Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 6
Capítulo 6 - Você foi tudo que restou




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Capítulo 6 – Você é tudo o que restou

                Através da fresta da porta Jyn pode ver Mon Mothma e Cassian discutindo alguma coisa, Cassian não parecia feliz. Minutos depois ele saiu irritado, lhe lançando um olhar entristecido ao passar por ela e entrar em um dos corredores até sumir de vista entre os droids e outras pessoas que transitavam ali. Depois Mon Mothma pediu para falar com ela. A primeira coisa que ela fez foi agradecer novamente pela missão realizada, apesar de ela já ter agradecido antes quando Jyn e Cassian estavam no hospital.

                - Como eu disse, você poderá sair livre daqui.

                - Eu fico feliz, mas prefiro continuar trabalhando com os rebeldes.

                - Jyn, pense em tudo que viveu até hoje. A missão acabou e você está livre como combinamos. Sem contar que essa missão foi inicialmente desaprovada e vocês a realizaram com desobediência, apesar dos bons resultados. Eu fico feliz que ao menos vocês dois tenham voltado, mesmo com os muitos dias no hospital. Não acha que agora é hora de ser feliz finalmente? De viver e não só fugir? Pode viver onde quiser, a Aliança ajudará você.

                - A Aliança me colocou nisso à força e agora que eu quero ficar estão me mandando embora?

                - Não é assim. O capitão Cassian Andor deve permanecer conosco como sempre foi, ele tem uma vida aqui. E imagino que você também tenha uma, e queira voltar pra ela, mas dessa vez, tranquila.

                Jyn analisou o olhar da mulher a sua frente, e viu a mesma coisa que vira quando a conheceu, medo do desconhecido. Mesmo os grandes feitos em Scarif não haviam sido suficientes para Jyn provar algum valor.

                - Que vida? O Império tirou tudo de mim. Até a última pessoa que me restava. Não há nada pra mim lá fora, não há um lugar pra onde voltar, não há ninguém me esperado em lugar algum. Tudo que me restou está na Rebelião. Eu não tenho o que fazer com minha vida, por que não continuar lutando?

                - Jyn, se sentirá bem aqui? Você mesma disse que o Império lhe tirou todos...

                - Isso foi antes. Eu não voltei sozinha de Scarif. E quando eu estava lá vendo a a morte chegar, eu não estava sozinha. E mesmo só eu que tivesse voltado, ou que não tivesse, eu sei muito bem qual é o peso da Rebelião, e eu continuaria lutando por ela. Eu escapei, mas encarar a morte nos olhos sem correr e fugir pela Rebelião não foi suficiente pra provar que estamos lutando do mesmo lado?

                - Pense bem nisso – Mon Mothma lhe disse antes que desaparecesse pela porta.

                Jyn correu para o exterior da base, passando pelo grande espaço aberto em que pilotos, naves, droids e tripulações se misturavam. Caminhou até encontrar um lugar vazio em um dos cantos do local e encostou-se na parede, percebendo que a nave estacionada ali era a mesma em que haviam fugido de Scarif, e ainda estava recebendo reparos. Jyn respirou fundo e observou o céu claro da manhã, pensando nas palavras de Mon Mothma. Realmente não teria aonde ir, o que fazer ou alguém esperando por ela lá fora. Mesmo que Saw Guerrera por acaso estivesse vivo, talvez jamais o reencontrasse, e já estava claro que não era mais seguro para nenhum dos dois viverem lado a lado. Nem Jyn estaria segura caso o Império a encontrasse sozinha, porém mesmo tendo a eterna proteção da Aliança, ela não queria estar sozinha novamente. A solidão estivera com ela por quase toda sua vida e depois de Scarif, Jyn a abominava outra vez. Aquele momento na praia, quando se entregara à morte inevitável, ela se sentiu acolhida e protegida como não se sentia há anos. E agora admitia para si mesma que era somente a Rebelião tudo o que lhe restara. Ela tinha alguém. Uma pessoa que se entregara à morte e a incerteza com ela em Scarif, sem se importar com o que aconteceria. E sem Cassian ela teria de fato morrido sem completar a missão, porque Krennic a teria matado na torre sem que ela sequer soubesse. Uma sensação estranha tomou seu coração outra vez. A primeira fora quando se olhavam no elevador da torre, e quando se abraçaram na praia. Era confortante e assustador, nunca se permitira sentir aquilo antes. A Rebelião e Cassian, não queria perder nenhum dos dois. Finalmente ela podia dizer que tinha pelo que viver e que havia alguém lá para ela, e não queria seguir nenhum caminho diferente desse.

******

Cassian estava largado na cadeira do piloto na nave que os salvara em Scarif, olhando o céu, sem realmente vê-lo por estar perdido em pensamentos. Pensou que nesse momento Mon Mothma deveria estar contando a Jyn o mesmo que disse a ele. Jyn não ia aceitar. Assim como Cassian, ela nascera para ser uma rebelde, mesmo que Mon Mothma ainda não tivesse aceitado isso por temer aceitar alguém tão recentemente chegado à Aliança, e à força. Jyn não seria feliz sozinha lá fora outra vez, mesmo que a Aliança a protegesse para o resto da vida. Não sabia como podia saber isso sobre ela com apenas um mês de convivência, mas haviam vivido suficiente para anos, haviam esperado para morrer juntos, haviam se salvado juntos, cuidado um do outro enquanto rumavam a Yavin 4 e mesmo quando acordaram quatro e cinco dias depois no hospital, haviam sido insistentes até os droids e os médicos os deixarem ficar no mesmo quarto. Mas no fundo Cassian entendia como ele podia saber sobre Jyn, simplesmente a entendia porque a vida dele fora igual, apesar de ter grosseiramente diminuído a dor dela numa conversa nervosa uma vez quando ele a informara que estava lutando desde os seis anos, e ele se arrependia por isso. Se Cassian deixasse a Aliança, assim como Jyn, também não haveria nada nem ninguém esperando por ele lá fora. E mesmo que Mon Mothma pensasse que a situação para Jyn era a mesma tanto dentro quanto fora da base, uma vez que Cassian conhecia todos lá, ela estava errada. Jyn teria a ele. Não entendia como se apegara tanto a alguém que conhecia havia apenas um mês mais do que a qualquer um dos que conhecia desde criança. Por que suas histórias pareciam ser versões diferentes da mesma coisa? Não sabia. Mas era confortante e assustador. Não queria que ela fosse embora. Havia perdido muitos amigos, especialmente K-2SO. A base pareceria ainda mais vazia e triste sem Jyn.

******

— Ela chegou há apenas um mês e porque nós a forçamos. Cassian está conosco há anos, eu mesma o resgatei quando perdeu os pais.

— Eu entendo, mas acho que deve considerar o que ela disse. Ainda que para nós uma casa e proteção da Aliança seja uma grande gratificação pelo que ela fez, ela não teria um lar, ficaria sozinha de novo. E ela é uma guerreira, guerreiros morrem de tristeza quando são afastados das batalhas. Ela pode ter chegado à força, mas pude ver nos olhos dela quando a vi passando no corredor e quando a visitei no hospital. Ela ofereceu a própria vida em sacrifício pela Rebelião, e tenho certeza que faria de novo.

— Princesa...

— Quanto ao capitão Andor. É a única pessoa que restou a ela, era quem estava com ela quando esperaram para morrer, se salvaram juntos e mantiveram um ao outro vivo até chegarem aqui. Deixe que convivam. Eles já provaram que trabalham bem juntos, a Aliança não se prejudicará em nada deixando Jyn permanecer.

— Não queremos que ela morra. Nem Cassian. Por minha vontade ele também ficaria protegido e longe de qualquer problema parecido com Scarif depois de tudo que passou, mas essa se tornou a vida dele.

— Jyn sabe disso, e ela é grata. Mas por que não deixá-la construir algo novo aqui? Estaríamos todos condenados pelo Império se não fosse por ela, por Cassian e por todos que se foram. Se quer agradecê-la, deixe-a escolher. Ela nunca ficaria parada ou fora de tudo isso, ainda que ficasse longe daqui.

— Princesa Leia. Eu confio em Jyn, mas eu não decido sozinha.

— Então deixe-me falar com todos.

******

Cassian olhou para o lado de fora, percebendo que não estava sozinho ao ver Jyn olhando distraidamente para o céu, claramente triste. Seu coração acelerou quando de repente ela olhou para cima e assumiu a mesma expressão de surpresa ao ver que não estava sozinha quando seus olhos se encontraram. Pensou em sair, mas Jyn desapareceu de vista e ele abriu a nave para que ela entrasse, a fechando em seguida.

— Cassian...

Apenas se olharam, trocando um pequeno sorriso.

— Parece que eu vou embora – ela disse.

— Pra onde?

— Não sei.

— Pode ficar aqui. Posso até ensiná-la a pilotar nossas naves.

— Não é o que pensam. Outra vez, como naquele dia. Achei que nunca mais fosse te ver quando saí da sala de reuniões – ela emitiu o pensamento alto antes que pudesse perceber.

— Eu também... É assim que acaba depois de tudo? Você sai dessa nave e não nos vemos nunca mais?

— Mon Mothma me disse pra pensar. Acho que ela até pode mudar de ideia, mas os conselheiros não vão tão fácil. É por isso que estava irritado quando falou com ela?

— Sim.

Caíram num silêncio incômodo, buscando inconscientemente maneiras de mudar aquilo.

— Foi estranho perceber que eu não quero ficar sozinha de novo. Achei que tinha me acostumado – falou sem pensar.

— Eu também.

Se olharam outra vez e se jogaram em um abraço apertado, fechando os olhos e sentindo um ao outro como haviam feito em Scarif.

— Não vai, Jyn.

— Eu não quero ir.

O capitão sentiu lágrimas arderem em seus olhos, mesmo fechados, bem como Jyn.

— Tudo que me restou além da Rebelião foi você – ela disse.

Cassian afrouxou o abraço para olhá-la. Suas mãos desceram das costas de Jyn para a cintura e ela entrelaçou seu pescoço. Lentamente seus lábios se encontraram e o mundo lá fora foi esquecido. O beijo era calmo, mas profundo e urgente, como se estivessem prestes a morrer de novo em Scarif. Cassian levou uma das mãos novamente a suas costas, fazendo Jyn se sentir protegida e amada como não se sentia desde que era criança ou desde que vira Saw pela última vez antes de todos os incidentes do último mês. Ela inspirou fundo e seus dedos se entrelaçaram nos cabelos castanhos de Cassian, que a abraçou mais forte em resposta. Separam-se sem ar e o capitão pôs uma mão atrás de sua cabeça, beijando sua testa e a deitando em seu ombro antes de envolvê-la outra vez.

— Estou com você até o fim, lembra-se? Não vou deixar você ir, Jyn.

Não houve tempo para responder. Alguém chamava no transmissor da nave. Se afastaram contra a vontade e Cassian correu para responder.

— Capitão Andor falando.

— Imaginei que estivesse aí – o droid falou – A princesa Leia e Mon Mothma estão indo ao seu encontro. Solicito que saia da nave imediatamente.

— Mas por que a princesa e Mon Mothma teriam algo a discutir comigo?

— Com Jyn Erso também. Mas esse ponto não faz parte das minhas ordens para contatá-lo, senhor.

— Entendido – Cassian falou desligando e abrindo a nave.

Quando desceram as duas mulheres já os aguardavam. A princesa sorridente e doce como sempre e Mon Mothma com a expressão que Cassian sabia que ela sempre tinha quando ia comunicar alguma decisão final. Seu coração se apertou dentro do peito, e sabia que o mesmo devia estar acontecendo a Jyn.

— Vocês venceram. Os dois vão ficar – Mon Mothma começou – Pode integrá-la a sua tripulação, Cassian. Ou ela pode nos ajudar em outros setores, habilidade certamente ela tem bastante. Acredito que queira forma uma nova tripulação para suas missões. Mas não antes de mais dias de descanso e até terem uma nave em bom estado e um novo droid.

— Sim! – Ele respondeu empolgado.

— Obrigada! – Jyn sorriu para a mulher.

Mon Mothma sorriu para os dois e se retirou, deixando a princesa com eles. Leia a esperou sumir de vista para falar.

— Gênios difíceis de convencer, mas não impossíveis.

— Convenceu o conselho inteiro? – Jyn perguntou.

— Tive que fazê-lo. Eles viram sua capacidade e tudo que fez, não tinham como continuar dizendo não, por mais que queiram te proteger. Cuidar da felicidade de alguém também significa proteger essa pessoa.

— Obrigado, princesa! – Cassian lhe disse com toda a sinceridade do mundo.

— Obrigada! – Jyn lhe disse quando a princesa lhe deu um forte abraço.

Leia também abraçou Cassian e fez menção de se retirar.

— Que a força esteja com vocês – falou antes de ir embora.

O casal se olhou sorridente e Cassian a abraçou com tanta empolgação que a tirou do chão. Finalmente, não estariam mais sozinhos.


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