CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 24
CAPÍTULO 7 - Preparativos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721371/chapter/24

— Vou lhes dar mais uma chance. Me digam, exatamente o que estavam fazendo na floresta?

A professora Ana Catalina olhava para os quatro garotos com uma expressão séria. Ao seu lado o professor Luís balançava a cabeça calmamente. Como professores responsáveis pelos alunos do primeiro e segundo ano, era responsabilidade dos dois lidarem com eventuais falhas, punições e avisos a serem passados.

No canto da sala, o professor Giuliano observava os alunos com interesse. Algo na história que contaram lhe chamou a atenção.

— Nós já dissemos professora! Estávamos ajudando o Roberto, quando vimos os cadejos e encontramos a Maria — Hugo tentava manter a calma, mas o nervosismo em sua voz era visível. — Temos que ajuda-la o quanto antes.

— Todos vocês concordam com o que ele diz? — Perguntou a professora aos demais.

Todos concordaram. A professora olhou para Luís, buscando alguma ajuda. O professor arrumou-se no lugar e aproximou-se dos garotos.

— Iremos verificar o ocorrido, voltem para o dormitório e amanhã pela manhã conversaremos.

Obedecendo a ordem, os quatro saíram da sala. Após a porta fechar-se, os professores reuniram-se.

— O que acham? — Começou a professora Ana Catalina.

— Acredito em tudo, até o momento da garota — comentou Luís. — Não sei se acredito nessa parte.

— Há a possibilidade de terem tido uma ilusão — disse Giuliano. — Eles estavam perto da Floresta Cantante. A canção das árvores costuma fazer as pessoas delirar e se perderem. De certa forma, foi sorte terem conseguido sair dela.

— Isso é verdade. Aliás, foi para isto que elas foram plantadas, para esconder a Passagem do Tosco — concordou Ana. — Sabemos onde a aluna está? A que eles disseram ter visto?

— Deve estar dormindo com as outras — respondeu Giuliano. —  Acredito que será uma sorte um aluno encontrar a floresta. Aqueles que sofrem uma perda podem ouvir a canção das árvores, isso é certo. Porém, encontrar o caminho pela floresta seria um golpe de sorte. A maioria se perde tentando encontrar a origem do som.

— Mas pelo que disseram, encontraram o caminho — disse Ana. — E mais de uma vez.

— É possível que os cadejos tenham os levado para lá sem querer — comentou Giuliano. — De todo modo, irei verificar a região está noite. Para ver se encontro algo.

— Aliás, meus parabéns pelo truque dos cadejos — comentou Luís sorridente. — O diretor me disse que você iria criar medidas para que os alunos não se distanciassem da escola, mas confesso que esses feitiços ilusórios foram uma bela jogada.

— Obrigado — respondeu Giuliano. — Mas ainda não está terminado. Tenho que colocar mais alguns no caminho do pântano e nos portões de saída da escola. Além de verificar se todos permanecerão ativos somente durante à noite e não afetarão os Guardiões. Bem, tenho muito o que fazer, se me dão licença.

— Bem, irei verificar se a aluna mencionada está em sua cama. Caso contrário avisarei o diretor — Ana arrumou-se e saiu pela porta.

O professor Luís permaneceu na sala sozinho por alguns instantes, até se dar conta de que os outros já haviam saído. Então saiu da sala e foi ver os Guardiões.

 

A professora Ana caminhou pelo Saguão Principal. Algumas estátuas curiosas a observaram passar. Os avisos flutuavam pelo quadro negro, iluminado pela luz do luar que atravessava uma janela no alto. Com exceção dessa movimentação, nada mais acontecia no grande espaço, fazendo o som dos sapatos da professora ressoarem por todo o espaço.

Atravessou a porta lateral e foi em direção aos dormitórios. Com um movimento da varinha a porta abriu-se, revelando o espaço amplo, com duas escadarias, uma a direita e outra a esquerda, que davam acesso ao primeiro andar do prédio. No meio do espaço, havia o jardim, iluminado pelo luar. As estátuas ali olharam com curiosidade para a professora que subiu as escadas a esquerda.

A porta de madeira moveu-se e permitiu que a professora entrasse no dormitório. Ela encontrou os quatro jovens que haviam interrogado a poucos minutos reunidos na sala. Pareciam estar conversando sobre algo quando o movimento da porta os distraiu. Todos ficaram assustados ao ver a professora.

— O que fazem acordados a essa hora? — Questionou a professora.

— Nós, estávamos... é... — Começou Eduardo.

— Vamos, já para a cama. Os quatro.

Os jovens caminharam em fila para o quarto dos meninos. Assim que a porta foi fechada a professora continuou para o quarto das meninas. Com cuidado ela abriu a porta e colocou a cabeça para dentro. Todas as meninas pareciam dormir tranquilamente. As cobertas moviam-se calmamente e o assobio baixo era ouvido. Exceto uma cama, entre duas garotas.

Estava arrumada e passaria por uma cama desocupada, se não fosse a mochila e os pertences espalhados na frente da cama e na estante.

— Minha nossa — murmurou a professora e entrou no quarto.

Antes que pudesse aproximar-se da cama dois olhos amarelos surgiram na estante. A professora reconheceu o puerio e verificou que acima dele, no telhado, haviam mais alguns que observavam a professora. O pueiro na estante apontou para o travesseiro e piscou.

A professora andou calmamente até a cama. Levantou o travesseiro e viu um espelho comum escondido. Olhou para o puerio que parecia nervoso com o objeto. Ao tocá-lo, a professora sentiu a magia que o envolvia. Antiga e incomum. Não era de bruxo ou de alguma criatura que conhecera.

— Preciso acordar o diretor.

 

Giuliano caminhou pela floresta. Aqui e ali os cadejos ilusórios surgiam e sumiam ao perceber que não era um estranho, mas sim o seu criador que caminhava. Chegou ao local em que os garotos encontraram os cadejos e moveu sua varinha, liberando um pó brilhante que aos poucos tomou forma. Seguiu o contorno dos garotos, acompanhando sua corrida até onde a floresta acabava e a Floresta Cantante surgia.

Acompanhou os garotos, liberando o pó da ponta da varinha. Viu o contorno deles correndo para um canto, onde o muro da escola e a floresta se encontravam. O garoto de cabelos cor de palha correu mais a frente e de repente foi levantado do chão. Então o feitiço do professor foi bloqueado e nada mais foi mostrado.

Ele tentou mais duas vezes usar o feitiço, mas tudo sempre parava no momento seguinte que o garoto era levantado do chão.

— Curioso. Muito curioso.

Caminhou mais à frente, mantendo os sentidos alerta para qualquer resquício de magia que pudesse encontrar. Algo brilhante chamou sua atenção no chão. Uma pulseira de metal, simples, com apenas uma palavra gravada, Maria. Tinha que ver o diretor e teria de ser naquela noite.

Giuliano retornou para a pirâmide. Atravessou o Saguão Principal e subiu as escadas. Chegou ao último andar da pirâmide, onde residia o diretor. O andar constitua de um corretor amplo que se estendia da direita para a esquerda, ficando a escadaria na metade do corredor. Havia no total seis portas, três à direita e três à esquerda. O corredor estava com pouca iluminação. Haviam poucos quadros no andar, sendo a maioria aglomerada no meio do corredor. Para a direita os quadros haviam sido substituídos por esculturas dos primeiros diretores da escola ou pinturas rudimentares destes. A diretora Abigail, a primeira diretora oficial de Castelobruxo, permanecia no fim do corredor, apontando a varinha para o alto onde o brasão da escola permanecia suspenso.

A última porta do corredor correspondia ao quarto do diretor, sendo as duas anteriores o escritório do diretor e a sala de reunião. Antes que Giuliano pudesse bater na porta a maçaneta moveu-se. A porta abriu e a professora Ana surgiu.

— Ah, Giuliano. Que susto.

— Desculpe, não foi minha intenção.

— Não se preocupe. Bem, vou para minha sala, com licença.

Giuliano bateu na porta e entrou.

— Senhor diretor.

— Sim, Giuliano. Entre e feche a porta. Sente-se, por favor.

O quarto do diretor era divido em dois cômodos. O primeiro era decorado com quadros, flores e objetos mágicos, além de uma escultura de mulher que observava o professor com curiosidade. O segundo era acessado por um arco de pedra, coberto por uma cortina branca com as iniciais da escola gravadas.

— Sente-se, professor. Acredito que tenha vindo falar do mesmo assunto que a professora Ana comentou.

— Sim, andei pelas terras da escola, em especial o local onde as crianças disseram ter visto a aluna.

— Encontrou algo?

— O feitiço de revelação foi bloqueado no local em que as crianças dizem ter visto a aluna. Encontrei essa pulseira no local. Acho provável que os garotos de fato viram a menina.

— Entendo. — O diretor suspirou profundamente. Parecia ter caído no sono por um segundo antes de continuar. — Não queria que a situação chegasse a esse estado. Creio que saiba o que tem de fazer. Vou chamar o Luís e pedir que alguns Guardiões os acompanhem. Busquem a garota em sigilo e a tragam de volta, sim?

— Sim, diretor. Irei me preparar.

— Mais uma coisa, professor. Entende bem o que enfrentamos aqui, não? Só há duas espécies de seres que conseguiriam ultrapassar as paredes protetoras dessa escola. Bruxos e encantados, esteja preparado para os dois, sim?

— Estarei, diretor.

Orlando permaneceu em sua sala. Havia muito o que pensar e pouco tempo para decidir. Logo o ocorrido iria sair dos muros da escola e alcançar o Governo. O diretor sabia que teria que agir rápido, a vida da garota estava em perigo real. Porém, caso o Governo intervisse, possivelmente a situação pioria mais.

Não podia deixar que se tornasse público o ocorrido. Se conseguisse recuperar a aluna antes do Governo descobrir o ocorrido, tudo ficaria bem. Porém, as chances de algo assim permanecer em sigilo por muito tempo eram mínimas. Além disso, havia ainda aqueles com quem o professor se encontrava às escondidas algumas vezes na semana, o que preocupava ainda mais o professor. Teria que dar ordens específicas para o professor Luís, caso encontra-se os caçadores de recompensas.

O tempo começara a correr e muito estava em jogo, principalmente a vida da aluna.

Levantou-se de sua cadeira e decidiu ir ver o professor Luís, não iria esperar que ele chegasse em sua porta. O tempo corria.

 

— Vocês estão dormindo?

O rebuliço em uma das camas informou que estavam acordados. Eduardo sentou-se na cama.

— O que vamos fazer? — perguntou Hugo.

— Falem baixo — recomendou Miguel, olhando para os outros meninos que dormiam no quarto. — Venham.

Os quatro foram para uma cama desocupada no fundo do quarto. Se cobriram e Miguel fez um pequeno ponto de luz surgir de sua varinha.

— O que fazemos? — perguntou Hugo mais baixo.

— Melhor deixarmos os professores cuidarem disso, não? — Sugeriu Roberto. — Eles sabem melhor o que fazer.

— Será que sabem? — Rebateu Hugo. — No ano passado aquele bruxo conseguiu entrar na escola sem problemas.

— Mas você leu as notícias — disse Roberto. — Ele era da F.U.L.A.M., um especialista em entrar em lugares protegidos. Saiu nos jornais.

— Ainda assim a escola deveria estar preparada para isso. E se foi outro membro da F.U.L.A.M.? — Insistiu Hugo.

— Mas o que eles iriam querer com a Maria? — perguntou Eduardo.

— Não sei. Vingança contra a escola por ter pego o amigo deles? — Disse Hugo.

— Não parece ser o caso — mencionou Miguel. — Não foi a primeira vez que a Maria se encontrou com aquela pessoa. Se fosse para pegá-la, podiam ter pego antes. Tem algo aí.

— De todo modo, nós vimos o que aconteceu — falou Hugo. — Vimos o Eduardo ser atirado no ar. Vimos elas entrarem pela floresta.

— E vimos o que aconteceu na floresta — disse Eduardo. — Acho que fomos expulsos dela. As árvores não nos queriam ali.

— Concordo com o Eduardo — afirmou Roberto. — Mesmo que quiséssemos fazer algo, teríamos que atravessar a floresta, mas não sabemos como.

— Podemos pesquisar. O professor disse que se chamava Floresta Cantante, não? — continuou Hugo. — Podemos ver isso na biblioteca.

— Nunca vi nenhum livro sobre isso — disse Roberto. — Não sei se tem algum livro que fale dela.

— Mas podemos tentar. O que vocês acham, Miguel? Eduardo?

Os dois amigos pensaram por um momento, então Miguel se pronunciou:

— Podemos tentar. Vamos pesquisar sobre, enquanto os professores fazem o deles. Caso eles não consigam nada, nós os informaremos do que descobrirmos.

— De acordo — disse Eduardo.

Hugo e Roberto apenas concordaram. Em silêncio os quatro retornaram para suas camas.

Hugo estava inquieto. Não achava que os professores iriam conseguir algo e sentia que Maria estava em grande perigo. Nos primeiros raios de sol iria para a biblioteca e faria sua pesquisa. Encontraria algum jeito de passar pela floresta e seja lá o que tivesse em seu caminho.

 

Os primeiros raios de sol atravessaram as brechas entre as madeiras que cobriam a janela. Iluminando a pequena mesa que havia no centro do quarto.

Assim que a luz alcançou a mesa, houve um pequeno brilho e um pássaro de madeira surgiu. Era simples, sem muitos detalhes além do essencial para identificá-lo como pássaro. A pequena ave observou o ambiente escuro e começou a mexer-se. Andou dois passos e bicou a madeira três vezes, depois repetiu o processo, enquanto aproximava-se da ponta da mesa.

Antes que alcançasse a borda, houve um lampejo e um estampido. O pássaro se contorceu e dobrou. A madeira se quebrou e reorganizou-se, tomando a forma de uma tábua lisa de quinze centímetros.

Das sombras do quarto, James surgiu e pegou a tábua nas mãos. Ele tocou com a varinha a madeira e pronunciou o feitiço Aparecium. Sobre a madeira surgiram letras que se organizaram, formando as palavras, uma de cada vez. A mensagem aos poucos tomou forma, ficando nítida.

O texto que surgiu dizia:

 

Ele irá agir.

Uma garota foi raptada, vamos atravessar a passagem. O Professor Luís irá junto. Começaremos pela Cabana do Tosco. Depois iremos para a Floresta dos Sussurros. É lá que a garota está.

Não toquem na garota!

Apenas peguem o que querem e saíam. Vou distraí-los o máximo que puder.

 

James sorriu e chamou a pessoa que deitava na cama do lado oposto ao seu.

— Carla, avise os outros. Sabemos onde procura-la. Vamos começar a caçada.

— Até que enfim aquele professor metido teve uma utilidade. — A mulher levantou-se e espreguiçou-se.

James gargalhou e apontou a varinha para a tábua que se incendiou.

— Ele se mostrou mais útil que os outros, sim. Mas ainda assim devemos ficar atentos, Carla. Acredito que ele tenha mais lealdade aquela escola do que ao nosso acordo. Estejam prontos para enfrentar os Guardiões de Castelobruxo e Dom Luís.

— Vou chamar todos os nossos então.

— Sim, é o melhor a fazer. Os Guardiões já seriam um grande problema, mas enfrentar o campeão do Clube de Duelos vai ser um desafio ainda maior. Será divertido.

— Sim, vou convocar todos. Acho que no início da noite estarão todos aqui e aí podemos começar.

— Com sorte, quem sabe, pegamos o encantado e de quebra derrubamos o melhor duelista da atualidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "CASTELOBRUXO - O Início de Uma História" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.