — Começou ele se envergando mais do que deveria com sua coluna já torta.

Ela apenas acenou para que ele se ergue-se, antes de sussurrar para que apenas o idoso pudesse escutar.

— A situação dele?

— O rapaz não poderá mais andar. — Foi um choque para ela e Cecee se perguntava quanto rancor aquele Tarly mais novo detinha dentro de si. — Os ferimentos dele foram mais internos e deveriam ter sidos tratados muito antes, agora são irreversíveis, mas viverá. É muito mais do que muitos que lutaram nessa guerra puderam ter.

A Senhora de Bosquemel concordou com um aceno pesaroso e viu que não podia mais evitar aquela conversa, o sol logo iria se pôr. Por isso virou-se com suas saias e deu passos largos até ficar de frente com Arthur Tarly. Ele a olhou de cima a baixo, como um caçador avalia sua caça, o que ela achou ser uma completa inversão de papéis considerando as circunstâncias. 

Mas manteve os olhos nele e pigarreou antes de começar.

— Sinto muito por suas pernas, mesmo que o motivo disso ter acontecido tenha sido por conta do seu apoio aos rebeldes. — Ela tentou manter um tom doce em sua voz eloquente, mas sem deixar de lado a razão e os erros que o jovem havia cometido para estar ali.

Ele por outro lado esboçou um grunhido retraído e nada educado. Ela não esperou por uma resposta decente antes de continuar.

— Mesmo com suas ações erradas e equivocadas, eu ainda tenho propostas para lhe fazer que imagino serem irrecusáveis. — Manteve o tom firme dessa vez, sem brechas para um mau comportamento dele, como ela fazia com Willas quando ele era levado demais. O que era de certo cômico para a situação, sendo que ambos possuíam idades parecidas.

O rosto dele permanecia distante e implacável contra suas palavras.

— Você fala tanto de minhas ações como se não tivesse sido a ação dos seus homens a fazerem isso comigo. — Havia mágoa ali, muita mágoa.

— São preços pagos na guerra, coisas drásticas e que acontecem dos dois lados do front. — Ela relembrou grudando as mãos na frente do corpo e enrijecendo mais a postura. — Você lutou do lado errado e creio que tenha sido punido por isso.

— Não me diga de lados certos e errados, existem ações e atitudes. — Ele elevou o tom de voz, mas ele não se mexeu ou se sentiu intimidada, afinal aquela era única coisa que ele podia usar no momento. Sua voz, pois o corpo não lhe obedecia mais. — E seu pai cometeu todos os erros quando não assumiu uma posição depois do ataque de Dorne.

Dorne.

A palavra lhe parecia longínqua agora que parava para pensar nela. O verdadeiro motivo de toda aquela guerra e que havia custado tanto para os dois lados, porém que não tinha mais tanto poder naqueles dias. A Casa Martell continuava soberana em seus palácios enquanto ela via a Campina sangrar. Reis haviam morrido, herdeiros haviam subido ao poder e agora todos se viam ali diante de um combate corpo a corpo que por fim poderia resolver tudo.

Cecily pensou o quão longe haviam chegado com aquela guerra fútil, criada por homens tolos e que agora cabia a ela resolver ao lado de homens mais tolos ainda. A senhora respirou fundo e trocou o peso de um pé para o outro.

— Meu pai não está mais aqui, ele já pagou com a própria vida pelos erros dele. Assim como você pagou pelos seus… — Ela olhou sem cortesias para as pernas do Tarly que permaneciam escondidas pelas peles. — Todavia, eu vim aqui para resolver problemas e te dar uma segunda chance. Ofereça lealdade mais uma vez aos Gardener e jure que não pegará mais armas contra Jardim de Cima, se fizer isso terá seu título de volta, assim como suas terras e sua fortaleza.

Surpresa tocou os olhos cinzentos de Arthur.

— E quanto a Axel? — Acidez, ódio e ressentimento vieram junto de sua pergunta. Tudo misturado naquela única sentença e ela sentiu um pouco de apreço por ele naquele momento, já que compartilhava dos mesmos sentimentos sombrios.

— Axel cometeu crimes e será executado antes que o sol se ponha. — As palavras foram diretas e atingiram bem o ponto.

Arthur a olhou com mais dúvidas, mas ela o calou antes que pudesse perguntar mais, pois não tinha tempo para elas. Precisava conseguir a lealdade dele antes do momento da execução caso quisesse que os soldados de Monte Chifre continuassem na causa de seu irmão. Coisa que ela apenas conseguiria se o Tarly mais jovem aceitasse suas condições.

— Aceitará?

O rapaz pareceu pensar mais do que devia.

— Eu posso ser apenas um rebelde ao seus olhos, mas tenho minha honra e qual seria a utilidade de minha lealdade seu eu quebrasse primeiro o juramento que fiz a Niklaus? — Ela percebeu que não falava com alguém que seria convencido facilmente, que no fim aquele rapaz realmente tinha honra e que tinha convicção por quem lutava.

Por isso ela tinha que falar com cautela e precisão.

— Eu admiro que tenha tal sentimento honroso e leal, mesmo que seja pelo rebelde Hightower. — Ela falou sinceramente e seu olhar focou-se ligeiramente no sol que estava próximo de desaparecer. — Mostra que possui caráter e boa índole, de certo modo. Porém os Gardener governam a Campina por unção dos Sete e essas terras férteis foram dadas a minha família por um motivo, nosso poder não será suprimido por essa revolução ou qualquer uma que venha pela frente. Sua natureza é boa Arthur, mas sua convicção está poluída pelos ideais errados.

O rapaz bufou e ela teve de segurar um suspiro cansado.

— Você me vem com tais palavras poéticas, porém ainda assim eu sei quem dorme ao seu lado na cama. — O olhar dele agora era julgador. — Como os Sete, que você diz terem ungido sua família, veriam uma esposa indo contra o próprio marido?

Os deuses sabiam, sabiam que era por amor.

Cecily apertou as mãos com mais força. Não cairia no meio das frases dele, ela tinha um objetivo e sairia dali com ele cumprido.

— Tudo bem, eu vou apenas oferecer o seu perdão real e a restituição de tudo que já foi seu uma última vez. — Ela proferiu levantando o queixo e aprumando a pose que queria transpassar de uma senhora decidida. — Agora, apenas pense em tudo o que perdeu e ganhou após ter-se aliado a Torralta. Perdeu sua casa ancestral, seu castelo, seu lar para seu tio. Seus homens se voltaram contra você no campo de batalha. Você foi ferido e quase morto em Jardim de Cima, salvando pessoas que agora estão quentes e protegidas pelas muralhas de Vilavelha. Sem suas terras, seu poder e suas riquezas, sem família e agora sem amigos ao seu redor. Sem as pernas e você nunca mais poderá andar Arthur, nunca mais sentirá o que é brandir uma espada num duelo, ou como é montar em um cavalo.

Ele cerrou os punhos ao lado do corpo imóvel, mas ela não parou.

— Eu repito Arthur, não virei mais tarde pedir que reconsidere. Não haverá segundas chances para você, pois estamos em guerra e se você não está ao meu lado, então está no meu caminho. E tenha certeza quando eu digo que Niklaus não vencerá essa guerra, ele e todo o exército de rebeldes irá perecer perante o punho verde dos Gardener. Você pode definhar ao lado deles ou festejar em Jardim de Cima quando tudo isso acabar. A escolha é completamente sua.

Ela respirou fundo e olhou mais uma vez para o sol laranja antes de se afastar da cama, olhando uma última vez para Arthur Tarly.

— Daqui a poucos momentos eu espero que você esteja ao meu lado quando eu decretar que cortem a cabeça de Axel e assim eu possa te nomear Senhor de Monte Chifre mais uma vez.

Cecily por fim deixou o quarto e esperou que tudo o que tivesse dito fosse o bastante.

 

 

Cecily vestia preto e um véu escondia suas feições serenas.

Se tornaria uma viúva pela segunda vez em questão de pouco tempo e acreditou que deveria estar a caráter quando o momento por fim chegasse. Quando ela decretasse a ordem e colocasse um fim na vida do homem que ordenara a morte de Gwayne. E foi com esses pensamentos de luto e lamúria que ela manteve a cabeça erguida quando seu marido entrou no pátio de Bosquemel.

Os poucos momentos debaixo do castelo haviam feito seu estrago no porte do lorde. Vinha maltrapilho, com roupas e rosto sujo, cabelo bagunçado e o lábio cortado mais feio do que antes. Vinha carregado pelos guardas de amarelo, seus guardas. Homens leais e que obedeciam a sua lady, que era mãe de seu jovem senhor, quando colocaram o lorde sob os pequeno estrado de madeira que a elevava a alguns palmos do chão, como a senhora que era.

O rosto dele se levantou.

Primeiro se fixaram nela e ela conseguiu notar um pingo de surpresa emanada dele quando percebeu as cores que Cecee vestia aos olhos de todos, vestida para sentença pronta nos lábios rosados dela. Depois se focaram no Rei, que estava à direita dela e que a apoiava em todos os sentidos. Então viraram para sua esquerda, onde Filip Tyrell se erguia imponente e raiva ondulou na face do homem no chão. E por fim, a última pessoa no estrado, a que sentava e uma cadeira pois não podia mais ficar de pé, vestido em um gibão rico e ostentando o verde e vermelho dos Tarly. 

Tio e sobrinho se encararam e antes que algo saísse da boca de um dos dois a senhora deu um passo à frente.

— Nesse momento se inicia a execução de Axel, da Casa Tarly e Senhor de Monte Chifre. — Ela ergueu a voz para todos os que estavam presentes naquele pátio, para sua fala reverberasse para cada um presente naquele momento de justiça. — Não haverá julgamento pois ele mesmo confessou diante de meus olhos que orquestrou a morte Gwayne, o capitão da guarda de Bosquemel. Defensor da casa de meu filho e um… grande amigo. — Ela manteve a voz firme e desviou o sentimento para longe de sua face, à mesma hora que os homens Beesbury entoavam pela morte do homem caído aos pés de sua senhora. — Por isso, pelo poder concebido a mim pelo nascimento e pelo próprio Rei da Campina, eu te condeno Axel Tarly a morte por seus crimes. Que os Sete julguem sua alma e seus atos.

As palavras saíram com as últimas luzes do dia, o sol se pondo atrás das árvores de Bosquemel.

O carrasco empurrou o sentenciado até a pedra onde Axel apoiou a cabeça sem se debater ou tentar fugir da morte certa. Naqueles últimos momentos ele não gritou mais por nada ou pressionou quem lhe segurava. Abraçou seu destino por fim e seu erro em ter falado demais perto de uma pessoa que ele havia julgado ser muito mais burro do que ele acreditava. O Tarly mais velho tinha dentro de si que se devia morrer naquele momento por um único deslize, que fosse. Não ficaria gritando ou criando uma cena diante de algo inevitável. 

Morreria tendo conseguido o que sempre almejou, fora lorde de Monte Chifre de qualquer forma. E havia se casado com uma princesa, uma bela mulher que ele queria ter inteiramente para si por pura cobiça e isso lhe havia custado muito mais do que imaginara.

Cecily…

O nome vinha como uma memória amarga em seus pensamentos. Havia subestimado aquela mulher durante tempo demais, esquecido as raízes dela e do lugar onde havia crescido. Ele nunca devia ter visto ela apenas como um lady boba que apenas pensava em seu filho. No final ela havia se mostrado muito mais, era muito mais do que uma doce mulher de olhos angelicais e sorrisos belos.

Ele se fixou nela quando sentiu o roçar metálico do machado marcando o local onde iria decepar sua cabeça. E Cecily o olhou de volta, tirando o véu de seu rosto delicado para que face fosse de encontro a face. Olhos azuis gélidos contra olhos azuis puros. Uma princesa contra um senhor. Uma esposa contra seu marido. Uma Gardener contra um Tarly. 

As sombras da noite recém chegada ondulando pela beleza do rosto da mulher, mas ela não recuou ou virou a face enquanto observava a ordem dela ser realizada.

Ele sentiu ferro gelado marcar o local do corte mais uma vez e continuou fixo nela.

Permaneceu preso no olhar dela, até que o machado descesse rápido e ágil. Sua cabeça rolando pelo chão, seus olhos ainda vidrados, continuando a observar, mantendo a pupilas dilatadas num meio gélido. Fixos em Cecily.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado ♥
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