Go Rogue! escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 17
Capítulo 17 – Eu prometo




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Capítulo 17 – Eu prometo

— Não tem como irmos nós dois – Jyn cochichou para Cassian enquanto tentava espiar além das rochas que estavam usando como esconderijo.

— K-2 disse que não desconfiam dele, mas fecharam o portão de acesso por onde ele passou pra transmitir as informações à Yavin 4. Jyn, não pode ir sozinha através de tantos imperiais destravar o portão. Essa base não tem uma única mulher, você seria descoberta facilmente.

— Vamos raptar stormtroopers.

— Todos são maiores que você, a armadura só vai caber em mim.

— Serei sua prisioneira, vai me levar até o portão, vamos encontrar K-2 e depois uma saída.

— Tem gente demais aqui, vamos procurar em um lugar mais vazio.

Os dois se distanciaram até chegar a um local distante da base imperial onde apenas um stormtrooper patrulhava as rochas na areia do enorme deserto. Esperaram que ele parasse de costas para eles. Um tiro com um blaster e ele estava nocauteado. Minutos depois Cassian trajava a armadura branca do stormtrooper, seu blaster, jaqueta e botas guardadas na bolsa que Jyn carregava.

— Confortável? – Ela perguntou.

— Nem um pouco.

— Vamos acabar logo com isso.

Voltaram a se aproximar da base dos imperiais e Cassian segurou Jyn por um dos braços tentando parecer o mais ignorante que podia sem machucá-la. A rebelde se deixou ser arrastada e tentou passar sua melhor impressão de que era obrigada a andar. Jyn usava chapéu e óculos de proteção para o caso de alguém reconhecê-la ou desconfiar de sua identidade. Os outros stormtroopers e droids os olharam, mas nenhum tentou pará-los. Caminharam por dez minutos até encontrarem o grande portão que separava os dois lados da enorme base. Vários droids como K-2 transitavam do outro lado.

— Como saber qual deles é? – Jyn perguntou o mais baixo de que era capaz.

— Aquele – Cassian sussurrou em resposta – O que está parado olhando pra nós.

— Como sabe?

— Não sei explicar, só... Reconheceria meu droid em qualquer circunstância.

K-2 andou na direção do portão.

— É trancado do seu lado – o droid falou o mais baixo que podia – Posso destruí-lo, mas é óbvio porque não daria certo.

Um outro stormtrooper se aproximou e os três ficaram em silêncio.

— Prisioneira estranha, arredia e se recusa a falar. Não sabemos se é rebelde ou civil. Eu auxiliarei no interrogatório – o droid falou.

O soldado imperial abriu o portão, permitindo que Cassian passasse com Jyn, e o portão se fechou outra vez atrás deles. K-2 os guiou através dos droids. Jyn olhou K-2 com ironia, desconfiada de que o estranha e arredia fosse mais sincero do que ela pensava, mas isso não importava agora.

— Aonde vamos? – Jyn perguntou.

— Isso não lhe interessa. E se falar de novo vou usar força bruta – o droid respondeu.

O casal imediatamente soube que ele os estava guiando para uma saída, embora fosse possivelmente perigosa. Mas foram interceptados no meio do caminho por outro stormtrooper que agarrou o outro braço de Jyn.

— A prisioneira será submetida a interrogatório – K-2 falou.

— Sem interrogatório, todos os que pegarmos hoje irão direto ao campo de trabalho.

K-2 olhou para Jyn e Cassian. Não era possível ver as expressões do capitão, mas K-2 sabia que seu rosto devia estar angustiado, e sua cabeça rastreando um plano, os olhos de Jyn mostravam uma mistura de pânico e concentração, também buscando um meio de escapar.

— Leve-a até o carro.

Os dois não tiveram muita escolha senão obedecer, eram três contra vários stormtroopers, que apesar de péssimos soldados lutando contra os rebeldes ainda não eram tão fracos assim, precisavam de mais tempo para pensar. K-2 ficou do lado de fora e Cassian carregou Jyn para dentro do imenso carro de prisioneiros do império. Quando viraram dois corredores e encontraram um lugar vazio, Cassian retirou o capacete.

— E agora? – Ela perguntou.

— Você já esteve num desses uma vez. Não conhece outra saída?

— Três vezes. O lugar por onde entramos é o único pra entrar ou sair. Se algo dá errado eles só abandonam os prisioneiros e vão embora. Levam algum apenas se a vida dele representar risco ao Império.

— Como escapou das duas primeiras vezes?

— Na primeira consegui fugir antes de ser algemada, do lado de fora não vi saída alguma. Na segunda eu entrei e saí clandestinamente pra chegar a um dos campos deles e roubar armas e informações.

— Acho que podíamos te promover de sargento a oficial da inteligência, mas agora temos que sair daqui.

— Não há como, há muitos lá fora. Não vão deixar você ir junto, os que comandam cada carro são sempre os mesmos. Pegue K-2, se afaste daqui e me espere na nave. Eu vou esperar o carro se afastar, vou acabar com eles, sair daqui e dar a volta pelo outro lado da base. Devo encontrar vocês em algumas horas.

— Jyn, não...

— Cass, é isso ou arriscar matar todos nós.

— Isso é suicídio.

— Não seria a primeira vez. Eu vou ficar bem. Estarei com você em algumas horas, eu prometo.

— Se algo acontecer com você, eu não vou me perdoar nunca.

— Não vai. São stormtroopers, somos mais espertos e miramos muito melhor do que eles.

— Eu te amo – ele falou, quase como um lamento.

— Eu sei – respondeu acariciando o rosto do capitão.

Se beijaram rapidamente.

— Eu também, é por isso que vou cumprir minha promessa. Que a força esteja conosco – ela falou segurando seu colar.

Cassian recolocou o capacete de stormtrooper e a abraçou da melhor maneira que a armadura permitia, sentindo seu coração ser lentamente esmagado quando se afastou. A rebelde lhe entregou sua bolsa, ficando apenas com seu próprio blaster, o chapéu, os óculos, que havia abaixado para o pescoço, e um recipiente com água preso a suas roupas.

Jyn pegou um par de algemas imperiais quebradas, mas aparentemente novas, que haviam guardado de uma das missões, e passou seus pulsos por elas. Cassian arrumou as algemas de forma que parecessem estar fechadas e levou Jyn até a sala onde os prisioneiros ficavam sentados e presos enquanto eram transportados. Ela era a única, a primeira, mas o carro imperial ainda correria quilômetros e apanharia outros pelo caminho. Jyn sentou-se e os dois se encararam.

— Eu vou ficar bem – ela falou com convicção.

Cassian queria ter aquela mesma certeza, ser tão destemido quanto ela estava sendo. Lutava contra a vontade de pegá-la de volta, sair correndo com ela pela porta e cometer a loucura de tentar dar conta dos soldados e droids lá fora, mas ele conhecia aquele olhar. O mesmo olhar determinado e feroz de quando seguiram para a missão suicida em Scarif. Forçou-se a desprender seu olhar de Jyn e andou de volta para onde tinha entrado, olhando para trás uma última vez e vendo Jyn ainda olhando para ele. Quando saiu do carro de prisioneiros, outros dois stormtroopers entraram e fecharam o veículo, que pouco tempo depois começou a se mover para longe, sendo seguido por outro carro menor com dois stormtroopers, dois oficiais e um droid igual a K-2.

— O que isso significa? – K-2 perguntou – As probabilidades de sairmos sem danos ou todos vivos eram mínimas, mas possíveis, achei que você as escolheria.

— É a quarta vez de Jyn em um desses, ela tem um plano, mas não acho que aguente andar tanto. Vamos rápido.

O droid não contestou ao detectar o tom de pânico na voz do capitão e se afastaram dali o mais depressa possível.

******

A rebelde escutou atentamente o pouquíssimo som que vinha do lado de fora. Como desconfiava, recolheriam prisioneiros pelo caminho. Um stormtrooper tinha ido vê-la apenas uma vez, na qual permaneceu de cabeça baixa e tentou não chamar atenção. Na primeira vez que o carro parasse, seria sua chance, estariam longe suficiente para não receberem ajuda de outros soldados. Mais de uma longa e insuportavelmente tediosa hora se passou até isso acontecer.

Jyn esperou. O carro estava aberto, podia ouvir os sotrmtroopers conversando lá fora. Não era um prisioneiro, era um informante, possivelmente um sandtrooper, treinado especialmente para o deserto. Ok, ela teria mais trabalho, mais ainda era sua melhor chance. Jyn levantou e esperou no fim do corredor. Os passos de um dos soldados ficaram mais altos. Jyn removeu as algemas e as guardou, pegando seu blaster 1A80 e se preparando para sua primeira vítima. O stormtrooper parou em frente a sua cela, agora vazia. Olhou confuso para os lados, mas antes que pudesse ver Jyn, ela o havia atingido e deixado inconsciente. Depois de trancá-lo na cela com os bancos, andou para mais perto da saída do carro arregalando os olhos surpresa quando o segundo soldado apareceu e mirou em sua direção, mas Jyn foi mais rápida, e mais um estava nocauteado. Caminhou na direção da saída e lá fora o sandtrooper, os dois stormtroopers restantes, os dois oficiais e o droid imperial cercavam a saída com armas em mãos.

— Você não pode ser uma civil comum – um dos oficiais falou.

Os seis ficaram paralisados por vários segundos, cada um esperando que alguém fizesse algum movimento ou desse o primeiro disparo. Jyn sentiu alguém agarrar seu pulso por trás, e soube imediatamente que o segundo soldado abatido por ela tinha despertado. Jyn fez um movimento suficiente apenas para um dos oficiais trajados de preto dos pés à cabeça atirar, e antes de ser atingida conseguiu se posicionar atrás do soldado que a prendera, que agora estava outra vez no chão, e dessa vez não levantaria tão cedo, se levantasse. Então uma chuva de tiros de blaster começou, misturada a socos, chutes, desvios. Jyn finalmente se viu do lado de fora do carro e uma cena de sua vida pareceu se repetir. O droid se preparava para apanha-la, içá-la no ar e atirá-la no chão, exatamente como K-2 quando ela o conheceu. Não cairia nisso outra vez. No último segundo se desviou do braço do droid e atirou nele, deixando a articulação danificada e impedindo o robô de mover aquele braço. Passou por entre as pernas do droid e agarrou-se a divisória entre sua cintura e a parte superior do corpo, tentando escalar até sua cabeça. Enquanto isso os cinco soldados lá embaixo atiravam na direção dela, conseguindo apenas acertar o droid, que se movia tentando se livrar de Jyn ou agarrá-la com a outra mão. Chegando à cabeça do robô, Jyn se agarrou a seu pescoço e olhou para baixo.

                - Você desce e é enviada ao campo sem ser morta – um dos oficiais falou.

                - Tenho outros planos – Jyn respondeu, acertando a cabeça do droid com seu blaster.

                Os olhos metálicos apagaram e o gigante de mais de dois metros começou a despencar. Os soldados imperiais no chão correram, mas não rápido o suficiente. O robô caiu sobre um oficial e um stormtrooper. O peso de Jyn em suas costas, apesar de pouco, ajudando a pancada a ser ainda pior. Jyn se segurou o mais firme que podia esperando não se machucar tanto, mas o impacto ainda foi forte, ela bateu seu rosto contra o corpo de metal do droid e a pancada feriu sua pele, também rasgando os joelhos de suas calças. Manteve os olhos fechados tentando afastar a dor e a tontura. O oficial e o stormtrooper abaixo do droid perderam a consciência instantaneamente. Os três restantes rodeavam o local, averiguando se Jyn estava acordada. A rebelde se manteve imóvel e de olhos fechados. Passos se aproximaram dela. A mão enluvada do oficial ergueu sua cabeça sem muita gentileza, e ela fez seu melhor para resistir à dor.

                - Está inconsciente e sangrando.

                Um segundo de distração e Jyn ergueu o blaster contra ele, acertando-o certeiramente. O homem gritou e caiu no chão. A sargento escorregou para se esconder atrás do droid e ouviu os passos dos dois últimos oponentes se aproximando, um de cada lado. Trocou tiros com o stormtrooper que chegou pela esquerda, o certando rapidamente, e agora restava apenas o sandtrooper. Jyn se afastou para mais longe, analisando o inimigo. Seu blaster era mais potente, tanto que fumaça pairava no ar mesmo quando o disparo atingia a areia no chão. Ela sabia o que fazer. Numa ação ousada e suicida se levantou e correu de volta ao carro de prisioneiros, se posicionando próxima ao tanque de combustível. Alguns tiros daquele blaster poderiam romper a camada de proteção. Colocou seus óculos de volta e esperou. O sandtrooper chegou mais perto e fez o primeiro disparo, do qual Jyn se esquivou e atirou de volta. Correu para o outro lado, sendo seguida. Por várias voltas ela mesma atirou no metal do carro forte, vendo que começara a ceder. Perdeu o sandtrooper de vista por alguns instantes e pensou em como virar a situação a seu favor.

                O soldado apareceu e trocaram mais disparos. Depois de trinta segundos Jyn concluiu que em nada os sandtroopers eram superiores aos stormtroopers, a não ser pelo modelo de suas armas melhoradas, porque a mira ainda era péssima. O soldado do império continuou a disparar, até que finalmente Jyn caiu com um grito de dor segurando seu estômago. O sandtrooper se manteve armado e se aproximou em posição de ataque, esperando até a rebelde parar de gemer e se mexer. Sacudiu o corpo inconsciente e não obteve reação. Recolheu seu blaster e se preparava para arrastar Jyn de volta à base quando o som de líquido escorrendo chamou sua atenção. Olhou para a parede metálica do carro de prisioneiros e se aproximou para ver onde o ponto danificado deixava combustível escapar. Olhou para trás, para onde deveria estar a rebelde desfalecida, mas Jyn já estava a pelo menos cinco metros de distância. O sandtrooper não teve tempo de reagir. A rebelde atirou na direção do tanque e a parte traseira do carro explodiu, acabando com o último soldado.

Jyn respirou ofegante e guardou o blaster. Olhou em volta, não havia nada além de areia. Precisava saber a direção da base. Por sorte não ventava muito e as marcas profundas deixadas no chão pelo carro imperial não haviam se apagado. Jyn as seguiu por quase uma hora, finalmente conseguindo avistar a base ao longe. Àquela altura o sol ia alto no céu, estava bem mais quente do que antes e ela estava começando a ficar cansada. Seus ferimentos ardiam e seus lábios estavam ressecando. Não tinha comida e nem muita água, vinha fazendo o melhor para economizar, ainda tinha metade. Bebeu um pouco mais, só o suficiente para hidratar um pouco seus lábios e tentar resfriar o corpo. Voltou a andar na direção da base imperial. Quanto tempo levariam para perceber que algo saíra errado e mandarem alguém para verificar? Tentara se comunicar com a nave pelo rádio, mas o sinal estava péssimo. A tentativa de deixar suas comunicações ocultas ao Império devia estar interferindo, mas ela tentava novamente a cada meia hora.

— Cassian – sua voz chamou fraca.

Silêncio...

— Jyn?

— K-2?

— Jyn! – Dessa vez era Cassian – Onde está?!

— Não sei... – respondeu sentindo-se tonta outra vez – Posso ver a base. Vou dar a volta por trás das dunas do lado esquerdo.

— O que aconteceu? Você está bem?

— Mais ou menos. Ainda tenho todos os meus membros, por enquanto é suficiente.

— Pode dizer a distância entre você e a base?

— Talvez... Pouco mais de duzentos metros. Estou me afastando na direção das dunas antes que me vejam.

— Ainda está a trezentos e cinquenta metros de nós se contar com as dunas e a extensão da base. Você não vai aguentar andar tudo isso. Eu vou encontrar você nas dunas. Não podemos mover a nave sem que vejam... Jyn, aguente mais um pouco! Estou indo pras dunas.

— E você? Onde eteve?

— K-2 conseguiu chegar na nave antes de mim, levei quase uma hora pra conseguir sair daquela base sem ser descoberto.

A rebelde continuou caminhando, seus passos ficando mais lentos conforme ela ficava mais tonta e cansada. Cassian a chamava pelo rádio de vez em quando, tentando mantê-la alerta e para ter certeza que não haviam perdido o contato. Jyn andou por mais de meia hora até avistar as dunas e ainda teve que lutar corpo a corpo com dois oficiais do império que encontrara no caminho. Pareciam ser iniciantes ou estavam mais fracos do que ela, essa fora sua sorte. Deviam ter sido enviados para verificar as redondezas quando finalmente perceberam a falta do carro de prisioneiros.

                - Jyn!

— Estou bem.

Havia ganhado um hematoma próximo à correia dos óculos, mas estava bem. Só tonta, dolorida, morrendo de calor, com fome, sede e muito cansada. Se deixou cair no chão após adentrar as dunas de areia e bebeu o que restava de água.

— Jyn.

Ela queria responder, mas estava cansada demais para isso. Seus olhos se fecharam sem seu consentimento.

— Jyn!

“Estou bem”, ela pensou, embora sua intenção fosse falar isso para Cassian, “Vou ficar bem, Cass”.

— Jyn!!

******

Cassian caminhava, ou melhor, corria por entre as duas. Começava a ventar e às vezes precisava fechar os olhos. Deu mais alguns passos até avistar um corpo pequeno deitado no chão com alguns metros de distância.

— Eu achei, K-2! – Disse pelo rádio, correndo na direção de Jyn e se abaixando ao lado da rebelde.

— Ela está respirando?

— Está ferida. E desacordada.

Cassian tentou sentir a respiração em seu nariz, lenta, mas presente. A pele só não estava mais quente por causa das roupas e do chapéu, os óculos também ajudavam. Os lábios entreabertos e ressecados, a garrafa de água completamente vazia. Cassian afastou as camadas de tecido de seu pescoço e procurou pulsação, sentindo-se aliviado ao sentir o coração de Jyn bater.

— Vou levá-la pra nave, prepare os primeiros socorros.

— Entendido.

— Jyn... – deu batidas leves em seu rosto – Jyn.

Os olhos verdes se abriram. Ela parecia tonta, pois seu olhar não focava lugar algum. Alguns segundos depois ela olhou para ele.

— Cass... – murmurou rouca – Eu disse que voltaria.

— Eu sei, eu nunca duvidei disso, querida. Não fale.

— Você está realmente aqui?

— Eu não sou uma miragem. Estou aqui com você, como eu prometi estar até o fim.

Ela abriu um pequeno sorriso e fechou os olhos novamente. O capitão a ajudou a sentar e Jyn tentou se levantar, mas Cassian não deixou. Levantou com ela no colo e caminhou o mais depressa que conseguia na direção da nave, a alcançando algum tempo depois. K-2 o esperava com a nave aberta e a fechou assim que os dois entraram.

— O kit médico e o bacta estão prontos na sala de cuidados médicos – o droid informou após decolarem.

— Obrigado, K-2.

— Jyn, agradeço pelo risco para abrir o portão e espero que se sinta melhor em breve.

— Eu vou – ela sorriu.

Cassian levou a rebelde para o local, deitando-a numa maca e a libertando de tudo que estava preso nela além do necessário, botas, meias, lenço, chapéu, óculos, blaster e coldre, a garrafa vazia e jaqueta. Pegou outra garrafa de água e sentou-se ao lado dela, a erguendo com um braço e levando a garrafa a seus lábios.

— Devagar – Cassian falou.

Jyn bebeu com gratidão até sorver todo o conteúdo, deixando o líquido molhar sua garganta e aliviar seu mal estar.

— Como você está? – Ela perguntou.

— Além de aflito, preocupado e me recuperando de mais de uma hora de desespero sem conseguir te localizar?

— Você é um oficial da inteligência. A Aliança confia muito no seu trabalho justamente por conseguir se manter sob controle em situações de tenção e alto risco de vida.

— Eu também sou humano. Um oceano calmo na superfície não quer dizer que não esteja acontecendo um turbilhão em seu interior. O pânico não ajuda a resolver nada, por isso me mantenho calmo, os que me seguem precisam disso pra confiar neles mesmos. Mas hoje foi um dos dias que fiquei mais angustiado. Se você não tivesse conseguido iam te levar pra um campo de trabalho forçado do outro lado do deserto.

— Mas eu estou aqui, você não tem que ficar revivendo o que já passou.

O capitão tocou o ferimento em seu rosto e ela choramingou de dor. Cassian afastou a mão e observou os rasgões na calça, os joelhos estavam machucados também. Ela estava fraca, desidratada e dolorida. O bacta poderia ajudar. Um das funções das U-Wings era servir como centro médico emergencial para soldados feridos da Aliança, e a sala de cuidados médicos da Rogue Two era ainda mais eficiente que a da Rogue One. Havia dois tanques de bacta, macas, medicamentos e outras coisas mais.

— Jyn, acho prudente te colocar no bacta por uma ou duas horas.

— Máscara e sedativo? – Ela perguntou chateada.

Jyn odiava sedativos, ela dizia que qualquer forma induzida de sono parecia uma forma esquisita e sufocante de morrer, e só os aceitava em situações extremas. Cassian pensou por um tempo.

— Não. Se você ficar melhor sem isso eu posso ajudar. Mas é melhor trocar essas roupas cheias de terra e sangue, por outras limpas e mais leves. Eu vou buscar pra você.

O capitão beijou sua testa e a deitou de novo, saindo da sala em seguida. Jyn decidiu testar suas condições. Ainda estava com fome, mas seria melhor deixar isso para depois do bacta, a sede estava bem saciada por enquanto, ainda sentia dor, mas sua tontura sumia aos poucos. Sentia-se fraca pelo sol terrível que suportara por mais de uma hora. Cassian voltou com as roupas que os dois usavam para dormir, calças e camisas de um tecido mais leve e suave que o usado diariamente. Para Jyn ele trouxe uma bermuda, a fim de deixar os ferimentos nos joelhos expostos ao bacta. Após se trocarem Cassian mexeu nos controles que coordenavam os tanques de bacta e voltou até Jyn, que agora conseguia sentar.

— Você está ferido?

— Não. Eu acabei de falar com K-2, está tudo sob controle, eu vou ficar com você.

— Como?

— K-2 vai vir aqui daqui uma hora caso precisemos que alguém ajuste os controles do tanque.

Cassian a carregou até um dos tanques e usou um suporte de dois degraus como apoio para subir e entrar com Jyn. Ao contrário do tanque tradicional, os tanques da nave eram mais baixos e mais largos, semelhantes a grandes banheiras, e quem estivesse neles poderia ficar deitado ou sentado. O teto das naves, mais baixo que nos centros médicos, impedia o uso do tanque tradicional, onde os pacientes eram erguidos por suportes para serem colocados nos tanques pela parte de cima. O tanque em que estavam também podia ser fechado por cima, mas isso variava de acordo com a necessidade. Cassian sentou no tanque de vidro com Jyn em seu colo e a substância azulada começou a preencher o tanque.

— Que bom que tenho você – a rebelde falou – Tantos anos sozinha... É bom receber cuidados de alguém de vez em quando. Especialmente de você.

Cassian sorriu para ela os dois fecharam os olhos, unindo seus lábios longamente. O bacta chegou à altura dos ferimentos nos joelhos de Jyn, que agora estava com as pernas estendidas sobre as de Cassian. Ela gemeu de dor e os dois se separaram.

— Você quer um analgésico?

— Não. Vai passar daqui a pouco.

— O que aconteceu lá? O que fizeram com você?

— Nada que eu não pudesse dar conta ou que eu não já tivesse feito antes. Quatro stormtroopers, dois oficiais, um droid igual a K-2 e um sandtrooper.

— O que aconteceu com eles?

— Coloquei todos pra dormir. E explodi o carro de prisioneiros. Acho que não foi suficiente pra matar o stormtrooper que prendi na minha cela. Conto os detalhes depois.

Cassian continuava se surpreendendo em como Jyn conseguia sozinha dar conta de situações como aquela e fazer um estrago tão grande para alguém tão pequena. “Muitas explosões para apenas duas pessoas se misturando”, a frase de K-2 veio a sua cabeça.

— Até o droid?

— Sim. Eu não caio no mesmo truque duas vezes.

Ela estava falando de quando havia conhecido K-2. Cassian riu baixinho.

— Obrigado por voltar.

— Obrigada por estar lá pra mim – Jyn falou descansando a cabeça no ombro do capitão.

Cassian beijou sua testa enquanto afagava seus cabelos, e os dois se abraçaram. Jyn escondeu o rosto em seu pescoço e adormeceu. O bacta parou de encher o tanque quando ia na altura dos ombros da rebelde. Cuidadosamente Cassian aproveitou que ela dormia para molhar o ferimento e o hematoma em seu rosto com bacta, depois voltou a abraçá-la. Ficou lá com ela por mais de uma hora, sem tirar os olhos dela ou deixar de prestar atenção em seus sinais vitais. K-2 apareceu perguntando se ele queria ajuda e Cassian pediu que ele deixasse uma maca com uma toalha ao lado do tanque.

— Como ela está evoluindo?

— Bem, mas exausta. Espero que ela acorde melhor do que chegou.

— Você quer que eu traga roupas secas para os dois?

— Sim. Eu deixei em cima da cama no dormitório. Por favor, K-2.

O droid se retirou e voltou segundos depois com dois conjuntos de roupas, os deixando em cima de outra maca. Quando ele saiu Cassian avaliou o estado de Jyn novamente. Os machucados dos joelhos já quase não existiam mais, e ele continuava a cuidar de seu rosto, bem melhor também. Uma hora a mais e Jyn estava em perfeitas condições.

— Jyn.

Sem resposta. O capitão olhou para o rosto da rebelde, ainda escondido em seu pescoço, mas do que ele podia ver, estava relaxada e até parecia sorrir. O movimento do pequeno corpo mostrava uma respiração calma e suave. Tão serena e bela que ele não conseguia parar de olhar e lhe doía ter que acordá-la. E admitia não querer tirá-la de seus braços nunca mais se pudesse.

— Estrelinha – chamou baixinho.

— Humm...

— Você já está bem, nós podemos sair.

Ela abriu os olhos.

— Dormiu bem?

— Todas as vezes que eu durmo com você são as que durmo melhor.

Cassian sorriu e beijou seu nariz, ouvindo Jyn emitir um risinho.

— Vamos – ele falou se posicionando melhor com ela em seu colo e ficando de pé.

Jyn sentiu o frio logo ser substituído pelo calor da toalha que Cassian colocou em volta dela depois de sentá-la na maca. Ficou alguns instantes parada enquanto acordava completamente e começou a se secar. Cassian lhe trouxe roupas secas e esvaziou o tanque de bacta. Quando os dois estavam secos e devidamente vestidos deixaram a sala médica.

— Tem fome?

— Muita.

— Então vamos. Jyn... Como explodiu o carro de prisioneiros?

— O sandtrooper me ajudou. É claro que ele não sabia disso.

Cassian ouviu os detalhes do ocorrido enquanto caminhavam para o refeitório da nave de mãos dadas.


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