A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 26
Caindo Aos Pedaços


Notas iniciais do capítulo

Esse foi um capítulo que eu venho planejando há um bom tempo e que eu espero que vocês gostem.



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m o n t e   c h i f r e

Leu a carta pela segunda vez, dessa vez não se segurou, não se portou como uma dama controlada, apenas deixou as lágrimas rolarem por sua face rosada sem se importar com a opinião das damas que a observavam curiosas ou os cochichos que correriam pelas paredes do castelo como folhas ao vento.

Cecily pegou o pedaço de papel e levou ao peito, apertou a carta sobre si e soltou um soluço.

— Milady, a senhora está bem? Precisa de algo?

— Fora!

— Como?

— Saiam todas vocês daqui agora. — Não precisou repetir, seu tom de voz foi rígido e áspero, como quando dava ordens para seus guardas em Bosquemel.

Levantou-se e colocou uma mão na cintura, sentindo que o espartilho estava mais apertado do que a minutos atrás, ou seria coisa de sua cabeça? Não importava, apenas não conseguia mais segurar seus sentimentos. Ela fora a mais perfeita filha, esposa e senhora durante toda a sua vida, nunca decepcionou seu pai ou sua mãe, até havia se casado com Axel como eles queriam. Mas agora tudo o que ela via era infelicidade ao seu redor, não via mais sentido naquilo sendo que tudo pelo que lutava parecia cair aos pedaços.

Primeiro seu casamento com Axel, depois a morte repentina de seu pai e agora a perda de Gwayne. Ela não suportava mais ver as coisas darem errado para ela e para seu reino. Continuou soluçando e chorando, fazia bastante tempo desde que se deixou levar como naquele momento, estava sempre tão perfeita e tentando deixar tudo sublime que nunca permitiu nenhuma falha sequer em sua vida. Mas no momento ela preferia escapar de tudo aquilo, pela primeira vez em sua vida Cecily estava achando o peso grande demais.

Pegou o estojo e o abriu, tirou a harpa dourada dali de dentro e começou a dedilhar pelas cordas fazendo a música melancólica ecoar pelas paredes de pedra daquele quarto. Deixou as emoções fluírem para fora de si em um turbilhão de sentimentos que ela havia sempre reprimido porque não era o momento certo para eles, mas eis a verdade, nunca existiria um momento ideal. Terminou de tocar sua música e largou a harpa no mesmo lugar, suas emoções já não estavam mais à flor da pele como antes, a música sempre conseguia lhe acalmar.

Levantou-se e seguiu para a sacada. Apertou o pingente que usava em seu cordão e segurou as lágrimas que ainda queriam sair, ela devia voltar a ser forte, não apenas porque era esperado dela, mas por que era o necessário num momento como aquele. Sem Gwayne ou não eles ainda estavam em guerra e a herança de seu filho ainda estava em jogo, ela ainda tinha suas próprias batalhas a travar antes de tudo aquilo acabar.

 

 

t o r r a l t a

A mesa de jantar se encontrava em completo silêncio. Nem mesmo o barulho dos talheres era audível pois todos, até mesmo Blair, estavam sem apetite após as notícias vindas da última batalha. As coisas não iam nada bem, eles haviam perdido bons homens e John tinha reféns valiosos agora, incluindo o noivo de Armelyne. Nunca havia visto sua irmã tão triste daquela maneira, não fazia ideia dos sentimentos que ela aparentemente tinha nutrido pelo jovem Redwyne.

— Quem sabe nós poderíamos sair para nadar amanhã? — Não houve nenhuma resposta positiva de sua irmã, da rainha ou de Alexander. — Apenas pensei que fosse bom para esquecermos tudo o que vem acontecendo. — Suspirou e abaixou a cabeça deprimida.

Repentinamente Lyne começou a chorar. Blair olhou pasma para irmã e logo depois para Lyra que também estava surpresa, mas que saiu da sala num pulo, sendo seguida pelo irmão. A princesa Hightower estranhou a atitude da cunhada, entretanto sua irmã necessitava mais dela e apenas não conseguia suportar ver ela naquele estado.

— Ei, está tudo bem… — Tentou confortá-la com palavras doces e afagos enquanto a mais nova se afundava no meio de suas saias deixando apenas alguns soluços audíveis. — Eu não sabia que você gostava tanto assim dele.

A jovem Hightower levantou o rosto do colo da irmã e secou as lágrimas do rosto, o que não resultou em nada já que elas voltaram segundos depois.

— Eu também não, eu apenas nunca pensei que pudesse achar alguém que gostasse verdadeiramente de mim, não a Armelyne princesa ou a que dorme com vários rapazes, mas sim eu do jeito que eu sou e ele foi essa pessoa. — Ela explicou-se entre soluços e lágrimas. — Aquele idiota disse que ia voltar vivo para mim.

— Calma Lyne, ele ainda não está morto e você sabe que Niklaus vai fazer todo o possível para trazê-lo de volta.

— E se mesmo assim não for suficiente?

Então teremos que rezar bastante pelo pobre Otto, as palavras ficaram entaladas em sua garganta.

 

 

Lyra achou que sua vontade de voltar para casa e o ódio pela forma como chegou aonde estava fosse ser o suficiente para fazer aquilo, mas simplesmente não sabia se conseguiria manter aquela farsa por muito tempo. Não com Armelyne chorando daquele jeito ou vendo o olhar de tristeza no olhar das pessoas quando recebiam notícias da guerra sendo que ela mesma havia sido a culpada pelo fracasso no ataque a Bosquemel.

Se escorou na parede após se sentir tonta e um leve enjoo surgir.

— Você está bem? — Alexander questionou enquanto se aproximava dela.

— Sim, acho que estou apenas um pouco estressada com tudo o que está acontecendo.

Ele engoliu em seco se lembrando da cena mais cedo no jantar. O Tyrell se aproximou mais para cochichar.

— Você sabe que temos que mandar mais informações hoje não é mesmo? Nosso perdão real depende disso, ainda mais agora que Niklaus esta perdendo.

Ela suspirou profundamente e voltou com a compostura.

— Sim Alexander, eu estou muito ciente de tudo isso e os preparativos já estão prontos. — Não sabia se havia feito o certo ao envolver seu irmão naquilo, mas apenas não sentia que podia fazer tudo sozinha. — Esteja pronto para partir para o porto daqui a uma hora no mesmo lugar de antes, o menino vai estar esperando com o barco.

E assim ele estava quando ela chegou uma hora depois no horário marcado coberta com um grande capuz negro como breu.  O menino que ajudava com a entrega das cartas também já estava ali, era muito ágil e miúdo, ele que iria conduzir o barco até perto do porto de onde eles seguiriam a pé.

Aceitou a ajuda do irmão para subir na pequena embarcação e se acomodou num canto. Assoprou nas mãos e tentou se aquecer do frio que emanava das água do Vago. Alec sentou-se na outra ponta e o rapazinho começou a descer junto da correnteza, se distanciando da grande torre. Seu irmão parecia tão nervoso quanto ela, uma espada pendia na sua cintura, mesmo que ela acreditasse que ele nunca a tivesse usado de verdade, esperava que se um dia fosse necessário ele soubesse maneja-la com maestria.

Continuaram seguindo pela correnteza com rapidez e silêncio. Alguns homens bêbados ou soldados fazendo rondas eram visíveis de vez em quando nas margens, ela se escondia mais sempre que ouvia o tilintar de armaduras e apertava a carta com as informações contra o peito.

Quando chegaram a um pequeno pier ela se levantou desajeitada do barquinho e saiu dali em um pulo para o chão de pedra. Seu irmão a seguiu logo atrás.

— Vou aguardar vocês aqui, sigam por onde eu falei e vão achar o homem com o dente de ouro. — Foi o que disse antes de sentar no banco e tomar um gole de um cantil, ela duvidava que fosse água.

Seguiu na frente antes que perdesse a coragem. Seus passos eram apressados e seus olhos rápidos como flechas para todos os cantos escuros que a cercavam naqueles becos e vielas de Vilavelha. Com as instruções do garoto não foi difícil encontrar o lugar onde o encontro fora marcado, seu coração parecia pronto para pular boca afora e ela nunca se sentiu tão nervosa quando avistou o homem com o seu sorriso sarcástico.

— Boa noite milady. — Ele disse lhe mostrando seu sorriso, o dente dourado a mostra. Ele se curvou em uma referência polida e muito incomum para um homem como ele. Parecia um pirata ou algo do tipo, mas no momento não era o que importava.

Pegou a pequena carta de dentro de sua capa e estendeu com sua mão trêmula, ele pegou e guardou em seu cinto.

— Tem todas as informações pedidas aqui?

— Sim, o local onde o acampamento será levantado e uma estimativa de quantos homens Niklaus ainda tem. — Abaixou a cabeça, o rubor tomando conta de sua bochecha, o cheiro de traição estava impregnado nela.

— Muito bem, irei entregar aos homens do rei como foi pedido. — Ele sorriu mais uma vez e começou a andar em direção ao mercado.

Ela também estava pronta para partir quando homens começaram a surgir das casas em volta deles, das vielas e dos becos até que estivessem fechados por todos os lados. O mercenário desembainhou a espada e assumiu postura de luta, Alexander colocou sua mão sobre o botão de sua própria espada, mas não a tirou da bainha.

De dentro da multidão Emmett surgiu e ela se encolheu ainda mais dentro da capa negra.

— Rainha Lyra, eu, Sor Emmett Cuy, Cavaleiro de Casasolar e Alto Intendente do Rei te acuso de traição contra a coroa e seu esposo, está presa até que passe por julgamento.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente espero que tenham gostado, se for possível deixe seu comentário.
Beijocas ♥



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