A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 27
Queda e Ascensão


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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f o r t a l e z a   d a s   á g u a s   c l a r a s

A grande lareira crepitava com fogo ardente, laranja e vermelho brincavam em chamas rodopiantes. O calor que emanava dali esquentava Terresa naquela noite fria enquanto ela lia as palavras turvas e borradas de Lyra. A princípio ficou surpresa quando o pajem havia trago uma carta em mãos dizendo que havia vindo de Vilavelha, era o último lugar de onde esperava receber notícias, principalmente depois de ter sido esculachada pela sua própria filha sem um pingo de piedade. Mas agora ela estava ali, lhe pedindo por ajuda, implorando que ela viesse em auxílio, chorando por socorro.

Muitas outras em seu lugar teriam rancor demais em seu coração sequer para ler a carta, mas ela estava ali, lendo e quebrando seu coração em mil pedaços, porque por mais que Filip dissesse que ela se importasse apenas consigo mesma, nunca poderia em qualquer circunstância dar as costas para seus filhos.

Afinal não era sempre daquele jeito que as crias faziam? Você os alimentava, protegia, criava e amava, mas no fim eles batiam asas e seguiam com suas vidas achando que sabem mais do que você e que podem tudo. Mas depois, quando eles voltam para casa chorando e pedindo perdão não há nada mais o que uma verdadeira mãe pode fazer ao invés de abrir os braços e ajudá-los a cuidar de suas feridas.

Era por isso que não poderia abandonar sua pequena filha, sua única menina, sua rainha.

Ainda duvidava que ela pudesse ter feito todas as acusações presentes naquele pedaço de papel, mas era como os ditados diziam, tal mãe, tal filha. Talvez ela tivesse criado Lyra para ser o mesmo que ela e nem tivesse percebido, talvez fosse culpa dela mesma que tivesse sido expulsa daquele jeito pela filha. Porém, nada disso importava agora.

Dois de seus filhos estavam presos, uma ela nem sabia o paradeiro certo, seu marido provavelmente a sentenciaria a morte por alta traição assim que a visse e para piorar estavam perdendo a guerra. Ela se perguntava como podiam ter tudo contra si quando no início de tudo aquilo a maré estava totalmente a favor dos Hightower. Talvez se ela tivesse sido mais atenta…

Muitos talvez dominavam sua mente naquele momento.

Ela iria resgatar sua Lyra e seu Alexander, cuidaria de seus filhos e os protegeria de todo mal como uma boa mãe faria. Tomaria a rédea das coisas na corte enquanto o Rei estava longe e construiria um reino para sua filha, um em que Terresa estivesse nas rédeas mais uma vez. O aprisionamento de Lyra apenas mostrava o quanto imatura ela ainda era, precisava da mãe ao seu lado ou seria consumida mais uma vez.

Chamou o criado com um pedido lento enquanto bebia o vinho da própria garrafa.

— Senhora?

— Prepare a minha carruagem e peça para as minhas criadas arrumarem minhas coisas, iremos partir amanhã para Vilavelha com o raiar do sol.

— Como desejar, minha senhora.

Tomou um gole longo, que desceu por sua garganta ardendo. Suspirou antes de colocar a garrafa sobre a mesa e lendo a carta mais uma vez.

Não se preocupem minhas crianças, mamãe está indo cuidar de vocês.

 

 

p o n t a   t e m p e s t a d e

As criadas arrumavam o seu vestido novo adornado de madrepérola em seu corpo esbelto. Seus cabelos longos e cheios estavam presos em um coque alto e sofisticado, a pequena tiara adornada de diamantes cabia perfeitamente em sua cabeça. Ela nem precisaria se olhar em um espelho para notar que estava deslumbrante.

A porta foi aberta sem cerimônias e Alix se virou para recuar perante uma Rainha raivosa e sua avó tentando acalmá-la.

— Sua vadia! — A mão dela partiu de encontro ao seu rosto, mas a mais nova Durrandon foi rápida em segurar a mão de Eleanor, antes da mesma marcar sua bochecha com seus dedos longos e leitosos.

— Vossa Majestade, como pode tentar me agredir dessa forma? — Disse com grande cinismo que deixou a rainha ainda mais furiosa. — Eu que sou a mais nova membra dessa família?

— Como ousa falar como se não tivesse feito nada? Você tirou a chance do meu filho de se casar com uma noiva digna! Precisou abrir as pernas para ele quantas vezes até ele aceitar se casar com você?

Alix se segurou para não dar uma resposta a altura da rainha e perguntar o que ela havia feito para se tornar rainha, mas se segurou e se camuflou com a cortesia a qual foi ensinada a usar desde a infância.

— Minha rainha, a senhora deve estar um pouco confusa, eu e Edric nos casamos por puro amor um pelo outro, é uma pena que tenha sido nessas circunstâncias.

Ela parecia a ponto de virar um verdadeiro pimentão dornes, mas deu as costas a nova princesa da tempestade e a deixou com uma avó silenciosa e damas estáticas sem saber como proceder. Aquilo daria o que falar por toda a corte durante dias seguidos, não seria bom para sua nova imagem de esposa do príncipe ainda em construção, mas resolveria aquilo mais tarde. Ainda tinha mais um dragão para matar.

— Nós deixem sozinhas, por favor. — As três criadas saíram o mais rápido que puderam já com as fofocas prontas na ponta de suas línguas. — Vovó, sente-se por favor, quer que eu peça um chá?

— Não será necessário Alix, ainda temos muito o que discutir antes que eu possa desfrutar de um bom chá. — Jeyne apertou o xale ao redor do corpo.

— Eu imagino que a senhora esteja chateada comigo, eu sinto muito.

— Sente muito? Oras, porque?

Agora ela estava sem entender nada.

— Vovó, você não está chateada por eu ter me casado em segredo?

— Como? Essa foi a melhor notícia que eu recebo em anos, seu avô acordou com os meus gritos está manhã. Eu desejei esse casamento desde que você veio morar conosco, mas é claro que eu fiquei chateada por você não ter me contado nada, eu perdi o seu casamento! Isso, muitas vezes, só se acontece uma vez na vida e eu perdi, você deveria ter tido um casamento digno de uma princesa, não numa septo qualquer numa vila no meio do nada. Se tivesse esperado um pouco mais eu teria arranjado isso de uma forma muito mais harmônica.

Alix sentiu um grande peso sumir de suas costas, das duas pessoas com que ela realmente se preocupava de ter problemas, uma nem ao menos irritada havia ficado com todo o seu casamento às pressas.

— Minha família não pode esperar vovó. — Ela lembrou com um sorriso complacente para a mais velha, sua avó nunca entenderia a proximidade que desenvolveu com seus parentes paternos enquanto viveu na Fortaleza da Águas Claras.

— É claro, você fez tudo isso por eles… — Ela torceu os lábios em desgosto, não gostava do quanto Aly era próxima deles. — Imagino que nem tenha ouvido as notícias?

— Nada de muito relevante, porque?

— Ora minha querida, se quer realmente ser uma princesa precisa estar sempre bem informada. Um corvo chegou essa manhã trazendo notícias sobre a derrota esmagadora dos Hightower em campo de batalha, foi algo lastimante para os seus parentes.

— Vovó, eu já coloquei a sementinha na cabeça de Edric e não vai demorar muito para ele se juntar com seus amigos ávidos por sangue e partir para a Campina, o Rei não terá escolha se não apoiar o próprio filho e ir para a guerra.

— Você tem tanta certeza?

Alix não entendia o ponto dela.

— Lester ainda está recuperando o reino da última guerra contra os Nascidos de Ferro e por mais que eu não goste nem um pouco de dizer isso, nós ainda estamos fracos. É mais provável que o rei prenda Edric numa cela do que apoie o filho numa guerra que não pode ganhar.

Ela achava aquilo muito difícil, mas via lógica nas palavras de sua avó.

— Agora se realmente quer ajudar a sua família eu tenho um plano perfeito que os salvará da desgraça.

A princesa se empertigou para ouvir melhor.

 

 

j a r d i m   d e   c i m a

O cerco já durava há alguns dias, mas mesmo assim o castelo não parecia nem um pouco pronto para se render. Eles tinham ainda um mês ou menos para que as forças Gardener viessem proteger o que era deles e Ptolemus sabia que devia fazer algo antes disso acontecer, ou tudo seria em vão.

As mercenárias de Caitrina Lotoerys marchavam pelos espaços entre as tendas com suas lanças prateadas brilhando a luz do sol vespertino. Ele observava com curiosidade aquelas fortes mulheres essosi, eram belas de um jeito diferente, não pintavam a cara como as damas de Westeros que queriam ficar mais rosadas do que um pequeno porco, elas cobriam seus olhos com sombras vivas, passavam desde roxo a vermelho em suas bocas. Isso tudo sem mencionar seus acessórios: argolas douradas, armaduras pintadas, peles de animais exóticos, um verdadeiro desfile a céu aberto.

— Impressionado com as minhas filhas de ferro?

— Certamente minha cara, elas praticam com tanta ferocidade nos treinos que eu tenho medo de meus homens não conseguirem acompanhar o ritmo na hora da verdadeira luta.

Ambos riram, mesmo com clima tenso e pesado que os cercava. Seria uma carnificina até que conseguissem invadir Jardim de Cima, o castelo misturava beleza e defesa. Pensou em queimar os labirintos, mas a fumaça e o fogo apenas pioraria a situação. Ele sabia o que tinham que fazer, alguém tinha que entrar no castelo e abri-lo por dentro.

— Não pense demais na batalha que nem ainda aconteceu velho senhor, ore aos seus deuses que eu e as minhas companheiras oraremos a nossa deusa, ambos olharão por nós quando o momento chegar.

— Eu espero que sim… — Respondeu pensando onde suas filhas estariam naquele momento dentro daquele castelo.

 

 

Eyla pegou a faca e se colocou entre Ceryse e Odethe. Era uma pequenina adaga para cortar queijo, nada comparada a grande espada de cavaleira Redwyne. As damas ao redor começaram com seus gritinhos e histeria assim que avistaram a cena, correndo para longe e se escondendo uma atrás das outras. Todas estavam no salão das mulheres tentando esquecer sobre o cerco quando os guardas chegaram já com o menino Merryweather em mãos e procurando pelas irmãs Meadows. Ela apenas não podia deixar aquilo acontecer.

— Eyla! O que está fazendo? Abaixe essa faca agora e deixe Lady Odethe fazer seu serviço! — Aella esbravejou de um jeito esganiçado enquanto Ayla nem sabia o que dizer, apenas repetia uma prece aos Sete.

— Não vou deixar que vocês maltratem ela, não é culpa dela o que está acontecendo! — Ela já tinha lágrimas nos olhos e seu corpo tremia como se ela estivesse em uma tempestade de primavera.

— Eyla, ouça sua irmã e me obedeça agora! Largue essa faca e saia da frente, não ache que porque é minha sobrinha que seu comportamento será tolerado, haverá consequências. — Sua tia, Elizabeth, disse entre dentes cerrados, o sangue tomando conta de seu rosto e a deixando vermelha.

Ela ainda tremia, mas não se moveu, um instinto animal e brusco a tomou, avançou contra Odethe com a faca levantada, em direção ao seu ombro. Foi algo burro a se fazer, mas Eyla sempre se achou a mais burra entre suas irmãs. A cavaleira também foi rápida em reagir, a espada afiada decepou sua mão em um único corte. Sangue vinho espirrou pelo chão e armadura.

Os gritos se intensificaram pelo salão. Suas irmãs berraram em uníssono enquanto corriam até ela, Elizabeth levou a mão a boca para esconder seu terror, as duas jovens Meadows também se encheram de medo enquanto Odethe mandava os guardas as pegarem.

Elizabeth apertou bruscamente o braço da Redwyne me fúria.

— O que você fez?

— O que fui mandada a fazer, proteger esse castelo. Aquela menina me desobedeceu e ficou em meu caminho para cumprir as ordens do rei, agora, se sua majestade me der licença. — Ela então puxou seu braço saindo do recinto junto de seus homens e suas reféns.

Elizabeth ficou estática por uns segundos antes de se ajoelhar ao lado da sobrinha caída em sua própria poça de sangue. As damas agora se mantinham em um círculo pequeno para bisbilhotar, a curiosidade era maior que o pavor pelo sangue.

— O que estão fazendo aqui sua galinhas idiotas? Vão buscar o Meistre agora! — Ordenou em um grito seco, sua garganta protestou. Seu irmão nunca a perdoaria.

Eyla tinha dificuldade para se manter acordada. Sua cabeça repousava no colo de Ayla e sua mão estava mal estancada por um pedaço rasgado do vestido de Aella, pela primeira vez ela sentiu que as barreiras que as separavam estavam caídas. Era uma pena que ela se sentisse à beira da morte.

No meio da confusão ninguém pareceu notar Roslin fugindo do salão com uma carta já pronta em sua mente.

 

 

t o r r a l t a

Emmett Cuy passava a mão na têmpora com um semblante cansado. Ele sentia que já estava ficando velho demais para tudo aquilo, mas ao mesmo tempo, seu pai estava idoso e doente para comandar, enquanto seu filho também era muito novo. Restava apenas a ele, depois da morte de seu irmão, ser o lorde que sua casa precisava.

Terminou de ler a carta com calma, procurou ser direto, mas complacente ao mesmo tempo enquanto escrevia aquilo para seu rei. Ele sabia que seria um baque para Niklaus receber aquela carta dizendo que sua rainha era uma traidora, eles pareceram estar finalmente se entendendo quando se despediam nos portões de Vilavelha a tempos atrás. Talvez a menina fosse tão controladora e manipuladora quanto ele se lembrava que sua mãe era.

Ele fechou o maxilar e sua face ficou mais séria ao passo que observava pesarosamente a carta aberta em cima de sua mesa. Era um número mais exato das perdas do Massacre de Bosquemel, como o povo comum começou a chamar a batalha, o nome do filho bastardo de seu irmão estava ali. E pensar que aquelas informações poderiam estar nas mãos de seus inimigos agora caso Lyra tivesse continuado vendendo segredos. Ele fora rápido em perceber o interesse repentino da rainha nos conselhos de guerra e nas informações sobre as batalhas, havia também a sua mudança de comportamento, como se estivesse fugindo o tempo todo. Não foi tão difícil para ele juntar os pontos e investigar.

Agora ela estava presa num dos quartos mais altos da torre aguardando o rei voltar, para assim receber julgamento.

A porta de seu gabinete foi batida duas vezes, ele guardou as cartas numa gaveta e deixou que entrassem. O menino veio correndo até ele e lhe abraçou com força, ele retribuiu o abraço com carinho já que fazia tempo desde a última vez que viu Enzo, seu filho estava bem maior.

— Papai, você vai não acreditar em tantas coisas que eu vi durante a viajem. Teve uma vez que um vendedor passou numa grande carroça cheia de aves diferentes, e mais uma em que achamos uma grande cachoeira…

— Enzo, meu querido, o que foi que eu disse? Viemos apenas dar um oi ao seu pai já que ele deve estar ocupado. — Sua mãe disse com um sorriso carinhoso para o neto que concordou com um aceno.

— Eu acho que você vai encontrar um belo presente te esperando no seu quarto. — Os olhos do mais novo brilharam de curiosidades.

— Roxanne, poderia levá-lo até o quarto? — A mulher concordou e só naquele momento ele notou a presença da cunhada, viúva do seu irmão. Ele acenou rapidamente para ela antes da mesma e o menino saírem do quarto.

Ele levantou-se para pedir a benção de sua mãe e receber um beijo dela na testa.

— Preciso conversar com você meu filho. — Ele apontou para a cadeira e ela sentou-se suspirando. — Toda essa viagem em uma carruagem não fez nenhum bem para as minhas juntas.

— Posso pedir que o meistre prepare algo para você.

— Oh, não precisa incomodar ele com isso, é apenas velhice, não uma doença.

Ele riu levemente antes de aguardar para ela dizer o que queria. Ela apenas lhe entregou uma carta. Emmett a leu com avidez logo após a primeira sentença, ali dizia que ele era o novo Lorde de Casasolar, mas aquilo não fazia nenhum sentindo. Sua mãe tratou de explicar.

— Quando seu irmão faleceu e toda história de guerra começou eu achei por bem tratar de resolver os problemas dentro de nossa própria casa, os Cuy precisam de um lorde forte no momento e eu peço perdão aos deuses por dizer isso, mas o seu pai não vai mais sair daquela cama, cabe a você meu filho cuidar de nossa família. Meu falecido irmão estava de acordo, Niklaus também está, apenas aceite.

— Mas com meu pai ainda vivo e Lymond ainda na cidadela…

— Seu pai nunca colocou a fé necessária em você, nós dois sabemos disso e ele sempre preferiu o seu irmão. Quanto a Lymond, ele ama a Cidadela e a vida que leva, não vai demorar muito para fazer seus juramento e o direito vir para você de qualquer forma. Eu repito, aceite Emmett, você merece depois de tanto trabalho por essa casa.

Ele concordou com um aceno e sua mãe abriu um sorriso.

— Que os Sete te abençoem, Lorde Emmet de Casasolar.


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Notas finais do capítulo

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