Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 5
Capítulo 4




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Capítulo 4 - Ginny III

 

Despertador é um negócio que não é de Deus. Veja bem: eu não odeio acordar cedo, mas levantar da cama com um aparelho “berrando” nos seus ouvidos não é a coisa mais agradável do mundo!

Hoje é o meu primeiro dia de trabalho e, por isso, tive que acordar antes do habitual desde a minha volta para casa. Eu estava animada, embora o pensamento de ir para a London de metrô não fosse algo que me deixasse extremamente "feliz".

Meu horário de entrada é 9h, por isso, eu tinha que sair de casa às 8h para chegar na estação 8h15 e conseguir pegar o metrô, que seguia do meu bairro até o campus. Era um trajeto de quase meia hora, pois a universidade ficava do outro lado da cidade.

Ron tinha um carro e se ofereceu para me levar ao trabalho, porém, ele também estava fazendo estágio e entrava meia hora mais cedo que eu, por isso, combinei que aceitaria sua carona apenas nos dias em que ele tivesse aula.

Consegui levantar depois do segundo alarme programado e me dirigi ao banheiro do corredor, onde havia deixado minhas coisas. Lavei o rosto, escovei os dentes e os cabelos e passei protetor solar antes de ir ao quarto para me trocar e fazer uma maquiagem leve para enfrentar o dia que eu teria pela frente.

Desci para a cozinha às 7h40 e percebi que minha mãe já estava acordada fazendo o café.

— Bom dia, mãe! - Peguei uma xícara e sentei na ponta da mesa enquanto a observava coar o café.

— Bom dia, querida! Dormiu bem?

Ela colocou a garrafa de café na mesa, que também tinha pães, queijo, manteiga, torradas e todos os talheres possíveis para uma excelente refeição.

— Queria ter dormido mais, mas faz parte, né?

Minha mãe apenas riu e colocou o bolo que ela tinha feito no dia anterior na mesa.

— Seu irmão me diz isso todas as manhãs. Hoje ele acabou saindo mais cedo porque terá uma audiência no Fórum. Pediu para te desejar boa sorte.

— Obrigada.

Coloquei café na xícara e comecei a passar manteiga no pão. Tinha que me apressar se gostaria de pegar o metrô "vazio" até o campus - normalmente, o vagão das 8h30 era o mais lotado.

Mamãe me contou sobre as atividades do dia: ela iria visitar Cassandra, sua amiga de escola que morava no bairro há anos. Juntas, elas pretendiam organizar uma festa de caridade com o objetivo de ajudar o abrigo de órfãos da cidade.

Depois, ela iria até o mercado e, por isso, me perguntou se eu queria ou precisava de alguma coisa.

— Não, mãe. Tem notícias de Bill?

Bill tinha uma consulta marcada na tarde de ontem para verificar as dores que sentia nas costas. Parece que o médico indicou que ele fizesse alguns exames para analisar a razão da dor, mas provavelmente má postura.

— Ele me disse que terá que fazer algumas sessões de fisioterapia, mas não é nada sério. Me disse que explicava no domingo, quando viesse almoçar conosco. Mudando de assunto, sua madrinha me perguntou se pode vir visitá-la... disse que veria com você o melhor horário.

Lily Potter, além de minha ex-sogra, era também minha madrinha. Durante o tempo em que estive nos Estados Unidos, o nosso contato foi esporádico, principalmente porque tudo nela me lembrava "ele". Ela era uma das pessoas mais carinhosas, bondosas e felizes que eu conhecia e meus pais eram amigos dela e de James desde que me conheço por gente.

— Diga que estarei em casa à noite. Não é como se ela fosse atravessar a cidade para me ver.

— Tudo bem!

Mamãe sentou na mesa com uma xícara de chá e começou a me analisar.

— Lily sentiu muito a sua falta, querida! Ela sempre me dizia isso e reclamava que você não a respondia propriamente ou que demorava demais. Que vocês tinham perdido o contato...

— Que que ela queria, mãe? Eu não me sinto mais a vontade de estar perto de qualquer Potter. Mesmo ela sendo a melhor pessoa do mundo.

— Eu sei, mas tente vê-la como sua madrinha e não como a mãe de Harry.

— Não fala nesse nome!

— Okay, okay. Não está mais aqui quem falou. Só tente ser simpática com ela? Tenho certeza que ela não mudou a maneira como te trata, apesar do que aconteceu entre você e Harry. Ser sua madrinha, para ela, vem antes de tudo. Você sabe disso, não é?

Não soube responder minha mãe, por isso, busquei sorver mais um gole do café.

Quando olhei para o relógio da parede, percebi que já era 7h55.

— Preciso ir, mãe.

Subi até meu quarto, peguei minha bolsa, dei uma boa última olhada no espelho e desci as escadas. Mamãe me esperava próximo a porta.

— Boa sorte, Ginny! Vai dar tudo certo!

— Obrigada. Com certeza. Até mais tarde.

Dei-lhe um beijo e sai em direção a estação de metrô do bairro.

***

Diferentemente da Miami, a University of London tinha um campus com várias e várias construções. Quando estava no ensino médio, minha antiga escola tinha feito um passeio de reconhecimento, mostrando os principais cursos da unidade e as oportunidades que poderiamos ter se decidissimos ingressar na instituição. Grande parte dos meus amigos prestou vestibular na unidade e alguns estavam para se formar.

Percebi que havia vários prédios novos, por isso, não reconheci quando parei defronte a administração, onde iria trabalhar nos próximos seis meses. Segui em direção ao Recursos Humanos, onde fui apresentada como funcionária, me deram um crachá, me fizeram assinar alguns papéis e me encaminharam até minha sala, que ficava do lado oposto deste setor.

Caminhei apressadamente até meu novo posto de trabalho e me surpreendi que a universidade tivesse uma grande área para comunicação. O salão era grande, amplo e composto por diversas baias coloridas, o que dava um ar descontraído para o ambiente.

Dez pessoas trabalhavam no local quando eu bati na porta.

— Oi, meu nome é Ginny. Sou a nova estagiária de comunicação.

Uma mulher loira, de cabelos longos e salto alto caminhou em minha direção.

— Muito prazer, Ginny. Sou Amélie. Trabalho como coordenadora do setor de comunicação da University of London. Seja muito bem vinda. Professor Lupin me teceu grandes elogios sobre o seu currículo.

Fiquei encabulada, pois era raro as pessoas me elogiarem dessa forma - com tanto genuidade.

— Obrigada.

— Bem, não se acanhe. Venha conhecer os seus colegas - disse Amélie, me conduzindo gentilmente até o centro da sala.

— Pessoal, esta é a Ginny, nossa nova estagiária. Ginny, estes são Zara, Peter, Hannah, Ava, Jacob, Ethan, Zoe, Logan e Dean.

Os meus companheiros de trabalho correram me cumprimentar, seja com abraços ou apertos de mão.

— Dean será o meu companheiro de baia, Ginny. Ele também faz estágio, mas na área de fotografia.

Percebi que Amélie se referia ao garoto negro, alto e totalmente gato que estava do seu lado direito.

— Seja muito bem vinda, Ginny. Qualquer dúvida estou à disposição. - Ele disse olhando profundamente em meus olhos.

Sorri timidamente e Amélie me conduziu até minha nova mesa.

A manhã passou rapidamente e fiquei sabendo que no fim da tarde teria uma reunião com o reitor da universidade para decidir os pormenores da volta às aulas.  

Dean me explicou rapidamente que no fim de todos os anos letivos, os centros acadêmicos entravam em uma disputa para decidir qual será o responsável pela festa de boas-vindas aos calouros. Os presidentes fazem um plano de execução com atividades e atrações e divulgam para toda a instituição, sendo que o mais votado terá a "honra" de organizar o evento.

A proposta vencedora deste ano ficou com o centro acadêmico do curso de direito, por isso, haveria uma reunião entre o reitor, o respectivo presidente dessa liga e o setor de comunicação. Eu, Dean e Amélie fomos convocados, pois ficaríamos responsáveis pela execução da parte gráfica e todo o gerenciamento de mídias sociais.

— Na verdade, além da festa, o centro acadêmico também tem que fazer ações sociais como arrecadação de alimentos, doação de sangue e até auxílio a entidades carentes. Mas eu ainda não sei quais ideias o pessoal do direito pensou - Comentou Dean durante o nosso horário de almoço.

Nós decidimos comer no restaurante universitário, pois, além de termos cotas para comer "de graça", era mais perto do que sair do campus e procurar um restaurante na cidade.

— Essa ideia de integração é muito legal. Onde eu estudava, cada curso tinha sua própria festa de boas-vindas.

Dean terminou de mastigar e bebeu um gole do seu suco antes de me responder.

— Na London também era assim até que o pessoal do direito começou a fazer muito sucesso com suas iniciativas, principalmente as festas. Lupin, então, decidiu promover essa competição no ano retrasado e os alunos gostaram bastante. Dá engajamento e faz com que eles se sintam representados, entende? Infelizmente, meu curso nunca foi contemplado com nenhuma votação. Parece que o pessoal de jornalismo é meio desmotivado por aqui.

— Eu quase vim estudar na London - disse apenas para mudar de assunto e para não "queimar" o meu filme falando mal de estudantes que eu mal conheço.

— Verdade? Por que você decidiu ir para os Estados Unidos?

Pensei se deveria contar para ele a verdade, mas decidi por relatar apenas parte dela.

— Uma professora do ensino médio me dizia que eu escrevia ótimos textos e insistiu para que eu me inscrevesse no programa de jornalismo da Miami. Me inscrevi sem pretensões e acabei sendo admitida. Foi uma ótima escolha, mas o que realmente me chateou foi a questão do estágio. Eu não consegui uma vaga de emprego na cidade, então, meu irmão me contou que tinha uma oportunidade na London e eu resolvi voltar para casa.

Dean me analisou.

— Você não é irmã do Ron, né?

Fiquei surpresa que ele conhecesse minha família.

— Sou sim.

— Caramba, Ginny. Eu estudei com o seu irmão no ensino fundamental. Acabei desencontrando com ele durante o período escolar, mas o reencontrei na faculdade. Ele faz direito, né? Como eu ingressei um ano depois de terminar o colégio, ele já estava no segundo ano do curso e acabou participando como veterano na festa de recepção.

— Que mundo pequeno, né?

Ele gargalhou.

— Foi impossível não associá-la com Ron por causa da cor dos seus cabelos. Eles são de um vermelho bem intenso, algo que eu só tinha visto no seu irmão.

— Dizem que somos bem parecidos, mas eu sempre falo para ele que ele foi o rascunho da perfeição que sou eu.

Nós rimos do meu comentário egocêntrico.

— Bem, vamos indo senhorita "meu irmão é meu rascunho"? Tenho que terminar o cronograma da reunião para Amélie e ainda pensar em sugestões de fotos para apresentar ao presidente do centro.

Nós jogamos fora nossos copos de suco e deixamos a bandeja no balcão próximo a saída do restaurante. A caminhada até nossa sala foi vagarosa e nós rimos de todos os comentários possíveis que surgiam, desde a minha reclamação por ele ter me zuado sobre o "meu irmão ser meu rascunho" até sobre o fato dele ficar mexendo a orelha de forma estranha.

Dean se mostrou um ótimo colega de trabalho, apesar do pouco tempo que tínhamos de convivência – na realidade, uma manhã. Era alguém que eu sabia que poderia contar ali dentro e esperava que minhas convicções não se provassem erradas.

— O presidente do centro é legal? Porque os presidentes de centros acadêmicos que eu conheci na América eram um tanto quanto "metidos"!

— Sim, ele é um cara bem legal. Na verdade, mas isso você não conta para ninguém, nem era para ele continuar sendo presidente. Como ele pegou algumas DPs, deixaram que ele continuasse no cargo por mais seis meses. Ele faz um ótimo trabalho, só que poderiam ter escolhido outra pessoa para assumir a liderança, né?

Eu tive que concordar com ele.

No horário previsto para reunião, eu, Dean e Amélie seguimos para a sala do reitor, que ficava no mesmo prédio da administração. Minha coordenadora havia me passado alguns detalhes do evento de recepção que foi planejado pelo centro acadêmico e pediu algumas sugestões sobre quais estratégias seriam ideais para chamar os alunos e convidá-los a participar.

Uma das preocupações apontadas por ela é que a ação ficasse muito restrita aos alunos de primeiro e segundo anos, algo que não era intenção da universidade. O objetivo era reunir todos os cursos e anos letivos em uma grande integração, seja nas atividades extraclasse, bem como nas festas, que ela sabia que iriam ocorrer com ou sem o aval da instituição. E, além disso, o intuito é impedir que ocorresse o trote, ação considerada violenta e que pode levar ao bullying.

Fiquei sabendo que o curso de direito tinha há anos a mais famosa festa de recepção aos calouros. Era chamada de "Habeas Corpus" e era realizada em uma das repúblicas que abrigavam os alunos do quarto ano. O evento era tradicional e recebia estudantes de diferentes graduações e até mesmo da pós-graduação. Os convites eram vendidos pelos membros do centro acadêmico e a edição deste ano estava marcada para o quinto dia do novo ano letivo, ou seja, na sexta-feira - já que as aulas começavam na segunda.

Dean bateu na porta da sala e pediu licença para entrar no escritório do reitor, que nos aguardava com biscoitos e chá.

— Amélie, como vai? - Lupin era amigo dos meus pais, por isso, não senti nenhum nervosismo ao vê-lo caminhar em nossa direção. Ele era uma pessoa tão simpática e amigável que eu costumava passar horas conversando com ele durante minha adolescência. Sem falar que suas sugestões de filmes e séries costumavam ser as melhores.

Foi com um sorriso que o abracei fortemente e ele contou aos outros dois que já nos conhecíamos de antes da London, pois ele tinha estudado na mesma escola que meus pais.

Nós conversamos amenidades enquanto nos sentávamos a mesa de reuniões e foi nesse momento que escutei uma batida na porta.

— Pode entrar.

— Professor Lupin, me desculpa pela atraso? Fiquei preso no escritório e só consegui sair poucos minutos antes da reunião.

Eu desgrudei meus olhos do caderno em que estava fazendo anotações no mesmo momento em que reconheci a voz. Um homem alto, magro e de cabelos negros totalmente arrepiados para todos os lados ingressou rapidamente na sala.

Meu coração falhou uma batida quando reconheci que Harry Potter era o tal presidente do centro acadêmico do curso de direito. Ele estava de terno e gravata, sapatos sociais e o tom era de seriedade, algo que eu não achava que combinava com a sua personalidade. Pelo menos não com a personalidade que eu conheci há quatro anos quando éramos adolescentes.

Ele tinha uma bolsa preta pendurada no ombro direito e seguiu silenciosamente até a mesa onde estávamos sentados. Eu não tive reação apropriada quando ele cumprimentou rapidamente os demais presentes da sala com a cabeça e só consegui retornar o aceno com um sorriso amarelo enquanto processava toda a cena que se desenrolava na minha frente. Então, ele era o cara que ficará mais seis meses na universidade por causa das DPs? Bem típico! Meu ex-namorado nunca teve os estudos como uma grande “prioridade” na vida.

— Sem problemas, Harry. Nós ainda não tínhamos começado a reunião. Por favor, sente-se.

Ele se acomodou ao lado de Amélie e, consequentemente, ficou defronte à mim.

— Bem, meus caros, nós estamos aqui hoje para decidir os pormenores da recepção aos calouros. Harry enviou por e-mail algumas atividades que o centro acadêmico pretende realizar durante a semana de integração. Poderia nos contar rapidamente sobre isso, Harry?

Ele tirou um caderno da bolsa e olhou para suas anotações.

— Claro, professor. Nós pensamos em recebê-los na segunda-feira com rodas de conversa sobre o curso em que eles estão ingressando. Pensamos em conversar com os presidentes dos demais centros acadêmicos para que eles promovam, de acordo com o seu curso, bate-papos sobre a carreira, sobre o currículo escolar e perspectivas de mercado. Todos já foram acionados e apenas o de moda ficou de me confirmar ainda essa semana. Os veteranos ajudarão nessa dinâmica dando seus depoimentos sobre suas trajetórias escolares dentro da London.

— Ótima ideia. - Pontuou minha chefe, que anotava todas as informações em seu bloquinho.

— Na terça, nós propomos um campeonato de futebol e volêi, que iria ocorrer ao longo de todo o dia. As inscrições seriam feitas após o bate-papo da segunda-feira e o curso vencedor terá direito a convites para a festa de recepção na sexta-feira pela metade do preço.

— E em relação aos demais dias da semana? - Perguntou Dean pensando na elaboração de fotos que ele faria de todos os eventos.

— Na quarta-feira haverá arrecadação de alimentos nos bairros próximos a universidade, porém, ainda não decidimos sobre a quinta-feira.

Todos os presentes ficaram em silêncio.

— Por que vocês não promovem uma coleta de sangue solidária? Quem participar poderá receber o convite da festa pela metade do preço. Acho que teríamos uma grande adesão, não?

Ele me olhou profundamente enquanto falava e apenas assentiu.

— Ótima ideia. Todos concordam? - Harry disse.

Eu fiquei estarrecida que ele concordou prontamente com a minha sugestão. O Harry de anos atrás provavelmente teria achado algum defeito para não acatar minha ideia de primeira.

— Acho perfeito, principalmente porque o banco de sangue de Londres vem pedindo doações nas últimas semanas - comentou Lupin.

— Dá um caráter de colaboração e é ótimo para gerar engajamento nas redes sociais - salientou Dean.

— Já estou pensando em algumas ações que podemos promover dentro da universidade para que a coleta não fique restrita aos primeiranistas - citou minha chefe.

— Pronto, Harry. Temos a ação para quinta-feira. E quanto à sexta? - continuou Lupin.

— Para sexta-feira, nós queremos fechar a semana de recepção com chave de ouro. Queremos que a Habeas Corpus seja a maior de todos os tempos, por isso, já estamos vendendo convites e estamos propondo fantasias para os convidados.

— Como está sendo a divulgação? - questionou Amélie.

Harry se virou entusiasmado para contar os detalhes à ela. Ele realmente parecia gostar do que estava fazendo.

— Nós colocamos cartazes pelo centro acadêmico e estamos promovendo apenas na nossa página. Gostaria de sugestões, meus amigos!

Se eu não estivesse "passada" com a sua atitude anterior, diria que ele estava flertando com a minha coordenadora. Eu não podia negar que Harry ainda mantinha um certo charme e a aparência de adulto, que ele adquiriu nos últimos anos, colaborava para essa imagem sedutora.

— Podemos pensar em artes para as páginas do Facebook, Instagram e Twitter de todos os centros acadêmicos e também para a da universidade - comentou Dean.

— Eu acho que isso não fica bem para uma conta institucionalizada - sugeri.

Amélie concordou e me pediu para fazer uma sugestão.

— Acho que seria interessante fazer um concurso cultural para que duas pessoas pudessem ganhar convites de graça. Vi que todas as demais ações são para eles ganharem descontos de 50%, mas por que não oferecemos dois convites? Pode ser a criação de uma frase ou um vídeo que comporte uma mensagem de união e integração entre os alunos.

— Mas como seria isso? Por meio de uma votação, Ginny?

Ele se dirigiu a mim e eu quase perdi o rumo de meus pensamentos. "Ou ele mudou bastante ou ele tá sendo completamente cínico em me tratar tão bem assim, mesmo depois de tudo que aconteceu!"

— Poderíamos pedir que eles enviassem esse material até a quarta-feira. A votação poderia ser no próprio evento da festa no Facebook e o resultado seria divulgado na sexta ao meio-dia, pois quem não ganhar ainda terá tempo de comprar seu ingresso. Creio que já podemos ir adiantando essa promoção, mesmo que as aulas ainda não tenham começado.

— Podia ser um concurso cultural sobre o que a London representa em sua vida, o que acham? - sugeriu Dean.

Tinha que concordar que era uma ideia institucionalizada, mas, como o intuito era justamente esse, pensei que poderia ser uma boa "sacada".

Lupin ficou alguns segundos analisando a proposta. Amélie optou por concordar e Harry disse que iria se abster, pois não tinha uma opinião formada sobre a questão e muito menos conhecimento na área, como os demais na mesa.

— Eu acho que é uma boa iniciativa, só temos que ter um ótimo filtro para não colocar qualquer material com o nome da London na internet.

— Uma possível saída seria fazer uma triagem, que poderá ser feita por nós, membros da comunicação. Depois, nós passaríamos os selecionados para o centro acadêmico, que ficará responsável pela votação e apuração - afirmei.

Percebi que Amélie me olhava com um misto de admiração e surpresa por todas as minhas iniciativas. Eu realmente me sentia engajada e animada para que a semana da recepção desse certo.

— Perfeito, Ginny. Algo mais, Harry? - questionou Lupin, olhando diretamente para o moreno de olhos verdes.

— Não, professor. Eu só precisaria discutir com Amélie e o restante da equipe sobre as postagens. Claire e eu estamos com algumas dificuldades em relação às postagens e o nosso diretor de comunicação pediu afastamento do cargo por tempo indeterminado por motivos pessoais. Ele irá trancar o curso neste semestre.

— Claro, Harry. Pode passar diretamente para Ginny, tudo bem? Ela é nossa mais nova responsável pelas nossas mídias sociais - O pânico começou a crescer dentro de mim. Por que Amélie designou esse trabalho justo para mim? Não queria ter uma conversa particular com Harry Potter.

— Okay.

— Sem mais delongas, estão todos dispensados. Qualquer dúvida, me mandem um e-mail. Espero colaboração e trabalho em equipe de ambas as partes, algo que eu percebo que já vem ocorrendo. Muito obrigado a todos. - Lupin encerrou as atividades e eu peguei meu caderno planejando sair o mais rapidamente da sala.

— Ginny, poderia esperar, por favor? Queria já acertar contigo os detalhes do plano de comunicação da semana voltado às mídias sociais? Teria um minuto? Eu acho que falar é mais fácil que mandar um e-mail - Harry me chamou assim que eu colocava as mãos na porta. Fiz o meu caminho de volta e concordei com um leve aceno de cabeça.

Minha chefe e Dean disseram que iriam para nossa sala e Lupin voltou para o seu escritório, se despedindo brevemente de nós dois. Eu percebi quando ele olhou rapidamente para Harry, como se estivesse o alertando sobre alguma coisa. Quando a porta bateu, era apenas nós dois próximos à mesa de reuniões.

Me sentei sem dizer uma palavra e esperei ele começar a expor suas ideias. Não seria eu que, depois de todos esses anos, iniciaria um diálogo.

— Fiquei surpreso quando soube que você seria a nova estagiária de comunicação da London. Parabéns pelo cargo! - Ele me disse abrindo novamente seu caderno e procurando a página que deveria ter informações sobre o que ele queria me passar.

— Obrigada, eu acho.

Eu estava nervosa por dentro, pois eu não esperava encontrá-lo tão rapidamente após o meu retorno a Londres.

— Bem, vamos direto ao assunto: eu e Claire, que é minha vice-presidente, estamos tendo dificuldades para trabalhar com as postagens. Não entendemos muito de artes e acabamos agendando os posts para horários que não estão dando muito engajamento, por isso, gostaríamos de saber se vocês poderiam tomar conta das contas de mídias sociais até o fim da semana de recepção. Seria apenas postagens sobre o evento em si, pois os demais trabalhos desenvolvidos pelo centro acadêmico continuarão sobre a nossa responsabilidade. É que como nós dois trabalhamos fora e o nosso diretor de comunicação deu para trás, não estamos sabendo lidar com o acúmulo de tarefas. - Ele sorriu em minha direção.

— Claro. Sem problemas, Potter. Algo mais?

— Não, muito obrigado, Ginny.

— Me passa por e-mail, por favor, os logins e as senhas de todas as contas de mídias sociais, que eu vou conversar com Dean para ter algumas ideias sobre artes. Antes de postar, te mandarei uma mensagem com o conteúdo e, se você aprovar, nós postaremos. Pode ser?

— Perfeito.

— Posso ir, Potter? Ou ainda tem mais alguma coisa para me dizer?

Quando percebi que ele ficou mudou, me levantei da cadeira e seguia em direção a porta quando fui chamada novamente.

— Na verdade, tem sim!

Ele me olhou profundamente e eu apenas levantei o queixo em sinal de desafio para o que quer que ele tivesse para me dizer.

— Não precisa me chamar de Potter, pode me chamar de Harry.

Foi nesse momento que o meu sangue subiu: como ele se atrevia, depois de todos esses anos, fingir uma amizade sincera comigo? Eu abri e fechei a boca no exato momento em que ele guardava seu caderno na bolsa. Fiquei exasperada!

— Escuta aqui: eu não sou sua amiga, entendeu? Nós nos reencontramos, por acaso, e eu pretendo manter nossa relação o mais profissional possível. Eu não quero mais contato contigo além do que eu já estou tendo, okay? - toda a raiva e o nervosismo que eu não sabia que existiam dentro de mim desde o início daquela reunião explodiram.

— Eu sei que eu não sou a pessoa que você esperava nesse cargo, mas eu gostaria de que nós pudéssemos deixar nossas histórias e nossos problemas de lado, Ginny. Eu mudei e eu tenho certeza que você também mudou, por isso, eu não vejo mais razão para te odiar ou ser rude com você. Eu não sou mais o mesmo garoto que você deixou para trás, Ginny.

Menina do céu, por essa você não esperava, né? - pensei comigo mesma.

— Que eu deixei para trás? É uma ótima perspectiva da situação, eu devo admitir, Potter! - Não pude deixar de ser sarcástica.

— Admito que fui estúpido com você anos atrás, mas nós somos dois adultos agora e eu gostaria de, pelo menos, manter uma relação civilizada contigo, Ginny. Sem gritos, sem palavras de raiva ou ódio, sem falsas cordialidades ou sarcasmos. Se você não quiser ser minha amiga, tudo bem, eu entendo perfeitamente e você tem todo o direito do mundo. Mas podemos ter uma relação saudável de colegas de trabalho, pelo menos? - ele estendeu a mão em minha direção.

Eu não sabia o que fazer porque, por um lado, ele estava sendo sensato e agindo como um adulto que reconhece seus erros e se propõe a superá-los. Por outro lado, eu não sabia se poderia confiar nesse Harry ao ponto de deixá-lo ingressar novamente em minha vida. Eu tinha medo de aceitar esse acordo e, posteriormente, me arrepender dele.

Ele percebeu minha hesitação, tanto que ele deu outro passo em minha direção, como que para provar que ele era uma “pessoa do bem”.

— Ginny, eu não espero que você morra de amores por mim, mas nós teremos que conviver com uma certa frequência nesse semestre e, principalmente, nessas próximas semanas por causa da semana de integração. Só gostaria que nós pudéssemos ter uma conversa civilizada e trabalhar juntos sem qualquer tensão que possa existir entre nós. E eu realmente gostaria de poder descobrir essa nova mulher que se apresentou hoje para mim, que tem tantas ideias e que fez parte de grande parte da minha infância e adolescência.

Ele continuou com a mão em direção a mim.

— Quem é você e o que fez com Harry James Potter?

Harry caiu na gargalhada com a minha pergunta e eu não pude manter minha seriedade por mais tempo.

— Eu disse que mudei. Confesso que quando eu soube que você tinha voltado e que iria trabalhar na London, pensei por vários momentos se eu deveria continuar nutrindo certa animosidade em relação à você, mas, depois de conversar com algumas pessoas e comigo mesmo, cheguei a conclusão que eu seria muito idiota de permanecer pensando dessa forma.

— Você conversou com quem? - Minha curiosidade falou mais alto nesse momento.

— Lupin e minha mãe, que, aliás, está morrendo de saudades de você.

Tudo ainda poderia ser uma pegadinha e eu ainda poderia me machucar com essa possível amizade, mas decidi tentar.

— Não prometo que serei sua amiga novamente, mas prometo manter, pelo menos, uma relação profissional saudável contigo. Tudo bem?

— Tudo bem. Obrigado, Ginny. – Ele começou a arrumar suas coisas. - Bem, eu preciso ir. Boa sorte com o novo trabalho.

— Obrigada, Harry.

Ele saiu da sala deixando meus pensamentos embaralhados. Meu desejo era estar com o celular nas mãos para poder contar todos os detalhes à Megan.


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Notas finais do capítulo

E não é que o grande encontro chegou? Eu gosto muito da pessoa que o Harry se tornou e estou ansiosa para saber o que vocês acharam dessa conversa entre os dois. Não deixem de me contar nos comentários. Um grande beijo e até o próximo!



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