Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 6
Capítulo 5




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Capítulo 5 - Harry II

 

Sai da sala de reuniões respirando fundo. Ver Ginny na minha frente, depois de todos esses anos, foi um misto de emoções que eu não esperava. Foi uma mistura de raiva, ódio, ressentimento, amor, saudade e paixão.

Mesmo depois de quatro anos e namorando outra garota, Ginny Weasley ainda tinha um grande poder sobre mim, eu tinha que admitir, mesmo não gostando. E vê-la só fez esse poder aumentar ainda mais. Foi quase impossível permanecer sentado, ouvindo todas aquelas pessoas e saber que eu não poderia abraçá-la como eu gostaria desde que meus olhos se fixaram na sua imagem. Se eu achava que eu estava preparado para vê-la, eu estava muito enganado.

Caminhei em direção ao estacionamento e afrouxei a gravata que apertava o meu pescoço. Eu realmente odiava usar terno, mas sorri ao me lembrar dela me olhando quando entrei na sala, em como os seus olhos castanhos se arregalaram apenas ao me ver desse jeito. Por que mulheres gostavam tanto de homens vestidos de terno? Eu nunca saberia!

Acionei o alarme do carro, abri a porta, sentei no banco do motorista, tirei e coloquei o paletó no banco do carona e encostei minha cabeça no volante, puxando o ar com força. Remo e minha mãe não poderiam brigar comigo, não é mesmo? Eu fiz minha parte do acordo: fui simpático e tentei, de todas as formas, fazer com que nossa relação fosse profissional.

O Harry de alguns anos atrás, provavelmente, tentaria ser grosso ou irônico com Ginny. Mas eu me surpreendi com meu próprio comportamento, pois o baque tinha sido tão forte que minha respiração ainda estava descontrolada. O coração batia tão rápido que eu parecia que estava tendo um infarto. “Malditas ruivas!”, pensei.

Consegui sair do meu estado letárgico e pluguei meu celular no rádio do carro. Como eu iria no show do Foo Fighters com Claire no próximo mês, eu estava ouvindo todas as músicas da banda com certa frequência e coloquei em uma que há anos eu não ouvia, pelo simples fato que me lembrava muito de Ginny. Se antes eu tinha receio de apenas ouvir os acordes e temia a minha reação de pavor durante o evento somente pela possibilidade de escutá-la, agora me parecia a música mais certa possível.

Foo Fighters sempre foi minha banda preferida desde a adolescência e era algo que eu compartilhava com ela. Nós ouvíamos todos os CDs e costumávamos acompanhar a vida dos músicos pela internet, em uma época que o acesso ainda era complicado para a maioria das pessoas. Nós tínhamos a discografia completa e quando eu ganhei o meu primeiro carro dos meus pais, aos 18 anos, foi a banda que escolhemos para tocar no rádio durante o passeio de estreia.

These Days era a música preferida de Ginny e, por isso, quando terminamos eu me proibi de ouvir a canção por um bom tempo. Todos os acordes me doíam pelo simples fato de lembrá-la demais. No entanto, hoje foi impossível não colocá-la no último volume.

E se eu fosse pensar, a letra poderia se referir facilmente à mim. E, por isso, eu comecei a cantar com toda a minha força enquanto seguia sem rumo por Londres.

One of these days, I bet your heart’ll be broken, I bet your pride’ll be stolen, I’ll bet, I’ll bet, I’ll bet, I’ll bet. One of these days, one of these days. (Tradução: um dia destes, eu aposto que seu coração será partido. Eu aposto que seu orgulho será roubado. Eu aposto, eu aposto, eu aposto, eu aposto. Um dia destes. Um dia destes).

Realmente o meu orgulho tinha sido roubado quando eu vi Malfoy beijando Ginny; quando eu me permiti ser reconhecido como o “homem traído” da faculdade; quando eu deixei-a ir embora; quando eu aguentei todos os comentários ruins sobre o nosso relacionamento; quando eu reconheci que eu sentia sua falta….

One of these days, your eyes will close and pain will disappear. One of these days, you will forget to hope and learn to fear. But it’s alright. Yes, it’s alright. I said it’s alright. (Tradução: Um dia destes, seus olhos se fecharão e a dor desaparecerá. Um dia destes, você esquecerá de ter esperança e aprenderá a temer. Mas está tudo bem. Sim, está tudo bem. Eu disse que está tudo bem).

Fiquei pensando se estava tudo bem como eu tinha dito à Ginny. “Será?”. Se todas as vezes que eu encontrá-la eu ficasse desse jeito, então, era melhor que eu buscasse meios de me afastar. Só que tinha um porém: eu não queria me afastar. Nunca mais!

Segui por mais uns dez minutos no trânsito congestionado de fim de tarde me questionando sobre esse assunto. Estava óbvio que eu não a odiava e eu deixei claro esse tópico quando fiz a proposta de nos tornarmos amigos de novo.

Outra coisa que eu me perguntei foi sobre o que ela estaria pensando nesse momento: será que ela me achou doido? Será que ela vai aceitar essa trégua? Será que ela achou que foi uma bobagem e vai me ignorar no próximo encontro que tivermos? Será que ela achou que eu estava mentindo?

Foi despertado dos meus pensamentos por uma buzinada. Provavelmente eu devia estar tão desatento que eu não percebi que o sinal tinha ficado verde.

Comecei a diminuir a velocidade para tentar me localizar e percebi que estava próximo ao parque do meu bairro. Tentei estacionar o mais perto possível da área verde, onde eu costumava sentar para pensar.

O parque se tornou meu refúgio quando queria pensar. Tudo começou no ensino médio, quando a decisão sobre o curso que eu deveria escolher pesava. Meus pais queriam que eu fizesse medicina, mas eu morria de medo de sangue - Deus me livre segurar um bisturi!

O filho único fazendo medicina seria um grande orgulho para a família, embora, eles me deixassem livres para eu fazer o curso que eu mais gostasse. Quando eu disse que queria seguir carreira jurídica e defender as pessoas, meu pai ficou dois dias sem falar comigo para depois concordar que eu jamais seria feliz em um hospital. Desde então, ele me apoia em todas as decisões. Minha mãe, como sempre, ficou do meu lado, não duvidando da minha capacidade em nenhum momento.

Sai do carro e fui caminhando até minha árvore preferida, que possuía a vista mais linda do Lago Negro. Embaixo de seus galhos, eu costumava tomar minhas decisões ou ruminar meus pensamentos o máximo possível longe dos olhares de dona Lily. Me sentei, arregacei a calça social que eu usava para não sujá-la, arregacei também as mangas da camisa e tirei os sapatos. Mais confortável, impossível.

Não era apenas eu que visitava o parque com frequência. Como eu “batia” ponto quase todos os dias no primeiro ano após a ida de Ginny para os Estados Unidos, eu acabei fazendo um perfil das pessoas que também visitavam o local: havia a senhora dos doces, que costumava vender seus quitutes ao pôr-do-sol; a corredora que sempre fazia o seu trajeto com fones de ouvido e o homem jovem e loiro com suas duas filhas gêmeas, que adoravam os brinquedos que estavam instalados próximo ao lago.

Com o tempo, eu até procurava cumprimentá-los, principalmente se eu estivesse de bom humor. O parque era um local tão agradável e que me trazia tanta paz que eu poderia ficar embaixo da sombra da minha árvore preferida por horas e horas sem me cansar.

Foi com surpresa que a senhora dos doces caminhou até minha direção.

— Deseja alguma coisa querido? Tenho algodão doce e até sorvete para enfrentar esse verão atípico!

— Muito obrigado, mas estou sem fome nesse momento. Fica para uma próxima! - Tentei sorrir. Eu realmente estava sem apetite depois da reunião, principalmente porque meu estômago revirava com tantos sentimentos conflituosos que eu sentia naquele momento.

— Tudo bem, querido! - Ela pegou na alça do carrinho e se preparou para ir embora quando decidiu me dizer mais alguma coisa. Percebi que ela se sentia desconfortável com o que quer que saísse dos seus lábios.

— Desculpa dizer isso, mas faz tanto tempo que eu não te vejo no parque e eu achei que você merecia essas palavras. Nas primeiras vezes que eu te observei você carregava um semblante tão triste, tão magoado com a vida. Com o tempo, você foi mudando seu jeito e suas feições receberam características de raiva, ódio e até ressentimento. Nos últimos meses que eu te vi, e diga-se de passagem, faz um certo tempo, você me parecia mais leve, mais tranquilo e até conformado com o que, sei lá, tenha acontecido contigo. Hoje, novamente, te vejo triste e, até mesmo, confuso. Não gostaria que aqueles sentimentos voltassem para o seu coração. Quer conversar?

Fiquei sem reação: em meio à minha dor, minhas angústias e pensamentos, alguém conseguiu me observar e traduzir. De certa forma, achei-a meio enxerida, mas que mal me faria abrir meu coração para uma estranha, não é mesmo? Decidi falar “meias verdades”.

— Uma pessoa que eu amava muito me magoou há alguns anos. Eu vinha no parque para espairecer e pensar no que tinha acontecido. Com o tempo, essa coisa foi apaziguando e eu segui em frente. Só que hoje eu a reencontrei e eu não sei lidar com o que aconteceu. Por mais que eu diga que está tudo bem e tente reestabelecer esse contato, mesmo que de outra forma, eu estou em conflito: por mais que eu queria odiar essa pessoa pelo o que ocorreu, eu não consigo, entende? E não faz mais sentido eu sentir toda essa raiva… Acho que eu precisava voltar para esse lugar para colocar meus pensamentos em ordem e quem sabe ficar em paz.

— Entendi. Espero que você e essa pessoa consigam deixar o passado para trás. Você é jovem e, provavelmente, vai achar que eu estou me metendo em coisas que eu não entendo… só que eu já vivi, pelo menos, o dobro da sua idade - disso eu não duvidava. Ela realmente tinha cara de velha - e, por isso, te digo que não vale a pena sentir mágoa ou ódio de alguém. Isso nos corrói, machuca e não traz nenhum bem. Se eu posso te dar um conselho: perdoe, de coração. Isso te deixará livre e aberto para as possibilidades que a vida te trará. Vejo muitas coisas boas pela frente para você, querido, inclusive com essa pessoa que você diz que te magoou muito. Toda história tem dois lados, nunca duvide disso!

Tá, agora eu tô confuso: a mulher é vidente?

Ela piscou o olho esquerdo, deu um sorriso e continuou seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Suas palavras, no entanto, ficaram martelando em minha mente. Tanto ela quanto Remo e minha mãe disseram a mesma coisa, porém, com outros termos: perdoe e siga em frente, pois guardar esses sentimentos ruins dentro de você não te fará bem. Sem falar, que destinar todas essas coisas em direção à Ginny também não traria bem nenhum à ela.

Talvez fosse hora de voltar à minha psicóloga para uma breve conversa. Para colocar para fora todas essas coisas e receber, quem sabe, um último conselho. Vai ser a primeira coisa que irei fazer assim que chegar em casa. Marcarei uma consulta com Christina.

**

— Harry? O que te traz aqui?

Me levantei da poltrona em que estive sentado por quase 30 minutos.

— Precisava conversar contigo.

— Aconteceu alguma coisa? - disse Christina Watson, minha psicóloga, caminhava em minha direção com o cenho franzido.

— Aconteceu. Por isso marquei um horário. Você pode me ouvir?

— Claro. Vamos na minha sala. Lauren, tenho outras consultas depois do Sr. Potter?

Sentada no balcão de tons avermelhados, a secretária mexeu rapidamente na agenda que sempre ficava ao lado do computador.

— Apenas às 17h, Sra. Watson.

— Perfeito, dessa forma temos muito tempo para conversar! Harry, por aqui. Você já sabe o caminho. - Ela sempre fez esse comentário, principalmente depois das três primeiras sessões do meu tratamento. Dra. Christina me seguiu pelo corredor até sua sala, abriu a porta e me pediu para que me acomodasse na poltrona à sua frente. Eu me sentia em casa nesse cômodo, que me acompanhou por dois anos.

Foi tão difícil conseguir uma consulta, que quase pensei em desistir. Desde meu encontro com Ginny, se passaram quatro dias e eu já estava angustiado com todos esses últimos acontecimentos. Tentar enganar minha mãe e Claire sobre meu estado/humor nesse período não foi algo muito fácil.

Dra. Watson foi a única pessoa que eu pensei em conversar seriamente sobre esse assunto, uma vez que ela acompanhou todo o meu tratamento contra a depressão. Foram longos dois anos vindo todas as semanas no consultório da Dra. Watson, que se transformou em uma grande amiga. Desde que recebi alta, nós apenas trocamos mensagens via WhatsApp. Por isso, ela me olhou com curiosidade e, de certa forma, com estranheza pela minha aparição.

— Então, Harry, o que te traz ao meu consultório?

Eu não sabia por onde começar, por isso, decidi ser direto.

— Eu estou confuso, Chris. Nos últimos dias, eu tentei organizar os meus pensamentos para não entrar em conflito, mas não consegui.

— Certo. Mas o que aconteceu? – Ela me encarava com curiosidade, enquanto cruzava as pernas.

— Ela voltou.

Dra. Watson me olhou novamente, sem entender o meu comentário.

 - Ela? Ela quem?!

 - A Ginny. Ela voltou para a Inglaterra e está fazendo estágio na minha universidade. Nos encontramos nessa semana durante uma reunião para um evento que o centro acadêmico está promovendo.

— E como foi? - Como minha psicóloga, Christina sempre me fazia pensar sobre o assunto de uma perspectiva “de fora”, ou seja, eu era obrigado a colocar todos os meus sentimentos “em cima da mesa”, como em um jogo de cartas. Essa tática me ajudava a pensar de forma racional e, posteriormente, tomar decisões para a ação, mesmo que o resultado seja “não fazer nada” ou “deixar para lá”.

 - Foi estranho. Eu não sei o que pensar. - Coloquei minhas mãos no rosto e senti quando as primeiras lágrimas saíram de meus olhos. Finalmente, eu deixei que a tristeza tomasse conta de mim por completo.

— Você sabia que ela estava voltando?

 - Lupin me contou há algumas semanas. Mas eu só a vi no começo da semana. Eu achava que estaria tudo bem, que eu ia conseguir me manter neutro diante da situação, porém, eu acabei ficando mexido com a presença dela.

 - Então, você se sentiu, de certa forma, surpreso?

— Não sei se surpresa é a melhor palavra. Me senti confuso. Não há toda aquela raiva que eu sentia quando ela se foi, porém, sinto uma espécie de torpor, em que eu não sei o que fazer na sua presença, não sei se devo odiá-la ou ignorá-la. Sem falar que minha mãe e Lupin me pediram para ser civilizado com ela, tentar manter, pelo menos uma relação profissional. Não sei se eu quero isso, porém, não vejo o porque não devo fazê-lo, entende?

Meu coração batia de forma acelerada.

— E como ela te tratou? Suponho que vocês conversaram?

— Em um primeiro momento, ela tentou não me olhar ou me dirigir à palavra. No final da reunião, eu inventei uma desculpa qualquer para conseguir conversar com ela particularmente. Ela estava recoberta com todo o orgulho e quase não me deixou expressar meu plano de voltarmos a sermos, pelo menos, colegas de trabalho. Mas depois acabou topando.

— Já pensou que, talvez, você devesse dar uma chance para ela? Uma chance real, Harry, de finalmente ela te contar o que houve naquela noite?

Suspirei fundo. Christina me disse, mais de uma vez, que eu deveria ter conversado com Ginny sobre o baile da formatura. Ter assuntos mal resolvidos, em sua opinião, não eram uma boa coisa e, por isso, nós devemos sempre tentar deixar as coisas claras, principalmente quando se trata de ex-namorados ou ex-amores.

— Você se lembra de quando chegou nessa sala, Harry? - Ela continuou e eu apenas escutava sua voz, ainda com o rosto entre as mãos. - Você sentia uma raiva tão grande dela que não conseguia tocar sua vida para frente. Mas, no fundo, você sabia que ela não tinha culpa do que aconteceu, tanto é que ela preferiu ir embora do que continuar do seu lado, mesmo que você a odiasse. Ela deixou o tempo curar suas feridas, mas nós dois sabíamos que ela não ficaria nos Estados Unidos para sempre. Você chegou até a me dizer que a perdoava antes de receber alta.

 - Uma coisa é eu dizer que a perdoava quando havia um oceano de distância entre nós. Outra coisa é vê-la na sala de reuniões da universidade. Eu tive que realmente fingir que estava tudo bem, mas no fundo eu queria abraçá-la e conhecê-la de novo. Ela tava tão diferente. Parecia outra garota! - Consegui levantar o meu rosto para encarar minha psicóloga.

— E ela é. Essa história ocorreu há quatro anos. Vocês dois viraram jovens adultos, com responsabilidades, com outros momentos, amigos e repertório. Você não é mais o Harry que ela conheceu na infância e adolescência e ela não é a mesma Ginny que você deixou partir. Vocês são duas novas pessoas! Todos mudamos, basta querermos.

— E se ela não mudou? - questionei.

— Você nunca vai saber se não conversar com ela, conhecê-la e deixar que ela te mostre quem ela realmente é. Eu não conheço a versão da Ginny dessa história, Harry, mas eu te garanto que ela adoraria te contar, só pelo jeito que ela te tratou nesse primeiro encontro. O orgulho me mostrou que ela se ressente, de alguma forma, do que aconteceu. Ela só não sabe como chegar em você para contar a perspectiva dela do assunto.  

— Ela topou que nós mantivéssemos um relacionamento profissional.

— Pelo que você me relatou, ela é bem teimosa. Considere como algo bem positivo ela abrir o caminho para você se aproximar. Me parece que ela deseja essa aproximação tanto quanto você, porém, ela não sabe por onde começar ou tem medo de se machucar novamente.  

Christina levantou de sua poltrona, pegou um lenço que ficava na mesinha ao lado e me passou.

— Dê uma chance para Ginny. Deixa-a se aproximar e mostrar para você como ela, de fato, é. Não deixe o passado te tragar novamente, Harry. Nós dois sabemos que essa história não acabou. E esse encontro te mostrou isso, senão você não ficaria tão mexido! Eu não sou nenhuma feiticeira, porém, conheço meus pacientes com a palma da minha mão e eu sei que você, no fundo, deseja esclarecer essa situação para seguir em frente.

— Não posso fazer isso com a Claire - olhei de volta para minha psicóloga com um misto de horror e medo.

— Não é para você largar a Claire. Mas vocês dois precisam colocar um ponto final nesse passado. Você já pensou que podem virar bons amigos?

— Não sei. - Eu realmente não sabia se conseguiria, ao mesmo tempo, voltar a ser amigo de Ginny e deixar os meus sentimentos reprimidos à tona. Por mais que eu sentisse falta de nossas conversas, de nossas brincadeiras e também ansiasse por ter minha amizade de volta com Ron e Hermione, eu não poderia me deixar passar por tudo aquilo novamente.

 - Não é justo! - reclamei.

Ela apenas riu.

 - A vida não é justa, Harry. Pense nisso. Coisas mal resolvidas no passado sempre voltam à tona. De um jeito ou de outro.

Christina sempre me dizia isso. E ela tinha razão. Suspirei.

 - Tudo bem. Vou ver o que dá essa história. Você, Lupin e minha mãe tem uma certa razão: eu preciso deixar essa história, definitivamente, para trás.

— Deixe as coisas fluírem e seja honesto com a Claire. Independente do que for, eu tenho certeza que você saberá o que fazer na hora certa.

— Como assim? - Me sentei ereto na poltrona, com o semblante confuso.

— Estou dizendo que, independente de suas ações nesse caso, Claire entenderá. Só não minta para você mesmo, Harry. Se escute, ouça seu coração e se permita reconhecer suas vontades, por mais loucas que elas sejam. Você amadureceu demais nesses últimos anos, o que me orgulho demais, porém, às vezes, nós temos que voltar a ser crianças e dar razão para nossas vontades mais primitivas. O autoconhecimento nos proporciona essa noção, principalmente por nos oferecer a possibilidade de conhecer nossos limites e nos amar acima de tudo. Você e Ginny, além da Claire, são apenas peças nesse tabuleiro chamado vida. Por mais que tentemos salvar todas as peças do jogo, uma hora nós teremos que sacrificar uma delas para alcançar a vitória. Pense nisso, ok?

Com um suspiro, concordei com a cabeça para minha psicóloga, mesmo que eu não tivesse entendido nada dessa analogia. Eu nunca tinha aprendido a jogar xadrez tão bem quanto Ron.

— Harry, nosso tempo acabou. Você tem algo a mais que queira me contar?

Negando, me despedi de Christina com a certeza de que eu teria uma longa e árdua tarefa pela frente: dar uma chance para minha mais recente amizade com Ginny Weasley.


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Notas finais do capítulo

Sabe o que eu mais gosto de escrever quando a história está no POV do Harry? É essa dinâmica mais madura da vida dele. Mostrar que as pessoas podem errar, mas elas também podem mudar sua perspectiva das coisas. Complicated entra em uma nova fase, digamos assim, em que eles irão conversar mais, irão interagir e, quem sabe, se amar ainda mais :P Grande beijo.



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