CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 25
CAPÍTULO 8 - A Busca




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Novamente a menina fantasma havia visto uma criança ser levada para dentro da caverna. Dessa vez, a garota levada era mais velha que as outras e parecia ser uma estudante. Novamente, ouviu-se um grito assim que a garota adentrou fundo na caverna, após, houve silêncio.

Ela já não aguentava ver aquilo. Questionava o motivo de ninguém ter ido salvar as crianças. Eles estavam ali, bem ali. Se pudesse, ela mesma entrava na caverna e retirava as crianças, porém, ela sabia o que um encantado podia fazer a um fantasma. Um encantado havia dado fim a única amiga fantasma que fizera na floresta.

Queria chorar, mas não haviam lágrimas nos olhos. Podia sentir todas as emoções humanas, mas não podia produzir fluídos, respirar ou qualquer coisa semelhante. Permaneceria no estado em que morrera para sempre.

Flutuou pela parte pantanosa da Floresta dos Sussurros, ouvindo os outros espíritos ao longe. Sussurros, choramingos, vozes irritadas, gritos agudos e movimentos rápidos se espalhavam pela floresta. Nada daquilo a afetava. Conhecia aqueles que produziam os sons e sabia que nada podia fazer por eles.

Chegou no único local que ainda lhe trazia certa paz e conforto. O rio dividia as duas florestas com uma corrente forte e contínua. Uma ponte antiga de madeira, com vários buracos e que balançava com o vento era o único meio de atravessar o rio com segurança. Ela parou em frente a ponte e observou. Conseguia distinguir entre as árvores a pequena cabana ao longe.

Atravessou a ponte flutuando e continuou. Conforme se distanciava da floresta, sentia a ausência daquela magia fantasmagórica que a mantinha bem. Chegou na porta da cabana e sentou-se no primeiro dos três degraus que davam acesso a varanda pequena. Uma das janelas da cabana já havia sido destruída e agora era um buraco do lado direito. A outra tinha parte do vidro quebrado. A porta rangia com a brisa e a madeira do piso emitia sons assustadores.

A garota permaneceu sentada, observando o local familiar que outrora fora seu refúgio e abrigo. Aos poucos, a ausência da magia da floresta a qual havia se habituado começou a lhe fazer falta. Seus pés começaram a ficar translúcidos e uma fraqueza incomum começou a se apoderar dela. Adoraria permanecer ali até o amanhecer, quando o sol surgiria por cima das árvores, assim como vira diversas vezes, mas não podia. Aos poucos ela sumiria até que não existisse mais.

Retomou o caminho de volta para a Floresta dos Sussurros, observando a volta. A Floresta Profunda era diferente da floresta em que vivia. Era viva, animada e cheia de energia. Em uma árvore vislumbrou um par de tangarás que dançavam e liberavam pequenos pontos brilhantes que caiam no solo, onde uma onça se movia de forma ritmada, tentando imitar a dança dos pássaros.

Ao atravessar a ponte e entrar na cobertura das árvores melancólicas, deixou de ser uma silhueta e ganhou contorno e forma, retornando a sua forma original. Um assobio agudo veio das árvores e a garota se deu conta de que havia de fato retornado. Tomou seu rumo, em direção a região pantanosa da floresta, para observar o movimento na caverna.

 

Era o sexto ou décimo livro que revirava. Hugo já não sabia quantos tinha visto. Castelobruxo – A História Completa, Escolas de Magia da América do Sul, Segredos Não Visíveis de Castelobruxo – Vol. 1, Lendas e Mitos de Castelobruxo – A Verdade Desvendada, dentre outros livros com histórias, lendas e especulações da escola estavam espalhados pela mesa da biblioteca.

Estava cansado. Passou a manhã do domingo revirando livros. Tentando encontrar algo que lhe ajudassem a passar pela Floresta Cantante. Não havia lido de fato os livros, mas passado pelo índice de cada um e buscado algo que remetesse a floresta.

Diversos livros mencionavam ou contavam a história por trás da floresta. Diziam as histórias que a floresta fora plantada com a finalidade de desiludir qualquer um que tentasse entrar nela, protegendo a Passagem do Tosco. A passagem era um meio de contato entre a escola e uma cabana, próxima a floresta dos sussurros, onde vivia o filho de um dos diretores da escola.

Pelos relatos, dizia-se que o garoto nasceu bruxo, porém, com certa dificuldade de atenção e raciocínio, o que o impedia de frequentar a escola. Desse modo, a cabana servia de estadia temporário para o jovem bruxo e sua tutora, sendo que durante a noite ambos atravessavam a passagem e vinham para a escola, onde o diretor e um grupo seleto de professores ensinavam o jovem a controlar sua magia.

Outros relatos afirmavam que era uma passagem utilizada em tempos mais antigos, como uma rota de fuga para caso o ex-marido de Abigail, a primeira diretora de Castelobruxo, decidisse atacar. Outros relatos afirmavam que a passagem era utilizada para trazer pessoas comuns para os rituais antigos, para contrabandear artefatos da escola, dentre outras histórias e especulações menores.

Hugo recostou-se em sua cadeira e olhou para o teto, onde várias criaturas mágicas de madeira observavam a biblioteca com olhos atentos que se moviam em direções distintas. Havia um alicanto, uma serpente alada, um lobo-guará, uma moñai, um guirivilo, um boto e uma serpente colorida.

Mesmo que agora soubesse das histórias referentes a floresta, não tinha ideia de como atravessá-la. Nenhum livro havia sequer mencionado qualquer forma de passar pelas árvores cantantes.

O sinal para o almoço tocou e os alunos que estavam na biblioteca começaram a levantar-se. Mariana, a chefe da biblioteca, passava pelas mesas recolhendo os livros e dando comando para que eles seguissem sozinhos para os locais corretos.

— Não vai almoçar, menino?

— Sim, vou, desculpe. — Antes de afastar-se da chefe da biblioteca, Hugo decidiu voltar. — Senhora, por favor. Poderia me ajudar a achar um livro?

— Diga, qual livro tem buscado?

— Eu não sei. — A mulher levantou uma sobrancelha e Hugo buscou logo se explicar. — Quero dizer, busco um livro o qual não sei o nome, mas sei do que se trata.

— E do que se trata esse livro?

Hugo hesitou. Não sabia se seria bom falar disso com um responsável da escola. Foi quando notou que a mulher olhava para os livros que havia deixado na mesa. A expressão dela mudou de tranquila para surpresa e depois incomodada.

— Não se preocupe, senhora, eu vou... comer. Tchau!

Hugo saiu da biblioteca antes que a mulher pudesse falar algo. Iria encontrar os amigos no saguão e ver com eles uma saída para o problema. Não haviam mais livros que pudesse verificar na biblioteca.

— Como assim vocês não pesquisaram? — Hugo estava visivelmente nervoso.

— Ainda não tivemos tempo — explicou Eduardo.

— Mas e se ela não tiver tempo?

— Calma, Hugo. Nós vamos pesquisar, é só ter calma.

— Você achou algo? — perguntou Roberto.

— Não — respondeu Hugo, derrotado e irritado. — Os livros falam da floresta, mas nenhuma explica qualquer coisa sobre como passar por ela. Encontrei várias lendas e pessoas que conseguiram, podemos começar por aí.

Roberto olhou de canto para Miguel, que se adiantou:

— Eu e o Roberto vamos pesquisar depois da aula. Vocês dois terminam o trabalho de poções. Tudo bem?

Ao se distanciarem dos outros, Roberto chamou Miguel:

— Você não vai realmente alimentar essa ideia, não é? Digo, estou preocupado com a Maria também, mas o plano do Hugo é muito perigoso.

— Só precisamos manter ele ocupado até que os professores consigam acha-la.

 

— Como foi a busca? — A professora Ana aguardava na saída da Floresta Cantante, enrolada com um sobretudo laranja. Ao seu lado, a professora Hermenita aguardava abrindo e fechando seu relógio de bolso. Era tarde da noite e a escola já havia encerrado suas atividades cotidianas cerca de quatro horas atrás.

Giuliano, Luís e Betânia vinham pelo meio das árvores, afastando a neblina que cobria o chão com suas varinhas.

— Não encontramos nada — disse Luís decepcionado. — Fomos até o começo da Floresta dos Sussurros, tivemos problemas com alguns espíritos. De lá voltamos.

— Pelos chifres dourados, nenhuma pista? — Questionou a professora Ana, agarrando sua varinha com tamanha força que podia quebra-la. Hermenita aproximou-se e segurou as mãos da colega.

— Não achamos indícios de que ela tenha atravessado a margem. Mas achamos alguns fios de cabelo na cabana — comentou Giuliano. — Precisamos saber se é dela, o que pode indicar o caminho que ela tomou.

— Vamos acordar Libatius imediatamente para preparar a poção de reconhecimento — informou Hermenita e auxiliou a professora Ana de volta para a pirâmide.

— Quem sabe agora temos alguma pista mais concreta — comentou Luís.

— Pobre garota — comentou Betânia. — Deve estar extremamente assustada.

— Conseguiram identificar algum traço de magia das trevas? — Questionou Luís.

— Algum? — Respondeu Betânia. — Aquela cabana possui muita magia das trevas. Porém, a maioria é antiga. Não possui nem metade da força que um dia tivera, mas sabe como é a magia. Ela deixa sua marca, ainda que não tenha mais forças.

— Mas não conseguimos identificar qual das magias ali correspondem a magia que levou a garota. O encantado que está com ela conhece nossa magia e acobertou seus rastros como conseguiu. Por ora, vamos voltar para a pirâmide e ver o que conseguimos com a poção de reconhecimento.

Os professores retornaram para a pirâmide, porém, Giuliano não entrou. Afirmou estar cansado e precisar descansar.

— Sim, pode ir descansar, aliás, você fez bem em perceber os espíritos. Eu mesmo quase não os notei — comentou Luís e gargalhou. — Se não fosse você, teríamos todos sido pegos de surpresa.

— Apenas percebi um movimento estranho, foi pura sorte — respondeu Giuliano, mas percebeu logo que Betânia o olhava com curiosidade. Sentiu-se sendo avaliado e decidiu afastar-se logo. — Tenham um bom descanso, qualquer coisa me avise.

Entrou no Prédio Anexo de Estudos e subiu para sua antecâmara. Sentou-se na poltrona e tratou de pensar. A poção de reconhecimento com certeza identificaria como sendo da garota os fios de cabelo, sendo que logo após, faria uma poção ou feitiço de localização.

Sabia que os mercenários ainda não haviam localizado o encantado, o que significaria que haviam chances dos grupos se encontrarem. Chamar a atenção dos espíritos havia desviado o caminho dos professores, ganhando certo tempo de vantagem para os mercenários. O problema seria a poção de reconhecimento e, provavelmente, algum feitiço de localização. Teria que pensar logo em algo para atrapalhar o encontro dos dois grupos, ou estaria em uma situação onde os professores e os mercenários duelariam.

Acabou cochilando enquanto pensava no plano. Sonhou com o encontro dos dois grupos e uma violenta batalha, onde os professores eram derrotados e capturados. Ele fugia antes da derrota, correndo pela floresta em busca de um local seguro, deixando tudo para trás.

Acordou com um susto quando alguém bateu na porta. Não sabia quanto tempo havia dormido, mas pela cera derretida da vela havia dormido por cerca de duas horas.

— Professor? Podemos entrar?

A voz do diretor era reconhecível, mas o que chamou a atenção de Giuliano foi o “podemos”.

— Sim, claro — respondeu enquanto abria a porta. — Boa noite.

Entraram na pequena sala o diretor, Betânia, Ana e Luís. Todos visivelmente cansados, mas determinados.

— Desculpe o horário, professor — começou Orlando. — Mas temos que resolver algo de extrema importância. Acabamos de sair da sala de poções de Libatius, onde conseguimos confirmar a identidade da aluna. Amanhã, faremos a busca com o feitiço de localização. Desse modo, tenho algumas coisas a falar para vocês aqui. Vocês serão o grupo de busca, liderados pela professora Ana, que será a responsável por conduzir e criar o feitiço de localização. A professora localizou isso, no quarto da aluna.

O diretor tirou das vestes o espelho e fez com que ele permanecesse flutuando no meio da sala.

— Nós identificamos que esse espelho possui magia de comunicação. A aluna o usou para se comunicar com o encantado. Não sabemos como ela teve acesso a este item e suspeitamos que seja um dos segredos não visíveis da escola. A questão é que o mesmo foi usado para comunicação entre os dois. Acredito que todos nós saibamos qual encantado possui como forma de comunicação brinquedos, espelhos ou objetos que chama a atenção de jovens.

Todos concordaram.

— Então isso significa que a menina está morta? — Perguntou Betânia, segurando sua expressão para não chorar.

— Não temos certeza, mas é possível — respondeu o diretor. — Vocês devem tomar cuidado. Ela não vai deixar vocês retirarem a menina, ainda que esteja morta. O que significa que devem estar preparados para o conflito. Será perigoso e temo pela segurança de vocês, mas não hesitem diante dela, ela não hesitará. A prioridade é, caso a encontrem antes de seu esconderijo, imobilizem e usem de todos os meios que conhecerem para extrair a informação de onde a garota está. Caso encontrem o esconderijo, dividam-se em dois grupos. Ana, Betânia e Hermenita devem entrar e buscar a garota. Luís e Giuliano devem montar guarda na entrada e ficarem atentos com o que ocorrer, podendo dar suporte as professoras. Entrem, achem a Maria e quem quer mais que esteja lá, tirem todos os que conseguirem e saíam. O professor Luís ficará encarregado de informar a localização do esconderijo assim que estiverem fora.

Novamente, todos demonstraram concordância com o que foi dito.

— Tenham cuidado, há mais na Floresta dos Sussurros do que ela. Coisas que talvez não esperemos encontrar lá. — O diretor olhou discretamente para o professor Giuliano. — Estejam prontos para enfrentar as dificuldades, se cuidem e fiquem bem. Voltem em segurança com nossa aluna. Tudo bem?

— Sim, diretor!


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