Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 31
Capítulo 31 – A força está com você


Notas iniciais do capítulo

Deixo meus agradecimentos a Dugedrinho que sugeriu a aparição de Dath Vader. =D Muito obrigada!!! *----*



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Capítulo 31 – A força está com você

A cabeça de Cassian começou a doer junto ao restante do corpo devido aos ferimentos, ossos quebrados e o terror psicológico despejado sobre eles. Deveriam ter morrido em Scarif, preferiam isso. Após dias encarceirados e sendo torturados numa prisão imperial num planeta frio, estavam sendo arrastados para outro lugar. Uma sala grande e vazia, apenas com alguns painéis de controle e telas. Ele foi mantido de joelhos, preso por Snowtroopers perto da porta de entrada, enquanto Jyn era arrastada por outros dois soldados de branco para o centro da sala. Ela se debatia com o que restava de suas forças, e seus pés nem tocavam o chão por seu pouco tamanho. Cassian tremia de frio, e tinha certeza que Jyn não se sentia muito mais aquecida. Quando acordaram suas armas haviam sumido. Por sorte o cristal kyber de Jyn estava escondido em suas roupas e os imperiais não se deram ao trabalho de procurar. Casssian apenas respirava, cansado de se debater e gritar, por mais que quisesse se levantar e arrancar Jyn das mãos dos troopers.

— Quieta!!

Um snowtrooper acertou a cabeça dela com uma coronhada do blaster e o corpo da rebelde perdeu toda a força. As pernas pararam de chutar o ar, ficando suspensas sem tocar o chão, e a cabeça pendeu para frente, embora ela ainda parecesse estar acordada, mas consideravelmente atordoada. Cassian queria gritar seu nome, queria um olhar, um murmúrio, qualquer coisa que mostrasse que estava viva, mas tinham feito um acordo, nenhum falaria o nome do outro na presença de imperiais, nem nada que revelasse sua identidade ou qualquer coisa sobre a Rebelião, mesmo que morressem por isso, mesmo que apenas um saísse vivo, o que muito provavelmente não aconteceria. Nunca sairiam dali vivos se estavam mesmo onde pensavam estar. Darth Vader ser citado em uma coversa entre soldados no dia anterior tirava toda a paz de espírito que eles ainda poderiam ter, e todas as garantias de que não revelariam nada.

De repente os troopers ficaram quietos, e uma porta se abriu, iluminando a sala por um instante, e Cassian podia dizer que a própria morte havia acabado de entrar. Só com a visão de Vader adentrando o local sentiu seus músculos já enfraquecidos ficarem dormentes. O sith caminhou na direção de Jyn e ficou parado a olhando.

— Rebeldes? – A voz robótica perguntou de dentro do capacete negro – Não digam, eu posso fazer isso sozinho.

Ele ergueu o rosto de Jyn para olhá-la. Cassian viu sangue escorrer de sua testa pela lateral do rosto, até desaparecer na roupa. Os olhos verdes se abriram lentamente, ainda confusos, e Jyn tremeu assustada, mas após um breve segundo de pavor, Cassian viu a mesma chama de determinação furiosa surgir em seu olhar. Jyn era um ser humano inigualável, com um espírito inquebrável. Em Scarif ela não havia fechado os olhos como ele, havia encarado a morte nos olhos antes de desmaiarem. E agora ela fazia o mesmo.

— Orson Krennic... – Vader começou – Ele parou de fazer contato de repente. Estamos procurando por ele, caso ainda esteja vivo... Mas podemos nos adiantar com algumas informações – falou ainda encarando Jyn – Você pode contar o que sabe espontaneamente, criança.

Ela não reagiu, apenas sustentou o olhar sério. Sabia que Cassian devia estar vivendo horrores vendo a cena se desenrolar. Eles morreriam naquela sala, nunca mais veriam a luz do dia, nem o desenrolar daquela guerra. “Confie na força”, as palavras de sua mãe ecoaram em sua cabeça. De repente lhe ocorreu que o sith a sua frente poderia detectar a presença de seu cristal, e sentiu medo, depois se forçou a se controlar e esvaziar sua mente de qualquer pensamento.

— Você não pode dizer que não teve uma escolha, escolheu o caminho mais difícil. Você e seu amigo poderiam sair ilesos daqui de volta ao cárcere, mas ele vai ser o próximo. Por que não começa dizendo seu nome? E de onde você veio?

Cassian emitiu um murmúrio engasgado quando a atmosfera da sala de repente pareceu pesar toneladas sobre seu corpo e ficou difícil respirar. Olhou para Jyn, vendo seus olhos arregalados de pavor, ou talvez de dor. Mesmo os troopers faziam força para ficar de pé. Vader era o único a não ser afetado, e continuava parado no mesmo lugar. Jyn apertou os olhos, sem nunca desviar o olhar dele. Mais pressão foi colocada no ar e ela gritou, um grito que cortou o coração de Cassian. Ela gritou outra vez, e outra, e mais depois enquanto se contorcia. Vader ergueu a mão aberta em sua direção e começou a fechá-la. Jyn emitiu mais um grito entrecortado e se calou, fechando os olhos com força e agarrando com firmeza os punhos das armaduras brancas dos dois que a seguravam.

Cassian queria gritar, queria correr e tirá-la dali, mesmo que isso causasse a morte de ambos, o que seria até bom naquela situação, ou o menos pior que poderia acontecer para o bem geral, deles e da galáxia. Mas a pressão em torno de seu corpo era tanta que não conseguia mais sequer mover um dedo que fosse, e a dor de seus ferimentos não tratados era tanta que caso fechasse os olhos, poderia simplesmente não abri-los outra vez, nunca mais.

Jyn não se importava de morrer tentando. Ela não sabia definir algo completamente abstrato como o que estava acontecendo, mas sentia uma força tentando invadir seus pensamentos, e o aperto em seu pescoço, ainda que Vader nem a estivesse tocando, aumentava muito mais seu sofrimento. Mas não permitiria! Mesmo que sua cabeça explodisse. Concentrou-se em criar um muro, qualquer coisa que gerasse uma barreira mental para manter longe os raios de luz negra que ela via a sua volta, enquanto ainda tentava não pensar em nada além disso, nem mesmo em sua preocupação com Cassian. Suas forças começaram a se esgotar e por um momento achou que seus olhos se fechariam e perderia o controle, quando de repente todo o ar em volta ficou mais leve, e a pressão dolorosa que machucava seu corpo desapareceu. Ficou tonta e sentiu-se horrível, como se tivesse sido espancada e depois sedada fortemente. Fechou os olhos, ainda lutando para manter a concentração no que estava tentando fazer. Em algum lugar em sua mente e seu coração ela rezava silenciosamente para a força, levando em conta que talvez até agora somente isso poderia tê-los feito aguentar vivos.

— Vamos tentar com aquele ali – Vader falou.

O coração de Jyn falhou. Cassian estava muito fraco, não ia aguentar nenhum segundo! Ele ficou tão fraco enquanto ela era torturada que só não caiu no chão porque os snowtroopers o seguravam. Mesmo eles pareciam abalados e balançavam um pouco para continuar em pé. O capitão fez força para erguer a cabeça e olhar para Jyn. Seu corpo estava suspenso como antes e ela parecia desacordada. Vader pegou algo nas próprias roupas, e Cassian teria ficado fascinado em presenciar se fosse qualquer jedi manipulando aquele objeto prateado. A lâmina de luz vermelha que surgiu quase o fez chorar de pânico e dor. O sith continuou olhando para Jyn. Ela morreria antes mesmo de perceber. Mas os olhos dela se abriram de novo e pela terceira vez aquela mulher brava estava encarando seu fim corajosamente sem sequer piscar. Vader ergueu o sabre o apontando para o estômago de Jyn. Poderia ter sido a cabeça ou o coração, mas ele queria matá-la lentamente, queria ouvir os gritos de Cassian respondendo aos dela enquanto presenciava seu sofrimento. Nenhum dos dois jamais vira um sabre de luz, mas Cassian sabia teoricamente que se o tiro do blaster mais simples causava queimaduras possivelmente mortais, ser atingido por um sabre de luz representava chances muito altas de um fim definitivo.

— Você poderia se juntar a nós.

Ela não respondeu. Vader aproximou mais a lâmina vermelha dela, e as roupas começaram a ficar chamuscadas. O sabre foi puxado alguns centímetros para trás e tudo que Cassian queria era ter a capacidade de se transportar para a frente dela. Ele gritou antes que pudesse pensar quando Vader deu indícios de que perfuraria Jyn. O sith e os troopers o olharam em silêncio. Jyn também. O olhar dela encontrou o dele, e quase imperceptivelmente ela balançou a cabeça em negação. “Não, por favor!”, era o que seus olhos suplicavam. Ela queria adiar o máximo possível a morte de Cassian, mesmo que ambos soubessem que ele apenas seria o próximo.

— Tem algo a declarar? – Vader perguntou num tom irônico – Pode se juntar a nós, ou morrer junto com ela, mas nenhum dos dois antes de termos uma conversa amigável.

Uma sirene tocou de repente, agredindo os ouvidos de ambos, e interrompendo o momento cruel quase comicamente. Vader recolheu a lâmina de luz e guardou o sabre, olhando para uma grande tela acima de Jyn. A imagem de um homem usando um uniforme imperial preto surgiu.

— É bom que tenha o melhor dos motivos – o sith falou sério, mas visivelmente irritado.

— Orson Krennic, senhor – o oficial informou com a voz amedrontada – Perdeu uma perna e talvez perca o braço devido à explosão. Quase não conseguiram removê-lo antes do local ir pelos ares, mas está vivo e consciente sob efeito de analgésicos. O levaremos ao centro médico.

— NÃO! Aqui, agora!

— Senhor, se queremos as informações, ele precisa estar vivo para nos dizer...

— Não preciso que ele fale! E ele não precisa viver mais tempo do que vai levar para me transmitir – falou calmo de novo – Tragam-no agora.

— Sim, senhor.

A tela apagou e os segundos de silêncio que ocorreram em seguida foram mais assustadores que a tortura de minutos atrás.

— De volta ao cárcere.

— Somente isso, senhor? – Um dos troopers questionou.

— Podemos conseguir mais do que apenas informações sobre Scarif, mas isso será tratado após a urgência que acaba de surgir.

Os troopers assentiram e a mesma porta por onde tinham entrado foi aberta novamente. Jyn não sabia como, mas conseguia sentir que apesar de parecer uma pedra inexpressiva, Vader estava vibrando de ódio por dentro, um ódio direcionado a Krennic. Um pequeno sorriso cruzou o rosto da rebelde quando lhe ocorreu o pensamento de que Krennic entraria naquela sala em alguns minutos para jamais sair. Ela e Cassian foram arrastados para fora, e antes que a porta se fechasse, puderam ver a porta oposta se abrir e uma figura encapuzada de preto entrar carregada por dois snowtroopers. Vader não perdeu tempo em erguer seu punho na direção dele e fazê-lo se erguer no ar. As portas se fecharam, abafando os últimos gritos aterrorizados de Orson Krennic.

******

— Jyn... – Cassian sussurrou a tomando nos braços quando estavam jogados no chão da cela outra vez e sem imperiais à vista – Por favor, me diga qualquer coisa – implorava acariciando seu rosto e limpando o sangue com a manga de sua camisa.

As únicas reações dela foram soltar um pequeno gemido de dor, fechar os olhos, tremer de frio e inclinar-se nele. Encostou-se na parede da melhor forma que seu corpo fraco tornava possível sem que caísse, e permitiu que Jyn se encolhesse em seu peito enquanto ele a abraçava. Ela começou a tremer de novo, e dessa vez ele soube que não era apenas frio, ela estava em choque. Certamente uma consequência da tortura de Vader, se perguntava o que ela teria visto e sentido enquanto estava gritando. Precisava aquecê-la, apesar dele mesmo estar tremendo, e buscava em sua mente meios para fazer aquilo sem ter nenhum cobertor ou qualquer tecido ou fonte de calor disponíveis. Jyn gemeu, medo e dor em sua voz.

— Me diga alguma coisa, querida, qualquer uma que vier a sua mente, por favor – pedia agora desesperado, correndo os dedos por seus cabelos – Jyn, eu amo você, fale comigo – confessou beijando seus cabelos.

Jyn abriu a boca como se tentasse falar, mas nenhum som saiu. Ela fechou os olhos outra vez e enterrou o rosto no peito do capitão. A mão dela se apertou no peito em volta da própria roupa, e ele sabia que ela estava agarrando o cristal kyber escondido ali. A outra mão de Jyn agarrou a camisa dele, e de novo Cassian se perguntou se ela estava sentindo alguma dor. Mas em pouco tempo seu tremor começou a sumir e ela parecia estar dormindo enquanto a respiração lentamente se tornava mais regular. Pensou estar imaginando coisas, até ele próprio se sentir mais quente. Jyn era capaz de usar a força? Por que é isso que parecia estar acontecendo para mantê-los vivos desde dias e dias atrás quando haviam acordado presos, mesmo que ela não estivesse percebendo. Com o silêncio ele finalmente reduziu um pouco seu nível de tensão, e a dor de todos os estragos em seu corpo voltou com tudo. No entanto, ele ficou quieto, não querendo acordá-la. A balançou de leve, apesar daquele simples e curto movimento lhe causar dor e precisar aplicar um esforço incrível para fazê-lo, na esperança de tornar seu sono o mais tranquilo e agradável possível. Era horrível naquela situação não saber o que aconteceria no próximo segundo. Os dois deveriam ter morrido em Scarif... E agora estavam ambos jogados numa cela imperial, ainda mais feridos, e em choque após o traumático encontro com o próprio Darth Vader. Se sobrevivessem, Cassian tinha certeza de que jamais esqueceriam como escaparam da morte naquela sala, ainda mais milagrosamente do que em Scarif, e do pavor que os tomou de corpo e alma durante aqueles minutos agonizantes.

Três droids imperiais apareceram diante da cela, todos armados com blasters, um deles com dois, os blaster dele e de Jyn! Cassian os olhou assustado, puxando Jyn para cima do colo e a apertando mais em seus braços, forçando-se a lembrar que K-2 estava morto e aquilo não podia ser algo bom. Um dos robôs abriu a cela com um silêncio que Cassian precisava admitir ter ficado admirado. Outro entrou carregando um cobertor cinza escuro e um casaco preto imperial. O capitão se encolheu mais quando um deles se aproximou tentando tirar Jyn de sua proteção.

— Obedeça sem contestar ou estará morto em poucos segundos – o robô que carregava os tecidos falou baixo.

Cassian segurou Jyn com mais força, mas o outro droid se aproximou e o forçou a soltá-la, sendo obrigado a conter o capitão quando ele tentou reagir no momento em que o droid que carregava o cobertor estendeu o tecido no chão e pegou Jyn nos braços, deitando-a sobre o tecido e começando a envolvê-la como se embrulhasse um bebê, deixando uma abertura suficiente no tecido apenas para ela respirar, de forma que alguém mais baixo que os droids não poderia ver de quem se tratava enquanto a carregavam. Depois a pegou outra vez e a acomodou nos braços mecânicos. Cassian ficou confuso. Foi puxado para cima e vestido com o casaco preto, ficando imensamente agradecido quando o que ainda sentia de frio começou a desaparecer, mas não ficando tão feliz quando seus pés o traíram e ele cambaleou, sendo sustentado pelo droid. Um chapéu foi colocado em sua cabeça de forma a esconder o máximo possível de seu rosto. Depois ambos foram levados para fora e o último droid implantou alguma coisa parecida com uma bomba dentro da cela, depois saiu e a trancou.

— O que está acontecendo? – Cassian se atreveu a perguntar.

— As probabilidades de ambos morrerem nessa base são de 97,6%.

Não explicou nada, mas Cassian já tinha ouvido aquilo antes. Não era possível... Foi quase carregado pelos outros droids em vista que mal conseguia andar sozinho, e muito menos correr. Minutos se passaram até adentrarem um corredor escuro e em seguida chegarem a um hangar que se abria para a imensa extensão de neve do planeta. Caminharam em direção a uma nave que Cassian não ligou nem à Aliança e nem ao Império. Devia ser roubada ou ter tido seus ocupantes mortos pelo Império, ou ainda uma nave para infiltrar imperiais em locais neutros ou rebeldes. Era uma nave cinza e azul, de tamanho médio. O motor estava ligado. O droid que carregava Jyn entrou e voltou sozinho, agarrando o braço de Cassian e o puxando para dentro.

— Matem todos – ele disse aos outros dois, que assentiram em silêncio.

Depois empurrou Cassian para dentro e fechou a nave, deixando-o ainda mais confuso.

— Você acabou de mandar seus comparsas pra morte?

— É melhor se sentar, do jeito que está vai cair, quicar e terminar de quebrar os ossos que ainda estão inteiros quando atingirmos a velocidade da luz para o hiperespaço.

— Você pode simplesmente me dizer o que está acontecendo?! – Perguntou nervoso.

Explosões e tiros foram ouvidos do lado de fora, e Cassian precisou se segurar na cadeira em que o droid estava sentado para não ser atirado do outro lado quando a nave arrancou do hangar, e uma dor forte preencheu seu corpo, especialmente no ponto onde ele tinha certeza que tinha algumas costelas quebradas. Ele ficou tonto e fechou os olhos. Podia sentir a nave voando em extrema velocidade, mesmo depois do salto para o hiperespaço, ouvia o droid apertando uma série de botões em alta velocidade. Quando abriu os olhos viu o robô ligar o radar, depois o transmissor.

— Estamos à distância segura. Eu peguei os dois. Deixei os sistemas temporariamente hackeados em uma missão suicida.

Cassian olhou as janelas e seus olhos se arregalaram quando várias X-Wings apareceram voando em volta como uma escolta.

— Mantenha a velocidade. É da base de Vader que estamos fugindo – a voz de Draven respondeu.

— Copiado. Entraremos em piloto automático temporariamente. Eles precisam de primeiros socorros urgentemente.

O droid levantou e olhou para Cassian, girando a cadeira ao lado e o puxando de onde estava com cuidado até fazê-lo se sentar nela.

— Onde está Jyn?!

— Sugiro que tire logo essas roupas horríveis. Há algumas nessa nave que devem servir em você e Jyn. Também há um kit médico. O que aconteceu com ela? Minha análise de sua expressão facial indicou que ela sofreu agressão mental violenta.

— Kay...? – Cassian quase não conseguiu dizer ao ser tomado por mil emoções, levantou e abraçou o droid antes de pensar qualquer outra coisa.

— Não acredito que demorou tanto tempo pra me identificar... E não entendo porque ser tão sentimental, mas estou feliz em ver você também.

— Mas você...

— Eu hackeei outro droid imperial antes de ser alcançado na base em Scarif, me transferi no momento em que me derrubaram para um droid que estava dentro dessa nave junto com quatro imperiais em fuga.

— E o que fez com os ocupantes?

— Abri a nave e joguei todos para fora. Eu sobrevoei por tanto tempo quanto pude antes de deixar Scarif, mas não consegui localizar vocês dois a tempo. Mais um segundo e a nave iria pelos ares. Eu sinto muito por isso.

— Não se preocupe com isso.

— Aconselho que você revise e reprograme corretamente essa unidade depois que estiver bem e que estivermos seguros. Consegui encontrar os outros antes de sair, em um local um tanto distante de onde provavelmente você e Jyn estavam. Ficaram bem mal, mas o bacta os concertou depois de alguns dias, embora ainda estejam no centro médico.

— Chirrut, Baze e Bodhi estão vivos?!

— Sim. Nossa nave infiltrada explodiu, Bodhi pulou pra fora segundos antes. Os três passaram um dia inteiro chorando e se lamentando quando acordaram e vocês não estavam.

— Quem e como nos achou?

— Quando me comuniquei com Yavin 4, todos os radares rebeldes foram acionados. Um deles detectou duas naves imperiais em fuga, uma delas levou vocês. Vou lhe contar detalhes depois. Precisa de cuidados urgentes.

— Jyn primeiro.

— Ela não tem ossos quebrados e está inconsciente, ou seja, sem sofrimento físico aparente no momento. Você é o caso que exige maior urgência, e garanto que não estou levando isso para o lado pessoal.

— Foi horrível, Kay. Nós vimos o próprio Vader.

— O QUE?! Por que não me forneceu esse dado antes?!

— Ele pegou ela enquanto dois soldados me obrigaram a ficar de joelhos assistindo. Eu não sei o que ele fez com ela, mas ela gritou bastante. Depois ficou em choque. Me deixe vê-la.

— Isso torna o estado de ambos mais crítico do que imaginei. Me forneça mais detalhes – o droid pediu ao capitão ainda abraçado com ele.

******

Jyn se mexeu, percebendo que o chão duro e o frio insuportável da cela imperial não existiam mais. Era a única coisa de que ela se lembrava com nitidez total depois dos gritos de Krennic. Lembrava de Cassian falando com ela, e de não conseguir respondê-lo, como se sua voz estivesse presa ou sua garganta fechada, parecia que o punho de Vader ainda apertava seu pescoço, então uma agonia horrível a tinha tomado e ela desistiu de tentar falar.

Estava deitada em algo macio e sentiu algo pressionar em volta dela. Sua consciência ainda desequilibrada a impedia de saber em que estava presa. Não era um aperto agressivo, mas as últimas lembranças a faziam se sentir sufocada, ao menos não estava mais frio. Ela tivera pesadelos conturbados, ela e Cassian fugindo de Vader ou sendo mortos por ele e acordando para reviver tudo de novo, um sendo torturado enquanto o outro era obrigado a assistir, gritos, dor, sangue, pânico, um chorando sobre o corpo do outro, um sendo queimado e perfurado pelo sabre vermelho enquanto o outro assistia e os dois gritavam, os dois correndo num corredor escuro que nunca terminava com Vader e a luz vermelha assustadora do saber de luz atrás deles.

A rebelde finalmente abriu os olhos apavorada. Seu coração disparou e ela respirava rápido como se tivesse acabado de quase se afogar. Fechou os olhos de novo, mas temendo rever qualquer coisa de seus pesadelos os abriu e tentou detectar sua fonte de calor. Cassian dormia com uma expressão claramente esgotada. Jyn acariciou seu rosto. A camisa aberta exibia bandagens em volta do peito e do abdômen, além de um grande curativo no ombro direito. Ele estava usando roupas diferentes e aparentemente havia tomado banho. A presença de apenas uma janela coberta a fez deduzir que estavam em uma nave. Não sentia dor como esperava que fosse acontecer. Talvez alguém tivesse lhe aplicado analgésico. O medo de Vader ainda lutava para ocupar espaço em sua cabeça, mas a visão de Cassian dormindo a tranquilizou, e saber que o aperto em seu corpo nada mais era que os braços dele em volta dela a fez relaxar.

— Cass...

Conseguiu se soltar do abraço sem acordá-lo, e sentou-se na cama, vendo roupas dobradas em cima da cama ao lado, além de um kit médico. Havia uma porta, que provavelmente era do banheiro. Levantou-se e puxou a cortina da janela, X-Wings voavam em volta entre as estrelas. Jyn ficou ainda mais confusa. Se lembrava de Cassian falando com ela, de querer respondê-lo, mas sua voz não saía, e depois apenas pesadelos. Se ele estava dormindo tranquilo, e com ela, provavelmente estavam seguros. Fechou a cortina e pegou as roupas e o kit, seguindo para o banheiro. Seu rosto refletido no espelho revelou que alguém havia limpado seu rosto e apenas machucados se destacavam em alguns lugares. Levou um tempo considerável para tomar banho, pois seus ferimentos doíam em contato com a água. Quando terminou aplicou bacta em suas feridas e observou o cristal kyber em sua pele nua. A força... Se já acreditava na força antes, agora acreditaria ainda mais. Nada mais poderia conceber o milagre de salvá-los de Scarif, ainda que não fosse exatamente um salvamento amigável, e do próprio Vader, mesmo que através de outras pessoas ajudando. Vestiu-se, deixando o cabelo solto, e voltando ao quarto. Cassian estava acordado.

— Jyn...

Ele não disse, mas viu em seus olhos que ele a queria de volta com ele. Deitou-se ao lado do capitão outra vez debaixo das cobertas.

— Me diga que você está bem – ele implorou.

— Acho que sim.

Ela pode ler facilmente o alívio nos olhos castanhos ao escutar sua voz.

— Você não falava comigo...

— Minha voz simplesmente desapareceu, parecia que o punho de Vader ainda tentava me sufocar. Eu ouvi você falar, mas não conseguia responder. E estava frio demais. O que aconteceu depois?

— Kay está aqui.

— Mas...

— Eu vou explicar depois. Agora você só precisa saber que estamos seguros, indo pra Yavin 4, que Baze, Chirrut e Bodhi estão vivos, e que a Estrela da Morte foi destruída há uma semana, quando tudo aconteceu.

Jyn não tinha palavras para o que sentiu, e sua reação foi chorar e rir ao mesmo tempo. Cassian a puxou para ele e a acalmou, ele mesmo havia chorado horas atrás enquanto K-2 cuidava dele e os dois cuidavam dela. Afagou os cabelos castanhos claros quando ela ficou em silêncio novamente.

— Cassian...

Ele esperou ela continuar.

— Eu te amo também. Eu ouvi você...

Olhou para ela. E por alguns instantes ficaram apenas em uma troca de olhares e toques, a mão de um acariciando o rosto do outro.

— Do que estávamos com medo naquele elevador?

— Não tenho a mínima ideia. De muita coisa, eu acho... Mas podemos pensar nisso depois.

Seus lábios se uniram delicadamente, e um embrulhou o outro em um abraço. Não era uma sensação nova para nenhum dos dois, o sentimento talvez, pois agora era mais verdadeiro do que nunca, mas finalmente libertaram o que vinham evitando desde bem antes de partirem para Scarif. Todas as vezes que Cassian voltou por ela, quando simplesmente podia deixá-la morrer por não ser mais útil, a gentileza, os olhares e o cuidado que pouco a pouco ele começara a demonstrar com ela, ele ter escalado a torre para ir atrás dela quando acordou ao invés de apenas fugir, agora Jyn entendia. E Cassian finalmente podia deixar para trás o arrependimento de não tê-la beijado naquele elevador.


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