CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 26
CAPÍTULO 9 - As Descobertas




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— Como foi a busca? — A professora Ana aguardava na saída da Floresta Cantante, enrolada com um sobretudo laranja. Ao seu lado, a professora Hermenita aguardava abrindo e fechando seu relógio de bolso. Era tarde da noite e a escola já havia encerrado suas atividades cotidianas cerca de quatro horas atrás.

Giuliano, Luís e Betânia vinham pelo meio das árvores, afastando a neblina que cobria o chão com suas varinhas.

— Não encontramos nada — disse Luís decepcionado. — Fomos até o começo da Floresta dos Sussurros, tivemos problemas com alguns espíritos. De lá voltamos.

— Pelos chifres dourados, nenhuma pista? — Questionou a professora Ana, agarrando sua varinha com tamanha força que podia quebrá-la. Hermenita aproximou-se e segurou as mãos da colega.

— Não achamos indícios de que ela tenha atravessado a margem. Mas achamos alguns fios de cabelo na cabana — comentou Giuliano. — Precisamos saber se é dela, o que pode indicar o caminho que ela tomou.

— Vamos acordar Libatius imediatamente para preparar a poção de reconhecimento — disse Hermenita e auxiliou a professora Ana de volta para a pirâmide.

— Quem sabe agora temos alguma pista mais concreta — comentou Luís.

— Pobre garota — comentou Betânia. — Deve estar extremamente assustada.

— Conseguiram identificar algum traço de magia das trevas? — Questionou Luís.

— Algum? — Respondeu Betânia. — Aquela cabana possui muita magia das trevas. Porém, a maioria é antiga. Não possui nem metade da força que um dia tivera, mas sabe como é a magia. Ela deixa sua marca, ainda que não tenha mais forças como na época em que foi criada.

— Mas não conseguimos identificar qual das magias ali correspondem a magia que levou a garota. O encantado que está com ela conhece nossa magia e encobriu seus rastros como conseguiu. Por ora, vamos voltar para a pirâmide e ver o que conseguimos com a poção de reconhecimento.

Os professores retornaram para a pirâmide, porém, Giuliano não entrou. Afirmou estar cansado e precisar descansar.

— Sim, pode ir descansar, aliás, você fez bem em perceber os espíritos. Eu mesmo quase não os notei — comentou Luís e gargalhou. — Se não fosse você, teríamos todos sido pegos de surpresa.

— Apenas percebi um movimento estranho, foi pura sorte — respondeu Giuliano, mas percebeu logo que Betânia o olhava com curiosidade. Sentiu-se sendo avaliado e decidiu afastar-se logo. — Tenham um bom descanso, qualquer coisa me avise.

Caminhou até o Prédio Anexo de Estudos e subiu para sua antecâmara. Sentou-se na poltrona e tratou de pensar. A poção de reconhecimento com certeza identificaria como sendo da garota os fios de cabelo, sendo que logo após, seria feito a poção ou feitiço de localização.

Sabia que os caçadores de recompensa ainda não haviam localizado o alvo, o que significava que haviam chances dos grupos se encontrarem na floresta. Chamar a atenção dos espíritos havia desviado o caminho dos professores, ganhando certo tempo de vantagem para os caçadores. O problema seria a poção de reconhecimento e, provavelmente, algum feitiço de localização. Teria que pensar logo em algo para atrapalhar o encontro dos dois grupos, ou estaria em uma situação onde os professores e os caçadores duelariam.

Acabou cochilando enquanto pensava no plano. Sonhou com o encontro dos dois grupos e uma violenta batalha, onde os professores eram derrotados e capturados. Ele fugia antes da derrota, correndo pela floresta em busca de um local seguro, deixando tudo para trás. A escola, sua vida, sua família, tudo.

Acordou com um susto quando alguém bateu na porta. Não sabia em exato quanto tempo havia permanecido adormecido, mas pelas velas derretidas supôs que algumas horas.

— Professor? Podemos entrar?

A voz do diretor era reconhecível, mas o que chamou a atenção de Giuliano foi o “podemos”.

— Sim, claro — respondeu enquanto abria a porta. — Boa noite.

Entraram o diretor, Betânia, Ana e Luís. Todos visivelmente cansados, mas determinados.

— Desculpe o horário, professor — começou Orlando. — Mas temos que resolver algo de extrema importância. Acabamos de sair da sala de poções de Libatius, onde conseguimos confirmar a identidade da aluna. Agora está amanhecendo, portanto, está noite, após as atividades diárias, faremos a busca com o feitiço de localização. Desse modo, tenho algumas coisas a falar para vocês aqui. Vocês serão o grupo de busca, liderados pela professora Ana, que será a responsável por conduzir e criar o feitiço de localização. A professora localizou isso, no quarto da aluna.

O diretor tirou das vestes o espelho e fez com que ele permanecesse flutuando no meio da sala.

— Nós identificamos que esse espelho possui magia de comunicação. A aluna o usou para se comunicar com o encantado. Não sabemos como ela teve acesso a este item e suspeitamos que seja um dos segredos não visíveis da escola. A questão é que o mesmo foi usado para comunicação entre os dois, um dentro e outro fora da escola. Acredito que todos nós saibamos qual encantado possui como forma de comunicação brinquedos, espelhos ou objetos que chama a atenção de jovens.

Todos concordaram.

— Então isso significa que a menina está morta? — Perguntou Betânia, segurando sua expressão para não chorar.

— Não temos certeza, mas é possível — respondeu o diretor. — Vocês devem tomar cuidado. Ela não vai deixar vocês retirarem a menina, ainda que esteja morta. O que significa que devem estar preparados para o conflito. Será perigoso e temo pela segurança de vocês, mas não hesitem diante dela, ela não hesitará. A prioridade é, caso encontrem a encantada primeiro, imobilizem e usem de todos os meios que conhecerem para extrair a informação de onde a garota está. Caso encontrem o esconderijo primeiro, dividam-se em dois grupos. Ana, Betânia e Hermenita devem entrar e buscar a garota. Luís e Giuliano devem montar guarda na entrada e ficarem atentos com o que ocorrer, para dar suporte as professoras. Entrem na floresta, achem a Maria e quem quer mais que esteja lá, tirem todos os que conseguirem e saíam. O professor Luís ficará encarregado de informar a localização do esconderijo assim que estiverem fora.

Novamente, todos demonstraram concordância com o que foi dito.

— Tenham cuidado. Há mais na Floresta dos Sussurros do que a encantada. Coisas que talvez não esperemos encontrar lá. — O diretor olhou discretamente para o professor Giuliano. — Estejam prontos para enfrentar as dificuldades, se cuidem e fiquem bem. Voltem em segurança com nossa aluna. Tudo bem?

— Sim, diretor!

 

Hugo folheou novamente os livros da biblioteca. Sentia que havia uma resposta para sua dúvida em algum lugar, alguma coisa escondida ali indicaria a solução do problema. Só precisava buscar mais.

Olhou de relance para os outros alunos da biblioteca. Duas jovens do terceiro ano faziam algum trabalho sobre plantas mágicas em um canto, um garoto dormia em cima de alguns livros, dois grupos estavam no lado oposto da sala, conversando baixo e revirando folhas.

A Sra. Mariana buscava riscos, folhas rasgadas ou arrancadas nos livros devolvidos pelos alunos. O Sr. Ernaldo caminhava pelos corredores da biblioteca, guardando os livros já verificados e buscando eventuais atitudes indevidas dos alunos com seus olhos atentos e ágeis.

Hugo pousou os olhos nos livros sobre a mesa. Já não sabia quais livros ver. Havia perdido o interesse em ler com calma os que pegava, agora passava o olhar rápido pelos capítulos, buscando as folhas determinadas e os deixando de lado assim que terminava. Na quarta vez que se levantou para buscar livros notou que a bibliotecária levantou também o olhar para ele. Imaginou que a mulher suspeitava de algo desde o último encontro. Decidiu que não voltaria para a mesa, iria continuar a busca de pé.

Passou pelos livros de história da escola. Livros de capa dura, grossos e de aspecto velho. Havia visto apenas um sexto de todos os que estavam na estante. Desistiu da sessão de história da magia e foi para a sessão de mitos e lendas. Haviam mais livros nessa sessão. Eram menores que os de história e coloridos, indo de capas duras e escuras no topo até os mais coloridos e infantis na base da estante.

Começou a folhear os livros ali mesmo, em pé. Após alguns minutos de busca sentou-se no chão, as pernas haviam cansado. Por um breve momento esqueceu-se do que buscava. Quase deixou o livro que segurava cair da mão quando ouviu ser chamado.

— Menino! O que está fazendo?

Ernaldo estava apontando para o garoto com um livro e segurando outros com a outra mão. O Gavião olhou irritado para o garoto. Sentar no chão era uma falha grave para ele, embora não tivesse punição adequada estabelecida.

— Nada não, senhor. Estava só lendo.

— Lendo é? Eu te vi vasculhando a biblioteca desde às quatro da tarde. O que busca?

— Nada, só estou estudando.

— Estudando, é? Sei bem o estudo de vocês. Deve estar buscando aquele livro. Amaldiçoado seja o dia que o escreveram. Alunos desprezam as grandes e maravilhosas obras guardadas neste local apenas para se subverter com os ensinamentos errados de algum qualquer. Mas me aguarde garoto, logo mais descobrirão o feitiço que o torna intangível para mim e eu darei um fim a esse livro. Só espere e verá. Eu juro pelos chifres dourados. Levante-se e não quero vê-lo sentado aí, há mesas e cadeiras disponíveis.

O Gavião afastou-se do garoto, carregando seus livros e rogando pragas contra quem quer que tenha escrito o livro que comentara.

Hugo levantou-se com calma, respirando fundo. Havia prestado pouca atenção no que o Gavião havia dito. Algo sobre um livro errado, com informações incorretas, dar fim a algo e não se sentar.

O garoto decidiu ir comer algo antes que o expulsassem da biblioteca, mas antes que chegasse ao fim do corretor sentiu um estalo no cérebro. De repente tudo fez sentido. Um livro proibido, que o Gavião não poderia tocar, feitiço intangível.

— Aluno Pedroso — sussurrou e de repente a obviedade daquela conclusão o atingiu com força.

Seria essa a resposta. O Aluno Pedroso com certeza teria escrito sobre como sair escondido da escola. Ele deveria saber como passar pela Floresta Cantante sem ser iludido. Só precisava achar o livro.

Hugo começou a vasculhar as estantes, parando ora ou outra em uma sessão e fingindo interesse no conteúdo dali, tentando despistar caso algum dos funcionários estivesse olhando. Buscou por um tempo sem sucesso, até que na sessão de línguas, onde haviam livros de gramática, espanhol, português e inglês, percebeu alguns livros diferentes dos outros. Enquanto a maioria possuía capas duras com o título, três possuíam capas molengas e apenas a letras P em destaque, abaixo desta havia a numeração do livro: IV, VI, II.

Bingo! Achou os livros. Agora só precisava pegar o correto antes que o Gavião aparecesse. Sabia que o quarto tratava sobre os locais da escola e o dois sobre onde buscar ingredientes bons e como lidar com as criaturas mágicas. Então pegou o sexto e colocou por baixo da blusa.

Não sabia se conseguiria sair da biblioteca com ele, pois os bibliotecários estavam no caminho. Caso algum deles tocasse no livro, o mesmo iria desaparecer e reaparecer em alguma estante aleatória e ele teria que buscar algum outro dia. Fechou a blusa e tentou caminhar com calma. Foi até a mesa onde estivera sentado e fingiu folhear um livro enquanto observava o movimento da biblioteca. O Gavião caminhava pelos corredores, enquanto a Sra. Mariana continuava a olhar para os livros no balcão. Aproveitou-se do momento em que um dos grupos de alunos saiu de sua mesa e foi para o balcão, provavelmente pedir para retirar algum livro.

Levantou-se, tentando manter-se calmo e afastou-se das mesas. Não olhou para trás. Caminhou até a saída e chegou no corredor do terceiro andar. Estava seguro e com a resposta embaixo da camisa. Não conseguiu conter o sorriso e sentiu-se bobo por ter conseguido.

 

Eduardo olhava para a janela do quarto. Havia começado o trabalho de história da magia, mas desistira. Algo no céu havia o desanimado. Uma massa de nuvens cinzentas parecia caminhar na direção da escola como uma criatura viva, escurecendo o céu. O dia havia mudado do claro e iluminado para o cinzento rapidamente.

Recostou-se no travesseiro e decidiu descansar. Não havia sentido em tentar fazer o trabalho se não podia produzir nada.

A porta do quarto abriu-se e o quarto foi tomado com a conversa entre Miguel e Roberto. Os dois haviam estado no Saguão Principal, provavelmente buscando comer algo, mesmo que não fosse a hora do jantar.

— Terminou o trabalho? — Perguntou Miguel.

— Não, fiquei desanimado — respondeu Eduardo.

— Achei que o Hugo estava com você — comentou Roberto.

— Não. Se não estava com vocês na cozinha deve estar na biblioteca.

— Ele está obcecado, isso sim — disse Roberto. — Acho perigoso. Quando alguém está obcecado com algo pode... fazer algo errado.

Todos permaneceram em silêncio. Quando Miguel abriu a boca para falar a porta do quarto escancarou-se com força.

— Achei! — Gritou Hugo com um livro na mão. — Achei! Achei!

— O que? — Perguntou Eduardo.

— A resposta — Hugo estava sorridente e animado. — Como atravessar a floresta. Está aqui no livro. Vejam.

Ele colocou o livro na cama. A página aberta nos últimos capítulos.

— Aqui ele disse “A floresta cantante, uma floresta interessante. Se você permanecer perto dela, poderá ouvir uma melodia bonita ou não. Há quem ouça e quem não ouça. Mas a verdade é que a mesma parecer ter vida, mover-se mesmo sem vento. Uma coisa lhe digo, ela vive agitada, nunca para de se mover ou é o que dizem. Particularmente não tive muitas oportunidades de estudá-la, mas um amigo me disse que música clássica pode acalmar qualquer um. Quem sabe alguém toque para elas?”. Viram?

— O que exatamente? — Perguntou Eduardo.

— A música. Música clássica. Essa é a resposta. Se colocarmos música clássica, ela para de se mover e não nos afeta, assim podemos passar por ela. Essa é a resposta.

— Você tem certeza? Me parece mais um palpite que uma certeza.

— Podemos tentar!

— Hugo — chamou Roberto. — Não acha que devemos passar isso para os professores? Eles poderiam conseguir passar com mais êxito que a gente.

— Eles não podem ver o livro Beto — respondeu Hugo. — Nós temos que fazer isso.

— Mas podemos dizer para eles.

— Eles não vão acreditar em quatro estudantes de doze anos, Beto.

— Mas não sabemos se irá funcionar — comentou Eduardo. — E se não der certo?

— Aí seremos expulsos da floresta como fomos da última vez. Temos que pelo menos tentar, Eduardo.

— Ok, vamos tentar — disse Miguel.

Roberto o olhou com surpresa e Eduardo com curiosidade.

— Sério? — Disseram em sintonia Roberto e Hugo.

— Sim, não custa nada ver se dá certo. Caso dê, podemos apresentar para os professores como uma certeza, ao invés de apenas uma hipótese tirada do livro. Eles podem dar continuidade. Vamos testar.

— Isso! — Comemorou Hugo.

— Quando? — Perguntou Eduardo.

— Hoje! — Exclamou Hugo.

— Hoje? Tem certeza?

— Sim, vamos agora, antes que escureça — disse Miguel. — Arrumem as coisas, temos que achar uma forma de reproduzir música clássica. Nenhum de nós sabe tocar, temos que pensar em um jeito.

— Eu acho que sei de um jeito — disse Hugo. — Já volto.

Hugo saiu do quarto rápido como um raio. Roberto virou-se para os amigos.

— Vamos mesmo fazer isso?

— Sim — disse Miguel.

— Acho bom também — concordou Eduardo. — Descobrimos se dá certo, contamos para os professores e eles dão continuidade. Assim o Hugo se acalma e quem sabe ajudamos a encontrar a Maria mais rápido. Vamos fazer nossa parte, pelo menos. Vamos arrumar as coisas, precisamos sair antes que alguém nos veja.

 

 


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