Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 10
Capítulo 9




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Capítulo 9 – Harry IV

Eu sai atordoado da festa. Depois de me despedir de Ginny e Hermione, caminhei entre as pessoas, sem me importar se eu estava esbarrando em alguém. Claire me seguiu silenciosamente até o carro, sem pronunciar nenhuma palavra sobre o que tinha acabado de ocorrer ou buscando descontrair o ambiente depois da cena pesada que presenciamos. Geralmente, depois de uma festa, ela gostava de comentar alguma coisa que tinha marcado a noite. Hoje, no entanto, ela não esboçou nenhuma reação.

Entrei no carro respirando fundo e comecei a tirar a parte de cima do macacão. Senti calor e uma dor forte no pescoço, algo que eu sempre tinha quando passava por situações de estresse. Claire demorou um pouco, mas também entrou no carro e pediu apenas para ligar o ar condicionado, já que era tarde e ela não queria abrir a janela com medo de sermos assaltados. A região onde estávamos era bem perigosa nesse horário e estava bem quente, mesmo com o fim do verão que se aproximava.

Confirmei seu pedido ligando o ar condicionado e, em seguida, dei partida no carro, guiando em direção à casa dela como tínhamos combinado. Percebi pelo canto do olho que ela começou a cutucar as cutículas das unhas das mãos, algo que ela fazia quando estava nervosa. Decidi que não iria falar nada até chegarmos ao nosso destino, porque eu sabia que se Claire quisesse falar sobre o que estava incomodando-a ela faria.

Respirei tentando diminuir a adrenalina que estava em meu sangue. Eu nunca senti tanto ódio de Malfoy quanto no dia de hoje – mais até que no dia em que o peguei beijando Ginny. Ele era um idiota asqueroso que, provavelmente, teria terminado o que começou se eu não tivesse chegado.

Eu estava voltando do banheiro quando comecei a escutar os gritos. Segui em direção ao banheiro feminino e vi quando Ginny deu um chute nas partes íntimas de um cara, mas não tinha percebido que era a “doninha” até aquele momento. Quando ela começou a caminhar para o salão, o cara pegou-a novamente e eu reparei quem era o idiota que estava tentando algo a mais com a ruiva.

Minhas mãos tiveram iniciativa própria e começaram a socá-lo. Eu ainda estava com dor, principalmente na mão direita, de tantos golpes que eu dei no rosto, barriga e peito daquele idiota. Se Ron não tivesse chegado naquele momento provavelmente Malfoy estaria em coma no hospital. Eu não quero pensar no que eu poderia ter feito se Ron não tivesse chegado.

Suas acusações me deixaram sem “chão”, porque eu não queria que Claire ficasse sabendo daquela maneira que eu era o ex-namorado de Ginny. Eu tentei deixar esse assunto no passado porque eu sabia que poderia ser um tema delicado a ser discutido no meu relacionamento, uma vez que eu nunca quis tocar no nome da minha ex-namorada, mesmo que Claire tivesse me perguntado algumas vezes quem era a pessoa que tinha “machucado” meu coração. Eu nunca contei para ela por inúmeros motivos: Ginny era, respectivamente, irmã e cunhada dos meus melhores amigos, era afilhada da minha mãe e minha vizinha, o que poderia deixar o clima, de certa forma, estranho quando Claire fosse me visitar. Sem falar que eu me afastei dos meus amigos quando começamos a namorar e eu não queria que ela fizesse associação com esse fato e se sentisse culpada por algo que, definitivamente, não era culpa dela.

Outra coisa que me deixou inquieto na noite de hoje foi a acusação de Malfoy de que eu estava com ciúmes de Ginny. Confesso que minhas entranhas viraram uma espécie de monstro, com garras que apertavam o meu estômago e me faziam ter mais vontade ainda de socar a cara dele até ele virar geleia. Só que racionalmente eu sabia que não deveria me sentir dessa forma, afinal eu tinha um relacionamento de três anos com Claire e nós estamos muito bem, obrigado!

Mas por que isso importa tanto? Eu teria feito a mesma coisa para qualquer garota no lugar de Ginny, certo? Eu não deveria me sentir mal por algo que eu fiz de forma idônea e correta, algo que “salvou” a vida de uma pessoa e que evitou que um mal horrível ocorresse.

Estacionei o carro e comecei a fazer a movimentação para sair, já eu iria dormir hoje na casa de Claire. Foi impedido do meu ato quando ela pegou meu pulso.

— Nós temos que conversar! – Ela me olhou com um semblante sério. Virei meu corpo no banco do motorista e a encarei.

— Agora? Mesmo? Está tarde, Claire. Eu realmente estou com sono! Tudo o que eu quero, depois dessa semana, é banho e cama!

— Sim, agora! Nesse momento, Potter!

Respirei bem fundo. - Okay, vai em frente.

— É ela, não é?

— Ela? – Claire também respirou fundo. Seu rosto não demonstrou nenhuma expressão.

— Ginny é a sua ex-namorada misteriosa que você nunca quis me dizer o nome. Estou certa?

— Claire... – ela não me deixou concluir a frase.

— Eu nunca te pressionei porque eu sabia o quanto esse assunto doía, mesmo que todos os comentários maldosos que eu ouvi no primeiro ano de faculdade ainda rebombassem na minha cabeça. Com o tempo eu apenas aprendi a esquecer esse assunto, mas hoje as coisas começaram a fazer sentido em minha mente e eu apenas liguei os pontos: o “rompimento” – ela fez um gesto de aspas no ar – com Ron e Hermione, o jeito estranho com que você tratava Ginny no início, quando ela começou a trabalhar na faculdade, suas desconversas todas as vezes que eu tocava no nome dela... eu deveria ter percebido bem antes!

— Claire, não é nada demais. Sim, nós namoramos na adolescência, mas passou. Eu estou agora com você! Okay? – Eu comecei a ficar com raiva. Isso era assunto meu, eu estava cansado e não via necessidade de conversar sobre esse tipo de coisa nessa altura do campeonato.

— Será que está mesmo, Harry?

Fiquei confuso. O que ela queria dizer com isso? Que eu não era o “tipo” de namorado que ela esperava?

— Como assim? – disse cruzando os braços em um sinal de estresse.

— Quando eu te conheci eu recebi um conselho sábio de Lauren, sabe aquela garota de cabelos loiros da sua sala? – Eu assenti com a cabeça. Lauren adorava se meter em assuntos que não eram da sua conta. Ela respirou fundo mais uma vez antes de continuar.

— Eu comentei que tinha te achado lindo e ela me disse que eu deveria tomar cuidado com você.

— Por quê? – Levantei minha sobrancelha.  

— Porque ela percebeu o meu interesse e me contou que você tinha acabado de terminado um longo relacionamento e que esse rompimento tinha te machucado demais. Que você se tornou outra pessoa depois do fim do namoro e que isso era perceptível até na sua trajetória acadêmica. Ela também me disse que, se eu estivesse realmente interessada em você, deveria ter muita paciência porque da maneira como você estava era provável que não iria se relacionar com ninguém por muito tempo. Ninguém sabia o que, de fato, tinha ocorrido, mas era a última “fofoca” da universidade o rompimento do namoro de Harry Potter.

— Ah, ótimo! Eu fico realmente feliz de saber o que as pessoas falam pelas minhas costas! - Não consegui segurar o sarcasmo. Eu odiava que as pessoas falassem sobre mim sem eu estar presente.

— Achei que você soubesse! – Ela me olhou com descrença.

— Não, não sabia e eu preferia continuar não sabendo, Claire. A vida é minha e eu espero que as pessoas não metam a porra do dedo delas onde não são chamadas.

— Você e toda a torcida do Liverpool deseja isso! Mas infelizmente isso é impossível, meu querido! – Claire bufou diante da minha indignação.

— Essa não é a questão, Harry – continuou.

— Então qual é a questão, Claire?

— Eu sempre tive muita paciência com você desde o início. Busquei entender suas dores e, posteriormente, passei a compreender a maneira com que você lidava com o passado. Nunca te pressionei a me dizer coisas, tais como “qual era o nome da ex-namorada que quebrou o seu coração em tantos pedaços que ele ainda se recupera após anos” ...

— Isso não é verdade, Claire – gritei.

— Ah, não é? – Claire olhou para mim com todo o sarcasmo que poderia existir em seu corpo. – Então me diz, olhando nos meus olhos, que não ficou comigo só para esquecê-la? Nós só estamos juntos porque você deu uma chance para aquela caloura bonitinha pensando que poderia esquecer sua amada.

— Claire... você não tá sendo racional.

— Não estou? Confessa, Harry!

Bufei. - Eu confesso que, no início, era bem isso mesmo, mas depois eu me apaixonei por você, pelo seu jeito, suas manias, sua maneira louca de gostar de estudar... eu me apaixonei por você.

— Engraçado, Harry...

— O que é engraçado?

— Essa é a primeira vez que você diz que é apaixonado por mim... Veja bem, você sempre me diz que gosta muito de mim, que eu sou sua melhor amiga, que eu sou especial, mas nunca me disse um “eu te amo” em todos esses anos.

Eu fiquei sem fala porque era verdade. Nunca tinha conseguido dizer um “eu te amo” para Claire...

— Claire...

Percebi o momento em que ela não sustentou mais seu olhar em minha direção e focou em suas mãos, que estavam cruzados no colo. Claire respirou fundo antes de falar.

— Diante do que eu vi nessa noite, sua falta de atitude faz totalmente sentido. Você nunca me amou, Harry. Você gosta da minha companhia, gosta de estar comigo, mas não sente a mesma coisa que eu sinto quando estou contigo. Não vejo o por que devemos continuar com algo que eu não posso competir. Sua atitude perante ao Malfoy foi totalmente irracional, eu nunca te vi ter tanto ódio na vida.

— O que você queria que eu fizesse? Que eu deixasse Malfoy terminar o serviço? Eu faria isso com qualquer outra menina que estivesse na mesma situação, amor...

— Será? Duvido! Eu nunca te vi daquela maneira... você estava mais do que bravo porque um cara foi escroto com uma garota. Você parecia realmente com ódio ou com ciúmes, como se o Draco estivesse, de alguma forma, tocando em algo que era seu.

— Claire, menos vai... Eu faria a mesma coisa com qualquer outra mulher que estivesse no lugar da Ginny.

— Pode até ser, mas isso não muda o fato de que você a ama. – Nesse momento Claire me olhou nos olhos, de uma forma que eu não consegui negar o que ela dizia com tanta clareza para mim.

— Harry, não faz mais sentido continuarmos juntos, não diante do que eu vi na noite de hoje. Eu espero que você se encontre nesse turbilhão de sentimentos e seja, realmente, feliz. Nosso relacionamento acabou.

Não tive forças para seguir Claire quando ela saiu do carro e foi em direção a porta de sua casa. Ela entrou e eu consegui ver as luzes sendo acesas e apagadas conforme ela ia passando pelos cômodos até seu quarto. Eu fiquei parado, sem conseguir esboçar nenhuma reação. Eu e Claire não éramos mais um casal. Senti a primeira lágrima caindo enquanto eu ligava o carro e dirigia em direção a minha casa, já que, obviamente, eu não iria mais dormir na casa dela.

Eu era muito burro mesmo porque eu sabia que todas as afirmações de Claire eram, em partes, verdades: eu realmente tinha começado a namorá-la para esquecer Ginny e não era fácil para mim dizer que eu a amava, porque me “jogar” de cabeça em outro amor poderia me machucar, mas... o que eu poderia fazer na noite de hoje? Eu ia deixar Ginny ser violentada pelo idiota do Malfoy somente para que minha namorada (ops, ex-namorada) não ficasse com ciúmes e percebesse o quanto eu sou retardado porque não esqueci completamente minha ex.

Fui dirigindo pelas ruas de Londres até minha casa, onde a luz da garagem estava acesa. Depois de estacionar o carro subi as escadas em direção a porta de entrada e notei que as luzes da residência dos Weasley também estavam acesas.

“Ron, Ginny e Hermione ainda não devem ter chegado”, pensei. Suspirando e reclamando mentalmente o quanto a vida poderia ficar uma merda entrei em casa e me dirigi até o bar do meu pai, algo que eu não fazia há muitos anos – desde aquela noite fatídica para ser bem específico. Escolhi uma garrafa de uísque e caminhei para meu quarto esperando apenas que a ressaca chegasse branda pela manhã.

Na porta do quarto, arranquei o restante do macacão e a camiseta ficando apenas de cueca e me dirigi até o sofá observando os contornos da cidade e da casa vizinha. Não sei por quanto tempo permaneci na mesma posição, mas a garrafa já estava na metade quando eu vi a luz do quarto de Ginny acender. Quando faltava um terço para acabar o uísque da garrafa, a ruiva foi até a janela e olhou em minha direção. Consegui ver seus contornos e seu semblante triste por todos os acontecimentos da noite. Depois disso, ela apagou as luzes, provavelmente indo dormir.

Consegui permanecer por mais um tempo acordado pensando no que Malfoy poderia ter feito se eu não tivesse aparecido na porta do banheiro. Eu sempre soube das “aventuras” dele na universidade; ele não era um santo. Ele era conhecido por ser o “deus grego” da economia e, por onde passava, as meninas faziam questão de suspirar pelo jeito desleixado e, ao mesmo tempo, imponente.

Os caras do direito simplesmente o desprezavam, principalmente porque ele já tentou dar em cima de várias namoradas deles. Ele nunca tinha se metido com Claire, embora eu soubesse que ele comentava que achava minha ex-namorada gostosa.

Pensei nas palavras que Claire tinha me dito e no quanto toda a situação deveria estar doendo para ela, tanto quanto estava me doendo. Uma das garotas mais doces que eu conheci, que me fazia rir, que achava minhas piadas idiotas engraçadas, que me obrigava a estudar, que estava do meu lado em todos os momentos e que era incrível tinha acabado de terminar comigo. Minha Claire...

Se eu pudesse prever o tanto de merda que iria ocorrer na noite de hoje eu nem teria ido para a festa. Teria ficado em casa, curtindo minha sexta-feira tomando uma boa cerveja depois de todo o trabalho que tive essa semana. Se eu não tivesse ido, provavelmente estaria dormindo de conchinha com Claire em sua enorme cama e não bebendo igual a um idiota porque tomei um pé na bunda, além de também não ter passado nervoso com Malfoy.

Dei um último gole esvaziando o conteúdo da garrafa e caminhei até minha cama rezando para que o dia seguinte fosse melhor que o dia de hoje. Meu último pensamento racional foi o de que, talvez, a noite da formatura de Ginny tenha sido realmente uma armação e que eu era um babaca por perder Claire.

XXX

— Eu não devia ter bebido tanto... eu não devia ter bebido tanto... – Descer as escadas de casa no dia seguinte foi um sacrifício. Meu estômago estava embrulhado e o cheiro de bolo que vinha da cozinha me deixava enjoado. Minha cabeça latejava e o meu caminhar era devagar para evitar que eu caísse.

— Que noite boa, hein Harry. – Meu pai parecia que fazia questão de gritar quando eu estava com ressaca.

— Pai, você pode, por favor, falar mais baixo. Minha cabeça... – Colocando uma mão na lateral da cabeça e consegui chegar ao sofá, onde me deitei e fechei meus olhos esperando que a dor diminuísse.

— Toma. – Meu pai me entregou um frasco de cor amarela e um comprimido de dor de cabeça. Nunca o amei tanto quanto nesse momento.

— Obrigado.

Permaneci em silêncio por 20 minutos ou, pelo menos, foi o tempo que achei que fiquei quieto... cheguei a dar um cochilo enquanto meu pai ligava a TV bem baixinha para acompanhar o campeonato inglês e me fazia companhia na sala. Quando acordei, me sentia bem melhor do que quando eu tinha me levantado momentos antes.

Sentei no sofá e olhei com cara de poucos amigos para ele. – Nunca mais vou beber, pai.

— Sempre dizemos isso, filho. Faz uns 30 anos que eu e Sirius falamos essa frase após todo ano novo... veja que falhamos miseravelmente, né? – Nós rimos.

— O que aconteceu ontem? Achei que você fosse dormir na Claire. – Meu pai voltou a olhar para a TV. Decidi ser sincero com o “meu velho”.

— Digamos que foi uma droga...

— Ué? Deu errado a festa que vocês organizaram? – Me olhou preocupado.

— Não, pai. Claire e eu terminamos.

— Oh... – Visivelmente ele não sabia o que me dizer, já que esse era o “campo” da minha mãe. – Sinto muito, filho. Quer conversar?

— Digamos que eu fui bem idiota...

— Mais? – rimos de novo.

— É sério, pai. Eu nunca contei sobre Ginny para ela e ontem ela acabou descobrindo de uma maneira não muito legal.

— Começa do início, Harry. Eu não estou entendendo nada!

Busquei uma almofada e a coloquei nas minhas costas para ficar mais confortável no sofá. Respirando fundo, contei os detalhes: como estava tudo bem no decorrer da festa, minha reconciliação com Ron e Hermione e até as partes que eu não ainda estava processando, tais como o Malfoy tentar agarrar Ginny e o meu término com Claire.

— O filho do Lucius fez o que? – Meu pai ficou “puto” com a atitude do babaca do Malfoy.

— Juro, pai. Se eu não tivesse chegado no momento exato ele tinha terminado o “serviço” que começou...

— Eu vou quebrar a cara desse idiota. – Meu pai fez menção de sair do sofá e eu precisei segurar seu braço para que ele não fosse até a casa dos Malfoy para acertar as contas com o babaca “júnior”. Ele também não gostava do pai de Draco, Lucius por antigas rixas escolares.

— Eu e Ron já demos um jeito, pai. Não adianta você ir lá agora...

— Mas ele tentou fazer mal para a minha afilhada, Harry – Ele realmente estava bravo, respirando com dificuldade e sua expressão mostrava raiva.

— Eu sei, pai. Mas não é assim que as coisas se resolvem. No momento, o que importa é que a Gin não sofreu nada grave e nós esperamos que ele tenha aprendido a lição e fique longe dela.  

Meu pai resolveu se sentar novamente e me questionou com olhos cheios de dúvida.

— Eu entendi a parte do Malfoy, mas o que me deixou em dúvida foi o por que você e Claire terminaram? O que ela esperava? Que você deixasse Malfoy abusar de Ginny?

Como que eu ia explicar para o meu pai que o “buraco” era mais embaixo?

— Claire não sabia que eu tinha namorado com Ginny. Diante da cena, ela ligou alguns pontos como meu afastamento de Ron e Hermione, minha depressão e até meu comportamento em relação a algumas coisas do nosso relacionamento. Eu acho que foi demais para ela. Ela me disse que eu não a amava, pai.

— Mas isso não é verdade, filho. Vocês sempre me pareceram um casal apaixonado...

— Eu nunca disse que a amava. – Olhar para o chão me pareceu a melhor saída para evitar os questionamentos de meu pai.

— Ah... isso explica algumas coisas.

Ficamos por algum tempo observando o lance de futebol que passava na televisão até que ele quebrou novamente o silêncio.

— Sei que está doendo, filho, mas eu acho que vocês precisam conversar novamente. Sem ser de madrugada, depois de uma festa e com os dois cansados. Dá um tempo para ela dirigir tudo o que ocorreu, porque não deve ter sido fácil ver você defendendo sua ex-namorada...

— Sim...

— Filho, mesmo que sua atitude tenha sido louvável, não se pode negar que trouxe uma carga de sentimentos para o relacionamento de vocês, além do ciúme que ela deve ter sentido em vê-lo defendendo outra garota na frente dela.

Não soube o que responder e esperei que ele concluísse o pensamento.

— Quem sabe depois de uma nova conversa vocês não se acertam né?

Meu pai, no entanto, se mostrou errado. Claire se negou a falar comigo nas duas próximas semanas e em todas as vezes em que precisamos nos comunicar, como nas reuniões do centro acadêmico, ela tenta se mostrar a mais profissional e distante possível. Ela não me atendeu quando eu fui até sua casa no domingo após a festa, cheio de flores e com as melhores intenções; não atendeu minhas ligações pelo mês seguinte; me ignorou quando a chamei na faculdade inúmeras vezes...

Um mês se passou, dois meses se passaram, três meses se completaram e quando eu vi já estávamos próximos ao Natal. Nesse meio tempo, eu busquei tocar minha vida como um homem solteiro novamente. Fui a alguns jogos de basquete com Ron como nos velhos tempos; vi vários filmes com os meus pais; fui também a algumas festas com alguns colegas de faculdade; joguei videogame com Ron; bebi cerveja com Sirius, Remo e meu pai aos domingos e até cedi as tentativas de Hermione de me fazer estudar para que eu não ficasse de DP novamente na faculdade.

O estágio continuou com a mesma carga de trabalho, porém meu chefe me perguntou se eu tinha planos de continuar na cidade após a formatura. Ele me disse que eu tinha a grande possibilidade de ser efetivado e começar a advogar com o grupo e que eu deveria decidir a área que gostaria de seguir até o fim do ano letivo para que eles pudessem avaliar com qual equipe eu deveria trabalhar depois de formado. Essa notícia me encheu de alegria e meus pais até comemoraram minha “promoção” com um jantar delicioso no meu restaurante preferido.

Minha relação com os meus dois melhores amigos voltou relativamente ao que era antes do início do meu namoro com Claire. Eu saia com eles e nós conversávamos quase todos os dias, seja pessoalmente ou pelas redes sociais. Ron também tinha ficado de uma matéria na faculdade, porém não era a mesma que a minha, então, ele tinha aulas em dias diferentes dos meus – o que não impedia que marcássemos uma cerveja com o pessoal depois da classe sempre que podíamos.

Com a retomada da minha amizade com Ron, eu voltei a frequentar assiduamente a casa dos Weasley e isso significou maior proximidade com Ginny. Quase todas as sextas-feiras, eu me reunia com Ron e Hermione para fazer alguma coisa na casa dele e, ocasionalmente, ela nos fazia companhia, seja para jogar videogame ou para ver um filme. Em nossos encontros, eu percebi o quanto ela mudou nesses últimos anos e passamos a nos relacionar como amigos. Nós conversamos, trocamos mensagens, rimos juntos e não perdemos a oportunidade de zoar Ron sempre que podemos.

Minha amizade com Ginny se tornou leve, algo bem diferente do que eu poderia chamar da nossa “interação” nas primeiras semanas dela na Inglaterra. Ela não via mais receio de rir dos meus comentários ou zombar de mim com seu humor ácido, algo que eu, particularmente, gostava muito.

Nas últimas semanas, ela passou a aceitar minhas caronas para ir para a faculdade e nesses momentos eu descobri várias coisas da “nova” Ginny: ela sentia muita falta dos Estados Unidos e tinha dois grandes amigos na Terra do Tio Sam, que se chamavam Meghan e Lucas; ela desejava voltar para lá depois do fim do estágio, mas isso era algo que seus pais ainda não sabiam; descobri que ela gostava de Taylor Swift e de uma cantora brasileira chamada Anitta, da qual eu nunca tinha ouvido falar; que ela ainda tem medo de filmes de terror; que ela adquiriu alergia a lactose; que ela estava gostando demais do estágio e que Lupin dava total liberdade para a equipe dela trabalhar; que ela tinha ficado muito bêbada durante uma viagem ao México com Meghan; que ela tinha feito uma tatuagem e que desejava fazer um piercing na orelha assim que possível.

Rir com Ginny durante esses momentos no carro ou quando ela se juntava a mim, Ron e Hermione se tornou o “ponto” alto da minha semana e eu adorava trocar mensagens com ela sobre algumas coisas que eu via na rua e me lembravam absurdamente dela ou de mandar memes idiotas que eu vi no Twitter somente para ela mandar uma carinha de “aff” todas as vezes.

Diante desse cenário, eu recebi com alegria a notícia de que meus pais fariam uma ceia de Natal em casa neste ano e que, além de Remo e Sirius e suas respectivas famílias, os Weasley também foram convidados. Eu não sabia o que esperar desse momento, mas eu já sabia que seria um ótimo Natal só porque eu teria a companhia de meus amigos e da ruiva que vinha despertando sentimentos que eu ainda não tinha coragem de dizer em voz alta.


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Notas finais do capítulo

Há alguém por aqui ainda? Espero que sim hehe! Demorei, mas postei! Depois do capítulo anterior e de toda a carga “negativa” que ele trouxe, esse capítulo faz uma transição para os momentos fofinhos que virão pela frente entre Harry e Ginny. Sim, gente! Finalmente! Glória a Deuxxxx. Obrigada a todo mundo que está acompanhando, mandando comentários e dando energia e inspiração para continuar essa história que eu amo tanto. E pessoal, me perguntam bastante sobre o “O Casamento da Minha Melhor Amiga” e eu não desisti, okay? Faz tempo, mas eu não desisti de terminá-la... eu só quero priorizar “Complicated”, porque essa história condiz mais com a minha fase de vida e com os enredos que eu gosto atualmente de ler/escrever... isso não quer dizer que não darei um final digno para a minha primeira história por aqui e da qual eu tenho grande carinho... tenham paciência com a minha pessoa, okay? :P. Um super beijo e um Feliz 2019 para todos nós!