A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 28
Reviravoltas


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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b o s q u e m e l

Eles ainda estavam numa discussão exaustiva sobre como proceder em relação ao cerco quando o mensageiro chegou com a carta lacrada em mãos. Ninguém notou, estavam todos muito entretidos em questões de guerra e se iriam ou não cuidar de Jardim de Cima agora. Não havia um brasão que ele pudesse identificar na cera vermelha e muito menos um nome que pudesse ser lido no papel.

Aeden não era um rapaz curioso, aquilo era um traço da personalidade de Aella que sua outra irmã, Ayla, sempre repreendera na mais velha, contudo ele realmente se viu ansioso para saber o conteúdo presente ali. Abriu e rolou os olhos pela carta sem encontrar nenhuma assinatura e ficou um pouco frustrado por conta do anonimato. Voltou para o primeiro parágrafo e começou a ler rapidamente, ficando mais entretido e confuso à medida que captava as informações de cada sentença.

No fim sentia um aperto estranho em seu coração e um grande medo pela vida de Eyla. Passou a carta por debaixo da mesa para o seu pai discretamente e mesmo com uma face confusa Lorde Alvo se pôs a ler também. Aeden não conseguia para de pensar na ultima frase presente naquela pequena carta. “As ordens de Lorde Odethe vieram do rei.” Sentia uma vontade enorme de esganar seu primo naquele momento, mas isso apenas resultaria em uma confusão desnecessária já que todas as provas que tinham era de uma carta com origem desconhecida.

Seu pai o olhou com uma mistura de pesar e confusão, sua cabeça se abaixou por um segundo e ele sabia que o mais velho estava pensando. Um outro mensageiro apareceu na porta, dessa vez olhos curiosos o observaram e ele se abaixou no ouvido do Lorde de Bosquedouro e sussurrou palavras amargas, foi o que Aeden deduziu com os olhos marejados do seu progenitor. Ele levantou-se ao mesmo tempo que arrastava a cadeira pesarosamente, a sala se silenciou.

— Vossa Graça… — Suas palavras saíram com grande desprezo bem explícito, os cochichos começaram pela mesa. — Temo que eu e meus homens não iremos mais poder se apresentar para as batalhas por aqui, iremos voltar para Jardim de Cima imediatamente para resgatar as minhas filhas e dar um fim nesse cerco.

O rosto harmonioso de John se tornou uma carranca ácida, de uma forma que só ele conseguia fazer.

— Pois eu não te autorizo, Jardim de Cima está bem protegido e as forças Rowan serão mais valiosas aqui, agora que Niklaus está tão próximo de sua queda. — Sua voz não dava espaço para questionamentos, mas Lorde Alvo não se intimidou com aquele menino que mais parecia uma criança brincando com uma coroa do que um rei.

— Temo dizer que você não irá me parar, já ajudei mais do que o suficiente em sua guerra, como você mesmo disse Niklaus está próximo de perder sua coroa, com os homens que tem poderá terminar esse conflito sem muito esforço, agora se me dão licença. — Aeden já estava pronto para se levantar e seguir o pai porta afora, mas parou no meio do ato quando John se levantou e desembainhou a espada.

— Eu já disse que não autorizo e você mesmo sendo meu tio vai ter que obedecer o rei!

Seu pai foi tão rápido que demorou para o próprio Aeden entender que seu primo estava jogado no chão, Alvo agora tinha duas espadas em mãos. Os guardas na porta entraram e se colocaram entre o rei, a maioria dos lordes estavam abismados demais sem saber como reagir.

— Mais alguém com as intenções de me impedir? — Ninguém moveu um músculo.

Pai e filho seguiram para longe da sala de reuniões enquanto o rei gritava para que alguém prendesse ambos.

 

 

Axel observava enquanto o rei andava de um lado para o outro no pequeno escritório que deveria ter pertencido a sua Cecily a algum tempo atrás. Era um lugarzinho decadente, mas não é como se ela ainda tivesse que pôr os pés ali, sua esposa tinha Monte Chifre a sua disposição agora e o seu castelo era muito melhor do que aquela espelunca.

Filip estava ao seu lado, os par de olhos escuros observava atentamente John dando voltas e reclamando asneiras sem limites. O pior dos planos até agora era o de açoitar Lorde Alvo e o jovem Aeden em praça pública para eles aprenderem uma lição, mas Axel duvidava que eles e seu pequeno exército pessoal ainda pudessem ser alcançados naquele momento, não que aquela realmente fosse uma opção. A raiva estava consumindo qualquer razão que o loiro pudesse ter tido, a coroa nos fios dourados dele havia apenas o deixado mais prepotente e asqueroso. Lorde Tarly não conseguia mais ouvir tantas bobagens.

Por fim ele pareceu esquecer da presença dos dois ali e saiu do escritório falando sozinho. Ele sentou-se na cadeira que deveria ser do lorde e percebeu o quanto medíocre era comparada a sua que o esperava no seu castelo quando tudo aquilo estivesse acabado.

— O pobre rapaz só parece estar ficando cada vez mais desequilibrado meu bom Filip, temo que as fofocas não poderão ser contidas depois de um caso desses. — Ele observava as candelabros sem expressar qualquer pretensão. — Imagine, ser desrespeitado e jogado ao chão pelo próprio vassalo.

O Tyrell sentou-se à sua frente, era um avanço já que Axel achava que o mesmo nem daria ouvidos a suas palavras, não depois de certas alfinetadas em uma noite escura. Mas aquilo podia ser produtivo, os lordes da Campina confiavam no homem a sua frente de uma forma que nunca confiaram nele. Sua palavra seria ouvida e refletida, algo difícil no meio da tamanha desconfiança criada pela guerra.

— Lorde Alvo fez errado, devia saber que tudo isso vai estremecer o trono que estamos tentando manter, mas eu não posso culpá-lo, se fosse meus filhos lá…

Ali estava o que o Tarly queria, um ponto fraco para sondar e trabalhar em cima.

— É claro, as crianças da Campina tem de ser protegidas, ainda mais as belas flores que são as filhas de Lorde Rowan. Ouvi dizer do mensageiro que lady Eyla teve a mão decepada pela bruta Odethe, pobre menina, vai ser difícil casá-la agora sem uma mão, isso se ela sobreviver.

— Realmente trágico, mas precisamos focar em tomar Vilavelha de uma vez por todas. Os Hightower precisam cair e precisamos atacar antes que os exércitos inimigos se recuperem.

— Claro, mas eu gostaria de lhe fazer uma pergunta Lorde Tyrell, se me permitir. — Falou devagar, pensando no que diria a seguir.

— Pois diga.

— Já pensou sobre o depois? O que vai acontecer depois da guerra?

— Mais vezes do que posso contar, só espero que essa guerra acabe logo.

— Certamente, mas eu penso realmente em nosso rei, ele ultimamente não vem me parecendo muito apto a governar, com ataques de loucura como o que vimos hoje.

Os olhos de Filip se semicerarram levemente, mas ele não falou uma palavra, Axel usou a deixa para continuar.

— Os rumores vão se espalhar e eu não tenho dúvidas que logo vamos ouvir sussurros do rei louco que anda levantando espadas contra seus aliados. Quão infortúnio, nosso pobre John, nosso futuro que agora parece tão incerto. — Molhou os lábios antes de prosseguir. — Pena que não temos outro herdeiro para substituí-lo, eu temeria menos pelo destino de nossa amada Campina se ela estivesse nas mãos de uma pessoa mais sábia. Oh espere, como eu pude me esquecer? Ainda temos outro pretendente ao trono, o neto de um rei.

— Isso é traição. — Axel se segurou para não revirar os olhos, no lugar disso soltou uma risada seca.

— Meu caro, imagino que assim como eu você pense no melhor para nosso reino. Estou certo?

Ele acenou positivamente, um homem de poucas palavras, mas cheio de honra. O lorde de Monte Chifre contava com isso.

— Sabe muito bem que John nunca foi um bom herdeiro e até agora não está sendo um bom rei. Porém, para nossa sorte, temos o pequeno Willas. O menino poderá ser moldado para ser um rei muito melhor do que o tio é, seria um futuro muito mais seguro.

— Moldado por você, eu imagino.

Ele era um homem bastante sagaz, Axel tinha de admitir, se perguntava como a esposa havia passado a perna nele com tanta facilidade.

— Oh não pense assim, você sempre terá um lugar ao lado do rei. Assim como sua família teria um perdão real assim que a guerra acabar, todos eles.

— Mas Terresa é…

— Sua esposa e eu nem imagino a saudade que você tem dela.

Ele engoliu em seco e Axel sorriu discretamente, ele sempre fora bom em descobrir os pontos fracos de seus inimigos e aliados, o daquele homem era sua família e seria feito de bobo mais uma vez pela esposa se ela assim o quisesse.

— Mesmo assim, John nunca entregará a coroa de bom grado.

— Ora, não sei que escolha o nosso pobre rei teria se seus lordes os considerassem incapaz de governar, ele seria deposto com sua loucura para um lugar de repouso enquanto um conselho ajudaria a Rainha Regente a governar.

— Sua esposa, que conveniente.

— Como eu disse, você sempre terá um lugar ao lado do rei Filip, sua voz será ouvida. Pense no bem que a Campina teria com um rei preparado verdadeiramente para o cargo. Sua família viveria em Jardim de Cima sem medo do amanhã com você no conselho ajudando a governar, todos reunidos mais uma vez.

— Se John descobrir…

— Ele não irá. — Axel iria tratar de silenciá-lo rapidamente e eternamente, mas essa parte do plano ele não iria revelar a Filip, ele honrado demais para ser regicida. Mas a verdade era que John nunca abriria a mão do trono de bom grado e sempre seria uma ameaça, duvidava que até seu pequeno sobrinho não estaria fora de sua fúria. — Temos um trato?

Um silêncio demorado pairou sobre o escritório antes deles apertarem a mão por cima da mesa.

 

 

j a r d i m   d e   c i m a

A batalha estava em seu ápice. Ptolemus tinha o punho manchado de sangue vermelho e pegajoso, eles estavam perdendo, mas no momento ele só tinha um objetivo. Tinha que vingar suas filhas, lutar uma última vez e matar a vadia ruiva que as pendurou nas muralhas ainda com vida. Só de lembrar delas agonizando enquanto a corda se fechava em volta de suas gargantas, o enchia de fúria e luto.

Se colocava a lutar, um atrás do outro, por mais que seu corpo velho reclamasse e seus ossos doerem incessantemente, ele não podia parar até perfurar ela com sua espada, era tudo o que podia fazer depois de ter falhado com suas filhas, de ter falhado como o rei que queria ter sido.

Estavam em um pátio aberto, o sol se pondo os iluminava com seus últimos raios de luz antes da noite chegar. Mesmo com a pressão que as mercenárias estavam fazendo eles estavam perdendo, um a um seus homens e as mulheres de Caitrina pereciam para as flechas que surgiam do alto, das espadas dos homens com o brasão Gardener.

Ptolemus sentia que iria cair no chão e não aguentaria nem mais um passo, mas aí foi quando a viu no meio de espadas e sangue. Havia acabado de matar um de seus homens e seguia para o próximo, um fogo surgiu em seu coração. Uma última luta, uma última morte.

Foi ele que desferiu o primeiro golpe, de surpresa, raspou pelo ombro dela, debaixo do umbral, cortando pele e um pouco de músculo. Fora um golpe baixo, mas ele realmente não se importava no momento. Teria sua vingança com honra ou não.

Ela também lançou um onda de ataques, eles desviou e segurou com o escudo quase que partido por uma maça inimiga. Ela ainda tinha muito fôlego, mas ele tentou revidar. Seus golpes já lentos e faceis de ser impedidos pela espada dela, uma longa e esguia, feita para ser segurada com ambas as mãos, mas sem impedir a sutileza daquela que a portava.

Ele não foi mais rápido que ela e por isso a arma de Odethe atravessou a sua panturrilha fazendo ele se colocar de joelhos.

— Lutou bravamente velho, se renda agora e eu poupo sua vida para as masmorras.

Levantou o olhar para ela e cuspiu sangue aos seus pés. Ergue-se para um último ataque, juntou todas as suas forças, mas a espada de Odethe perfurou seu pescoço desprotegido. Seu último ato foi cravar sua adaga no dela também e ver a face de espanto da Sor enquanto ela tentava estancar o sangue que escorria pela sua armadura.

Ele caiu no chão enquanto agonizava e pedia perdão aos deuses por ter sido um pai terrível. Que os seus filhos restantes tivessem mais sorte do que sue bela Mary e sua doce Ceryse, ao menos isso.

 

 

v a l e   d’ e r v a

Anelise acordou e percebeu que o sol ainda estava surgindo no horizonte. Sua grande cama de casal estava preenchida apenas por ela, passou a mão lentamente pelo local onde o seu marido deveria estar deitado, ainda bastante sonolenta. Tirou o cabelo do rosto e olhou ao redor a procura de Augustos, não o achou pelo quarto.

Sentou-se na cama e bocejou com preguiça de sair da cama numa manhã fria como aquela. A lareira ainda tinha um pouco de brasas avermelhadas e as velas eram apenas cotocos de cera. Colocou um pé no chão e tremeu por conta das pedras frias, pegou as sapatilhas de dormir e colocou as duas no pés delicados, antes de se levantar. Olhou ao redor mais uma vez e não achou ele, mas ouviu algo vindo da sacada.

Amarrou a camisola e seguiu para o ar frio da manhã que batia na sacada. Achou Augustos encolhido em um canto, frágil como ela nunca o havia visto naqueles poucos dias de convivência intimida, os olhos vermelhos e lágrimas ainda caindo por suas bochechas enquanto ele tentava suprimir um gemido. Uma carta pendia nos seus dedos firmemente.

Ele levantou o olhar e tentou falar algo, mas tudo o que saiu foi um sussurro inaudível. Anelise se abaixou e acariciou seu ombro, ainda não podia amá-lo e achava que talvez nunca pudesse, mas sentia que os dois já possuíam um nível de amizade e companheirismo, por isso sentiu um aperto em si ao vê-lo daquela forma.

— Me diga, o que aconteceu? Foram notícias do cerco? — Sua garganta se fechou e sua mente se abriu para possibilidades morbidas enquanto aguardava uma resposta.

Ele tomou ar com dificuldade antes de tentar responder mais uma vez.

— Mortos, todos mortos… — Falou baixo ao entregar a carta para ela.

As palavras do corvo trouxeram apenas tristeza e nomes de defuntos, haviam perdido a todos e ela colocou a mão na boca para segurar um soluço. Lágrimas também molhavam sua face agora e os dois se abraçaram naquele momento tentando confortar um ao outro. Ela nem imaginava como seus pais reagiriam ao saber que seu irmãozinho havia morrido, seu jovem Robin havia partido tão cedo. Pobre também eram os irmãos do seu esposo, perdendo o pai e as irmãs mais velhas, pelo menos ainda tinham Augustos e uns aos outros, ela estava sozinha.

Suspirou enquanto o apertava para mais perto de si e apenas queria ficar ali sem encarar a verdade fria e dura. Ambos se separaram apenas quando ouviram a trombeta que provavelmente havia acordado todos ali com um susto. Eles se separaram e seguiram para ver o que estava acontecendo.

De longe era possível ver as bandeiras amarelas e os cavaleiros vindo em grande velocidade, circulando em volta do castelo e os fechando. Era visível que a mensagem deles ali transmitia apenas agressão, não eram bons amigos vindo prestar apoio.

— E agora? O que iremos fazer Augustos? — Ela perguntou em busca de qualquer solução que a mente afiada do esposo pudesse trazer naquele momento.

— Eu não sei. — Ele murmurou olhando sem realmente focar em um lugar fixo.

Ela apertou a mão dele e o mesmo olhou para ela. Ao menos tinha um ao outro.

 


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Notas finais do capítulo

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