Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 18
Capítulo 18 – Se você quer a liberdade, você a terá




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Capítulo 18 – Se você quer a liberdade, você a terá

— Quando ela chegou aqui lhe prometemos liberdade. Como saber se ela não vai embora na primeira chance? Temos muitos que ajudam a Aliança sem estar ativamente ao lado dela, mas desde que chegou a senhorita Erso não nos deu certeza sobre sua posição. Apesar da missão suicida bem sucedida, ela lutou pra proteger vidas inocentes, mas não necessariamente pela Aliança.

— Proteger vidas inocentes. Não é isso que fazemos, general Draven? – Mon Mothma falou após um longo tempo em silêncio – Para fazer o que é certo e proteger o que acredita não é preciso escolher nenhum lado. Jyn pode ser filha de um cientista imperial, ao qual essa condição foi imposta e não escolhida, e ter cometido crimes com gravidade suficiente para ser presa pelo império e submetida a trabalho forçado, mas agora tenho certeza que isso também não foi uma escolha, foi apenas o que pode ter sido a única chance de sobrevivência em dados momentos.

— Todos nós tivemos momentos ruins.

— Sim general, mas ela esteve sozinha, por anos, e cada um nesta base sabe que a galáxia não é um lugar amigável para se estar sozinho. Muitas vezes não se trata do que queremos, nem mesmo do que acreditamos, mas do único caminho que tivermos, que nem sempre é bom. E qualquer erro que tenha sido cometido está perdoado, bem como espero que Jyn nos perdoe por nossa hostilidade inicial.

— Só quero garantir a segurança da base. Quem se responsabilizaria por qualquer problema? E foi criada e treinada por Saw Guerrera por anos, como saber se não herdou os preceitos dele?

— Jyn é uma mulher adulta e pode muito bem se responsabilizar por si mesma. Quanto a seu pai adotivo, tendo ou não ficado muito magoada com o abandonado inesperado por parte dele, acredito que se ela herdou algo, foram as coisas boas. Devemos ser justos, atenciosos, prestar atenção ao que pode prejudicar a Aliança, mas não preconceituosos. E não vamos esquecer que poderíamos estar todos mortos se não fosse pela ousadia e coragem dela.

— Mesmo com uma equipe inteira sendo deslocada sem consentimento?

— Tivessem os membros da Rogue One se acomodado em nossa dúvida e temor, e talvez não estivéssemos conversando agora.

— Então ela vai ficar?

— Isso é ela quem vai decidir. Deixará o centro médico hoje junto com Cassian. Nós lhe prometemos liberdade. Se ela quiser, então poderá ir. E se ela decidir ficar, vamos acolhê-la de braços abertos. E a posição de sargento se tornará oficial.

— Como pode entendê-la tão bem se a conhecemos há apenas um mês e três semanas?

— Conversamos bastante no hospital desde que ela acordou e enquanto aguardávamos Cassian despertar, ela tem mais em comum com ele do que pensei. Comecei a entendê-la no dia em eu trouxe um garotinho de seis anos chorando para nossa base.

******

— Os droids médicos ficariam loucos se nos vissem aqui. Disseram que ainda estamos em recuperação – Jyn comentou.

— Eles não precisam saber. E nos viemos caminhando calma e lentamente até aqui, minimizando o máximo possível o esforço que fizemos.

— Por que viemos tão alto?

Estavam em um dos andares mais altos da base, do lado de fora, com uma magnífica vista do céu.

— Por que não tem ninguém. Apesar das coisas parecerem bem resolvidas entre nós, acho que poderíamos conversar. Sem médicos e droids nos interrompendo, e sem um monte de máquinas ligadas em nós.

— Muito tempo sozinha, nunca usei muitas palavras pra resolver nada.

— Talvez nesse caso não precisemos mesmo... Não por enquanto – Cassian respondeu se aproximando, tomando as mãos dela nas suas e unindo suas testas.

Olharam-se e sorriram um para o outro.

— Quero você – o capitão sussurrou.

— Você já me tem. 

— Então me entrego a você, Jyn Erso, completamente.

Fecharam os olhos e uniram seus lábios suavemente. Foi doce, calmo, protetor, amável. Jyn levou as mãos para seus ombros e Cassian a abraçou. O beijo se tornou mais profundo e os dois esqueceram totalmente que existia um mundo em volta deles, até que a falta de ar os obrigou a voltarem à realidade. Jyn o abraçou também e repousou a cabeça contra ele.

— Você vai ficar? – Cassian perguntou como se temesse a própria pergunta.

Jyn ficou quieta, ela havia pensado nisso uma ou duas vezes no hospital, mas ainda não tinha uma resposta. Ela nunca estivera de nenhum dos lados. Não era aliada dos rebeldes, mas odiava o Império. O que ela faria e para onde seguiria se partisse? Em que sua vida se transformaria se ficasse?

— O que você vai fazer se eu disser não?

— Te prometeram liberdade. Agora você pode tê-la.

Jyn sentiu o coração dele disparar contra seu ouvido e beijou o local demoradamente, percebendo que as palavras do capitão não combinavam com seus pensamentos.

— Se acalme.

Dessa vez foi ele quem ficou em silêncio, ela havia percebido que estava nervoso. Sim, ele a queria, e ela o queria. Mas isso não significava que ela fosse ficar. Jyn era um pássaro livre, arrancada de seu lar e de sua família quando criança, protegida por quem depois a abandonou, e por fim sozinha, vivendo sob as próprias regras e fugindo de todos que queriam trancafiá-la numa gaiola e matá-la, até que conseguiram. Então numa certa manhã Mon Mothma o chamou para informar que a próxima missão era libertar uma criminosa que supostamente seria a filha de Galen Erso. Perigosa, agressiva, arredia, experiente em combate, infiltração, manuseio de armas, entre outras coisas, segundo relatos, apesar de dessa vez ter sido presa pelo Império. Cassian estudara a extensa lista de crimes pelos quais Jyn era acusada antes de partir para Wobani, e qualquer pessoa sã um se impressionaria ou ficaria no mínimo constantemente armado na presença dela, parecia um monstro. E tamanha foi a surpresa de Cassian quando K-2 a derrubou no chão quando ela tentou fugir e ele pode observá-la, uma pessoa muito pequena para os portes dos crimes daquela lista, mas seu olhar feroz e desafiador não deixava dúvida de que era tudo verdade, apesar de seu pouco tamanho.

E ele descobriu outra coisa. Orgulhosa. Após o forte impacto com o chão ficara quase incapaz de se mover ou se levantar por algum tempo, e eles precisavam ir rápido! Segundos a mais de demora para voltarem à nave e decolar poderiam significar prisão e morte para todos eles. Cassian decidiu não estender a mão para ajudá-la, ela usaria aquilo para derrubá-lo e tentar fugir de novo, então sem pedir permissão se abaixou rapidamente e a pegou no colo, correndo junto com os outros na direção na nave. Apesar de gemer de dor quando Cassian a pegou, Jyn resistiu, se contorcendo para tentar se libertar, mais para não ser ajudada por ele do que para fugir, mas as dores a fizeram se render quando viu a U-Wing e olhou mais uma vez para o terrível campo de prisioneiros em volta. Quando se acalmou Cassian notou que ela era um pouco mais pesada do que seu tamanho permitiria, sinal de treinamento duro e ossos e músculos fortes, embora ela ainda fosse bastante leve.

— Cass...? – A rebelde chamou ao sentir os batimentos mais lentos sob seu ouvido, percebendo que os olhos castanhos estavam distantes e ele parecia pensar.

Depois de alguns segundos ele a olhou.

— Eu não vou a lugar algum.

— Achei que odiasse esse lugar.

— Talvez... É o normal quando se é arrastada à força e tradada de maneira hostil.

— Eu sinto muito, Jyn.

— Mas agora essa luta também é minha. Não há pra onde voltar ou alguém me esperando lá fora. Se agora eu não puder chamar essa base de lar, eu não sei que lugar poderia. A última vez que alguém cuidou de mim de verdade foi quando eu tinha dez anos, nem sempre Saw podia arriscar fazer contato com centros médicos e eu preferia me cuidar sozinha. Eu... Não quero me aproveitar da Rebelião, só... Me sinto bem aqui agora, como não me sinto em lugar nenhum desde que eu tinha oito anos. E agora a Rebelião tem um significado pra mim.

— Achei que gostasse da liberdade.

— Correr, fugir, roubar comida, medicamentos e outras coisas, viver trocando favores e fazendo negócios arriscados... Isso não parece liberdade. Às vezes eu podia parar quando estava sozinha em algum lugar e admirar a paisagem, um deserto, o céu, as estrelas, esses foram meus poucos e raríssimos momentos de liberdade, mas não era tão emocionante não ter ninguém com quem partilhá-los. Acho que o melhor deles foi a primeira vez em que estive numa praia, apesar da situação a meu favor ser péssima.

— Consegue lembrar onde estava?

— Estava abraçada com você em Scarif.

Cassian voltou a pensar nas palavras usadas especialmente por Draven para descrevê-la. Arredia, perigosa, agressiva... Doce... Ela era tão doce. E Cassian se sentia privilegiado por ser o único a conhecer esse lado dela tão de perto.

— Eu já estou livre. Estar num lugar e não querer fugir, ter alguém que não quero deixar, eu já estou livre, Cass. Eu nunca estaria livre de verdade se te deixasse.

Cassian sorriu, apertando mais seus braços em volta dela e beijando seus cabelos demoradamente.

— Então vai ficar? – Ele queria ouvir uma plena confirmação dela.

— Vou.

— Obrigado, Jyn – falou aliviado.

******

— Jyn, Cassian... – Mon Mothma falou com a mesma voz doce de sempre e o sorriso gentil – Espero que estejam bem e se recuperem plenamente o quanto antes.

Ambos assentiram ao se sentarem na sala de comando. Lá estavam Mon Mothma, general Draven, general Dodonna, general Merrick e almirante Raddus, os principais comandantes da base, e os mesmos que haviam decidido procurar por Jyn. Cassian viu Jyn e Draven se entreolharem e parecia haver chamas em ambos os olhares, Draven não confiava em Jyn e ela não gostava dele, isso era evidente desde o primeiro encontro dos dois. Mas logo quebraram o contato visual quando Mon Mothma tomou a palavra.

— Nós conversamos – a senadora disse – No começo de tudo isso nós lhe prometemos liberdade – ela falou para Jyn – A decisão é sua, Jyn. A levaremos aonde quiser e lhe daremos recursos para sobreviver se decidir partir. O que você nos diz?

— Não há mais ninguém esperando por mim em lugar algum da galáxia e não há nenhum lugar pra onde ir lá fora. Agora a Rebelião tem um significado pra mim. E apesar de tudo que aconteceu e de todos que perdemos, é a primeira vez em tantos anos que não quero e não sinto necessidade de fugir o mais rápido possível de onde estou. Eu gostaria de continuar ajudando a Aliança se me permitirem.

— Fico feliz em ouvir isso – a mulher sorriu – Mas a questão não somos nós. Você, Jyn Erso, quer ficar aqui? Quer viver na base de Yavin IV?

Um momento de silêncio preencheu o lugar e Cassian sentiu uma leve angustia começar a martelar seu coração com o pensamento de que Jyn ainda não estava totalmente certa, mesmo após a conversa dos dois uma hora atrás.

— Eu quero – ela falou decidida.

— Seja bem vinda em casa – a ex-senadora lhe respondeu ainda sorridente – Sua posição de sargento a partir de agora é oficial e você é o mais novo membro da tripulação do capitão Cassian Andor. Ele vai direcionar qualquer treinamento que você venha a precisar. E quando estiverem plenamente recuperados poderão procurar novos membros para a tripulação.

Cassian tentou se manter sério, mas não evitou um pequeno sorriso no canto dos lábios ao ouvir isso. Jyn estaria sob seus cuidados, estariam juntos nas missões e ele mesmo a ajudaria a iniciar sua nova vida na base.

— Cassian, um droid sequestrado do Império está a caminho de Yavin IV. Ele é do modelo K-2SO. Você deve se lembrar dos procedimentos de programação e segurança de seu antigo droid.

A mulher pegou em algum lugar uma caixa de plástico transparente contendo o que parecia ser o chip de programação e back up de um droid imperial e caminhou até Cassian para entregar o objeto ao capitão.

— O último back up de informações do seu droid foi enviado à base apenas quinze segundos antes do sistema dele apagar, acho que não perdemos muito dele.

Cassian parecia um pouco chocado observando o chip, como não se lembrara daquilo?! Ele sorriu. Teria K-2 de volta. Seria de grande ajuda, mas principalmente, teria seu melhor amigo de volta, ainda que ele fosse um droid rabugento que fornecia probabilidades catastróficas nos piores momentos e falasse sarcasticamente tudo que pensava para qualquer um a sua volta.

— Muito obrigado!

Trocaram um sorriso e Mon Mothma retornou a sua posição inicial, ela parecia ter algo mais para falar.

— Todos aqui estão de acordo com o que eu acabei de estabelecer? – Ela perguntou olhando para os homens em volta.

— Sim – o gentil general Dodonna foi o primeiro a falar – Seja bem vinda, Jyn Erso. Yavin IV não será o lar que sabemos que perdeu há muitos anos, mas espero que se sinta tão bem e acolhida conosco quanto for possível.

Jyn sorriu em resposta. Até que fizesse um bom reconhecimento da base e conhecesse melhor os outros rebeldes, ela continuaria a ser desconfiada e talvez não muito gentil com todos, mas ela estaria sempre ao lado de Cassian a partir de agora, e isso era suficiente para fazê-la se sentir em casa por enquanto.

— Sim – general Merrick se pronunciou – Penso que será um bom membro para a nova tribulação do capitão Andor. Esteja à vontade para dispor do conhecimento de outros pilotos se quiser aprender mais sobre naves, acho que seria um bom adicional para você.

— Eu o farei.

— Sim – almirante Raddus disse – É um excelente soldado, Jyn Erso. Uma lógica suicida, mas uma boa estratégia a trouxe de volta da morte e conseguiu trazer o capitão com você. É um ótimo membro para a Aliança.

Todos olharam para Draven, que ainda ficou alguns instantes calado e sério. Todos tinham consciência de sua falta de confiança e simpatia para com Jyn. A palavra final seria de Mon Mothma, mas a opinião de cada um do conselho era sempre levada em conta.

— Sim – ele disse simplesmente.

— Então assim será – Mon Mothma encerrou o assunto.

Em seguida os quatro os homens deixaram a sala e apenas Mon Mothma permaneceu.

— Jyn, vamos destinar aposentos a você. Normalmente a tripulação tem aposentos próximos ao de seu capitão.

A mulher sabia do que estava acontecendo entre eles. Não havia visto nada, nem falado com qualquer um dos dois sobre isso, mas a primeira coisa que ela viu ao visitá-los no hospital, antes de entrar de fato do quarto, foi a dor e a tristeza no olhar de Jyn para o tanque de bacta ao lado de sua cama, onde Cassian permanecia inconsciente há dias. Também vira os dois dormindo abraçados na mesma cama de hospital em outro momento após Cassian acordar. E não foram necessárias muito mais evidências para que a senadora tivesse certeza do que havia nascido entre eles. Certamente Jyn se sentiria insegura e desconfortável se fosse enviada para um quarto muito longe de Cassian, ele era a única pessoa que de fato ela conhecia na base.

— Onde poderei ficar por hoje?

— Ainda estamos realocando algumas pessoas e reorganizando os quartos depois das perdas que sofremos, haverá uma boa abundância de opções. Se você puder esperar alguns minutos eu enviarei alguém até um de vocês para informar.

Os dois assentiram e deixaram a sala, seguindo por entre os andares e corredores da base até chegarem aos quartos dos vários rebeldes. O corredor estava vazio, pois todo mundo estava espalhado pela base reparando naves ou no centro médico.

— Que lugar é esse?

— Meu quarto. É melhor ficarmos aqui do que perambulando enquanto esperamos.

Os dois entraram e Cassian fechou a porta. Jyn olhou em volta. Um quarto não muito grande, com as mesmas paredes de pedra do lado de fora, mas arejado e bem organizado. Uma janela ficava do lado oposto à porta, coberta por uma cortina. Uma cama no canto da parede, um guarda-roupa do outro lado, uma mesa e duas cadeiras ao lado da porta e outra porta ao lado do guarda-roupa, que devia ser de um banheiro. Em cima da mesa havia um rádio, alguns livros, três deles Jyn reconheceu como manuais de naves, droids e treinamentos, um deles tinha letras em um idioma que Jyn desconhecia completamente, o idioma nativo de Cassian talvez, e outros volumes aleatórios. A cama forrada com um lençol azul escuro e o travesseiro com uma fronha cinza. O cheiro do capitão estava por todo o lugar, era um aroma que Jyn aprendera a reconhecer nos dias que ficaram presos no hospital, ela gostava. Cassian a chamou para se sentar ao seu lado na cama, e ela assim o fez. Automaticamente entrelaçaram seus dedos.

— Você podia ficar aqui.

— Talvez não seja bom pra você, você sabe que as pessoas fazem mais suposições do que devem. Não que eu me importe com o que elas dizem.

— Não existem lugares distintos pra homens e mulheres aqui, os tripulantes ficam em quartos próximos ao de seu capitão. Mas normalmente somente familiares ou casais casados dormem juntos.

Jyn sorriu quando o pensamento passou por sua cabeça, estar casada com Cassian... Alguém acostumada a ficar sozinha a vida inteira sem ninguém para influenciar em suas decisões, de repente se prender a outra pessoa. Ou não... Nada realmente mudaria, seriam apenas documentos e as outras pessoas tomando conhecimento de suas condições. Estavam juntos há apenas um mês e três semanas, mas estavam bem. Tinham alcançado um equilíbrio e encontrado um lar acolhedor um no outro, aquela palavra que Jyn havia ignorado por tanto tempo e quase deixado de acreditar em sua existência, amor. Na galáxia não existia amor para alguém sozinha, filha de um cientista imperial, criada e treinada por um anarquista e considerada uma criminosa em muitos lugares. Mas Cassian lhe dera confiança, oportunidades, ajuda, acolhimento, esperança, e amor.

— Jyn...

Ela o olhou.

— Alguém que passou a vida inteira cuidando de si mesma conseguiria se prender a alguém? – Ele perguntou com se tivesse acabado de ler seus pensamentos.

— Estamos juntos há um mês e três semanas. Muito pouco, mas já vivemos suficiente pra anos. E o que mudaria pra nós além de documentos e as pessoas sabendo sobre nós? Estamos bem, não estamos?

— Tem certeza? – Ele perguntou surpreso que alguém como ela aceitasse a ideia tão facilmente.

— Nós quase morremos, Cass. Quando éramos crianças, em Jedha, em Eadu, na torre de Scarif, na praia, no caminho de volta quando você perdeu a consciência naquele estado deplorável em que estava, quando pousei a nave sabe-se lá como no hangar daqui, e em muitos outros momentos quando nem nos conhecíamos... Por que esperar mais tempo? Eu me lembro que quando eu tinha cinco anos eu estava com medo, eu não entendia porque tínhamos que nos mudar de Coruscant de repente, mas eu sabia que era algo muito ruim. Mamãe disse que buscaríamos felicidade em outro lugar, em alguma galáxia muito distante. Ela disse que a felicidade é algo tão difícil de encontrar nesse universo... Por isso se você encontrá-la, não deve deixá-la ir embora ou esperar pra correr atrás dela, mesmo que seja apenas algo singelo como uma borboleta voando entre as flores ou o brilho do sol numa manhã bonita. Papai ainda falou de uma flor que nasce entre as pedras. Quando eu tinha sete ele disse que conheceu minha mãe enquanto mineravam kyber, então entendi. Nós não precisamos esperar. E se presa for a palavra, pela primeira vez eu ficaria feliz por estar presa a alguém. E você?

Cassian sorriu e beijou-a.

— Vamos agora mesmo cuidar disso se você quiser.

— Há como fazer isso aqui?

— Temos até lojas aqui, é claro que sim.

Uma batida na porta interrompeu o momento. Os dois se levantaram e Cassian abriu a porta, vendo um droid parado do lado de fora.

— Mon Mothma me enviou para levar a senhorita Erso a seus novos aposentos e entregar algumas roupas.

Cassian pegou a pilha de roupas e as deixou em cima da cama para que Jyn pudesse organizar depois dentro do guarda-roupa. Em seguida se voltou para o droid de novo.

— Eu acho que você vai ter que enviar uma mensagem de volta. Nós iremos pessoalmente falar com Mon Mothma mais tarde e nos desculpar pelo tempo tomado.

— O que mudou nos planos?

— Estávamos de saída.

— Posso voltar mais tarde ou lhe fornecer um mapa.

— Não, Jyn vai ficar aqui.

— Apenas casais casados dormem juntos, capitão Andor.

— Eu sei. A partir de hoje vou dormir aqui com minha esposa, Jyn Erso Andor. Eu ficarei grato se você puder incluir isso nos registros e informar Mon Mothma.

— Não entendo porque humanos são tão imprevisíveis, isso não parecia previsto pra mim. Eu vou informar como me pediu – o droid se retirou e desapareceu no fim do corredor.

Jyn não sabia explicar, nunca em toda sua vida solitária sentira as sensações estranhas que lhe acometiam nas últimas semanas, alterações repentinas de temperatura, nervosismo, uma felicidade maior do que ela podia conter, tudo isso quando estava com Cassian. E o que sentira ao ouvi-lo dizer “minha esposa, Jyn Erso Andor”, ela não tinha uma explicação, mas era a melhor coisa que já tinha ouvido alguém falar para ela desde que vivera com seus pais.

— Vamos, Jyn. Vamos a algumas lojas e depois encontrar alguém que possa nos casar ainda hoje.

— Lojas?

— Você vai viver aqui agora. A base nos fornece roupas, medicamentos e alimento, mas pode precisar de outros itens pessoais. Você deve receber créditos com o trabalho oficial de sargento agora, mas enquanto não, eu cuido da parte financeira pra você.

— Cass, tenho roupas e onde dormir, é suficiente.

— Sem formalidades, daqui a pouco estaremos casados, senhora Andor – ele falou em seu ouvido a segurando pela cintura e beijando sua bochecha suavemente.

Jyn sorriu e também o beijou no rosto. Cassian beijou seu pescoço e a barba fez cócegas na pele de Jyn, que riu. Cassian nunca a tinha ouvido rir, era um som lindo. Ele repetiu seu gesto, e ela riu ainda mais, o que terminou com os dois abraçados se movendo lentamente juntos e com sorrisos sinceros em seus lábios. Se afastaram um pouco para se olharem, ainda sorrindo.

— Vamos então – ela falou.

— Ótimo.

— Ótimo.

******

Os dois entraram horas mais tarde no quarto de Cassian, que agora era dos dois. Haviam falado com Mon Mothma, que entendera e aceitara perfeitamente a situação. Os dois ficaram desconfiados que ela já esperava por aquilo, mas preferiram não perguntar. Haviam comprado algumas coisas para Jyn e depois se casado no topo da base de Yavin IV, apenas os dois e o juiz de paz. Naquele momento pensaram em Chirrut, Baze e Bodhi, que talvez os estivessem vendo de algum lugar e estariam felizes pelos dois. E se divertiram pensando em qual seria a reação de K-2 quando fosse reativado. O céu do fim da tarde estava calmo e belo e as primeiras estrelas apareceram antes que eles deixassem o local. O homem os deixou sozinhos e quando tiveram certeza de que ele havia partido se beijaram outra vez, desesperadamente, em contraste com o beijo calmo do primeiro segundo em que foram declarados marido e mulher.

— Bem vinda em casa, querida – ele lhe disse com um sorriso.

Ela sorriu de volta. Guardaram as coisas de Jyn e se livraram de casacos, jaquetas, coldres e blasters para ficar mais confortáveis.

— O que vamos fazer agora?

— Tomar banho e jantar, mas podemos demorar um pouco mais se você quiser.

— Você tem um rádio – ela comentou finalmente.

— Um dos poucos prazeres que temos é ouvir alguma música quando estamos na base. Normalmente música calma, ajuda alguns a dormirem a noite – o capitão falou ligando o aparelho e o sintonizando.

Uma melodia lenta e bonita preencheu o quarto. Cassian veio até ela e a puxou para ele delicadamente pela cintura. Jyn apoiou as mãos em seus ombros,

— Não sei dançar – ela lhe disse.

— Nem eu.

Compartilharam uma risada.

— Mas ninguém está aqui além de nós, não precisamos saber – Cassian falou.

Cassian beijou sua testa e Jyn encaixou a cabeça em seu pescoço. Ficaram ali abraçados se movimentando pelo quarto, pensando em como tinham sorte de conseguir viver um momento tão doce, mesmo em um universo que vivia em guerra constante.

— Eu te amo – Cassian falou baixinho.

— Também te amo – ela sussurrou de volta.

Seus olhos se encontraram. Os olhos verdes se fecharam, seguidos pelos castanhos. No próximo instante seus lábios estavam colados. Continuaram a dançar enquanto se beijavam até lentamente se deixarem cair no colchão. E não demoraria muito para registrarem aquele dia como o melhor de suas vidas.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, vi uma teoria interessante e quero compartilhar com vocês. Sobre Jyn estar viva, que é o que eu acredito cegamente!! Acredito que tanto ela como Cassian e Saw tão vivos por aí, mesmo que jamais apareçam de novo nos filmes. Nunca vou perdoar o diretor por ter desistido da cena com eles vivos em outro planeta no final!!!!! Ò.Ó

A teoria que vi falava sobre o cristal de Lyra ter salvado Jyn, e questionou a falta de uma explicação exata pra antes de morrer Lyra ter suplicado pra Jyn acreditar na força, até comparava com a situação de Harry Potter. Só o amor de Lilian salvou Harry, porque o amor e o kyber de Lyra não salvariam Jyn e até Cassian junto? Afinal além dos dois estarem literalmente presos um ao outro naquele momento, acho que àquela altura Cassian também acreditava na força.

E ainda levantou outra questão interessante sobre a qual me perguntei o filme todo. O cristal que Lyra deu a Jyn claramente já pertenceu a um sith, pois se era branco quer dizer que foi purificado e perdeu a cor. Se o cristal já foi produzido sinteticamente sendo vermelho de nascença ou se pertenceu a um jedi ou usuário da força antes de se corromper eu não sei. Adoraria ter isso explicado. Uma vez que Lyra acredita na força, mas não tem ligação com ela, aquele cristal foi dado a ela por alguém que possivelmente tem. E eu tô doida pra saber quem é essa pessoa.



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