Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 11
Capítulo 10




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Capítulo 10 – Ginny VI

 

Quantas coisas podem ser feitas em três meses? Quantos pensamentos, ações e crenças podem ser realizadas ou desfeitas? Eu posso te dizer que a primeira semana após a Habeas Corpus passou rápida. Não tive muito tempo para pensar, diante de todo o trabalho que eu tinha que fazer no estágio e também porque eu estava ajudando minha mãe a organizar uma festa de caridade no salão comunitário da igreja do nosso bairro. Sua ideia era arrecadar dinheiro para um abrigo de órfãos na cidade.

O evento seria no sábado, então, eu e meus irmãos nos juntamos para fazer bolos, salgados e decorar todo o espaço que iria receber o público. Nós pensamos em fazer uma festa bem agradável e com uma temática country, bem próxima das quermesses que frequentávamos quando crianças no mesmo salão comunitário.

Quando estudava nos Estados Unidos aprendi a fazer paçoca com a minha amiga Vivian, que é brasileira. O doce típico de seu país natal levava amendoim e era tão gostoso e prático, que pedi para minha mãe se eu podia fazer como uma forma de arrecadar dinheiro para as crianças. Desde sexta, passei a fazer os doces e embalá-los encarregando Ron e Hermione de me ajudar com a barraca de vendas no sábado.

Mesmo com a semana atribulada, acabei arrumando um tempinho para conversar com Megan sobre o que aconteceu entre Malfoy e eu. Ela ficou tão “puta” que queria pegar o primeiro avião só para socar a cara de doninha amassada dele. Depois de ouvir todos os seus resmungos e xingamentos, minha melhor amiga me perguntou o que eu pretendia fazer com essa questão.

— Ué? Nada, né? O cara tem dinheiro e eu não... não é como se eu fosse conseguir prendê-lo, miga! – respondi como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Não, senhora! Você não tem um irmão e uma cunhada que são advogados? Pelo amor de Deus, Gin. Você é a vítima nessa história e tem que fazer um boletim de ocorrência contra esse babaca. Ele não pode achar que faz o que fez com você e sai impune. Isso não é só para te proteger, mas também para proteger outras meninas que poderão sofrer a mesma coisa.

Ela falava tão alto que eu podia ver o quanto ela estava irritada com a situação. Ainda bem que não estávamos conversando no viva voz.

— Não sei, Megan. Não queria meter Ron nesse assunto, até porque eu conheço meu irmão e sei o quanto ele é esquentado. Queria só esquecer que esse dia existiu, assim como a minha formatura.

— Peraí... esse Malfoy é o mesmo que te atacou na noite da sua formatura? Aquele que te beijou enquanto você estava dopada?

Valeu, Megan. Jogou o meu passado na minha cara sem nem amaciar a carne...

— Sim, miga. O próprio!

— Agora mesmo que você tem que ir até a delegacia e denunciar esse babaca. Vai com Hermione, com o Papa, com quem você quiser, mas me promete que você irá denunciar esse cara? Por favor, Ginevra.

— Não me chame de Ginevra, Megan.

— Tá, por favor, Ginnyzinha do meu coração.

Não resisti e ri diante de sua última frase.

— Okay. Vou ver com Hermione se ela pode ir comigo.

Conversei com a minha cunhada sobre o assunto e ela me disse que iria me sugerir a mesma coisa, porém, estava sem “cara” de tocar na questão, principalmente após a festa. Combinamos de ir na segunda-feira, depois do estágio, enquanto Ron estivesse no trabalho. Eu também não queria envolver meus pais, por isso pedi que ela mantivesse nosso encontro em segredo, o que ela prontamente concordou e me atendeu.

**

Na noite de sábado, após produzir e embalar todos os doces, me dirigi com a minha mãe até o salão comunitário da igreja de nosso bairro. O espaço estava decorado com vários balões e bandeirinhas, tinha uma fogueira ao fundo, mulheres, homens e crianças estavam vestidas, assim como eu, de vestidos remendados, chapéus e aventais. Não podia estar mais animado e eu senti orgulho por todo o trabalho que mamãe teve ao longo dessas últimas semanas.

Me posicionei com Ron e Hermione em nossa barraca e passei a atender os clientes que, curiosos, queriam saber que doce era essa tal de paçoca. O evento começava às 19h, mas às 21h o movimento diminuiu bastante, fazendo com que eu não visse a necessidade de três pessoas na mesma barraca.

— Por que vocês não vão dar uma volta? Aproveitam e me tragam um cachorro quente! – falei para Hermione e Ron, que estavam sentados e conversando animadamente um ao lado do outro.

— Mas e você? – questionou Ron.

— Eu vou ficar bem. O movimento diminuiu bastante e eu tenho certeza que vocês querem dar uma bela volta, ver seus amigos e etc. Eu dou conta. E estou com fome, meu irmãozinho querido... traz meu cachorro quente com muita mostarda – estirei a língua em sua direção.

— Vamos, Ronald. Sua irmã, daqui a pouco, faz chantagem emocional se você não trouxer seu cachorro quente. Quer coca também, cunhada?

— Adoraria, Hermione querida do meu coração. Te devo mil beijos e abraços. – Os dois riram do meu exagero emocional e saíram de mãos dadas pelo salão. Não deu dois minutos e o celular vibrou no meu bolso. Pensei que fosse Megan que estivesse me perguntando como estava a festa, mas me surpreendi quando vi que o número era de Lucas.

Lucas: “O que está fazendo, ruiva?”.

Não consegui deixar de sorrir com o seu jeito de me chamar.

Ginny: “Vendendo paçocas na quermesse organizada pela minha mãe para angariar fundos para um abrigo. Tá servido?”. Aproveitei a calmaria e tirei uma foto minha, segurando um pacote de paçocas.

Lucas: “Só se você vier junto com os pacotes :P”.

Ginny: “Abusado :P”.

Lucas não perdia a oportunidade de me xavecar, independente da ocasião. E eu gostava de nossa interação.

Ginny “E você, o que está fazendo?”.

Lucas: “Estou saindo do trabalho. Hoje foi o dia de plantão”.

— Hey, Gin. Que doce é esse? – Estava tão entretida em minha conversa com Lucas que não percebi que Harry estava defronte à minha barraca olhando meus quitutes. Ele usava jeans e camiseta preta e seus cabelos continuavam totalmente bagunçados, porém seus olhos pareciam cansados.

— Se chama Paçoca. É um doce brasileiro feito de amendoim. Quer experimentar? – disse sincera e por educação. Nós tínhamos um acordo de voltarmos a ser amigos, mas depois do último sábado eu não sabia como agir. Estava envergonhada de ele ter me visto em uma situação tão ruim como aquela. Era como se eu fosse uma donzela “indefesa” e ele precisasse me salvar de todas as enrascadas em que me meto.

— Por favor – Ele sorriu.

Fiz um pratinho com uma amostra, que eu já tinha deixado previamente preparado para pessoas que, assim como Harry, nunca tiveram a oportunidade de experimentar essa maravilha dos deuses. No momento em que ele colocou o doce na boca, só consegui ver a satisfação brilhando em seus olhos verdes.

— Puta que pariu que isso é bom demais. Me dá uns dez disso, por favor?

— Dez? Vai morrer de tanto comer glicose, Harry.

Ele riu.

— Não é só para mim. Você acha que minha mãe, formiga do jeito que ela é, vai me deixar ficar com tudo isso? Ela vai roubar mais da metade. Tenho certeza!

— Sei, sei. – ri, porque eu sabia que minha madrinha, provavelmente, comeria bem mais que a metade dos doces que Harry iria levar.

— Verdade, Gin. Quanto custa?

Enquanto acertávamos o valor dos doces e eu colocava as paçocas em um saco pardo e, posteriormente, em uma sacola, conversamos algumas amenidades: tempo, sucesso da festa, seus pais e ele me perguntou onde estavam Ron e Hermione.

— Cadê a Claire, Harry? – disse enquanto lhe entregava o pacote.

— Não faço a mínima ideia. – Ele deu de ombros. - Claire e eu terminamos, Gin.

Fiquei totalmente sem graça com a sua reposta.

— Harry, me perdoa. Eu não sabia!

Ele fez um gesto com as mãos querendo dizer “não tem nada demais”.

— Relaxa, Gin. Não tinha como você saber. Faz pouco tempo.

— Quer conversar? – perguntei por educação, querendo, com todas as forças, que ele não tocasse nesse assunto. Iria ser muito estranho conversar com o meu ex-namorado sobre o fim do seu último relacionamento que, no caso, não era comigo.

— Não. Ela terminou o namoro e somente me resta aceitar, não é mesmo?

— Sinto muito.

— Não sinta. E você? Como está? – Eu não sabia se ele se referia ao meu estado geral ou sobre o que ocorreu no último sábado.

— Eu estou bem, eu acho! – ri tentando fazer piada.

— Mesmo? Eu fiquei preocupado depois do que aconteceu na festa, porém eu não sabia como abordar isso com você. Pensei em ir na sua sala e realmente cheguei até ir, mas você estava tão concentrada no computador que acabei deixando para lá. – Ele mexeu no cabelo. Ai meu Deus, ele mexeu no cabelo, o que me diz que ele está totalmente sem jeito e tímido diante da situação. Não faz isso comigo, Harry. Eu adoro quando você mexe esse cabelo, me dá vontade de passar os meus dedos por eles somente para saber se eles continuam grossos como da última vez... Ginevra Molly Weasley não faz nem cinco minutos que você descobriu que ele está solteiro e já está cobiçando-o. Sossega!

— Gin?

— Ah, Harry, me desculpa... acabei viajando nos meus pensamentos. – O que eu diria? Que eu achei fofa sua atitude? Que eu gostaria de te beijar?

— Tudo bem. Gin, seu dinheiro. – Ele me passou duas notas de cinco libras e se despediu de mim com um beijo no rosto. Percebi o momento em que ele encontrou com meu irmão no caminho até a mesa dos seus pais. Hermione veio em minha direção com o meu cachorro quente e refrigerante.

— O que foi? Por que essa cara? – disse minha cunhada enquanto me entregava a comida.

— Harry terminou com a Claire. Você sabia?

— Fiquei sabendo hoje, Gin. Ron me contou que Harry está meio chateado com a situação. Parece que eles discutiram e ela decidiu colocar um ponto final na relação. E ela não atende suas ligações ou dá margem para que eles possam conversar.

— Você sabe o motivo? – questionei enquanto dava uma mordida no meu lanche. Embora eu não quisesse que ele desabafasse comigo – ia ser muito estranho – eu estava curiosa para saber as razões que os levaram ao término.

— Não sei, só sei que foi depois da festa de sábado. Por que você está querendo saber tanto?

— Por nada. Só estou curiosa! – Meu celular vibrou de novo, provavelmente era Lucas me mandando outra mensagem, mas eu tinha perdido a vontade de respondê-lo diante da informação que acabara de receber.

Daquele dia em dia, Harry passou a fazer ainda mais parte da minha vida. Na sexta-feira seguinte fui chamada para sair com Ron e Hermione e ele estava lá. No próximo sábado, foi a mesma coisa. E no outro... e no outro.

Ele, aos poucos, passou a participar de eventos familiares e a compartilhar da companhia de Ron e Hermione. Não era incomum encontrá-lo na minha casa todos os fins de semana e eu passei a respirar fundo para controlar as batidas do meu coração todas as vezes em que o via sentado ou deitado no sofá.

Com o tempo, eu passei a aproveitar momentos ao seu lado, seja jogando videogame com ele e Ron, seja vendo filme nós quatro, seja rindo de suas piadas sem graça no WhatsApp ou dançando até o chão em várias boates que acabamos indo juntos.

Nos primeiros passeios ao lado dele, de Ron e Hermione, busquei por desculpas para não ir, porém, não pude negar os convites insistentes das últimas semanas. Me vi indo com o trio até o cinema, a lanchonetes e também a barzinhos e baladas. Nesse meio tempo, percebi o quanto ele mudou e o quanto ele tinha se transformado em um cara incrível, diferente do adolescente por quem eu tinha me apaixonado, mas mantendo a mesma essência do garoto por quem eu me encantei anos atrás.

Harry conseguiu, aos poucos, vencer a armadura que eu tinha imposto à mim mesma e eu poderia dizer que voltamos a ser melhores amigos, mesmo com o passado que nos assombrava e com as dores que eu ainda tinha em meu peito sobre o nosso antigo relacionamento.

O fato que, mesmo recebendo mensagens diárias do fofo do Lucas, eu não podia negar que Harry estava me deixando cada dia mais atraída por ele. E eu percebia que isso era recíproco. Sem o “fantasma” de Claire, não era difícil eu me permitir rir, sorrir e fazer comentários aleatórios ao seu lado.

Passei recentemente a aceitar suas caronas, mesmo com o medo de acabar me apaixonando. Sim, eu tenho muito medo de me apaixonar por essa nova versão de Harry Potter. No entanto, era muito fácil rir e manter piadas internas com ele, zoar Ron e Hermione e suas brigas constantes, falar sobre trabalho, sobre meus padrinhos, sobre Sirius e Marlene (que eu descobri ser sua nova namorada), sobre sua carreira, sobre minha vida nos Estados Unidos e o que eu esperava do futuro.

Quando Lupin me ofereceu a oportunidade de estender mais seis meses o meu contrato de estágio, Harry foi a primeira pessoa para quem eu contei. Passei a comentar sobre trechos da minha vida que eu não tive coragem para contar para ninguém, como a minha viagem para o México ou sobre os anseios de voltar para a América.

Na minha última semana de trabalho antes do início das férias de Natal acabei encontrando com Claire na porta do banheiro feminino da universidade. Estava saindo da cabine de sanitários quando a vi parada em frente ao espelho lavando as mãos. Claire sempre foi uma garota simpática comigo e, por isso, abri um sorriso quando notei que ela estava no mesmo local que eu.

— Oi, Claire. – disse enquanto lavava minhas mãos antes de cumprimentá-la. Ela estava muito elegante em um vestido azul, meia-calça preta e saltos altos. Parecia que ela tinha vindo direto do estágio.

— Hey, Gin. Como você está? – Ela sorriu em minha direção.

— Estou bem e você?

— Estou ótima. Um pouco triste com esse frio todo, mas faz parte, não é? Não vejo a hora do verão chegar.

— Eu gosto do inverno, porém, não posso negar que também prefiro dias de sol e calor, principalmente se eu estiver perto de uma piscina.

Nós duas rimos enquanto ela secava a mão naqueles secadores à jato, que eu acho péssimo, mas dizem que economiza e ajuda a proteger o meio ambiente.

— E aí, já se adaptou novamente a Inglaterra? – disse Claire enquanto encostava na parede e me via secando as mãos.

— Ah, sim. O trabalho acabou me fazendo entrar em uma rotina bem agradável e eu ando saindo bastante com meu irmão, Hermione e Harry. – Minha voz sumiu um pouco quando eu disse o nome de Harry. Não queria abordá-lo na frente de sua ex-namorada. – Sinto muito, Claire. Não era minha intenção tocar no nome dele.

Ela riu. – Fica tranquila, Gin. Já faz algumas semanas e eu estou bem. Sério! – Claire sorriu para mim, o que me deixou mais tranquila. – Fico feliz que ele esteja tocando a vida e saindo de casa porque, convenhamos, Harry consegue se fechar como uma ostra quando quer, não é?

— Sim, é verdade. – Concordei por não ter algo diferente para dizer no momento. Me sentia totalmente constrangida por ter citado o nome de Harry na conversa.

— Fico contente. Só espero que ele finalmente abra os olhos. E que isso ocorra o mais rápido possível. – Ela pegou um protetor labial de sua bolsa e começou a passá-lo. Minha cabeça deu um nó. O que ela quis dizer com isso?

— Desculpa, Claire. Mas por que você espera que ele abra os olhos? – questionei ficando ao seu lado na pia do banheiro. Olhei-a pelo espelho.

— Ele não te contou por que terminamos, Ginny? – Ela arrumou o cabelo deixando-o ainda mais apresentável. Seu cabelo negro caia pelas suas costas, em formato de cascata.

— Não e eu também não quis entrar em detalhes. Ele me parecia muito triste no começo e depois simplesmente não vi motivos para tocar nesse assunto. Por quê? – Nesse momento, fiquei com medo de sua resposta. Ela se voltou para mim.

— Ginny, Harry é um cara ótimo, inteligente, sensacional e eu passei ótimos anos ao seu lado. No entanto, eu acho que ele tem algumas pendências que precisam ser resolvidas antes de ele se entregar para um relacionamento novamente. – Percebi que ela suspirou antes de continuar a falar. – Naquela noite fatídica, em que o Malfoy foi um babaca contigo, alguma coisa se “quebrou” entre nós. E, no fundo, eu acho que ele nunca deixou de te amar. Notei isso pela forma como ele te defendeu de Draco... – abri a boca para defende-lo, pois, na minha concepção Harry agiu como qualquer outro amigo faria, mas ela não me deixou completar a frase. – Sim, não estou dizendo que ele não deveria ter feito isso. Malfoy é um idiota e merecia ter apanhado ainda mais. Sinto muito pelo o que aconteceu, de verdade, Gin.

— Tudo bem, ficou no passado. Mas o que isso tem a ver com o seu relacionamento com Harry? Claire, ele não me ama se é isso que você pensa. Nós somos amigos, só isso. – perguntei levantando minha sobrancelha.

— Harry te ama, Ginny. E não é como amiga, nunca foi. Para mim isso ficou muito claro naquela festa. A forma como ele te defendeu, a forma como ele te olhou, se preocupou... Não era um amigo defendendo outro amigo. Era um homem defendendo a mulher que ele ama. Harry é incrível, totalmente nobre e eu duvido que ele tenha me traído em todos esses anos, mas eu acho que ele se traiu. Ele nunca me amou de verdade! E eu só demorei três anos para chegar nesse raciocínio.

— Claire, isso não é real. Harry te amou e eu ainda acho que ele te ama. – Ela negou a minha afirmação com a cabeça, mas não me parecia que ela estivesse chateada com a situação. Me pareceu uma garota conformada com o seu papel, ciente de que nunca seria correspondia à altura pelo amor de sua vida.  

— Não, Ginny. Ele não me ama e está tudo bem com isso. – Quando a olhei em descrença, ela voltou a afirmar que estava tudo bem. E continuou sua explicação.

— Gostei e ainda gosto muito dele, mas eu sei quando é uma batalha perdida, sabe? Harry nunca me disse um “eu te amo” e, no fundo, eu sabia que o coração dele jamais seria meu. Fico feliz de ser para uma pessoa tão incrível quanto você. – Ela olhou seu relógio e soltou uma exclamação de surpresa. – Meu Deus já é essa hora. Marquei de encontrar com alguns amigos antes da aula para resolvermos questões de um trabalho de classe. Eu preciso ir, Gin. – Ela me deu um beijo e me desejou boas férias. Eu estava em choque com as suas palavras e, por isso, não consegui esboçar nenhuma reação ao vê-la sair do banheiro e partir.

A conversa com Claire não saiu da minha cabeça até o início das férias de fim de ano. Eu, Ron e Harry teríamos duas semanas de descanso - Hermione tinha tirado um ano “sabático” para estudar para concursos, por isso, ela não estava trabalhando ou advogando nesse período. Ron acabou convencendo Hermione de dar uma “pausa” nos estudos durante esse período (sob protestos) e todos nós combinamos de aproveitar ao máximo esse momento para relaxar, passear e não fazer nada de produtivo.

No primeiro dia das nossas miniférias, no entanto, fez muito frio e começou a nevar, por isso, acabamos trancados dentro da minha casa.

— Que dia mais chato! – reclamou Ron deitando no sofá da sala.

— Chato demais – Harry reclamou sentando ao seu lado.

Hermione pegou seu livro e, com um suspiro, se sentou no outro sofá ao meu lado.

— Vocês só reclamam, mas eu não vi nenhuma sugestão do que podemos fazer diante dessa neve. Sair está fora de cogitação, no entanto, podemos fazer algo em casa. O que acham? – perguntei ao grupo.

Harry e Ron se entreolharam e deram os ombros. Hermione sorriu e sugeriu de vermos um filme com pipoca e refrigerante. Os garotos, porém, falaram que queriam comer pizza e, portanto, pedimos via aplicativo duas pizzas de calabresa e uma pizza de brigadeiro com morangos – a minha preferida. Depois de alimentados, decidimos assistir “Jogos Vorazes”, mesmo eu já tendo visto os dois primeiros filmes e Hermione ter lido todos os livros.

São quatro volumes com duas horas e pouco cada um... e é óbvio que nos dois primeiros estávamos todos animados, mas no terceiro eu já percebi que Hermione encostou no meu irmão e dormiu. Ele, por sua vez, logo depois, também estava roncando... eu e Harry resistimos bravamente e terminamos a saga às quatro horas da manhã.

— Ron consegue ser pior que minha mãe. Não vê nem meio filme e já está babando – comentei com ele, enquanto guardava os DVDs e ia levar o restante da pizza na cozinha.

— Fracos... – Harry riu e me ajudou a levar os copos. Guardamos todos os utensílios e voltamos para o hall de entrada. Ele se encaminhou para a porta.

— Acho que vou embora, Gin. Está tarde e amanhã eu preciso ajudar meus pais com a decoração de Natal. Minha mãe está ansiosa para receber todos vocês na ceia. – disse. Minha família, Sirius e Lupin (com as suas respectivas famílias) iríamos passar o Natal na casa dos Potter.

— Tudo bem. Você quer se despedir do casal 20? – apontei para sala onde meu irmão e minha cunhada dormiam.

— E aguentar as reclamações de Ron sobre o fato de acordarem ele? Nem pensar! Boa sorte! – Ele deu um leve tapinha no meu ombro que causou arrepios que eu tinha certeza que não tinha nada a ver com a neve. Quando eu abri a porta para nos despedir, uma rajada de vento atravessou o hall de casa. Nevava muito do lado de fora e não era possível ver um palmo a frente do nariz. Nos entreolhamos e fechamos a porta imediatamente.

— Harry, acho melhor você não ir para casa nesse momento. Tá nevando muito. Fica aqui em casa. Podemos colocar colchões na sala e dormimos os quatro juntos. Quando a neve parar amanhã você vai embora, o que acha? – Ele apenas me olhou considerando a oferta.

— Não vai te atrapalhar ou atrapalhar seus pais? Eu não trouxe nenhuma roupa para dormir, nem nada. – Me disse colocando a mão no bolso do moletom que vestia.

— Não, claro que não. Vou pegar travesseiros e você pode usar uma roupa do Ron. Creio que ele não irá ligar. Vou ver se tem alguma peça minha que sirva na Hermione.

— Okay. Obrigado, Gin. – Percebi que ele ficou um pouco sem graça, mas aceitou minha proposta.

— Você pode pegar os colchões que estão no armário debaixo da escada? Eu vou pegar a roupa de cama lá em cima. – Apontei para a escada.

— Deixa comigo. Não é como se eu nunca tivesse feito isso, né? – Harry costumava dormir em casa quando éramos adolescentes e não foram raras as vezes em que dormíamos nós quatro na sala. Hoje, no entanto, Harry não seria o meu namorado e eu deveria ter o maior cuidado para não deixar meus suspiros e olhadelas caírem sobre ele no colchão que, provavelmente, seria colocado ao meu lado no chão.

Subi os degraus tentando não fazer barulho, escovei rapidamente meus dentes no banheiro, coloquei um pijama confortável e quentinho, peguei uma peça de roupa para Hermione, além do meu gato de pelúcia que dormia todas as noites comigo, e fiz uma parada rápida no armário do corredor para pegar travesseiros, lençóis e cobertores.

Desci as escadas e encontrei Harry, que já tinha acordado Ron e Hermione e enchia os colchões de ar no chão da sala. Minha cunhada morrendo de sono agradeceu pelo pijama emprestado e saiu em direção ao lavabo do andar de baixo com sua bolsa, que provavelmente deveria ter uma escova de dentes. Harry e Ron subiram até o quarto do meu irmão para se trocarem após terminarem de arrumarem os colchões na sala. Coloquei os lençóis e travesseiros em seus lugares com a ajuda de Hermione e me deitei no último colchão, que ficava próximo a janela. Hermione deitou no primeiro colchão próximo a entrada da sala, porque ela disse que queria acordar cedo para ler e, dessa forma, não atrapalhava ninguém.

Quando Harry e Ron chegaram no pé da escada, meu irmão se acomodou no colchão ao lado da minha cunhada e restou ao Harry se deitar ao meu lado. Demos boa noite a todos e apagamos as luzes, porém, eu não conseguia dormir. Percebi quando Harry colocou seus óculos no chão, ao lado do celular, momentos após mandar uma mensagem para sua mãe avisando que iria dormir na minha casa por causa da neve.

Notei também que ele estava inquieto, sempre mexendo os pés, buscando uma posição mais confortável. Em dez minutos, os roncos de Ron preencheram o silêncio que reinava na sala e eu ouvi o ressoar leve de Hermione.

— Queria ter a facilidade de dormir do Ron. – disse Harry virando a cabeça para o meu lado. Estava escuro, mas ainda era possível notar sua silhueta.

— Um dia chegamos lá. – Sussurrei para ele, que riu do meu comentário.

— Boa noite, Gin.

— Boa noite, Harry.

Não sei que horas eram, mas eu ainda demorei vários e vários minutos para conseguir dormir. Quando eu acordei na manhã seguinte, Hermione já tinha se levantado e estava conversando com a minha mãe na cozinha. O sol já estava alto e entrava pela cortina da janela, que não tínhamos fechado direito na noite de ontem. Me ajeitei no colchão e dei de cara com Harry, que dormia de bruços ao meu lado.

Ele dormia tão relaxado, tão sereno. Era como se nada no mundo pudesse atingi-lo, como se o sonho que estava tendo era tão bom que ele não queria nunca mais acordar. Aproveitei esses minutos sozinha para apreciá-lo como queria há semanas.

Primeiro foquei meus olhos em seus pés que saiam do cobertor. Depois fui subindo meu olhar até suas coxas bem torneadas pelo futebol, suas costas e ombros largos e me detive, principalmente, em seus cabelos totalmente arrepiados depois de uma noite de sono.

Notei seus cílios grandes, seu nariz achatado pelo travesseiro, que também escondia seus braços. Harry respirava fundo e eu não contive minhas mãos de fazer um carinho gostoso em seus cabelos. Fiz um cafuné leve, com muito medo de acordá-lo, mas, mesmo assim, satisfazendo meu desejo de me manter o mais perto possível desse homem que eu estava reaprendendo a amar.

Não sei quanto tempo fiquei nessa ação, pois fiquei perdida em tantos e tantos pensamentos sobre ele, sobre nossa história, sobre nosso passado e sobre o futuro, que eu não sabia em que iria dar. Harry me ama mesmo? Será que Claire estava certa?  

Estava tão imersa em mim mesmo, que não percebi quando Harry acordou. Seus olhos verdes, cheios de sono, me olhavam com curiosidade.

— Hey. – Disse Harry. – Pode me acordar assim mais vezes? – Sorriu de lado.

Ops, acho que fui pega no flagra. Senti quando meu rosto ficou vermelho, mas já que ele estava flertando comigo, porque eu não poderia flertar com ele, não é mesmo? Harry está solteiro, eu estou solteira e a nossa tensão está tão palpável no ar que poderia ser cortada com uma faca. Decidi investir nesse jogo.

— Você pode dormir em casa quantas vezes quiser, Harry. A vista que eu tive essa manhã não foi nada ruim. – Ele sorriu ainda mais. Harry saiu da posição de bruços e ficou de lado, me olhando. Minhas mãos saíram de sua nuca e acabaram ficando pousadas no colchão.

— É? A minha também não está ruim. Muito pelo contrário... está maravilhosa! – Ele pegou minha mão e levou até seu rosto, onde depositou um beijo carinhoso na minha palma. Sua barba por fazer me trouxe arrepios e eu não pude deixar de sentir um calor em todo o meu corpo. Podia estar menos 20ºC do lado de fora, mas eu estava fervendo.

— Precisamos combinar de resolver logo isso. O que acha? – Sussurrei em sua direção, afinal meu irmão estava dormindo no colchão do lado.

— Acho ótimo. Pode ser hoje? Mais tarde, quem sabe? Vai ter uma festa de Natal em casa, com ótimas comidas e bebidas. Eu não perderia por nada e, quem sabe depois, você pode me fazer companhia. Meu quarto é a segunda porta à esquerda do corredor do andar de cima. – Harry, definitivamente, sabia jogar.

— Perfeito. E o que você vai fazer enquanto eu estiver em sua companhia? – Quis saber, afinal se ele sabia jogar, eu também sabia.

Harry levantou o tronco do colchão e sussurrou no meu ouvido: - Digamos que eu faria coisas que não são possíveis de serem feitas agora com o seu irmão no colchão ao lado. Envolvem beijos, mãos, toques...

Ele cheirou meu pescoço e depositou um beijo tão doce que me fez ficar ainda mais quente. Se é que isso era possível. Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e deu um sorriso de lado que o deixou ainda mais sexy. Era minha vez de provocá-lo.

Levantei meu tronco e deitei-o com cuidado em seu próprio colchão. Coloquei uma mão em seu peito e sussurrei em seu ouvido, da mesma forma que ele tinha feito minutos atrás. – Não faça promessas que você não poderá cumprir, Potter!

Ele riu. – Quem disse que eu não tenho intenção de cumprir?

Dei um beijo no lóbulo da sua orelha e Harry suspirou alto. Eu sempre soube que esse era o seu ponto fraco, mas me recordar das reações dele a esse gesto me deixou muito animada. Depois desse ato, ele virou o rosto e me pregou um beijo no canto da boca, algo que me deixou ainda mais com vontade de esquecer que Ron estava a centímetros da gente e beijá-lo.

Meus sonhos, no entanto, não puderam ser concluídos porque ouvimos passos vindos da cozinha. Me desvencilhei de Harry e sentei em meu colchão no mesmo instante em que Hermione chegava na sala.

— Francamente, não acredito que Ronald ainda está dormindo. Oi, Harry, oi, Gin. Senhora Weasley pediu para avisá-los que ela foi ao mercado, mas que o café está na mesa.

— Bom dia, Mione. Obrigado. Eu vou no banheiro rapidinho e já desço para tomar café com vocês duas. – Ele se levantou e seguiu para o lavabo do andar de baixo.

— Vou aproveitar e vou no de cima. Você quer usar o banheiro agora, Gin? – disse minha cunhada.

— Não, pode ir, Hermione. Eu vou daqui a pouco. – Sussurrei em sua direção.

— Está tudo bem?

— Sim, está tudo ótimo. – Sorri em sua direção. Na verdade, eu estava totalmente ferrada. Eu estava apaixonada por Harry Potter. De novo.


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Notas finais do capítulo

Quem aí ficou suspirando com esse capítulo? Quem? Quem? Quem? Depois desse amor todo eu só desejo que vocês me enviem muitos comentários, recomendações, likes e tudo o que há de melhor nesse mundo para que eu continue assim, sendo uma ótima autora, e fazendo momentos fofos e gostosos entre Harry e Ginny. O que será que acontecerá nessa festa de Natal, hein? Um beijo e até o próximo!