A Vida em um Romance escrita por J R Mamede


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Espero que estejam gostando :D



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Para desespero de Lídia, as irmãs estavam prestes a completar três semanas na história. A busca pelo livro diminuiu nos últimos dias, visto que já não tinham mais lugares onde pudessem procurar, a menos que invadissem residências de desconhecidos.

Após alguns dias em Londres, o Sr. Austen decidiu que já era o momento de voltar para Northfield Park. Na verdade, as viagens costumavam demorar mais; podiam chegar a meses. Porém, o Sr. Austen fora à grande cidade apenas com o propósito de resolver assuntos de negócios, não desejando demorar tanto em Londres, pois sempre preferiu o campo. Além disso, Londres não ficava tão distante da cidade interiorana de onde vieram. Mas, apesar de querer partir, permitiu que as meninas continuassem na residência londrina, se assim o desejassem. Contudo, Sofia e Lídia acharam melhor retornar a Northfield Park na companhia do tio.

Não somente os Austen voltaram ao interior. Os Watson e o Sr. Stone também os acompanharam de volta, e, a convite do tio das meninas, o Sr. Benjamin Stuart fizera parte do grupo que retornava ao campo, para a infelicidade de Lídia.

Neste ínterim, Anne, filha do Sr. e da Sra. Watson, acabou pegando um forte resfriado, obrigando-se a ficar de repouso. Sofia achou que seria de bom tom visitar a pobre moça, convidando Lídia para acompanhá-la. Lídia concordou, embora a ideia de ficar no mesmo ambiente de uma enferma não lhe agradava, afinal, caso pegasse a doença, não teria nenhum remedinho eficaz para ajudá-la a sarar.

O Sr. Austen mostrou-se contente por suas sobrinhas irem visitar a Srta. Anne, pedindo que depositasse os melhores cumprimentos à família e melhoras à acamada. Não acompanhou as jovens por motivos de incumbência na cidade, sendo acompanhado pelo Sr. Benjamin Stuart, mas ambos deixaram a promessa de em breve fazerem uma visita à residência dos Watson.

As irmãs foram caminhando até a casa dos vizinhos, embora o Sr. Austen insistisse em preparar a carruagem. Lídia queria muito ter aceitado, pois a caminhada de quase quarenta minutos a cansava rápido, ainda mais com aquele vestido atrapalhando. Porém, Sofia preferiu ir a pé, porquanto achava romântico caminhar pelos campos abertos e agradava-lhe respirar o ar puro do interior.

Ao chegarem à casa dos Watson, o criado anunciou a chegada da Srta. Austen e da Srta. Lídia ao Sr. Watson que se encontrava sozinho na sala de jogos. As garotas notaram sua fisionomia preocupada, então Sofia logo perguntou pela saúde de Anne.

─ Oh, querida Srta. Austen ─ desabafou o pobre homem. ─, minha doce Anne teve uma piora esta manhã. A febre aumentou e custa a baixar. Chamamos um médico que ainda está lá em cima tratando de minha pobre filha. Estou tão aflito! Minha Anne está muito frágil.

─ Isso é terrível, Sr. Watson ─ solidarizou-se Sofia. ─ Mas não pense no pior, por favor. Mantenhamos a esperança. Tudo acabará bem.

O Sr. Watson agradeceu a gentileza de Sofia, ausentando-se por um momento para avisar a chegada das moças à Sra. Watson, a qual permanecia ao lado da filha no quarto, junto com o médico. Ele saiu garantindo que logo as chamariam para ver Anne.

Assim que desapareceu, Lídia falou:

─ Minha nossa, por que esse escarcéu todo? É só um resfriado.

─ Lídia, os resfriados nesta época podiam se tornar problemas sérios à saúde ─ explicou Sofia. ─ Era muito comum pessoas morrerem por conta de um resfriado, que, para nós, não é nada graças ao avanço da medicina. Mas nesta época... Bem... As coisas eram bem mais complicadas.

Lídia compreendeu melhor a seriedade do momento, compadecendo-se por Anne. Ficou refletindo sobre o estado de saúde da moça até a aparição do Sr. Watson convidando-as para segui-lo ao dormitório da filha.

Lá chegando, Sofia e Lídia se depararam com a cena mais bizarra de suas vidas. Anne, pequena e pálida afundada em sua cama, tinha, ao seu lado, além da Sra. Watson, o médico que a tratava com pequenas lesmas depositadas em seus braços. Aproximando-se, viram que as tais lesmas eram, na verdade, sanguessugas.

─ Mano do céu! ─ exclamou Lídia, expressando sua repulsão. ─ Que nojo! Por que estão fazendo isso com ela?

─ Lídia, cala a boca ─ sussurrou Sofia, repreendendo-a. ─ Esse era o tratamento que utilizavam para curar as pessoas.

─ Mano, que nojo ─ continuou Lídia, mas em voz baixa. ─ Esses bichos nojentos tão tirando o sangue dela. Eca! Acho que vou vomitar.

─ É a sangria, Lídia, não tem nada de mais.

Lídia preferiu não fixar seu olhar na cena. Sua atenção logo foi desviada pela preocupação que sentiu em relação à saúde de Anne. A moça estava realmente com uma aparência lastimável para um simples resfriado. Agora Lídia entendia melhor o que Sofia havia dito sobre a doença ser algo bem sério naquela época.

Sofia direcionou-se a Sra. Watson a fim de mostrar sua solidariedade. A mulher sentiu-se muito animada pela presença das duas jovens, agradecendo pela visita. A Sra. Watson estava muito desanimada e abatida, bem diferente do jeito que Sofia e Lídia estavam acostumadas a presenciar.

Quando o médico, o Sr. Tompson, terminara o tratamento, pediu a todos que deixassem a doente descansar. Um pouco de repouso, como ele mesmo dissera, restabeleceria a jovem Srta. Anne Watson.

─ Minha pobre Anne ─ lamentou-se a Sra. Watson, assim que entraram na sala de visitas. ─ A pobrezinha está tão fraca. O que será de mim se minha querida filha nos deixar, Sr. Watson? O que faremos sem nossa menina?

A Sra. Watson começou a chorar, sendo amparada pelo marido, tão infeliz quanto ela. Sofia e Lídia entreolharam-se com compaixão. Era realmente triste assistir o sofrimento de uma família que poderia perder um ente querido por uma doença tão banal.

─ Não fica assim, dona Watson ─ disse Lídia, acariciando o ombro da senhora. ─ Anne vai sair dessa, pode apostar. Ela é forte; não vai ser um resfriadinho mequetrefe que vai derrubá-la. A senhora vai ver! Já, já ela estará aí dando aquela risadinha dela, animada por falar da vida alheia.

Sofia escondeu o rosto com a mão, pois, por mais que a intenção de Lídia fosse boa, seu modo de falar não era. Contudo, a Sra. Watson não se importou com a expressão de caçula, agradecendo calorosamente por sua amabilidade para com sua querida Anne. O Sr. Watson também ficou muito grato pelas palavras ─ embora coloquiais ─ muito sinceras e amigáveis.

Com todo aquele acontecimento triste na vida dos Watson, Sofia nem se dera conta da ausência do Sr. Stone. Logo a Sra. Watson, lembrando-se do sobrinho, explicara que o rapaz precisou ir à cidade, mas não devia demorar. Embora Sofia quisesse muito vê-lo, achou melhor ela e Lídia partirem, a fim de deixar a família descansar. Entretanto, prometera regressar em breve junto com o seu tio para saber notícias da jovem Anne.

─ Por favor, Sra. Watson ─ falou Sofia, com doçura. ─, qualquer coisa que a senhora precisar, não hesite em nos notificar. Mande uma carta por meio de seus criados a Northfiel Prak sempre que achar necessário. Estaremos sempre as suas ordens. A Srta. Anne é muito especial para nós, não é mesmo, Lídia? ─ A caçula concordou com firmeza. ─ Sua doença deixou-nos extremamente entristecidos, mas mantemos a fé de que a qualquer momento ela se recuperará e estará fazendo-nos uma visita em breve.

─ Agradeço suas generosas palavras, Srta. Austen ─ disse a Sra. Watson, emocionada. ─ Sim, a senhora tem toda razão: precisamos manter a fé! Quando minha Anne se recuperar, que Deus ajude-nos que isso aconteça logo, ela ficará muito feliz em saber as amigas maravilhosas que possui.

Os Watson despediram-se com simpatia e afabilidade das irmãs, as quais retornaram para casa com ar tristonho e inquietude. Por um bom pedaço do caminho até Northfield Park, as meninas caminharam quietas, mergulhadas, cada uma, em suas próprias reflexões. Mas logo Sofia quebrou o silêncio.

─ Sabe, Lídia, eu amo muito estar aqui ─ disse, pausadamente. ─ Porém, quando algo assim acontece, eu fico muito chateada, pois essas coisas não acontecem em nossa época... Quero dizer, resfriados não são nada. A gente tem os medicamentos e a tecnologia para ajudar que casos bobos, como um resfriado, não prejudique uma família. Agora, veja só! Estamos todos abatidos pela Srta. Anne porque ela está de cama por conta de um resfriado. E as chances dela morrer, Lídia ─ fitou a irmã no fundo dos olhos ─, são grandes. Isso é tão triste. Ela tem a sua idade... Não gosto de imaginar algo ruim acontecendo. Não sei se suportaria.

─ Não fica assim, não, Sofia ─ Lídia abraçou a irmã. ─ Anne vai sair dessa. Você mesma disse para termos esperança, não foi? Então vamos ter esperança!

Sofia sorriu, um pouco mais animada com a coragem que sua irmã mais nova lhe depositara. As duas continuaram a andar, falando sobre coisas um pouco mais animadoras, até chegarem ao assunto preocupante: o livro.

─ Onde será que ele pode estar? ─ questionou Sofia. ─ Não é possível que ele esteja escondido na casa de alguém que não conhecemos. Não podemos sair batendo de porta em porta, perguntando se podemos ver os livros da casa. A não ser que ele não esteja em uma biblioteca ─ refletiu, colocando o dedo no queixo. ─ Talvez o livro esteja num lugar mais improvável daqui.

─ Mas onde? ─ interrompeu Lídia. ─ Há muitos lugares improváveis para um livro. Ele pode estar num celeiro, no meio de uma plantação, em cima de um morro, no telhado de uma casa simples... Qualquer lugar!

─ Eu sei, eu sei! ─ Sofia esfregou as mãos no rosto, cansada demais para pensar. ─ Confesso que tenho a esperança dele aparecer quando menos a gente esperar. Sabe, uma vez pensei que não seria bom ficar até o final feliz da história porque poderia ser o nosso final infeliz, entende? Mas, se for isso que o livro quer? E se ele quer que a gente vá até o final da história para aparecer e nos levar de volta pra casa?

─ Sofia, a gente não tem certeza de nada, isso sim. Só ficamos nessas teorias, nessas hipóteses. Precisamos de uma solução! Precisamos desse livro do...

─ Boa tarde, senhoritas!

Sofia e Lídia assustaram-se com a aparição do Sr. Stone. Estavam tão focadas na conversa, que nem escutaram as passadas fortes do cavalo se aproximando.

Imediatamente, Sofia esquecera-se dos assuntos importantes, saudando com alegria a chegada do Sr. Stone. Ficou encantada com a imagem do rapaz sobre seu cavalo de cor amarronzada. Nem sempre o príncipe vinha de cavalo branco, pensou.

Lídia não gostou da interrupção do diálogo que tinha com sua irmã. Achava que precisavam dedicar mais tempo para tentar montar o quebra-cabeça, achar uma solução razoável dos problemas que o livro as colocou. Mas sempre que estavam prestes a avançar no assunto, o Sr. Stone aparecia e atrapalhava tudo, pois Sofia, boba, ficava babando pelo Sr. Ken Humano.

O cavalheiro, com elegância, desceu de seu cavalo e resolveu seguir as jovens até Northfield Park. Falaram do estado triste da Srta. Anne, e Sofia mostrou-se cheia de compaixão para com a prima do rapaz.

─ A senhorita é muito adorável, querida Sofia ─ comentou o Sr. Stone, cheio de galanteios. ─ Minha pobre prima encontra-se em um estado plangente de dar pena. Infelizmente, devo confessar, não consigo enxergar um milagre na vida da jovem Srta. Anne. Creio que a pobrezinha não suportará. Está muito fraca e enferma.

─ Credo! ─ bradou Lídia, indignada. ─ Como pode falar um negócio desse? É a sua prima!

─ Lídia, o Sr. Stone está apenas expondo sua opinião ─ criticou Sofia.

─ Não se preocupe, Srta. Sofia ─ garantiu o Sr. Stone. ─, a sua irmã está corretíssima em se espantar com o modo que me expressei. Talvez o tenha feito equivocadamente. Por favor, Srta. Lídia, não pense que desejo o pior à minha querida prima ─ defendeu-se o rapaz. ─ Apenas quis dizer o quanto um resfriado forte pode debilitar uma dama tão frágil quanto minha prima; não podemos descartar a hipótese de algo muito ruim acontecer. Ao contrário das coisas boas, as ruins devem sempre ser antecipadas para facilitar o nosso consolo.

─ Mesmo assim, Ken Humano... Digo, seu Stone, acho que foi muito feio da sua parte falar algo tão horrível assim. Não curti.

─ Lídia, você está sendo brusca com o Sr. Stone.

─ Tudo bem, Srta. Sofia, eu respeito a opinião de sua irmã e não fico triste pela sinceridade em demonstrar seus sentimentos em relação ao que eu digo ─ sorriu para a caçula, a qual retribuiu com o sorriso forçado. ─ Deixemos este assunto de lado. Conversemos sobre as alegrias da vida.

Prosseguiram, andando a Northfield Park. Sofia e o Sr. Stone seguia à frente, alegres e espontâneos. Lídia observava aquele sujeito cujo caráter a fazia desconfiar a cada dia que o conhecia melhor. Após o comentário sobre a própria prima, o Sr. Stone caíra mais em seu conceito. Lídia não entendia o que a irmã via no jovem rapaz.


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Notas finais do capítulo

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Até mais!



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