Respirei fundo antes de entrar na casa dos Cullen, vendo Damon por trás do vidro. Ele sorriu malicioso e se aproximou da porta, a abrindo pra mim.

— Obrigada. - disse um tanto mal humorada, passando por ele.

— Melhorou da ressacada? - perguntou alto. Eu resmunguei baixo e continuei o ignorando. - Será que você poderia pelo menos olhar na minha cara?

Me virei para ele, o encarando. Ele não é tão lindo assim, pense nisso.

— Tem mais alguém aqui? - perguntei estranhando a casa silenciosa e vazia.

— Hum... Emmett levou Rosalie para longe de mim. - Edward podia fazer o mesmo comigo, se ele não quiser ter dor de cabeça. - Alice, Jasper e os dois Denalis mais velhos estão treinando, Carlisle está trabalhando e o trio fantástico esta por ai na casa.

— Trio fantástico? - perguntei com as sobrancelhas erguidas.

— As louras bonitas. - Disse dando de ombros. Eu revirei os olhos. - Espera... - segurou meu braço quando tentei me virar para a escada. - ma das louras tá cantando seu namorado no quarto, a outra tá tomando banho e a outra não sei.

Respirei fundo, pensando em encarar Tânia que cada vez mais chamava a atenção de Edward. Era só mais um empecilho para o meu relacionamento fadado ao fracasso.

— O que acha de eu ser seu vigia hoje? - perguntou sorrindo malicioso.

— Não, obrigada.

O deixei para trás e subi as escadas. Edward me saudou amoroso como sempre, e Tânia saiu irritada. Ficamos conversando em seu quarto, até eu me deitar em sua cama e o abraçá-lo.

Queria conversar com ele, perguntar coisas. Mas sabia que ainda havia vampiros nessa cara que poderia nos escutar e seria... vergonhoso. Então apenas o abracei e fiquei pensando em nós. Pensando na dor que ele nos fez sentir, na nossa correria em Volterra, e em como mudamos desde que ele voltou, como a magia perdeu. Não conseguia sentir mais aquele choque, aquele desejo de tê-lo sempre. Só conseguia pensar, e pensar e pensar.

— Vamos sair hoje a noite? - perguntei quebrando o silêncio. Seus braços se apertaram um pouco ao meu redor.

— Para onde?

Ergui o rosto para ele e dei de ombros.

— Não sei. Algum lugar que tenha só... só nos dois.

Ele parou para pensar, depois assentiu.

— Podemos ir jantar em algum lugar legal. Tem um restaurante interessante aqui perto. - disse passando a mão em meu cabelo. Me sentei e respirei fundo, olhando pra ele.

— Eu... sai com Jacob ontem. - disse baixo, com medo de falar. Ele se sentou na cama também, me encarando sério. - Não rolou nada entre a gente. Mas... nós fomos em uma boate em Portland.

— Uma boate?

— É, e eu bebi... demais. - ri um pouco.

Ele, porem, agiu um tanto desagradável. Disse que bebida fazia mal, que Jacob era um irresponsável por me levar num lugar desse quando deveria cuidar de mim. E, por algum motivo, não lhe contei sobre Damon. Agradeci que ele ao menos era sensato.

Após mudarmos de assunto, Tânia apareceu e o chamou para ver algo sobre os vampiros de Seattle. Me deixou sozinha.

Fui na cozinha preparar alguma coisa para comer e Damon do nada aparece do meu lado, me assustando.

— Mas que droga. - reclamei, colocando a mão no peito e tentando controlar a respiração.

— Porque não falou que, bem, eu estava lá? - perguntou roubando o pão que tinha acabado de fazer pra mim.

— Cala a boca. - falei rápido, olhando para a porta da cozinha. - Achei irrelevante.

— Tem certeza?

Revirei os olhos diante sua estupidez e continuei comendo. Mas ele começou a perguntar. Perguntar minha vida antes de Forks, perguntar sobre Edward, Jacob. Ele parecia interessado demais por minha vida sem-graça.

— OK, Damon. Comece a falar de sua vida agora. - disse enquanto colocava o prato na cozinha para lavar.

Antes que ele começasse, Edward e Tânia apareceram na porta.

— Alice esta nos chamando para treinar. Tânia e Irina vão comigo. Tudo bem se ficar com Kate e Damon? - me perguntou, se aproximando.

— Sem problemas. - dei um sorriso. Ele beijou minha testa e saiu, mas antes mandou um olhar duro para Damon.

Alguns minutos depois, Damon quebrou o silêncio.

— Bom, vamos lá. Digamos que em 1864 eu e meu irmão começamos a compartilhar a namorada.

Ergui a sobrancelha para ele e me sentei em sua frente, esperando que ele continuasse.

— E ela era um demônio.

— Já vai desabafar, lindo? - Kate nos interrompeu, entrando na cozinha sorridente.

— Oi Kate. - saudei com um leve sorriso. Ela sorriu pra mim e colocou as mãos no bolso da jaqueta.

— O que vocês acham de sairmos para beber? Podemos conversar. Eles não tem nada alcoólico aqui. - resmungou olhando ao redor. Eu sorri. Os Cullen não eram muito de beber, então bem capaz de não ter nada mesmo.

— Eu topo. - Damon disse rápido, me encarando. - Outra rodada, Bella?

Revirei os olhos e concordei com eles. Kate nos levou no carro dela. Fiquei atrás, calada enquanto observava os dois flertando. Por alguns momentos, desejei ter recusado e ficado quieta em algum lugar. Não estava completamente recuperada da noite de ontem, continuava pensando sobre ter quase agarrado Damon, sobre Jacob, sobre meu relacionamento com Edward.

— Terra para Bella. - Kate estalou os dedos em minha frente. Eu ri e a encarei.

— Desculpa, as vezes me perco dentro de mim mesma.

— Percebemos. - Os dois falaram juntos, eu ri de novo e olhei ao redor. Era um bar pequeno, com algumas motos estacionadas e um carro velho ao lado. Não parecia tão bom assim, mas a música que tocava era atraente.

— Vamos, preciso de álcool tanto quanto preciso de sangue. - Damon disse saindo do carro. Os segui, um pouco atrás. Ainda observando os dois flertando. Já imaginava que ficaria em um canto enquanto eles se agarravam. Mas, pelo menos, poderia refletir com um pouco de álcool.

Eles continuaram a conversa e pediram algo para nós três. Não me importei muito no que era, apenas bebi fazendo careta e fiquei quieta enquanto eles conversavam.

— De verdade, o que você tanto pensa? - Kate perguntou atraindo minha atenção.

— Nada demais. - dei de ombros, voltando ao mundo real. O cheiro de cigarro do lugar era forte e enjoativo, e eu precisava beber um pouco mais devagar para não ficar bêbada demais.

— Não parece nada demais. - Ela insistiu, sentando-se do outro lado. Fiquei entre os dois. Me ajeitei melhor na cadeira, tentando não parecer muito nervosa.

— Por que Tânia não gosta de mim? - Finalmente perguntei, criando coragem. Ela riu um pouco.

— Porque ela gosta do seu namorado, dr.

— Sério que você não percebeu que ela gosta muito do topetudo? - Damon perguntou, chamando a atenção pra si. Revirei meus olhos.

— Claro que notei. Mas... sei lá. Ela realmente vai lutar no nosso lado ou vai me entregar pra Victória?

— Por mais que ela queira isso. - Kate disse rindo. - ela vai lutar conosco. Ela sabe que só assim consegue um pouco mais da atenção de Edward.

— É, ela não vai conseguir usando roupa decotada e saia curta. - eu murmurei enquanto bebia o resto do que estava no copo. Uísque, eu acho.

— Ciúmes? - Damon perguntou, sorrindo. Indiquei o copo para o garçom encher mais e respirei fundo, não me controlando na fala.

— Nem eu que sou a namorada dele consigo mais que um beijo, quem dira ela. Talvez ele seja bom demais para uma coisa dessa.

— Uau, vocês nunca transaram? - fiquei extremamente vermelha com a pergunta de Kate. Ela caiu na gargalhada. Aproveitei o copo cheio e tomei um longo gole, continuando a falar.

— Ou talvez ela consiga corromper ele. Afinal, ela é uma deusa grega e bem, eu sou... isso. - Apontei para mim mesma, um tanto irritada.

— Eu não vejo problema nenhum em você ser “isso”. - Damon disse se aproximando demais de mim. Me afastei um pouco. - e também concordo que a loirinha lá pareça uma deusa grega.

— Talvez ele não te toque por medo de te machucar. - Kate falou enquanto pegava a garrafa do bar e ela mesma enchia o copo. - Afinal, você é humana e tal.

— Não tem fundamento isso, ainda mais ele que se alimenta de coelhinhos e alces. - Damon fez uma careta.

— Ou talvez eu não seja bonita o suficiente. - sussurrei mais para mim mesma. Kate, na hora, tirou o copo de minhas mãos.

— Para de beber tanto. Sugiro que se olhe no espelho. Se ele não te tocou ainda, não é porque você não é bonita, é talvez porque ele é gay ou tem distúrbio mental.

— Concordo com a loura, de novo. E deixe a garota beber, ela dança bem enquanto esta bêbada.

— Não vou dançar com você de novo. - murmurei pegando meu copo novamente e bebendo mais um gole.

— Veremos. - ele disse em tom desafiador. Eu e Kate reviramos os olhos, e ela puxou assunto comigo de novo.

Ficamos algum tempo conversando sobre sexo. Embora eu ficasse vermelha demais, a bebida estava me dando coragem de conversar de uma forma mais impessoal. Algo que eu não estava, nem de longe, acostumada a fazer.

— Me diz Bella. - Kate passou o braço por meu ombro após algum tempo. - já que seu namorado não colabora em sua vida sexual, como você... alivia?

Eu fiquei extremamente vermelha, fazendo Damon gargalhar ao meu lado. Eu não estava tão bêbada assim para conversar sobre isso. E nem sei se, mesmo bêbada, conseguiria falar sem ser tão embaraçoso.

— O que? - perguntei assustada, quase gaguejando.

— Oras, qual seu brinquedinho? Ou é só os dedos? - eu quase me engasguei com a forma que ela falava.

— Parece que todo sangue dela esta na cara. - Damon disse ainda rindo, colocando mais bebida para nós três.

— Eu não... - comecei, sem saber o que falar.

Chutar o balde. Você só precisa chutar o balde e jogar tudo para o ar.

— Eu não faço nada.

Os dois pararam, me olhando de sobrancelha erguida. Fechei os olhos para tentar ser menos constrangedor.

— Nem com seus dedos? - ela perguntou baixo, ainda desacreditada. Demorei para responder, respirando fundo ainda.

— Não. - disse e tomei mais um longo gole do uísque.

— Uou, é por isso que você é tão chata. - Damon comentou, mais para ele mesmo. - Você sabia que sexo é uma das coisas mais importantes da vida?

— Agora sei com quem Rosálie aprendeu isso. - Murmurei para mim mesma. Revirando os olhos e bebendo mais um pouco.

— Como você... vive? - Kate perguntou ainda abismada. Eu não estou bêbada o suficiente para isso. Nem sei se um dia ficarei bêbada o suficiente para falar disso.

— Não acho que seja tão... sei lá, essencial assim? - saiu mais que uma pergunta. Damon quase se engasgou com a bebida. Ele e Kate se encararam por um tempo, até parecer que decidiam algo por telepatia. - O que? O que foi?

Antes que Kate falasse, meu telefone tocou. Era Edward. Fui atender, mas Kate delicadamente o tomou de minhas mãos e desligou.

— O que você esta fazendo? - perguntei confusa, tentando tomar o celular de volta. Mas ela se afastou um pouco e começou a digitar algo. - Eu preciso ir embora, vou... sair com ele hoje.

— Acho que não vai não. - Damon disse rindo, colocando a mão na minha perna. Kate colocou meu celular no bolso de sua jaqueta e voltou a prestar atenção em mim.

— Olha, porque vocês não se agarram ai enquanto eu vou no banheiro? Preciso parecer mais sóbria e encontrar meu namorado. - falei enquanto me levantava. Sai rapidamente para o banheiro.

O local até que era melhor com o bar. Não estava tão sujo, mas um pouco fedido. Havia um único espelho em cima da pia, grande. Respirei fundo me encarando e então lavei o rosto. Quando ergui o olhar, me assustei com Kate atrás de mim, sorrindo.

Não falei nada, apenas a observei pelo espelho. Não conseguia me acostumar com toda essa beleza vampiresca, esperava poder ficar assim também. Ela estava igual a Damon; jeans, jaqueta de couro, mas usava uma regata preta e botas de salto. A maquiagem só a deixava mais bonita ainda, os cabelos louros liso e bem arrumado. Me senti um tanto deslocada, simples demais naquela forma.

— Eu preciso ir embora. - finalmente falei, me virando pra ela, que apenas sorriu e se aproximou mais, devagar. Arregalei os olhos quando sua mão tocou meu ombro e deslizou até minha nuca. -

— Ou, o que você esta fazendo?

— Te dando uma amostra do que é vida, Isabella. - disse baixo, se aproximando ainda mais. Arregalei ainda mais os olhos e tentei me afastar, mas ela me prensou na pia.

— Kate, me solta, de verdade.

— Bella, Bella, você realmente precisa provar o que é vida. - sussurrou, com a boca quase colada na minha.

Nunca fui preconceituosa sobre gay, lésbica, nem algo do tipo. Phil mesmo já teve um namorado antes de conhecer minha mãe. Mas eu nunca considerei beijar uma mulher na minha vida. Tentei mais uma vez me afastar, mas ela me beijou. Nos primeiros segundos eu não sabia o que fazer. Não pensei em afastá-la igual fiz com Jacob – talvez a bebida estava forte demais. - mas apenas fiquei ali parada.

Sua mão agarrou meu cabelo e eu não consegui resistir, retribui o beijo, a tocando de leve. Até que sua mão começou a passar pelo meu corpo e eu estava cada vez mais arrepiada, excitada. Até mesmo uma vampira desconhecida me beijava mais que Edward, me tocava mais que ele. E eu não estava em um nível razoável de lucidez para conseguir afastá-la. - mesmo que tenha afastado Damon quando estava mais alterada que isso.

Estávamos a algum tempo assim já, nos beijando encostada na pia, mas ai a empurrei.

— Eu não posso fazer isso com ele.

— Isabella. - chamou, séria. - você não pode fazer isso consigo mesma. Você não quer tanto ser vampira?

— O que isso tem haver com eu ter acabado de trair meu namorado?

— Tudo! - exclamou, revirando os olhos. - Não se pode guardar magoa por uma simples traição quando se é vampiro, Bella. A eternidade é um tempo longo demais para ficar apenas com uma pessoa, desejar uma pessoa. Mesmo que você a ame, Você também vai amar diversas outras.

Balancei a cabeça, tentando afastá-la. Mas ela só colou mais meu corpo no seu.

— Você não pode abrir mão de uma coisa que sequer provou. Não pode querer ser vampira sendo que nem aproveitou sua vida humana.

— Rose disse a mesma coisa. - falei baixo, mais para mim mesma. Ela passou a mão em meu rosto, fazendo-me erguer o olhar.

— Então nos deixe mostrar tudo que você tem pra abrir mão. - E, antes de colar sua boca na minha, completo: - começando por isso aqui.

Enquanto me beijava, sua mão deslizou por minha barriga, até chegar no cós da minha calça. Tentei não me afastar e arregalar os olhos quando ela abriu o botão e colocou a mão dentro da minha calcinha. Respirei fundo quando ela começou a mexer os dedos e deixei o ar sair quase gemendo.

Meu Deus, isso é bom demais. Pensei entorpecida, mordendo os lábios para não gemer. Ela voltou a me beijar, de forma ainda mais urgente.

Eu já estava gemendo baixo contra seus lábios e ela quase abaixando de vez minha calça quando Damon entrou no banheiro, batendo a porta.

— Por mais que eu queira que isso continue e a minha nobre participação, temos que sair daqui e encarar problemas. - Anunciou, nos fazendo afastar. Tentei controlar a respiração, olhando para ele.

— O que foi? - Kate perguntou um tanto irritada. Fechei minha calça e virei para a pia, para lavar o rosto.

— Dois recém criados ai fora. Seguiram o cheiro dela. - anunciou para ela, ainda me olhando. Pelo espelho, Kate sorriu pra mim, ergueu os dois dedos molhados na frente do rosto e os lambeu.

Por que diabos isso é tão excitante? Pensei um tanto irritada. Ela sorriu mais. Corri para uma cabine no banheiro, sem falar. Se eu ficasse ali mais um pouco acabaria a agarrando de novo e isso não era nem um pouco bom.

Depois de recuperar a consciência, sai do banheiro e não os encontrei. Os dois estavam conversando sério. Decidiram que não chamariam ninguém, que eu ficaria quietinha dentro do bar enquanto eles “limpavam a sujeira”.

Pedi uma dose de vodka para o garçom enquanto os observava sair. Enquanto esperava, pensei nas palavras de Kate e de Rosálie. Sobre precisar aproveitar a vida humana antes de perdê-la, sobre a importância do sexo – e como foi bom o beijo dela, a mão dela... - e que eu não poderia fazer uma escolha tão grande sem saber o que estava perdendo.

E eu precisava aproveitar. Ser humana, beber até cair, cometer erros, me formar, pensar em um futuro diferente, viajar. E, antes de tudo, precisava definir com Edward o que realmente tínhamos, precisava colocar um ponto final nessa história toda. Eu não aguentava mais ficar nessa incerteza, nesse sentimento que tinha.

Comecei a pensar na formatura, na festa na casa dos Cullen. Apenas uma semana e eu encerraria o Ensino Médio, um passo importante para minha vida.

Eu queria ser vampira e poder lidar comigo mesma, achava, de certa forma, que isso melhoraria quem eu sou. Mas eu seria a mesma, apenas com uma vantagem ou outra. Eu precisava, antes disso, me amar. E talvez seja isso que Rosálie esteja fazendo ao tentar me arrumar, me incentivar a gostar de mim mesma. Talvez gostando de mim mesma eu desista de ser vampira, continue humana. E eu precisava considerar esse lado.

— Bella. - Damon me trouxe ao mundo real. O encarei um pouco; ele estava um tanto ensanguentado, a camiseta rasgada e cara de cansado. - Acho melhor irmos pra casa.

— Esta tudo bem? Cadê Kate? - Perguntei um tanto assustada, tocando o seu ombro. - Te machucaram muito?

— Sim, esta bem. Ela esta nos esperando lá fora e se livrando do corpo e não, não me machucaram muito. O sangue é deles. - explicou e revirou os olhos no final.

Acertei a conta com o garçom e fui pra fora com ele, vendo Kate igualmente manchada de sangue e sorrindo de leve pra mim.

— Pena que eles estragaram nossa noite, mas logo saímos novamente.

Eu apenas sorri pra ela e fui em direção ao carro. Fiquei calada no banco de trás, pensando no que poderia fazer ao chegar em casa. Talvez procurar no google “como se amar mais” e “o que fazer antes de morrer”. Estava quase dormindo no carro quando chegamos na casa dos Cullen. Edward rapidamente me puxou para um abraço, se certificando que eu estava bem e porque eu cheirava a bebida.

Apenas dei uma desculpa boba e o pedi para me levar pra casa. Sem grandes despedidas, fomos embora em seu carro, em um silêncio desconfortável. Estávamos quase chegando quando ele finalmente decidi conversar.

— Não posso te impedir de ter amigos, Bella. Mas gostaria que você fosse um pouco mais cautelosa sobre Damon.

— Por que? - perguntei curiosa, me ajeitando no banco e me sentindo mais desperta. Lembrei-me que Damon começaria a me contar sua história quando Kate nos interrompeu.

— Digamos que ele não é, nem de perto, uma boa pessoa. - cerrou os lábios após a fala, um tanto pensativo.

Eu gostaria que Damon me contasse sua história, e não que Edward me escondesse detalhes importantes e passasse a sua opinião como fato. O incrível passado de Rosalie e Jasper foi escondido de mim porque ele achou que eu não lidaria com isso, me passou uma visão errada sobre os dois. Estava receosa que ele fizesse o mesmo com Damon.

Antes que eu pudesse pensar em defendê-lo, Edward falou, me deixando muda.

— Digamos que ele atormenta o irmão há anos, matou a melhor amiga do irmão apenas para se safar de um problema com caçadores, tentou roubar a namorada do irmão pela segunda vez, matou o cunhado do irmão sem saber se ele realmente voltaria a vida, matou centenas, talvez milhares de inocentes durante toda sua vida como vampiro, usa garotas como bem entende, manipula o governo da pequena cidade onde nasceu e onde o seu irmão mora, colocando a culpa em outros por conta de seu crime. Quase matou a melhor amiga da cunhada. Ele não é... uma boa pessoa.

Fiquei um tanto arrepiada, imaginando tanta atrocidade por trás daquele vampiro. Não imaginava que isso não seria possível – Damon não parecia tentar esconder que era uma espécie de vilão.

Pensei em lhe contar sobre o que ocorreu na boate, mas fechei a boca rapidamente. Não queria que ele soubesse. Beijei seu rosto de leve e sai do carro, esperando encontrá-lo já no meu quarto, escondido do meu pai.

— Bella. - meu pai saudou, rouco e com cara de sono. Estava, novamente, dormindo na poltrona.

— Oi pai. - sorri de leve e fui até ele, beijando seu rosto.

— Achei que ia dormir fora hoje.

— É, mudei de ideia. - disse dando de ombros, ainda parada em sua frente. Após um bocejo, ele pareceu mais disperso e me analisou melhor.

— Sabe. - começou, se ajeitando no sofá. - eu ia falar, mas acabei não sabendo como falar e agora acho legal falar. Você... esta mais bonita. Não sei, alguma coisa em você. Talvez Edward realmente te faça bem, embora eu não goste dele.

Eu ri fraco e me sentei no sofá, desconfortável por saber que ele ouvia tudo lá do quarto.

— não é ele, pai. Sou eu mesma. Uma amiga jogou na minha cara que eu tenho que me amar, antes de esperar que alguém me ame.

— Aquela loura que mora com os Cullen? - perguntou confuso, ainda mais interessado. Eu assenti, sorrindo fraco. - É, ela realmente parece bonita e, bem, inteligente. Gostei dela, é mais legal que a baixinha.

Eu ri e revirei os olhos. Não esperava, nunca, que Rosalie pudesse ser considerada “mais legal que Alice”. Afinal, Rose nunca se mostrou receptiva. Mas parece que uma simples conversa desabrochou uma amizade maravilhosa.

— Eu vou deitar, tem lasanha na geladeira.

— Já jantei, valeu. - disse ficando de pé. Ele se levantou e parou na minha frente. Sem resistir, eu o abracei apertado.

Eu não era muito de abraçar Charlie. Cresci sabendo que meu pai era distante demais, uma coisa que minha mãe reclamou por anos dele; sua frieza, distância. Mas esse tempo que estive aqui, meu pai pode não ter dito que me ama todos os dias, pode não ter me abraçado toda noite, mas eu sabia que ele me amava e demonstrava isso. Ele demonstrava ao tentar, de forma desastrosa, cozinhar algo saudável para nós. Ao me cobrir no meio da noite quando estava mal, ao comprar minha sobremesa favorita, ao assistir a um filme ao meu lado mesmo não gostando nem um pouco da trama da história.

Por um momento, duvidei se valeria a pena ser vampira e deixá-lo para trás, sozinho. Nunca mais sentir essa onda toda de amor dele, da minha mãe.

Pensando nas palavras de Rose, algo sobre aproveitar a vida humana, tive uma ideia e me afastei dele, sorrindo um pouco.

— Me ensina a pescar?

— O que? - perguntou surpreso, com um brilho nos olhos. Mal controlou o sorriso.

— Ah, ouvi dizer que vai fazer sol nesse final de semana. Poderíamos... ir pescar, você pode me ensinar. - dei de ombros, tentando parecer algo normal. Ele soltou um riso animado e assentiu várias vezes.

— Mas é claro que sim! Eu vou... vou te ensinar coisas incríveis, você vai adorar. Vai ser...

— incrível. - completei pra ele sorrindo. Beijei sua bochecha mais uma vez e me afastei.- Boa noite pai.

— Boa noite Bella.

Me afastei ainda com um sorriso no rosto, realmente animada para esse final de semana com ele. Fui primeiro ao banheiro, tomar banho, me arrumar. E quando encontrei Edward no quarto, me desanimei um pouco.

Era hora de conversar e eu não podia mais adiar isso.