Westover Hall parecia o castelo do Conde Drácula era feito por inteiro de pedras negras, com torres e janelas estreitas e um grande conjunto de portas duplas, ela se erguia sobre um penhasco escarpado coberto por neve, já que era inverno, de lá dava a vista para uma grande floresta gelada e para um oceano cinza e de ressaca do outro lado.
Aquele dia estava tempestuoso, chuvera mais cedo e o chão do pátio estava completamente molhado, o que não parecia incomodar uma pequena figura sentada num dos bancos do local, era a única em meio a neve e lama. Em suas mãos segurava um pequeno caderno de capa preta, todo surrado como se tivesse anos de uso, o lápis percorria a folha com rapidez e agilidade, a garota desenhava o esboço de um homem, com cabelos rebeldes, nariz fino e olhos grandes e um sorriso que deixaria qualquer mulher a mercê de seus encantos e desejos, mas quem seria ele? Ela não lembrava.
Do outro lado do pátio um trio de garotas conversava lançando olhares maldosos na direção dela, as ignorando por completo ela se levantou fechando o caderno, saindo do local, entrando num corredor.
—Se quiser posso dar um jeito nelas para você. -Ao lado dos armários uma garota mais velha estava escorada encarando a mais nova.
—Não se incomode com isso, já me acostumei.
—A te chamarem de assassina? Pelo amor Mirage, não foi sua culpa ela ter caído da torre.
—Então a culpa foi de quem? Só tinha nós duas lá, se não foi suicídio a única pessoa que restou para suspeitar sou eu.
A outra suspirou pesadamente ajeitando a blusa.
—Aquela professora era louca, muitos dos outros professores e até mesmo o Sr.Perkins pode confirmar.
—Isso não muda o fato de suspeitarem de mim.
Outro suspiro veio da parte da ruiva.
—Seiko está na sala do diretor, eles querem falar com você.
—Por que não disse antes?
—Eu estava oferecendo meus serviços - a garota piscou um dos olhos- eles estão te esperando, vá logo.
—Estou indo.
—Boa sorte! - a mais velha se colocou a caminhar para o pátio na direção do trio, elas ouviriam poucas e boas dela.
—Daiana! - Mirage revirou os olhos após chamar a atenção da maior voltando a caminhar pelos corredores enquanto remoía as lembranças de uma semana atrás.
***
Estava frio, mas o sol dava o ar de sua graça, numa das torres mais altas do castelo, Mirage estava sozinha como de costume desenhando em seu caderno, tentando fazer com que as folhas não voassem com o forte vento. Seria um dia normal para ela se aquilo não tivesse acontecido, as portas que dão acesso a torre bateram inesperadamente fazendo um estrondo alto, Mirage se virou com o susto vendo a professora de álgebra.
—Professora Miranda?
Uma mulher de terceira idade, que tinha a aparência de uma bruxa muito, muito velha na opinião de Mirage.
—Não deveria estar aqui Mirage, os professores estão cansados de tanta desobediência!
—Olha, se veio aqui me aborrecer com isso, saiba que minha tutora já conversou comigo.
A mulher fez um tipo de grunhido com a garganta ao ouvir a respostas da aluna.
—Aquela lá é outra, desobedece as leis dos deuses como você.
Mirage franziu as sobrancelhas, o que aquela mulher queria dizer com isso?.
—Deuses? Do que você e...
—CHEGA! Você sabe do que estou falando!- ela deu passos para frente, sua aparência começou a tremeluzir, os olhos ficaram vermelhos, as unhas se tornaram garras afiadas e os dentes presas afiadas, ficara com a aparência envelhecida, aparentando ser uma maldição. A mesma avançou para cima de Mirage que até então estava imóvel, sua visão ficou turva e tudo ao seu redor ficou mais lento ate sumir, quando voltou a si ouviu gritos vindo do pátio e estava caída ao lado da grade, logo passos apresados subiam as escadas dando origem ao diretor e a professora de Filosofia.
—Mirage o que você fez? - o homem a encarou com um olhar acusador enquanto a professora a olhava calmamente.
***
Assim que entrou no corredor da diretora, as luzes estavam apagadas, deveriam ter queimado com a chuva de noite, e a única fonte de luz era a porta entreaberta da diretoria, de lá podia se ouvir uma conversa baixa entre duas pessoas, Mirage se aproximou silenciosamente da porta para ouvir melhor.
—Ela já está  atraindo monstros, logo Westover Hall não vai ser mais segura- uma voz feminina falou calmamente, era Seiko, sua Tutora.
—Se a tirarmos daqui ela pode atrair muito mais deles, além disso temos Daiana para ficar de olho nela. -A voz grossa do Diretor Perkins a interrompeu.
—Daiana não pode ficar de olho nela o tempo inteiro.
—Então como prosseguir?
—O jeito é leva-la para aquele lugar, vai estar segura.
—Sozinha?
—Não Perkins, Daiana vai com ela.
—Está arriscando que descubram sua filha, Seiko.
—Eu sei, mas ela já foi lá muitas vezes e minha filha sabe se cuidar.
—Espero que saiba o que está fazendo.
—Eu sei. - Seiko calou-se por alguns instantes, sua sombra pode ser vista na parede do corredor aproximando-se da porta – Mirage sei que está ai, saia e venha até aqui, precisamos conversar.
"Puts me fudi"
Miraje saiu de trás da porta hesitante e entrou no escritório sendo encarada pelo diretor, um ex- veterano de guerra, ele tinha cabelos e barba brancas, sua pele era negra e seu olhar era sério e severo, Seiko puxou uma cadeira para que a mesma sentar-se após fechar a porta.
—Creio que estava a ouvir nossa conversa Mirage - falou o homem a encarando enquanto apoiava as mãos nos braços da cadeira - Seiko nunca te ensinou que é feio ouvir atrás da porta?
—Ela mencionou algo sim, mas não prestei muita atenção.
Seiko pode perceber que sua "afilhada" mexia nas pontas dos cabelos inquietamente com as mãos, claramente nervosa com a situação, mesmo seu rosto não demonstrando isso.
—Mira - pronunciou a mais velha se colocando atrás da poltrona em que a garota estava.- Sobre a Morgana...sabemos que você não tem culpa.
—Mas você não poderá permanecer nesse colégio.
"Não gostava muito daqui mesmo"
— Por esse Verão.
"Que droga!"
—Você, Daiana e alguns alunos irão para um acampamento, lá eu espero que você consiga alguns amigos além daquele gato e da Daiana, a saída será ao meio dia, se prepare até lá e avise a Daiana.
—É por que querem se livrar de mim? Olha, podem me mandar de volta pra...
—Não queremos isso, - interrompeu Seiko - mas a escola ficará mais movimentada para visitas de futuros pais que matricularam seus filhos aqui, e com eles podem vir parentes da Morgana querendo vingança.
Só o pensamento de outras professoras de Álgebra demoníacas vindo atrás de Mirage fez a mesma estremecer por dentro.
—Hâ okay, avisar a Daiana né? Só isso?
—Não,tem mais uma coisa.
Perkins abre uma das gavetas da escrivaninha, retirando de lá um pacote pequeno selado sem endereço de remetente apenas com o destinatário, Mirage Granor.
—Chegou hoje de manhã, sem remetente e com um cartão: "Abra quando estiver sozinha." não é uma bomba já nos certificamos disso, e não é de metal, não é veneno, agora você já pode sair sem mais perguntas.
A jovem levantou-se pegando o pacote e saindo do escritório com a pulga atrás da orelha, quem teria mandado aquilo? E aquela conversa estranha que aqueles dois estavam tendo, suspeito, mas por enquanto preferiu deixar de lado. Correu para a ala dos dormitórios, passando antes na enfermaria para roubar pirulitos, quando viu três garotas sentadas ali na frente repletas de machucados e queimaduras.
"Hum?...Será que Daiana  fez isso com elas? Se sim ela subiu na escala de reputação para a  ser a melhor pessoa da escola." 
Pegou alguns pacotes e os colocou embaixo do moletom e correu para o quarto, não viu Daiana, que provavelmente estava fugindo da inspetora. Miraje se joga em cima da cama, fazendo a mesma fazer um sonoro "crak".
"Eita Poha! Não fiz nada, disfarça"
Ela finge que nada aconteceu e começa a abrir o pacote.