I have to admit it's getting better

It's getting better since you've been mine

Eu tenho que admitir que está melhorando

Está melhorando desde que você passou a ser minha

Getting Better - The Beatles

Os dias pareciam passar lentamente a medida que as coisas na Ordem tentavam voltar ao normal. Tudo parecia diferente e até mesmo errado. Era errado Sirius não estar mais se balançando em uma cadeira durante uma reunião e não fazer comentários sobre o recente romance entre Remus e Tonks.

Na noite em que Sirius morrera, Voldemort finalmente revelou sua presença depois de tantos anos e, por isso, o mundo estava um caos. O Profeta Diário clamava para que a população mágica se mantivesse vigilante e o Ministério passou a publicar guias de defesa doméstica e pessoal, que foram distribuídos por todas as residências bruxas.

Além disso, a Ordem se fez mais necessária porque, já que foi anunciada a volta de Voldemort, ele e seus comensais da morte começaram a atacar mais ferozmente agora que não precisavam agir no anonimato. Essa perspectiva podia ser ruim, mas pelo menos ocupou a mente de Ninfadora e de Lupin.

No dia que os garotos entrariam de férias, Remus sugeriu que eles acompanhassem o Sr. e a Sra. Weasley e os gêmeos a recepcioná-los. De acordo com Dumbledore, Harry não estava lidando muito bem com a perda de Sirius, talvez ver que ainda tinha os membros da Ordem o ajudasse.

— Você vai assim? Eles estão entrando de férias depois de mais um ano complicado, precisamos vestir algo divertido! — Tonks desceu as escadas usando uma calça jeans cheia de remendos e uma camiseta roxo vibrante com os dizeres As Esquisitonas. Remus usava uma calça e um suéter velhos e um longo sobretudo empoeirado, mais umas vez retratando como os dois podiam ser incrivelmente diferentes. Ele parou por um segundo para admirar mais uma vez a figura excêntrica que Ninfadora Tonks era. Linda, mas um tanto excêntrica. 

— Ah, ótimo! Já estão prontos! — Molly saiu da cozinha e colocou seu cardigã antes de ir com Arthur em direção a porta. — Eles já devem estar chegando! Não podemos nos atrasar! — Ela parou no batente quando viu que Fred e George estavam parados na porta da sala mostrando alguma coisa dentro de uma pequena caixa para Tonks, que começou a rir histericamente.

— O que estão aprontando? — Molly andou até onde eles estavam e puxou Fred pelo braço. — Vocês podem fazer mais demonstrações dos produtos novos quando seus irmãos estiverem aqui!

— Vai conosco, Moody? — Arthur perguntou, quando viu o auror pegar o chapéu-coco que estava em cima da mesa e ajeitar em sua cabeça sobre o olho mágico. Ele apenas assentiu, os seguiu para fora e aparatou.

— Devíamos falar com os tios do Harry, eles não podem continuar o tratando daquela forma... — Tonks falou, avistando os três Dursleys encolhidos num canto da Estação King's Cross. O ambiente estava iluminado por raios de sol fracos e estava relativamente cheia pelo começo das férias.

Quando Hermione, Gina, Rony e Harry chegaram, todos se cumprimentaram e depois foram falar com os tios de Harry. O Sr. Weasley os chamou e Moody fez o possível para intimidar aquele tio gorducho que Harry tinha que aguentar.

— Vocês viram como aquela mulher olhou para o meu cabelo? — Tonks perguntou, apontando para os cabelos cor de rosa. — Ela tem sorte de eu não ter feito isso! — E transformou seu nariz num bico de pato enquanto andava de braços dados com Gina, que gargalhou.

— Ninfadora, algum trouxa podia ter visto você fazer isso! — Alastor Moody reclamou enquanto saiam da Estação King's Cross.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer para não me chamar de Ninfadora? — Seus cabelos, como sempre, ficaram mais avermelhados expressando a raiva que sentia quando a chamavam por aquele nome. — O que faremos agora? — Ela olhou de relance para Remus quando perguntou. Por mais que Tonks dissesse que ninguém veria problema no relacionamento dos dois, Remus insistia em manter aquilo em segredo.

— Venham almoçar n'A Toca com a gente! — Gina convidou. Ela gostava muito de Tonks, que sempre a fazia chorar de rir com as imitações e transformações, além de dar ótimos conselhos.

x

A Toca era um lugar tão aconchegante que até mesmo Lupin se sentia relaxado e seguro. Depois de um almoço pra lá de exagerado, ele achou que não conseguiria mais levantar de sua cadeira. A Sra. Weasley havia colocado tanta comida em seu prato que ele sentia que ia explodir e aparentemente todos na mesa também se sentiam assim.

Observando os pratos vazios e as expressões sonolentas dos Weasleys, Tonks fez um sinal para que Remus se levantasse e indicou o pequeno bosque nos arredores da casa. Por um instante, Remus percebeu alguns sorrisinhos vindo dos gêmeos.

Por algum tempo, os dois apenas andaram entre as árvores. As folhas secas estalando sob seus pés e o som dos passarinhos faziam o dia parecer tranquilo. Tonks entrelaçou seus dedos nos de Lupin e indicou uma árvore na clareira.

— Essas últimas semanas foram bem difíceis... — Remus admitiu, quando sentou ao lado de Tonks na raiz de uma árvore.

— É, tive tantas missões que mal tive tempo de pensar no que aconteceu. — Tonks apoiou a cabeça no ombro de Lupin.

— Foi bom não ter tido muito tempo para pensar nisso, se ficássemos o tempo todo na Sede da Ordem teríamos enlouquecido. — Tonks sabia que Remus tinha razão, tudo no Largo Grimmauld lembrava Sirius.

— Alastor deve ter pensado nisso quando nos deu duas semanas de trabalho ininterrupto... — Ela reclamou um pouco, pensando a quanto tempo ela e Remus não podiam ficar juntos tranquilamente.

— Você acha que o Olho-Tonto sabe sobre nós dois? Oh Merlin, ele me mataria! — Remus falou, se remexendo em seu lugar. Aproveitando a deixa, Tonks deitou no peito do homem que agora apoiava suas costas no tronco da árvore.

— Ele sempre desconfia de tudo, não me surpreenderia ele saber... Na verdade, acho que não é mais segredo para ninguém. Você viu a cara que os gêmeos fizeram, eles não são mais crianças... — Apoiou o queixo no peito de Remus para poder olhar para ele enquanto falava.

— Devíamos ter sido mais discretos. — Ele exclamou.

— Nah... Eles já imaginavam que isso aconteceria. Além de você, ninguém vê nenhum problema nisso tudo. — Sua sinceridade de lufana não falhava nunca. Ninfadora sabia que Remus precisava de alguém fosse duro com ele de vez em quando, ou ele voltaria a se lamentar e se preocupar com bobagens.

Como podia um homem ser tão inseguro e ao mesmo tempo parecer tão forte?, era o que Tonks pensava ao observar Remus com os olhos fechados e o rosto iluminado pelos raios de sol que passavam pela copa das árvores. Sexy e misterioso, protetor e assustado, como tantas características diferentes cabiam dentro dele?

— O que foi? — Ele percebeu que ela havia parado de falar e Ninfadora Tonks nunca ficava quieta. Ela desfez a cara de preocupação e se levantou do peito dele para então beijá-lo lentamente. Como na maioria das vezes, ela surpreendeu Remus e conseguiu arrancar um sorriso dele ainda com seus lábios colados.

Ele se perguntou por um momento se era errado se sentir tão feliz quando na verdade estava sendo ridiculamente egoísta por ficar com aquela mulher, mas o fato de Tonks ter magicamente ido parar em cima dele o fez perder o foco. Não se lembrava qual tinha sido a última vez que ficou daquela forma com uma garota, provavelmente antes do fim da Primeira Guerra Bruxa.

Ninfadora entrelaçou suas pernas na cintura de Lupin e o beijava cada vez mais intensamente, afastando qualquer pensamento da mente dele. Tudo o que ele conseguia pensar era como num momento ela podia parecer uma jovem garota fazendo graça na mesa com os Weasley e em outro momento era uma mulher adulta e nem um pouco inocente.

— O que foi? — Ela mordeu o lábio quando parou de beijá-lo. — Não sou tão garotinha quanto você pensava? — Ela sorriu enquanto passava as mãos pela nuca dele. — Isso é para você perceber que pode ser mais velho, mas eu já sou bem grandinha. — Deu uma piscadela e mais um beijo longo em Remus.

— Acho melhor voltarmos. — Ele falou, um pouco ofegante. Era muito difícil manter o foco e o juízo com Tonks em cima dele, mas estava ficando tarde e eles precisavam voltar para Londres. Ninfadora percebeu que ele estava tentando controlar seus instintos e, só dessa vez, decidiu que era melhor voltarem para A Toca.

— Estou preocupado com o Harry... — Ele falou, enquanto faziam o caminho de volta para a casa dos Weasley.

— Ele vai ficar bem, no fim das contas. Ele é mais forte do que aparenta. — Ela falou como se quisesse mesmo acreditar naquilo. — Estou preocupada com você, vai ficar bem na semana que vem? — A lua cheia se aproximava cada vez mais e, somada a perda de Sirius, as coisas poderiam ficar complicadas para Lupin.

— Eu tenho a Poção Mata-Cão. — Ele deu de ombros, tentando enganar-se e manter a calma. Porém, o olhar desconfiado e penetrante de Tonks o fez dizer a verdade. — Não queria te preocupar com isso... — Admitiu, cabisbaixo. — Era por isso que eu não queria ficar com você. Não quero fazer as outras pessoas sofrerem por minha causa. Já fiz isso com Sirius e os marotos na escola, com o Dumbledore, com a Dorcas... Estou farto disso.

— Remus, todos se importam com você e ficam preocupados. Você deveria ficar feliz por ter tantas pessoas tentando te ajudar, não se sentir culpado. — A voz dela era doce e sincera, o que fazia Remus quase acreditar que algum dia poderia não se sentir culpado.

— Não é tão simples assim, você não entende. — Lupin falou num tom sério. Entre o momento em que eles estavam se beijando sob uma das árvores e o jardim d'A Toca, um pensamento voltou a assombrar o pobre homem: e se eles fizessem alguma coisa e Tonks ficasse grávida? E se o bebê nascesse com licantropia?. Remus nunca se perdoaria.

— Eu entenderia se você me dissesse. — Tonks parou de andar e cruzou os braços. Eles estavam perto dos arbustos onde vários anões bagunçavam a terra entre as flores de Molly.

— Eu não posso... — Remus se sentiu repentinamente perdido. — Não posso por você em risco, Dora. Simplesmente não posso deixar isso acontecer. — Ele se aproximou dela, deu um beijo na testa e saiu andando cabisbaixo.

— Espera, o que isso quer dizer? — Ela correu atrás dele, passando por uma das janelas d'A Toca onde Fred e George espiavam. Lançou um olhar raivoso antes de fixar novamente os olhos onde Remus estava segundos atrás, mas ele não estava mais lá.

— Mas que droga! — Ela reclamou. Pensou em aparatar imediatamente e ir a procura dele, mas tinha que se despedir do Sr. e da Sra. Weasley e talvez não fosse uma boa ideia aparatar com a cabeça quente.

Precisou respirar fundo e fingir que a discussão não tinha acontecido, mas Fred e George tinham uma língua grande demais e assim que ela abriu a porta de entrada, Gina apareceu na sala de estar.

— O que aconteceu? — Ela perguntou sussurrando, para que Molly não percebesse que havia algo errado.

— Ele só deve estar sensível por causa da lua, não foi nada. — Tonks deu de ombros. Gina era como uma irmã mais nova, ela tinha contado sobre o que sentia por Lupin no natal e a ruiva apoiou totalmente.

— Não pareceu nada. — Fred falou, tentando se segurar para não fazer alguma piada com George.

— Calem a boca. — Gina podia ser tão brava quanto a Sra. Weasley quando queria.

— Acho que é melhor eu ir para casa. — Tonks se levantou, despedindo-se de Arthur e Molly, Ron e dos gêmeos. Gina a acompanhou até a porta para descobrir o que tinha acontecido de verdade.

— Eu não sei porque ele não entende que eu estou com ele por minha escolha. — Ela suspirou, antes de abraçar a garota. — Espero que eu encontre ele logo, não vamos poder resolver isso na semana que vem. — Ela apontou para a lua, que estava quase cheia.

— Vai dar tudo certo, Tonks. Ele vai entender isso. — Gina assegurou, momentos antes de sua amiga desaparecer aparatando para a Sede da Ordem da Fênix.