Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 4
Capítulo 3




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Capítulo 3 - Harry I

Domingos, em minha opinião, eram para o descanso completo. Dia de colocar o sono em ordem, de assistir filmes até cansar, de comer até se empanturrar e também de curtir a preguiça. Só que minha mãe tinha uma concepção diferente de como aproveitar os domingos: ela adorava chamar os amigos da família para um delicioso almoço, que geralmente se estendia até o jantar.

Eu entendia que ela gostava de reuniões, de conversar sobre todos os assuntos possíveis e celebrar a amizade, porém, eu estava tão cansado da jornada de estágio/faculdade que só queria dormir até o fim do ano - se isso fosse possível.

Na noite anterior, eu e Claire tínhamos viajado para uma cidadezinha próxima a Londres. O objetivo era, justamente, relaxar e aproveitar o resto das férias juntos, uma vez que nossas aulas deveriam retornar em breve. Tecnicamente já era para eu estar formado, mas como eu sou mestre em pegar DPs, acabei sendo obrigado a permanecer mais um semestre na London. No fim das contas não foi tão ruim, pois me permitiu permanecer mais seis meses como presidente do centro acadêmico, ter mais tempo para estudar para o exame da ordem e, de quebra, passar mais tempo com a minha namorada.

Claire era minha caloura, por isso, ela ainda tinha mais um ano de estudos pela frente. Minha mãe costumava dizer que se eu não me cuidasse era capaz que ela se formasse primeiro que eu. Eu não duvidava!

Olhei para o despertador do lado da cama e gemi. Era 9 horas e eu tinha certeza que não iria demorar para dona Lily bater na porta do quarto. Depois de cinco minutos, meus pensamentos foram concretizados.

— Harry? Tá na hora de levantar. Remo já está chegando! - Ela tinha o melhor senso de horário, principalmente quando envolviam os domingos.

— Já vou, mãe! Vou tomar um banho antes de descer, ok?

— Só não demora muito. Claire vai almoçar aqui?

— Não. Ela vai passar o domingo com os pais.

— Que pena! Bem, estou lá embaixo.

Consegui ouvir seus passos em direção a escada.

— Tenho 22 anos e ainda sou acordado pela minha mãe. Que fase, hein Potter?

Com muito custo, sai da cama e me dirigi ao banheiro que pertencia ao meu quarto. Desde criança eu tinha dificuldades para acordar, por isso, desenvolvi o hábito de tomar banho pelas manhãs como uma maneira de ficar mais desperto. Nem sempre eu conseguia esse feito, mas o importante era tentar, não é mesmo?

Meia hora depois eu estava limpo e com roupas confortáveis para um almoço de domingo em minha própria casa, por isso, não me importei de colocar meus chinelos – afinal a ocasião pedia! Da escada, eu consegui ouvir a risada alta da nova namorada de Sirius. Marlene era uma pessoa ótima, engraçada e eu estava muito feliz pelo relacionamento dela com meu padrinho, mesmo que eles estivessem há pouco tempo juntos.

Consegui também distinguir as conversas altas entre Sirius, Remo e meu pai e a correria típica de Teddy pela sala. Mamãe e Tonks deveriam estar conversando na cozinha, pois foram as únicas das quais eu não escutei nenhum pio.

— Até que enfim a bela adormecida acordou! - Sirius e o seu senso de oportunidade para piadas nunca falha.

— Hoje é domingo, Sirius. É o dia de dormir até tarde, curtir a preguiça e ficar de pijama, porém, infelizmente meus pais não pensam a mesma coisa.

— Até parece que no domingo passado você acordou às 6h, foi caminhar no parque, aguou as plantas da sua mãe e deu comida para o cachorro. Faz-me o favor, né Harry? Você dorme para caramba! - meu pai abriu espaço para que eu sentasse no sofá. No de três lugares estava eu, papai e Remo. Marlene e Sirius dividiam o de dois lugares abraçadinhos.

— Casalzinho novo é uma água mesmo, hein Sirius e Marlene? - Não pude perder a oportunidade de zoar meu padrinho.

— Como se você e Claire não ficassem agarradinhos o tempo todo.

— Falando nisso… cadê ela? - Remo se dirigiu à mim.

— Vai passar o domingo com os pais. Nós viajamos ontem para Windsor. Claire pirou no castelo. Por que mulheres sempre gostam de contos de fadas?

— Uma história de princesas encanta todo mundo, porém, não são todas que querem ser resgatadas pelos seus príncipes. É lindo lá em Windsor, Harry? - Marlene adorava viajar, por isso, não estranhei sua pergunta.

— É bem bonito, dá para ver a troca da guarda e os tickets são baratos. Mas eu gostei mesmo do parque temático da Lego. E por ser apenas 40 quilômetros de distância de Londres, vale a pena visitar, mesmo que por um dia.

— Vocês podiam ter estendido até o domingo, não?

— Nós gostaríamos, mas combinamos que fecharemos nossas férias em Cambridge. Claire quer conhecer a cidade para ver se vale a pena tentar o mestrado no próximo ano. E eu, como não sou bobo, quero experimentar um pint de cerveja na área externa do The Anchor Pub. Todos falam que é incrível!

— Cambridge é linda. Vocês vão adorar - Remo comentou - Eu recomendo dar uma passadinha no centro histórico. Como Claire é apaixonada por história, ela vai adorar fazer esse passeio.

— Anotado. Faremos isso - eu sorri para um dos melhores amigos do meu pai e também reitor da universidade em que estudava. Remo era o típico “nerd” e sempre que podia me recomendava ótimas séries no Netflix.

Enquanto meu pai, Sirius e Marlene discutiam o próximo destino de férias, uma vez que eles marcaram uma viagem somente os três e minha mãe - Remo não poderia comparecer dessa vez por causa do semestre letivo da London e das aulas de Teddy - nós dois conversamos sobre Sherlock, a última série que ele tinha me recomendado e na qual eu estava realmente viciado. Todos os momentos da minha vida em que eu não estava com Claire, estudando para ordem ou trabalhando, eu, provavelmente, estarei vendo Sherlock.

Não demorou trinta minutos e minha mãe chamou todos para irem até a cozinha, onde o almoço estava prestes a ser serviço. Quando estava me levantando, Remo me chamou.

— Harry, será que você teria um instante? Eu gostaria de conversar com você sobre algumas coisas da London em particular. - Notei que ele deu uma olhada de relance para meu pai.

— Claro. Vamos na varanda?

— Sirius e Marlene, vocês gostariam de uma dose de conhaque? Lily trouxe uma garrafa da nossa última viagem e eu devo dizer que o fundo de mel é fantástico. - Meu pai encaminhou o casal até o bar, que ficava no outro canto da sala e eu e Remo nos dirigimos para a varanda, que ficava no segundo andar de nossa casa. O espaço dava para uma linda praça localizada no centro do bairro.

— Harry, eu preciso te contar uma coisa antes do início do ano letivo e eu realmente não sei como você vai reagir...

Remo me pareceu apreensivo antes de se escorar na borda da grade que fechava a varanda.

— O que é tão importante que não pode esperar o começo das aulas?

Eu estava curioso, pois esse tipo de comportamento não era do feitio de Remo.

— Como presidente do centro acadêmico, você deve ter ficado sabendo que nós estávamos procurando um novo estagiário de comunicação.

— Certo. - Não sabendo o que eu tinha a ver com isso, fiz o sinal para ele continuar a falar.

— Pois bem, foi um processo difícil porque não tivemos muitos candidatos. Os nossos alunos do quarto ano, que estariam habilitados para a vaga, não se candidataram porque já estavam empregados. O que é ótimo, não me leve a mal, mas isso fez com que o processo se arrastasse por meses.

— Me lembro que até tivemos que fazer a campanha de reeleição porque a faculdade não tinha um estagiário. Mas o que isso tem a ver comigo?

— Calma! Você já vai entender… Ron, aquele seu amigo….

— Ronald não é mais tão meu amigo. Você sabe disso muito bem!

— Ok. Ron, seu ex-amigo, me perguntou se a irmã dele poderia participar, pois ela precisava fazer o estágio obrigatório para se formar em jornalismo pela Universidade de Miami. Como eu precisava de um novo estagiário e o currículo dela era muito bom, nós acabamos contratando-a.

Foi nesse momento que minha ficha caiu.

— Você quer me dizer que Ginevra vai trabalhar na London?

— Exatamente. Achei justo te contar antes que você ficasse sabendo por outras pessoas e também porque vocês deverão trabalhar juntos nesse semestre para promover eventos e a próxima eleição do centro, além da semana de recepção, que deve ocorrer em breve.

Eu caminhei até a cadeira de balanço mais próxima de mim e coloquei as mãos no rosto. Não podia ser verdade: a garota que eu não podia ver na minha frente estaria convivendo ao meu lado durante seis meses. Remo deveria estar me zoando!

— Você tem certeza que é Ginevra? Vai que o Ron tem outra irmã, né?

— Harry, para de ser irônico! Você e eu sabemos muito bem que os Weasleys só têm uma filha mulher. O currículo dela é realmente bom, não sei porque ela não conseguiu uma vaga de emprego nos Estados Unidos. Se te consola, eu tentei ser contra a sua contratação, mas também sou amigo de Arthur e não achei justo fazer isso com a filha dele.

— E é justo comigo?

— A vida não é justa, Harry! E sinceramente, eu sempre achei que você deveria ter deixado Ginny se explicar.

— Explicar o quê? Eu vi o beijo dela com o Malfoy!

— Nem sempre o que vemos é exatamente o que está acontecendo.

— Lá vem você com a mesma história.

Remo caminhou até mim e colocou as mãos nos meus ombros. Eu consegui levantar meu rosto e encará-lo.

— Achei que era importante contar esse fato para você antes de ela começar suas atividades na universidade. E espero, sinceramente, que haja respeito entre os dois, pois vocês terão que conviver por vários momentos neste semestre. Me promete que vai ser civilizado?

— Eu sempre fui civilizado, mas eu não posso garantir o mesmo da Ginevra! – tentei evitar de revirar os olhos diante do comentário dele.

— Irei conversar com ela antes de apresentá-los formalmente como estagiária de comunicação e presidente do centro acadêmico do curso de direito. Não acredito que haverá problemas da parte dela… me preocupa o que você irá fazer!

Suspirei profundamente. Todos os sentimentos aprisionados e tão bem trabalhados na terapia ao longo desses últimos quatro anos voltaram à tona.

— Vou tentar manter uma relação de amizade com ela, pode ser? Não prometo que seria o melhor amigo do mundo, mas tentarei fazer com o nosso trabalho não seja um inferno. Isso te deixa feliz? - perguntei de forma irônica a quem eu considerava um grande homem e como se fosse o meu próprio tio.

— Ótimo. Me deixa muito feliz, Harry. Você não precisa amá-la, porém, acho válido vocês se tratarem com respeito e profissionalismo. É o mínimo que se espera de dois adultos, universitários e jovens.

— O que tem a ver a questão de ser jovem?

— Vocês eram insuportáveis quando eram adolescentes.

Nós dois caímos na gargalhada. Depois de respirar fundo, consegui soltar a próxima frase de forma mais séria.

— Obrigado por me contar, Remo. Significou muito.

Ele me olhou profundamente. - Eu não poderia te deixar fora disso ou te dar um grande susto quando vocês participassem da primeira reunião juntos. Só gostaria que me prometesse uma coisa?

— Lá vem… - brinquei - Pode falar!

— Eu não sei ao certo o que ocorreu entre vocês dois e também não me interessa me envolver nessas questões, mas eu acho que você deveria deixar esse ódio e amargura para trás. Tente dar uma chance para essa possível nova amizade que vocês irão construir. Faça desse semestre um teste para esse reencontro e, quem sabe, você também pode retomar sua amizade com Ron e Hermione. - comecei a protestar, porém ele me interrompeu com a mão levantada.

— Nós dois sabemos que você sente muita falta deles. Embora você negue muito bem!

Quando eu e Ginny terminamos, Ron e Hermione tentaram manter a amizade comigo por mais seis meses. No entanto, eu compreendia o lado deles: eu era ex-namorado da irmã e cunhada, respectivamente, dos dois e, por isso, eles precisavam ter um lado ou se manterem neutros. Me admirou que eles optaram por se manterem neutros e nunca mais tocaram no assunto comigo ou com mais ninguém. Isso significou que nossos encontros ficaram mais esporádicos e quando eu comecei a namorar Claire eles se distanciaram de vez. Isso não significava que nós estivessemos brigados, mas que os interesses e amizades eram outras.

Eu sentia muita falta dos dois, pois éramos amigos desde a infância e eu era o maior apoiador desse casal desde o início. Só que eu entendia o posicionamento deles e eles entendiam o que eu tinha passado. Foram vários meses de terapia para eu aceitar que era normal ter caminhos diferentes dos meus antigos amigos e que tava tudo bem!

— Okay. Farei esse esforço!

— Esse é o meu garoto! Agora vamos almoçar? Sua mãe preparou um arroz de forno que eu tô tentado a não comer a travessa inteira.

Nós dois caminhamos em direção a escada. Embora meu semblante transparecesse calma, meu coração doía como há muito tempo não fazia.

***

Depois do almoço dei uma desculpa qualquer para ficar no meu quarto. A conversa com Remo me deixou pensativo e, de certa forma, amargurado. Sabia que não ia demorar para minha mãe subir as escadas e me perguntar sobre o por quê eu não estar com eles na sala, brincando com Teddy ou falando besteiras com Sirius.

Não estava com clima para qualquer uma dessas coisas. Na verdade, eu me sentia triste, porque todos os sentimentos que eu “dizia” para mim mesmo estarem esquecidos voltaram à tona como em um piscar de olhos.

Sabia que odiá-la para sempre não era uma solução sensata, porém, gostaria de prolongar essa ação por mais algum tempo. Uma hora ou outra Ginny iria voltar para casa e eu tinha que estar preparado para recebê-la, mesmo que seja do outro lado da rua.

Nós ainda éramos vizinhos, o que dificultava toda e qualquer vontade de não vê-la. Minha janela continuava dando para dela e, mesmo que eu negue, vez ou outra me pego olhando em sua direção para verificar se ela já voltou para casa. Nos últimos quatro anos, a única vez que eu alguma movimentação foi apenas da Sra. Weasley abrindo as janelas para deixar o sol entrar e retirar toda a poeira que vinha se acumulando com a ausência da proprietária do cômodo.

Admito que fui um completo ignorante em relação ao nosso término. Podia ter dado a chance de Ginny se explicar, contar o que sentia, o que, de fato, aconteceu, mas meu orgulho impediu qualquer aproximação da ruiva e foi inevitável não me sentir deprimido quando soube que ela iria embora. Me lembro que fiz pose de não ligar, contudo, meu coração se apertava todas as vezes que eu pensava em seu embarque.

Acompanhei todo o processo da janela do meu quarto: vi quando ela ganhou várias roupas de Molly, quando ela se sentou na janela tarde de noite e chorou por vários e vários minutos e quando seus livros preferidos foram separados para serem empacotados. Não que alguém saiba que eu fiquei espionando minha ex-namorada.

No dia em que ela viajou para os Estados Unidos eu passei a noite toda em claro, chorando, suspirando e me perguntando o por que de toda essa situação estar ocorrendo em minha vida. Passei semanas sentindo pena de mim, chorando pelos cantos, resmungando…

Depois de dois meses, minha mãe simplesmente “enlouqueceu”. Vê-la totalmente desconsolada por minha causa me doeu ainda mais. Foi assim que aceitei, de uma vez por todas, que algo não estava bem comigo e procurei ajuda. Ela me levou ao médico, que me diagnosticou com depressão, receitou medicação específica e me encaminhou ao psicólogo.

A terapia me ajudou a compreender diversos pontos em minha vida: minha carreira, meus relacionamentos e me abriu para o que aconteceu em relação à Ginny. Por dois anos, compareci semanalmente as sessões com minha psicóloga, que eu sempre brinco que mudaram quem eu sou.

Pude amadurecer e ver as situações de fora do turbilhão em que estava inserido. Aos poucos, fui percebendo que, por mais que eu sentisse ódio da cena que vi entre Malfoy e Ginny, eu não a queria mal, muito pelo contrário, eu ainda a amava. Minha terapeuta me fez perceber que eu escondia todo esse orgulho ferido por trás de uma carapuça de ódio, de ressentimento e que somente eu poderia mudar isso.

Quando contei que tinha uma garota da faculdade interessada em mim, ela me apoiou. Me disse que poderia ser bom conhecer novas pessoas, me entregar para um novo relacionamento, pois eu precisava abrir o meu coração para outros amores.

No primeiro momento, achei que ela fosse louca! Afinal, fazia apenas um ano que eu tinha terminado com Ginny, a garota era minha caloura, ou como dizemos, minha bixete e, por isso, não achava que era um ótimo momento para começar um namoro.

Mas ela me deu um grande apoio e me alertou que Claire poderia ser o que eu precisava para mudar meu jeito de ser, me tornar uma pessoa melhor. Não nego que foi um ótimo passo em minha vida: Claire trouxe alegria aos meus dias, foi paciente comigo em todos os sentidos e nunca forçou certos aspectos, como o sexo, cuja ação demorou meses para ocorrer entre a gente.

Não me leve à mal, mas Ginny foi a única mulher com quem eu tinha me deitado antes de Claire e eu sentia uma certa ligação com ela, que até hoje não tenho com minha atual namorada. Foi algo que eu levei para terapia e que trabalhamos por sessões sem fim até eu me sentir confortável para, pelo menos, tentar alguma coisa sem ferir seus sentimentos.

Durante os três anos de relacionamento, Claire nunca me perguntou de Ginny. Por mais que eu saiba que ela conhece toda a história - afinal, a London consegue ser pior que revista de fofocas -, ela não quis saber sobre o meu passado ou o quanto ele me machucou.

Ela era uma garota incrível e eu me esforçava todos os dias para fazê-la feliz, mesmo que eu não me sinta 100% feliz ao seu lado, pois ela foi a responsável por me trazer o sol que faltava em minha vida.

Quando recebi alta da minha psicóloga, ela me fez prometer que assim que encontrasse novamente com Ginny eu desse uma chance para, pelo menos, nossa amizade. E eu sentia que eu estava atendendo seus pedidos após a conversa com Remo.

Lembro-me que ela me disse para não mostrar meu ódio, mas oferecer respeito e, de certa forma, carinho pelos anos que passamos juntos. Espero que eu possa cumprir essa promessa quando me ver diante da ruiva.

— Filho? - Mamãe não esperou nem dar 16h para subir. Ela me olhava com cara de preocupada e eu não pude deixar de notar como os olhos verdes, que eram tão parecidos com os meus, refletiam ternura.

— Oi, mãe. Entra!

Percebi o momento em que ela fechou a porta e caminhou até minha poltrona. Eu tinha passado grande parte na mesma posição, em frente à janela e, consequentemente, olhando para a casa da minha ex-namorada.

— Tá tudo bem? Você passou o almoço todo quieto e logo subiu. Aconteceu alguma coisa?

Não adiantava esconder as coisas dela. Ela sempre dava um jeito de descobrir o que se passava dentro de casa, seja comigo ou com meu pai. Dona Lily era mestre da adivinhação.

— Remo veio conversar comigo antes do almoço. Ele me contou que Ginny irá voltar para Londres e que irá trabalhar na London como estagiária na área de comunicação. Como presidente do centro acadêmico, nós teremos que nos encontrar vez ou outra e ele achou que deveria me contar.

— Muito nobre e sensato da parte dele. Mas e você? Como tá se sentindo?

— Fiquei surpreso e, ao mesmo tempo, com raiva. No entanto, prometi que manterei uma relação civilizada com Ginevra porque somos adultos e precisamos superar a noite do baile de formatura.

Minha mãe riu com o meu exagero.

— Conhecendo vocês dois é bem capaz de armarem um pé de guerra.

— Eu? Sou um anjo, Lily Potter! - Me fingi de ofendido diante do seu comentário.

— Harry, eu te conheço há 22 anos e posso dizer que também conheço Ginny há uns 21 anos, pois moramos na mesma rua há quase 25 anos e os Weasleys já estavam nesse bairro quando chegamos. Vocês cresceram juntos e não era incomum o senhor provocá-la na infância somente para vê-la com raiva.

— Eu era filho único, mãe. Precisava implicar com alguém, já que eu não tinha um irmão para chamar de meu. Tá vendo? Você deveria ter me dado um irmão ou irmã!

Foi a vez dela rir.

— Nunca achei que aquelas provocações fossem de irmão para irmã e minha tese foi comprovada anos mais tarde. Você sabe que eu nunca aceitei o término do namoro de vocês e que eu morro de curiosidade para ouvir a parte dela dessa história, mas eu não quero vocês dois tristes novamente. Não quero te ver triste de novo, meu filho.

Eu baixei a cabeça diante da intensidade do olhar de minha mãe. Era impossível não me sentir envergonhado, pois eu a proibi de conversar com Ginny na época sobre esse assunto. Lily poderia ser considerada facilmente a irmã mais velha de Ginny, uma vez que as duas eram muito parecidas. E as duas eram muito amigas, mesmo com a diferença de idade que existia entre elas.

Esse laço era tão forte, desde o nascimento de minha ex, que os pais dela chamaram meus pais para serem seus padrinhos de batismo. E por isso, Lily e Ginny eram inseparáveis.

Dias depois do término do namoro, minha mãe foi conversar com Ginny. Disse a ela que eu a tinha proibido de perguntar sobre os motivos, mas que ela estava à disposição de sua afilhada para qualquer tipo de conversa, mesmo contra a minha vontade. Que mesmo que os nossos caminhos não tenham se concretizado no campo do amor, ela era e sempre seria sua madrinha, para o que der e vier. Ginny foi uma pessoa muito melhor que eu naquele momento e respeitou o meu pedido, não contando para minha mãe o que, de fato, ocorreu.

Eu sabia que elas ainda mantinham certo contato, embora eu já tenha escutado minha mãe reclamando ao meu pai sobre o distanciamento de Ginny. Isso era minha culpa, óbvio, porém, ela nunca jogava essa responsabilidade para mim.

Quando anunciei estar namorando com Claire, eu temi que minha mãe fosse ficar contra o meu novo relacionamento. No entanto, dona Lily me surpreendeu: não somente recebeu minha nova namorada de braços abertos, como me desejou muitas felicidades e era a primeira a torcer para que nós dessemos certo. Era visível, contudo, que sua felicidade não chegava aos olhos e ela me questionava de vez em quando sobre os rumos que eu dava na minha vida amorosa.

— Espero não ficar triste, mãe. Não sei como vai ser o meu novo arranjo com Ginevra, mas gostaria que fosse bmm. Que pudéssemos ser amigos novamente.

— Se bem conheço minha afilhada você terá trabalho.

Nós dois rimos. Se eu era orgulhoso, Ginny era o dobro.

— Eu errei em diversos aspectos com ela, não nego. Então, quero fazer que o retorno dela seja o melhor possível. E não, não é o que você está pensando…

— E o que eu estou pensando? - Lily não conseguia negar quando o assunto era se gabar sobre meus assuntos amorosos.

— Eu não quero retomar o namoro, mãe. E eu acho que Ginny também não deseja. Só quero manter uma relação profissional e, quem sabe, ter uma amiga para conversar de vez em quando. Ela é sua afilhada, eu querendo ou não!

— Filho, você pode enganar o seu pai ou Remo ou ainda Sirius com esse discurso, mas não me engana. Daqui a algumas semanas quero te perguntar isso de novo e ouvir sua resposta. Só me prometa uma coisa?

— O quê?

— Seja gentil com você mesmo, com Ginny e com Claire. Não faça sua namorada sofrer, porque ela não merece. Claire é uma pessoa maravilhosa e não merece/precisa uma traição, ok?

—Quem disse que eu vou fazê-la sofrer ou traí-la? Que horror, mãe!

— Por que você consegue ser tão obtuso quanto seu pai!

— Hey! - gritei em indignação.

— Só dê uma chance para o universo, deixe as coisas fluírem e se escute, ok?

— Você tá filosofando demais, mãe!

Ela levantou e se dirigiu até a porta.

— Não estou, Harry. Eu só conheço vocês dois há muito tempo para saber que nem o universo poderá separá-los, seja de uma forma ou de outra.

Com isso, ela saiu do quarto me deixando pensativo sobre todas as suas últimas palavras.


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Notas finais do capítulo

N/A: Ai ai ai, como não amar os POVs do Harry? Eu amo escrever a história do ponto de vista desse moreno lindo de olhos verdes. Como no dia em que este capítulo for publicado (12/5) é o meu aniversário de 25 anos, sejam bonzinhos e me deixem comentários lindos, ok? Um grande beijo e até o próximo!

P.S: Acho que haverá um certo encontro no próximo, mas eu não posso prometer nada HUSAHUSAUHSAUHUHAS.



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