Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 30
Capítulo 30 – In another life


Notas iniciais do capítulo

Esclarecendo um pouco antes da leitura. Esse cap surgiu de algum momento muito louco que tive umas ideias loucas pra fazer outro cap baseado na música "The one that got away", de Katy Perry, e em "You are my sunshine", de Jonnhy Cash e June Carter. Nesse cap Jyn e Cassian se encontram e reencontram em vidas diferentes. A primeira delas bem antes de começar a guerra do Império contra a Aliança, e a que mais se baseou na letra e vídeo da primeira música que falei. Sugiro que assistam o clipe de "The one that got away" e verifiquem a tradução pra entenderem melhor. Só pra incentivar mais ainda, Diego Lindo Luna está no clipe com Katy. xD ♥



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Capítulo 30 – In another life

Jyn estava à beira de um precipício, observando a depressão mortal que havia ali, como fazia todos os anos naquela mesma data. Com setenta e cinco anos de idade, sua dor continuava a mesma de quando tinha dezoito.

— Senhorita Carter... – ouviu alguém chamar atrás dela – Está ficando tarde, é melhor voltarmos.

Ela continuou olhando o pôr-do-sol alaranjado e apoiou-se na cerca de madeira como se fosse a última vez que faria aquilo, uma sensação estranha que ela não sabia descrever. Quase podia vê-lo de novo. Olhou para baixo, mesmo sabendo que não encontraria mais nenhum pedaço da nave que se espatifara ali anos e anos atrás. Finalmente deu as costas àquela linda paisagem e seguiu seu assistente de volta para a aldeia.

— Quer que eu feche a porta?

— Não. Deixe entreaberta, eu quero ouvir a música.

— Entendido – o homem idoso disse antes de sair do quarto dela.

 

Você é meu raio de sol, meu único raio de sol

Você me fez feliz quando os céus estavam cinzentos

Você nunca saberá, querida, o quanto eu a amo

Por favor, não leve meu raio de sol para longe

 

Eles adoravam aquela canção, e como adoravam... Jyn fechou os olhos, apreciando o som baixinho que chegava a seu quarto. Aquele era um dos poucos planetas na galáxia em que se encontrava uma boa quantidade de artistas, apesar da vida ser tão simples quanto nos outros planetas, alguns dos quais ofereciam uma vida bem mais dura e sacrificada a seus habitantes. Mas não havia guerras pelo menos, isso era suficiente para viver.

Ela começou a sonhar, visões aleatórias de sua vida. Eram jovens de novo, estavam observando as estrelas na janela da nave dele enquanto corriam livres pelo espaço... Era seu aniversário de dezoito anos, esles fizeram tatuagens iguais, estavam rindo e felizes, esparramados na cama entre as pinturas, desenhos e materiais espalhados pela pequena casa, além de instrumentos musicais, ele sabia tocar... Gritos, lágrimas, ele estava indo embora, e ela não tentou impedi-lo, apenas olhou a nave decolar... Não sabia o que tinha dado errado com a nave antes mesmo de deixar o planeta, mas ele estava morto. Jyn não queria aquilo, nunca quis! Tinham feito uma promessa, ficariam juntos para sempre, por todo o caminho, até o fim!

— Senhorita Carter!

O grito desesperado de seu assistente não foi suficiente para despertá-la de seus sonhos e pesadelos que se mesclavam. Estava outra vez na cerca de madeira, olhando o pôr do sol mais lindo de todos, como fizera naquela manhã, mas ninguém nunca veio chamá-la, por mais que ela esperasse. Ouviu passos e pensou que fosse seu ajudante, esperando para que voltassem à aldeia, mas o som não vinha de trás dela. Ergueu o olhar quando uma sombra nublou a luz do sol, e seus olhos verdes ficaram congelados naquele rosto. O mesmo Cassian jovem que ela conheceu, o mesmo que havia amado tanto... Estava ali, olhando para ela. Não sabia o que havia em seu olhar, tristeza, dor, arrependimento, compaixão... Ele olhou para baixo e ela seguiu a linha de visão dele, vendo a mão forte e jovem segurar a sua envelhecida e menor, e acariciá-la com o polegar. E ali estavam mais uma vez, as duas tatuagens idênticas, um coração contornado em um dos lados com uma cruz embaixo, simbolizando um amor sagrado.

— Jyn!

Abriu os olhos. Seu corpo nunca estivera tão sonolento e pesado antes. Sabia que era seu ajudante a chamando, mas não conseguia focá-lo direito, nem tinha ideia do porque dele estar desesperado e de haver outras pessoas em seu quarto àquela hora da madrugada. Estava apenas com sono. Não havia dor, nem pânico. Sentiu alguém colocar uma máscara em rosto, uma máscara de oxigênio provavelmente. Ok, ela não estava bem, mas não se importava. Nada em sua vida importava muito nos últimos anos.

Rumores sobre uma guerra começavam a se espalhar pela galáxia, lendas estranhas sobre “Jedis” e “Siths”, algo sobre um poder incrível descoberto nos cristais kyber, que nunca tiveram muita serventia, e eram usados e comercializados apenas como joias. Coisas estranhas como aquelas nunca tinham acontecido antes, mas algo perigoso estava de fato acontecendo muito longe dali e se espalhando pelo universo. Com o bom coração que sempre tivera e com seu moderado poder aquisitivo, Jyn chegara a ajudar vários viajantes perdidos que apareciam na aldeia, alguns contando as mesmas histórias esquisitas, e era isso que fazia de sua vida além das pinturas de sempre e de outras tarefas aleatórias. Assumia até o último risco para ajudar inocentes, mas fora isso não tinha muito a que se agarrar desde aquele dia trágico em que uma única palavra, um pedido de desculpas, um abraço, mãos unidas no último segundo ou um beijo desesperado, poderiam ter mudado tudo. E hoje ela ainda seria sua garota e eles manteriam todas as suas promessas. Nunca tinha planejado que um dia o perderia. Era sua culpa, era essa a dor que carregaria para sempre.

Viu o pânico das pessoas em volta aumentar. Continuou a ignorá-los. Alguém estava sentado ao seu lado. Uma mão gentil e cuidadosa acariciou seus cabelos brancos. Aquele toque era tão familiar... Era tão bom... Talvez fosse tudo que ela precisasse por tantos anos. Decidiu olhar para o ser caridoso que lhe era gentil naquele momento confuso, então teve certeza de realmente havia algo errado com ela. Ele estava bem ali, onde sempre deveria ter estado, ao seu lado. Lágrimas se juntaram nos olhos verdes, mas ele não disse uma palavra, apenas a olhava. Estava jovem e bonito, vestido exatamente como ela se lembrava de tê-lo visto pela última vez. Os olhos castanhos a olhavam de maneira doce, sem nenhum ressentimento. Jyn os viu brilhar, e por um instante achou que ele fosse chorar como ela estava fazendo. “Fantasmas choram?”, pensou, “Ou melhor... Alucinações podem chorar?”.

Cassian ajoelhou-se no chão ao lado da cama, tomou sua mão na dele, acariciando-a com o polegar, e a beijou demoradamente. Mais uma vez ela pode ver suas tatuagens idênticas unidas. Jyn foi tirada da cama e colocada em uma maca, estendendo a mão, não querendo se afastar dele. Não sabia se estava morrendo, mas se a última coisa que veria era o fantasma de seu amado capitão, era exatamente e apenas isso que ela queria.

— Fique tranquila, vamos cuidar da senhorita – ouviu a voz de seu criado dizer, ainda em pânico.

Mas Cassian continuou lá, andando ao lado da maca enquanto ela era carregada para uma nave, provavelmente para o centro médico mais próximo. A nave levantou voo e ela agradeceu mentalmente por ser deixada sozinha em um dos cômodos.

— Até o fim... – sua voz não passou de um murmúrio.

Ele entrelaçou suas mãos de novo, a olhando profundamente. Parecia tão real para ser uma alucinação... Jyn fechou os olhos quando Cassian deu um beijo em sua testa. Uma lágrima deixou seus olhos e sumiu no tecido do travesseiro. Jyn esperou pelo próximo instante, pelo próximo acontecimento, mas nunca veio. Estava satisfeita, no entanto, que sua última sensação fosse aquele beijo, que tirou todo o peso que carregou por cinquenta e sete anos.

******

— Acabou, Jyn! Acabou querida!

Cassian ria e chorava ao mesmo tempo abraçando a esposa. Jyn se agarrou a ele enquanto fazia o mesmo. O Império finalmente encontrara seu fim. Sem Estrela da Morte, sem Império, sem Darth Vader, sem vidas inocentes e planetas inteiros sendo dizimados por nada. Alguns leais aos imperiais continuavam espalhados por alguns cantos da galáxia, mas um número completamente insignificante que logo desapareceria. Agora teriam que trabalhar talvez mais do que antes. Ajudar os sobreviventes, ajudar planetas destruídos, conciliar e restaurar alianças, estabelecer uma nova ordem de paz, mas eles estavam felizes, e era só o que precisavam no momento.

— Papai pode ficar em paz agora... – ela falou.

— Sim. E nós também.

Eles quase haviam morrido ou perdido um ao outro tantas vezes. Era um milagre estarem ali juntos e nunca mais deixariam o outro ir a qualquer lugar sozinho. Enquanto os outros rebeldes da base corriam e andavam apressados em volta, com gritos e lágrimas em comemoração, eles se beijavam ao lado da Rogue Two, uma U-Wing.

— Cassian, há uma...

O droid parou de falar ao perceber que os tinha interrompido. Cassian sempre ficava com raiva dele quando ele e Jyn eram interrompidos assim. Mas os dois simplesmente se separaram, riram e trocaram um beijo rápido antes de Cassian colocar Jyn no chão e os dois olharem para o droid.

— O que há, Kay? – O tenente perguntou sorridente.

— Não vai me repreender?

— Não hoje... Acabou! Você se sente ao menos um pouco feliz?

— Eu não sinto felicidade ou tristeza, mas posso definir meu estado como satisfeito. Você tem ideia de quantas vezes eu quase morri e morri de verdade por essa causa? Há uma comemoração na ala de alimentação. Alguns que sabem fazer música estão lá tocando aqueles instrumentos barulhentos que vocês humanos adoram. O restante da nossa tripulação está lá. Bodhi pediu que eu os localizasse.

— Obrigada por dizer, nós vamos agora – Jyn sorriu.

Os três se dirigiram ao grande galão usado como refeitório na base, Jyn e Cassian de mãos dadas.

— Mon Mothma informou que Leia, Luke, Han e Chewbacca podem aparecer aqui em breve, e que vocês gostariam de saber.

— Quando? – Cassian perguntou.

— Não há uma resposta exata. Primeiro a general precisa resolver os assuntos pendentes junto com o irmão.

— Obrigado por dizer, Kay.

Os três mal entraram no local e foram abraçados por Baze e Bodhi que estavam tão loucos e emocionados quanto os outros rebeldes. Logo Chirrut também se uniu ao abraço, mais calmo como sempre, mas nitidamente feliz. Ficaram em silêncio por um instante. Não sabiam o que dizer, só sentir. E todos deveriam estar sentindo a mesma coisa, mesmo K-2 com toda sua frieza de droid.

Realmente havia música. Música animada. Alguns estavam dançando, e mesmo Baze, Chirrut e Bodhi haviam se unido ao grupo dos que dançavam.

— Os humanos agem de forma esquisita quando estão tão exitados – K-2 comentou.

— Isso porque você não sente, mas não há nada de esquisito nisso – Cassian respondeu – Se anime um pouco – falou com um sorriso.

— E você espera que eu dance com você? Acho que sozinho chamaria menos atenção. Ou dance com Jyn.

— Isso não é uma má ideia.

— O que? Eu não sei dançar.

— Não precisa saber, amor. Falamos do nosso futuro como se soubéssemos de algo... Tem ideia de quantas coisas fizemos na vida sem ter a mínima ideia de como acabariam? Não precisa saber essa também – Cassian falou, a puxando da cadeira em que havia se sentado – Eu estou com você, e é tudo que precisa saber hoje. Você está comigo?

— Até o fim.

Sorriram um para o outro e Cassian a puxou para a multidão de rebeldes que dançavam e riam. Ele a segurou perto dele e uniu uma mão com a dela. Passos tímidos e lentos no início, mas logo estavam acompanhando o ritmo da música agitada e rindo como jamais haviam se divertido desde que eram crianças.

— Que bom que você está aqui – ela falou.

— Eu nunca te deixaria, por nada.

— Eu te amo.

— Eu sei.

******

— Alô?

— Eu... Quem é?

— Diego.

— Sou Felicity. Eu devo ter discado seu número por engano, me desculpe.

— Tudo bem.

A ligação caiu. Felicity... Porque aquela voz parecia tão familiar? Deixou a questão de lado, tinha trinta minutos para sair de casa. Se olhou no grande espelho preso na parede, arrumando a roupa, e em poucos minutos saiu. Entrou em seu carro preto e se dirigiu ao local do show que veria com alguns amigos naquela noite. Quando parou no sinal a garota do telefone voltou a seus pensamentos, e não entendeu porque. Era só alguém que havia se enganado de número. Acordou de seu devaneio quando o carro de trás buzinou e viu que o sinal estava aberto. Deu partida rapidamente e tentou prestar mais atenção. Depois de chegar a seu destino e encontrar um estacionamento, entrou na área vip do show, onde encontraria outros amigos, que eram atores ou músicos como ele, que era os dois.

— Diego! – Alan chamou de longe.

Quando localizou a mesa onde o amigo estava caminhou até ele e os dois trocaram um abraço. Ele sentou-se e passou bons minutos conversando com Riz, Donnie, Jiang e Alan.

— Empolgado pra ir ao estúdio? – Riz perguntou.

— Bastante! Isso é Star Wars!

Os quatro riram animados. A noite avançou e uma hora depois cantavam empolgados as canções de Katy Perry. Diego já havia participado de um de seus clipes. Uma história triste, mas a música ainda era linda. Os dois eram bons amigos desde então, além dele sempre ter sido fã da cantora. E por sinal era aquela música que ela estava cantando agora. Só um clipe, só uma história, mas que o deixava mais triste do que ele costumava admitir. Doía muito quando ele reassistia, como espectador e não como um dos participantes. Não por ele morrer durante o clipe, apesar de ser apenas atuação, seu coração simplesmente se apertava como se já tivesse vivido algo similar na vida real, embora não se lembrasse.

 

Em outra vida, eu seria sua garota

Nós manteríamos todas as nossas promessas

Seríamos nós contra o mundo.

 

Olhou em volta e decidiu se levantar um pouco e caminhar pela ala das mesas para ver o palco um pouco mais de perto.

— Vou ver o show um pouco mais de perto.

— Nós vamos assim que essa rodada acabar – Jiang falou indicando a comida e bebida na mesa.

— Ok.

— Vai falar com Katy, Diego? – Donnie perguntou.

— Depois que acabar vamos todos nós.

Diego levantou e procurou um caminho por entre as outras mesas e a escuridão do lugar, desatentamente esbarrando em algo, ou alguém menor que ele.

— Desculpe... – ele disse para a pessoa pequena com quem havia colido.

— Me desculpe...

Os dois olhares se encontraram. Ela era linda. Não podia ter certeza no escuro, mas diria que seus olhos eram verdes e o cabelo castanho claro. Um colar de uma pedra transparente e diferente de tudo que ele já tinha visto estava preso em seu pescoço, ajudando a adornar o vestido azul acinzentado que ela usava.

— Eu não conheço você de algum lugar? – Ela perguntou.

— Sua voz... Você me ligou por engano.

— Então era você?

— Acho que sim – ele sorriu, não apenas para ser simpático, quis sorrir para ela, mesmo sem razões – Me desculpe perguntar, mas... Acho que já vi esse colar em algum lugar.

— Ah... – ela olhou rapidamente para o cristal – Está na minha família há mais gerações do que posso contar, não tenho certeza de onde veio, mas o diretor do meu próximo filme ficou empolgadíssimo quando o viu e disse que seria muito útil.

— Acho que já vi alguns de seus filmes.

— Eu também já vi alguns seus. Estou na cidade porque fui escalada pra mais um.

— Eu também. Qual o seu?

— Rogue...

— One? – Ele completou.

Os dois se olharam sem saber o que dizer.

— Isso foi esquisito – ela falou – Já tem o nome do seu personagem?

— Sim. Cassian. Cassian Andor.

— Jyn Erso... É esquisito... Mas sinto que vou me dar muito bem com essa personagem. O nome dela soa como se fosse meu.

— Eu sinto a mesma coisa sobre o meu. Também não tenho explicações.

— Por que não conversamos um pouco? A confiança vem dos dois lados, Cassian – ela disse quando ele demorou a responder.

Ela segurou sua mão, e Diego achou que estivesse ficando louco. Como o primeiro toque de alguém que acabara de encontrar pessoalmente pela primeira vez o fizera esquentar por dentro e sentir um emaranhado de emoções ao ponto de até querer beijá-la? “Até o fim”, uma frase recorrente em vários sonhos estranhos que ele tinha, com um acidente envolvendo uma nave estranha, e com uma guerra, uma rebelião e um imperador insano. E ele nunca estava sozinho, sempre havia ao seu lado... Uma garota pequena de olhos verdes, a quem ele amava mais do que a própria vida. E de repente lembrou de onde conhecia aquele cristal no colar dela.

— Bem vinda em casa, Jyn – ele falou com um verdadeiro sorriso.

Ela sorriu de volta, o sorriso mais lindo que ele já vira, e seus sonhos nunca pareceram tão reais quanto naquele instante.


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