A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 29
Mulheres da Campina


Notas iniciais do capítulo

Um lembrete, de um capítulo para o outro quase sempre temos passagem de tempo, nesse tivemos um mais longo okay? Apenas para vocês não estranharem algumas mudanças.
Boa leitura.



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m o n t e   c h i f r e

— Lady Cecily, a senhora acha mesmo prudente seguir para Bosquemel?

— Eu tenho certeza, não há nada que eu possa fazer de útil aqui nesse castelo. — Respondeu enquanto selava a última carta das três que havia escrito, uma para sua mãe que ela não tinha certeza se chegaria até ela por conta do cerco, uma para Axel e a última para seu irmão. — O meu reino está ruindo por todos os lados e eu simplesmente não consigo mais ficar aqui sentada sem fazer nada. Irei até meu irmão onde poderei me fazer útil.

— Se me permite, eu apenas acho um pouco precipitado, não existem muito o que fazer para uma dama tão perto das batalhas. — O meistre disse enquanto a seguia para fora do quarto.

— Bom meistre, eu devo discordar, o Rei precisa do meu apoio, assim como meu marido. — E havia uma última pessoa que ela precisava se despedir, mas isso não saiu de seus lábios.

— Minha senhora, se me permite…

Ela suspirou e colocou uma mão na cintura enquanto se virava para o homem mais velho.

— Eu não permito e termino esse assunto aqui, na ausência do Lorde você obedece a mim e vai fazer isso agora, eu estou partindo para Bosquemel agora e ninguém irá me impedir. Estamos entendidos? — O homem se curvou em uma reverência demorada, não houve mais nenhuma discussão.

Ela continuou e entrou no quarto de Willas que já estava pronto com sua roupa de viagem.

— Aliena, já aprontou tudo para nossa partida?

— Sim, minha senhora, todas as suas coisas e as do jovem Lorde Willas estão prontas e já sendo levadas para a comitiva. — A dama de companhia confirmou enquanto colocava alguns brinquedos do seu filho em um pequeno baú.

— Ótimo, então vamos querido, tudo já está pronto. — Estendeu a mão para o garotinho que a segurou relutante.

— Mamãe, eu não quero ir. — Ele disse em uma voz chorosa.

— Oh querido, vamos ver o seu tio John, você não gosta tanto dele? E eu prometo que assim que chegarmos em casa você poderá andar de pônei. — Isso pareceu animá-lo, o que a aliviou já que não tinha tempo para fazê-lo parar de chorar, não com tantas coisas para fazer ao mesmo tempo.

Os três seguiram rumo ao pátio movimentado por servos e cavaleiros que andavam de um lado para o outro, tudo realmente andava como ela esperava. Cecily esperava que pudesse aconselhar John assim que chegasse em casa. O pensamento a fez rir internamente, passou tanto anos morando em Bosquemel que passou a reconhecer aquele lugar como sua morada, muito mais do que Jardim de Cima ou Monte Chifre, o lugar onde ele deveria aprender a amar, mas não conseguia.

Seu coração pesava ao pensar em Gwayne e em sua morte, além do fato de tanta loucura rondando a Campina, reis e mais reis, lutas e cercos. Agora mesmo sua mãe estava sendo cativa em seu próprio palácio, era insano, nunca pensara que Jardim de Cima alguma vez pudesse sequer estar naquela situação. E pelo que havia ouvido recentemente seu irmão não estava propenso a dar meia volta com seu exército. Era verdade que ela não era uma exímia conhecedora das artes da guerra, mas ela sabia que um rei sem castelo não era rei e que sua família não podia ter sua morada ancestral tomada por quem quer que fosse.

Quando a carruagem parou à sua frente ela e seu primogênito entraram seguidos por Aliena. Seria um caminho longo até o castelo de seu filho, mas era necessário. Ela sentiu-se mais leve ao ver-se distanciando do grande castelo na colina, não morria de amores por Monte Chifre e contava os dias para poder voltar a seu antigo quarto em Bosquemel, por mais que tivesse de dividi-lo com Axel. Seu marido ainda era um desconhecido para ela por mais que tivessem passado algumas semanas juntos, sabia que ele era dado a vinho, avido por leitura e gostava de atirar com o arco, duvidava que apenas isso.

Uma pequena parte de si se pegava pensando o que aconteceria se ele caísse em batalha, mas logo suprimia esses pensamentos impróprios de sua mente, não era certo para uma esposa ou uma devota dos deuses como ela. Apenas esperava que as coisas melhorassem com o tempo, apenas isso.

 

 

t o r r a l t a

A rainha deposta olhou-se no espelho enquanto alisava a barriga que exibia um leve inchaço por cima da camisola de seda rosa. Lyra alisou o ventre pensando no quanto estragado estava aquele mundo e como aquele era o pior momento para dar a luz a uma vida tão indefesa como de um pequeno bebê.

Os enjoos eventuais, vômitos matinais e tonturas momentâneas começaram após a sua prisão no alto da torre. Não demorou muito para Blair sugerir que o meistre fosse chamado para comprovar se aquilo era verdade ou não, e no fim, era. Lyra estava grávida de um filho ou filha, um príncipe ou uma princesa, um herdeiro para Niklaus. Um pequeno pensamento maligno rondava sua cabeça às vezes dizendo como aquela criança a mantinha viva, porém ela não gostava de pensar em sua criança daquele jeito, como algo que a trouxesse benefícios. Isso apenas a lembrava de sua mãe e o medo de se tornar igual a ela crescia dentro de seu coração conturbado.

Toda a noite chorava até dormir pensando em seu futuro e no que a aguardava. Blair dizia que haveria um julgamento quando Niklaus voltasse, mas ninguém sabia dizer quando ele voltaria. A irmã de seu marido dizia que ele já sabia do ocorrido, mas não havia respondido nenhuma das cartas sobre o assunto.

A princesa se encontrava no quarto naquele momento, seu rosto escondido por um pequeno livro com o conteúdo que Lyra realmente não se importava em saber no momento, coisas mais importantes rondavam sua cabeça, mas ela ficava feliz em ter companhia. Não sabia se teria suportado ser encarcerada sem ter outra voz se não a sua, já que nem as criadas que a ajudavam a se lavar ou traziam sua comida conversavam com elas, eram proibidas. Blair era muito boa, sendo que a mesma poderia ter virado as costas para ela como Armelyne havia feito e com razão.

No fundo a jovem mulher sabia que nem isso merecia, aquela pouca compaixão era muito para o mal que havia feito a tantas pessoas enquanto tentava alcançar sua liberdade a custas de vidas inocentes. Mas aquele não era o preço da guerra? Tentava dizer isso para si mesma todos os dias, mas isso não impedia que os pesadelos viessem com força durante seu sono leve.

— Você devia se sentar, ficar se olhando no espelho não vai mudar nada. — Blair disse sem tirar os olhos das páginas amareladas.

— Não, mas pelo menos me ajuda a passar o tempo, pensar. — Disse, mas se sentou dividindo a pequena mesa redonda com ela.

— Talvez devesse ter pensado assim antes de ter feito o que fez.

Lyra abaixou a cabeça ao mesmo tempo que seu rosto esquentava com a vergonha.

— Perdão, você já está sendo punida pelo que fez e não cabe a mim te julgar. — Ela marcou a página de seu livro com uma um pedaço de pergaminho enquanto olhava para a prisioneira com um misto de compaixão e pena disfarçada. — E então, o que deseja fazer hoje?

— Podemos jogar xadrez de novo?

— Claro, mas eu pensei que você já estivesse cansada de perder para mim.

— Bom, quem sabe eu aprendo a ser uma melhor estrategista antes de minha cabeça rolar.

A princesa não respondeu a seu comentário mórbido enquanto pegava o jogo de tabuleiro em um armário.

— Peças brancas ou pretas?

— Pretas.

Os motivos eram meio que óbvios.

— Tem notícias de meu irmão?

— Lyra, sabe que eu estou proibida de te falar qualquer coisa. — Ela respondeu enquanto movia um peão.

— Apenas me diga se ele está bem, eu o levei para o caminho da traição comigo e não consigo dormir direito pensando em como meu irmão mais novo vai sofrer consequências do que eu o levei a fazer. — Explicou-se secamente com a cabeça baixa enquanto perdia seu cavalo para sua adversária.

Ela moveu outro de seus peões e mordeu o lábio inferior entre um misto de pena e medo até que respondeu.

— Ele está preso nas masmorras nos confins da Ilha da Batalha, sinto muito, você teve muita sorte em comparação a ele.

Lyra secou as lágrimas no canto de seus olhos e moveu seu bispo comendo o peão de Blair.

— Eu preciso que me prometa uma coisa. — Sua voz saiu falha e rouca.

Blair levantou o olhar para ela enquanto enrolava uma mecha em seu dedo, os pensamentos da princesa iam para vários lugares enquanto esperava que Lyra respondesse.

— Eu tenho mais alguns meses de vida, não minta dizendo que eu terei misericórdia, Niklaus seria um péssimo rei se me deixasse viver depois do que eu fiz. Eu tenho até essa criança vir ao mundo e preciso que cuidem dela, preciso partir sabendo que esse bebê ficará segurança depois que eu partir.

— Não… — A princesa tomou-lhe a mão enquanto olhava profundamente em seus olhos. — Meu irmão não é um monstro, eu não acredito que ele faria isso com você, Lyra tu vai ter a oportunidade de ter seu filho nos braços, vê-lo crescer.

— Você é esperta Blair, você é muito esperta, sabe que não pode me prometer isso. — Segurou o choro enquanto tentava falar. — Me prometa Blair, me prometa que vai cuidar dele ou dela, prometa-me Blair, prometa-me.

Houve um segundo de silêncio que se estendeu mais do que ambas gostariam antes da Hightower responder em um sussurro.

— Eu prometo.

 

 

v i l a v e l h a

A taberna estava quase vazia. Quase ninguém tinha dinheiro para pagar pouco mais do que uma cerveja preta além de todo o comércio ter se estagnado com a guerra, Vilavelha que era a maior cidade da Campina estava morrendo de dentro para fora. Ela bebericou seu vinho e cortou um pequeno pedaço de queijo, enquanto sentia o olhar frio de um homem sobre ela, provavelmente tentaria assaltá-la se não tivesse guardas esperando por ela na porta e um escondido numa mesa escura.

Terresa levantou seus olhos azuis quando a porta se abriu revelando uma mulher envolta em um capuz vinho e caro demais para ser de uma pessoa comum, acompanha de uma moça mais baixa atrás de si. Elas seguiram até sua mesa e sentaram-se à sua frente, a mais velha tirou o capuz mostrando os cabelos vermelhos muito parecidos com a de sua filha, a doce Olyne.

— Cara Irina, sinto muito por suas perdas, um filho preso e uma filha morta. — Começou sem rodeios.

— Obrigada por sua simpatia Terresa, faz tanto tempo que não há vejo, você andou por tantos lugares durante a guerra, fico surpresa por não ter sido morta por essas estradas perigosas de hoje em dia. — Ela serviu-se de vinho enquanto sua filha apenas permanecia de cabeça baixa, obviamente ouvindo a tudo, muito esperta aquela menina, por mais que sempre passasse a impressão de ser boba e bela.

— Fiquei feliz com a sua afirmativa a minha carta, hoje em dia é tão difícil se manter perto dos amigos. — Obviamente que ela ainda não confiava naquelas duas, mas ela não tinha muitas opções naquela corte, ela tinha que trabalhar com o que tinha.

— E eu fiquei mais do que surpresa, se me lembro bem você foi banida por sua própria filha, não que ela tenha muita voz atualmente.

Terresa segurou sua face e suas emoções para não demonstrar nenhuma reação, ela precisava de sua frieza mais do que nunca, sentimentos à flor da pele não a ajudaria a proteger suas crianças. Levou o cálice a seus lábios finos e bebeu a bebida de baixa qualidade, molhou os lábios antes de responder.

— Bem, eu não quero fazer vocês duas perderem mais do seu precioso tempo, tenho certeza que tem muito o que fazer. Vamos tratar de negócios, queridas. — Lançou a elas um de seus sorrisos de orelha a orelha antes de melhorar sua postura. — O trono está desprotegido, Niklaus está longe e nenhuma voz forte está na cidade, temos que agir.

— Temos? Você está nos incluindo? — A ruiva questionou com um olhar bobo.

— Sua família está separada, seu marido está acuado junto do rei longe daqui, seu filho foi capturado e uma de sua filhas está morta. Os Redwyne irão cair junto dos Hightower se continuarem ao lado do rei Niklaus, disso eu não tenho dúvidas, mas ainda há esperanças. — A atenção das duas mulheres estavam fixas em suas palavras como moscas presas em uma grande teia. — Lyra está grávida, um herdeiro está chegando, um arauto para o futuro, uma chance de nos reerguemos.

— Terresa, minha doce amiga, você crê demais em previsões quando tem de focar mais no presente. Como mãe você sabe tão bem quanto eu o quanto a gravidez pode ser difícil, já pensou na hipótese de sua filha ter um bebê natimorto, não chegar a dar a luz, ou mesmo ter uma filha? Não espera que os lordes sigam uma menina, não é mesmo? Já temos duas e mais uma não vai mudar as coisas para os Hightower.

— Na verdade Lady Redwyne, eu creio demais em mim mesma. Minha querida, eu sei o quanto podemos fazer de tudo por nossos filhos e os futuros deles, eu sou a prova viva disso e por isso estou aqui falando com você. Sei que você faria qualquer coisa pelo seu filho que está cativo nesse momento.

Parou para tomar mais um gole de sua bebida.

— Eu sei do que sou capaz e tenha certeza que no fim dessa guerra eu estarei de pé não importa os meios minha querida. Agora eu lhe pergunto, você vai estar de pé ao meu lado ou vai cair junto de todos os outros?


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Notas finais do capítulo

Perdoem qualquer erro. Comentários são sempre bem vindos!



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