Uma Adorável Mulher. escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 7
Capítulo 7 - Manipulando.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, em que alguns podem ficar um pouco irritados com a Lynn!
Espero que gostem!
Boa Leitura!



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Ponto de vista : Lynn Gilbert.

Ele tinha algo. Droga! Ele realmente tinha. Quando entrei naquela gravadora hoje, disse a mim mesma que odiaria Castiel Blancherd, por tudo que ele tinha me feito; Por me provocar, me dizer coisas rudes — até um tanto cruéis — e por querendo ou não ter me tocado de uma forma, que me machucou. Sim, acumulei muito rancor com aquele pulso roxo. Mas, o ódio só prevaleceu no inicio. Porque sim. Castiel tinha algo que fazia com que em algum ponto, o ódio fosse colocado em um lugar que é fácil de ignorar, quando você menos espera, lá está você, curiosa sobre ele, e dando-se ao prazer, de por meros dois segundos, aproveitar sua companhia, que às vezes não era tão terrível.

              Assim que abri a porta do meu apartamento, e adentrei ao meu lar, percebi o quão cansada estava. O dia havia sido tão exaustivo quanto ontem; Logo que tirei Castiel da confusão na boate — sem ter dormido quase nada, só para destacar. — Tomei um café rápido, e aproveitei para procurar secretárias para ele, já que estas por sua vez, também facilitariam minha vida. Logo depois, falei com um amigo do Kentin que era da policia, e denunciei essa tal boate, mostrando meus argumentos e me disponibilizando a entrar como advogada de acusação no caso, exibindo as provas que era cabíveis contra eles na situação.

       Não demorou para eu também estar em contato com Bryan, e saber por meio dele, que o mesmo havia descoberto quem era o traidor de sua empresa e que já havia tomado as medidas necessárias; Como demiti-lo.

               No táxi a caminho da gravadora, Kentin me ligou, cheio de dúvidas; Querendo saber porque eu não havia aparecido no escritório ontem. — provavelmente já tinha saído de lá, quando fui salvar Parker, por isso não me viu. — Expliquei para ele, que Liam me colocou em um caso, que me forçava a me manter quase vinte e quatro horas com o cliente, e deixei propositalmente de mencionar o tempo que isso duraria. E claro, me limitei a dizer que o cara era complicado. Não ia dizer que eu estava praticamente de babá de um idiota, nem mesmo Florence sabia dos detalhes disso, e se dependesse de mim ninguém saberia.

      Peguei meu celular, dentro de minha bolsa, e revirei os olhos antes do que eu estava prestes a fazer, mas o caso é que pensei nisso em todo percurso até chegar em casa. Sabe quando a vontade de fazer algo que você em seu estado normal, nunca faria, surge em sua cabeça? E fica tamborilando lá como uma música irritante, que você decora sem querer, e só se conforma com isso, quando aceita que não irá parar de canta-la? Essa era a sensação que estava em mim no momento.

            Foram cinco “Tum’s para que a pessoa do outro lado da linha finalmente atendesse. Mordi os lábios, quando ouvi aquela voz calma inesquecível, e me sentei em um dos bancos altos, que faziam conjunto com a bancada de madeira da cozinha do confortável apartamento.

Você me ligando pouco tempo depois de termos nos falado pela última vez...Está acontecendo algum tipo de apocalipse? — não soou como uma brincadeira, porque meu irmão não era divertido, na verdade, acabei rindo porque soou sério.

Se estiver incomodado posso desligar agora e voltar a ser a minha versão que ignora a sua existência. —  ofereço como se fosse uma ótima proposta, e ele ri suavemente.

É sério, Lynn...Aconteceu algo? — é claro, eu só seria uma irmã normal se estivesse com problemas, e precisasse de algum tipo de apoio ridículo.

Na verdade não...Sei lá, só pensei que fosse uma boa ideia...Fingir que me importo com você por alguns minutos. — admiti de um jeito nada sútil.

Poderia fazer isso às vezes...Sabe...Fingir que se importa. — ele me aconselha.

Uma vez é o suficiente para mim, pode acreditar...Mas, então...Alguma novidade? — que por céus, ele não falasse da mamãe e do casamento perfeito dela com um cara que não era o Liam.

Bem, consegui uma reunião amanhã, em uma gravadora aqui em New York, que se interessou pelo meu trabalho...O contrato de Londres não deu tão certo quanto eu queria, só estava garantido por um breve período, e eles não quiseram renova-lo...De qualquer forma...Estou animado com a possibilidade de  me estabilizar aqui. — me conta, e eu faço uma careta.

Isso parece...Legal. —  é a melhor palavra que encontro.

Oh querida irmã tem como soar menos eufórica pela noticia? —  brinca, e eu solto uma leve risada.

Desculpe, é que por um instante pensei em como seria se Liam ouvisse você dizendo isso com tanta felicidade. Sabe, animado com a música. — revelo e ele suspira.

Provavelmente me julgaria um nada pela milésima vez em sua vida. — é direto.

Tem razão, estou conformada sobre o fato de ser a filha preferida e que mais orgulha o Liam. — debocho e Lysandre fica calado por alguns segundos.

Não sei porque brinca sobre isso, se é a verdade. — comenta parecendo sério.

Claro que é...Papai demonstra seu favoritismo das maneiras mais amorosas. — falo ressentida.

Pode ser uma surpresa para você, Lynn, mas, o papai não é a melhor pessoa em mostrar como se sente...Só que no fim, ele tem conhecimento do fato de que em todo universo, você é a única pessoa com quem ele pode contar. —  as palavras de Lysandre me fazem revirar os olhos.

É por isso que não te ligo com frequência, você sempre tem que levar nossas conversas para um lado reflexivo e cheio de lições que me deixam com tédio. — lhe comunico com irritação.

Me desculpe por ser a voz da razão. — pede calmamente.

Você tem tudo menos razão...Emoção deve ser o seu forte. — debocho.

Eu sou músico, Lynn, tenho que sentir antes de pensar. — diz aquela frase clichê.

Por favor não complemente isso, com aquele papo de “Música move o mundo”. — solicitei com escárnio, lembrando do idiota Blancherd.

Quem foi o ser sábio que te disse isso? —  indaga e eu mordo os lábios.

Foi um idiota qualquer. —  falei indiferente.

E você, alguma novidade? — é esperto ao mudar de assunto.

      Quando eu estava prestes a dizer que a única novidade — que não era realmente nova. — É que eu continuava a mercê das decisões terríveis de nosso pai, a campainha do meu apartamento começou a tocar. Me levantei rapidamente, franzindo as sobrancelhas antes de ir para lá.

Eu tenho que desligar, alguém chegou aqui. — o comunico disso e ele suspira.

Tem certeza que não é só uma desculpa sua para não prolongar a nossa conversa? — questiona com desconfiança, e eu dou um sorriso para o ar.

Não...Não dessa vez. —  algo em minhas palavras o convence, e ele logo se despede e desliga.

          Observei pelo olho mágico da porta, e me animei quando encontrei Florence Elliott do lado de fora, carregando algumas sacolas de comida mexicana. Sem hesitar, abrir a porta, e ela sorriu alegremente, entrando logo que dei espaço para que ela o fizesse.

—Senti falta da minha melhor amiga no trabalho...E como sei que a senhorita não se alimenta direito, quando está focada em um caso, trouxe comida mexicana. — é a mais gentil e atenciosa das pessoas ao me dizer isso, e com a liberdade que tem, logo coloca tudo em cima da mesa de centro.

—Bem, estou faminta, então acertou em cheio ao vir. — não conseguia ser eu na versão rude, com alguém que cuidava de mim, mesmo conhecendo todos os meus lados um tanto obscuros.

—Pode só me agradecer, por me importar? — me desafiou a fazê-lo, com diversão.

—Essa não seria a Lindsay que todos amam. — debocho, antes de ir até a cozinha, em busca de pratos, copos e talheres, para que possamos iniciar nosso jantar.

                  Quando volto com tudo isso, encontro Flore já sentada no chão, a mesma havia jogado algumas almofadas do sofá lá, e aparentemente estava em uma posição muito confortável. Montei nossa mesa improvisada, e logo me sentei no chão também. 

              Não fazemos cerimônias, para começar a comer, e em questão de minutos, já estamos sujas com o molho dos tacos. Gargalhamos por isso, e ela logo me olha com aquela expressão de quase jornalista enxerida prestes a fazer um interrogatório.

—Okay, não aguento mais me segurar...Pode me dizer como vai o caso do Blancherd? Estou curiosa, qual é! Você não fofoca nada sobre ele. — me acusa e eu estalo a língua no céu da boca, antes de tomar um pouco do suco natural que ela também trouxe.

—Não tenho o que falar...É só mais um caso, Florence. — dei de ombros, com indiferença.

—Não é. Eu vi o jeito que você tratou ele no escritório. — pontua como se isso fosse um bom argumento.

—E...? — quero uma continuação.

—Ele te afeta...E ninguém te afeta, Lindsay, você é a pessoa com mais controle que eu conheço...Se você odeia alguém, você só manda essa pessoa se ferrar mentalmente, nunca desce do salto...Mas, com ele, é diferente, você retruca, cai no jogo... — seu comentário faz com que eu me sinta incomodada.

—É só impressão sua...Meu controle ainda continua aqui, intacto...Porque se não continuasse, eu já teria cometido uma loucura. — esclareço, e ela arqueia a sobrancelha.

—Loucura do tipo?... — sua insistência é irritante.

—Receber um processo por agressão. — digo fazendo uma careta.

—Um processo por agressão? Não, isso não te preocuparia, a ponto de ser considerado loucura para você....Lindsay Gilbert, ganharia essa fácil, é algo além disso. — não era sobre Florence me conhecer, ela não conhecia. Mas, é que Florence sabe ler as pessoas, e eu ainda continuava sendo uma.

—Não quero falar sobre trabalho agora. — encerro aquele assunto por ali, e quase forçadamente, ela aceita que o mudemos.

                Tagarela como é, ela começa a falar sobre coisas que aconteceram na sua faculdade, enquanto eu finjo que presto atenção, quando na verdade meus pensamentos se voltam para o que ela disse sobre eu me preocupar com algo além do que ela pode supor. Se eu fosse sincera sobre isso, a resposta sobre esse além, se tornaria preocupante. Porque, no fundo eu a sabia, mas, nem conseguia pensar nela diretamente, para não tornar a possibilidade real. E tenho que mencionar, que essa possibilidade tem um teor sexual muito grande.

                 Em algum ponto, a conversa se volta para meu noivo, e ela conta que almoçou com ele hoje mais cedo, e o mesmo lhe contou algumas coisas sobre o caso que estava trabalhando no momento, e em algum outro ponto, Florence começou a falar sobre meu casamento com ele.

—Como vão os preparativos? — questiona de súbito, enquanto me ajuda a recolher a louça para levar até a pia.

—Preparativos? — repito em um tom de pergunta, ao me encontrar meio fora de órbita.

—Sim; O vestido, as flores, os doces...Essas coisas. — fala como se fosse obvio, e eu suspiro.

—Bem, andei pensando e acho que o vestido vai ser branco, as flores frescas, e os doces com açúcar. — meu deboche faz com que ela revire os olhos. Era claro que eu não estava me preocupando com esses detalhes, no momento só estava focada no meu trabalho e na missão de consertar Castiel. E de qualquer forma, eu achava um saco decidir essas coisas, provavelmente logo mais contrataria alguém que pudesse fazer aquilo tudo para mim, sem que eu precisasse opinar em alguma coisa.

—Por que vai se casar com o Kentin? — aquela pergunta que surgiu do nada, fez com que eu me virasse e encarrasse Florence.

—Por que ele me pediu em casamento e eu aceitei? — soa mais como uma outra pergunta do que como uma resposta.

—Olha, você é minha melhor e eu te admiro pela mulher inteligente e talentosa que é... Mas, convenhamos, como noiva você é péssima... Kentin também é meu melhor amigo, e quando eu vejo vocês dois, está lá, ele te encara como se você fosse uma da sete maravilhas do mundo...Mas, você, no fim, só o considera uma base...Sei lá, como uma garantia, de que no fim você não acabará sozinha como seu pai...Só que você não se lembra,  de que sua mãe por um tempo, também foi a base do Liam, mas, ela desistiu disso, quando notou que não dava mais ...E se você se casar com Kentin somente por querer o conforto que vem com ele, em algum momento ele desistirá também. — suas palavras, me fazem ficar séria.

—Por que acha que só estou  com ele, em busca de “conforto”? — quero mais argumentos.

—Porque, você não está apaixonada por ele. Paixão, Lynn, tem a ver com a perda do controle, você tem que se arriscar, dar um salto sem saber o que tem no fim do precipício. Paixão tem a ver com encontrar alguém que te desafie, alguém que te mude, que quebre a casca dura que você criou em volta de si mesma. Kentin te ama, e acredita fielmente que em algum momento você vai amolecer, ele só não notou até agora, que ele deveria ser a pessoa que quebraria suas barreiras. Ele quer um futuro com você, e você Lynn, o único plano que tem para o futuo é orgulhar Liam. Nunca é sobre o Kentin. Nunca é sobre ninguém. Sempre é sobre você...Então, eu te peço, pense bem se consegue arcar com o peso do anel que carrega, não deixe para decidir se consegue depois.  Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá… — olhei para ela com desdém após aquele discurso, e arqueei uma sobrancelha.

—Paixão não leva ninguém a nenhum lugar, Florence. Praticidade sim. Não preciso de alguém que me desafie, sim você está certa, sempre é sobre mim. Porque, no fim, eu me desafio, eu me faço ser o melhor que posso. Porque, desde que me entendo por gente, sempre fui só eu. Kentin é só um termo novo, acrescentado a equação, e  me sinto confortável com a posição que ele ocupa agora na minha vida. Mas, se em algum momento ele querer dar o fora, não terei problemas em alterar os números. Afinal, se não está claro para você ;Eu não preciso de ninguém. — lhe comunico e ela dá um sorriso amargo.

—Precisa sim. — me contraria.

—Não preciso não. — reafirmo.

—Todo mundo precisa, Lynn. — depois daquelas palavras, que soaram tão tristes, ela pega sua bolsa na sala, vai embora e me deixa no silencioso e solitário apartamento.

[...]

                       New York amanheceu chuvosa, fazendo par com meu humor escuro daquela manhã. As coisas que falei duramente para Florence ontem, passavam repetidas vezes por minha mente, enquanto usava o babyliss em meus cabelos.  No entanto, a mulher refletida no espelho, que eu observava parecia imponente e poderosa, e isso de certa forma levantou um pouco do meu astral.

                Enquanto visto meu blazer preto, sinto um incômodo quando o tecido do mesmo esbarra na pele do meu pulso roxo. Por sorte Flore não havia visto isso ontem, se não do jeito que ela é, seria capaz de fazer um daqueles discursos irritantes, até eu explicar os mínimos detalhes das circunstâncias que me levaram a ter aquele machucado.

                      Sem mais delongas, ou distrações, peguei tudo que precisava, e segui para mais um dia de trabalho na gravadora que a cada momento me dava uma nova emoção.

                  Era oficial, eu adorava aquele elevador panorâmico. A visão da brilhante e maravilhosa New York que ele sempre me dava, fazia todos os músculos tensos do meu corpo relaxarem, e me dava até um pouquinho de esperança de que o dia não seria terrível.

                 Logo que cheguei ao andar que eu deseja ir, dei de cara com a fiel secretária de Armin, que era tão pontual quanto eu em seu trabalho. Só que dessa vez, a mesma não estava utilizando seu computador, agora a ruiva entregava alguns papéis para um cara qualquer, instruindo ele ao fazer algo com esses. Assim que me viu, ela sorriu e dispensou o homem, com um aceno de mão.

—Quer ouvir algo surpreendente? Outro milagre aconteceu em Nova York hoje, Castiel já chegou para trabalhar. — faço uma careta por suas palavras. Castiel facilitando minha vida? Okay, ou isso era uma pegadinha, ou era ele tentando se fazer de bonzinho de novo para depois ferrar comigo.

—Estranho...Tem certeza que ele não trouxe a vadia da vez, para cá ontem a noite e assim já amanheceram por aqui? — tinha que ter uma explicação lógica.

            Iris riu do meu deboche.

—Olha, é bizarro, eu sei, mas, pelo menos dessa vez, Castiel está sendo responsável, sem “mas”. Sem segundas intenções. — aquilo soa assustador na voz dela. Porque, ela realmente acredita.

—Okay, vou tentar fingir que acredito nisso, na sala de reuniões. — digo com ironia, e ela revira os olhos com deboche.

—Se tiver sorte, não o verá tão cedo, Castiel tem várias reuniões marcadas para hoje. — me comunica, como se aquilo fosse me animar.

—Ah, eu tenho certeza que o verei...Eu sempre o vejo...Desde que o conheci, cada vez que olho para o lado, Castiel está lá. — aquela frase sai automaticamente.

—Isso é tão terrível assim? — arqueia uma sobrancelha.

—É. — após aquela resposta curta e direta, fui em direção ao lugar, que eu já havia lhe comunicado que iria.

[...]

        Já estava há algumas horas, mergulhada no estudo daqueles contratos, suponho até que o horário do almoço já tenha chegado, mas, não me dou ao trabalho de me alimentar. Quero resolver tudo aquilo o mais rápido possível, por isso, não tenho tempo para pausas. Pego um contrato em especifico. Eu havia o formulado hoje, de acordo com o beneficiamento da gravadora. Era o contrato da banda por quem Castiel aparentemente tinha um apreço especial. Olhei para a última linha e revirei os olhos, quando notei que o idiota ainda não havia assinado — eu tinha pedido para ele fazer isso, antes de ir embora ontem. — Me levantei irritada, e peguei o contrato, saindo dali rapidamente, e indo em direção a sala do Blancherd.

                Como não tinha costume de fazer isso — anos discutindo com Liam e invadindo o espaço dele —  e como aparentemente Castiel não se importava se eu estava sendo ou não educada para me ofender, abri a porta de sua sala bruscamente, cheia de palavrões na ponta da língua, que foram engolidos quando eu encontrei uma coisa que eu não esperava lá dentro. Ou melhor, alguém.

                   Meu irmão cheio de características peculiares, e com um cabelo diferentemente platinado como sua marca oficial, estava lá, sentado na cadeira de frente para a mesa de Castiel. Assim que me viu, ele me encarou surpreso, e o Blancherd por sua vez, me encarava furioso, enquanto eu permanecia estática.

Droga! Aquela era a gravadora que ele ia.

—Vem cá, Gilbert, você sabia que pessoas normais batem na porta antes de entrar na sala das outras? — questiona com ironia, e eu mordo meu lábio.

           Antes que eu retruque, Lysandre responde por mim.

—Lynn sempre teve um problema com bater em portas. — relembra da nossa infância, e das vezes que entrei no quarto dele e de Leigh sem permissão. Castiel franze as sobrancelhas com aquele comentário e arqueia uma.

—Você conhece ela? — parecia muito interessado.

—Vinhemos do mesmo útero. — sou eu, que digo com deboche, e quando o Blancherd me olha intensamente, resolvo simplificar a piada — Lysandre é meu irmão. Um deles. — lhe conto, e então o contrato não parece mais tão importante.

—E você, o que faz aqui, Lynn? — Lys pergunta sem entender o motivo de eu não estar no escritório como sempre.

—Castiel é um caso meu... — quando meu irmão arqueia uma sobrancelha,  e Castiel dá um sorriso malicioso, noto o que falei. — Isso soou errado...Okay, estou ajudando Castiel Blancherd com os contratos da empresa dele...Auxilio jurídico, sabe? — me enrolei, porque eu não queria que ele soubesse onde Liam me meteu. A função de quase babá de Castiel era humilhante.

          Falando nele, o mesmo notou meu nervosismo em relação a isso e riu com escárnio.

          Que ele não falasse, se não me pagaria de uma maneira dolorosa.

—E caso não tenha ficado claro; Nós nos odiamos. — ele me surpreende ao não me delatar de primeira, e eu escondo um sorriso de agradecimento.

—É. Com certeza. — é a primeira coisa na qual nós concordamos.

—E vocês me dizerem isso com tanta naturalidade, é estranho. — menciona sério.

—Bem, de qualquer forma, Lynn...Já que você está aqui, e que eu descobri que Lysandre é seu irmão, tenho o prazer de te contar que vamos estabelecer um contrato. Lysandre Gilbert é da gravadora Blancherd agora. — seu anúncio me faz engolir a seco.

                Além de revirar toda minha vida, ao se transformar no meu caso mais difícil, Castiel Blancherd acaba de trazer meu irmão distante — emocionalmente. — para minha vida de novo. Tem como melhorar? Tem como Castiel me ferrar mais?

               Forço um sorriso, olhando para Castiel, e penso onde quero enfiar aquele contrato que está em minhas mãos agora, e garanto não é um lugar bonito.

[...]

             O silêncio não era acolhedor, em meio aquela noite dessa vez. Sentada confortavelmente em uma das cadeiras estofadas da sala de reunião da gravadora Blancherd, quando todos os funcionários já estavam prestes a ir embora, eu me encontrava perdida dentro de minha própria cabeça. Pensamentos de como eu poderia voltar a conviver com Lysandre, mesmo que por um tempo determinado. Aquilo havia mexido comigo, de uma forma que me deixou incomodada.

                Tive que fingir indiferença quanto aquele fato, até ele ir embora daqui, mas, acho que revelei meu desconforto cada vez que fuzilei Castiel com o olhar por me forçar a passar por isso. A verdade é que eu estava confusa sobre o que sentia; Estava revoltada por ter que voltar a ter essa convivência, sem poder controlar esse fato, e me sentindo culpada por estar com raiva, levando em conta, que isso deixou meu irmão feliz. Eu sou tão egoísta.

                     Ergo meu olhar quando noto mais uma presença na sala, e suspiro quando encontro Castiel, se mantendo calado, o mesmo se acomoda também em uma das cadeiras, e me encara, de forma questionadora.

—Eu não pude deixar de notar que odiou o fato do seu irmão ter que passar um tempo aqui. — droga! Ele iria fazer um interrogatório para me irritar.

         Olhei para ele com desdém.

—Digamos que quando nos referimos um ao outro como irmãos, só o que nos tornia isso mesmo é o sangue. Não sou próxima dele. Não sou próxima do Leigh, nosso irmão mais velho, e não sou próxima da minha mãe. — despejo logo de uma vez, e ele faz uma cara estranha. — Lembra-se de ontem, quando pareci tão abismada com o fato de música render dinheiro? Soei preconceituosa não é?...O fato é que meu pai rejeita o Lysandre, por gostar dela, por querer viver dela...E no fim, eu nunca vou ser diferente dele, a cada momento, algo acontece e serve de prova constante que por mais que eu queira, eu não sou diferente dele. — aquele era um ponto que verdadeiramente me incomodava no momento. E eu precisava usa-lo com Castiel. — Você tem irmãos? — me dou ao trabalho de questionar.

—Não. — diz simplesmente e eu dou uma risada sem humor.

—Meus pais se separaram quando eu tinha 14 anos, eu decidi ficar com meu pai, e meus irmãos foram com a minha mãe para o Texas...Na primeira semana, fingi que não sentia falta deles, e foi fácil...No primeiro mês senti m leve incomodo, mas, me controlei e não desabei...No primeiro ano, finalmente entendi que não tinha volta, e não, eu não chorei...Mas, quando Lysandre me ligou naquele dia, descontei toda minha dor, dizendo coisas horríveis a ele...Eu o machuquei, mas, que saber, eu não me importei...Passei tempo demais tentando convencer a mim mesma que Liam era o suficiente, mas,  no fundo, eu sabia que não era...Quando eu tinha 15 anos, Liam me levou para Áustria, para uma viagem de negócios dele, fui esquiar e me machuquei feio, fiquei com a perna engessada por um bom tempo. Enfim, voltamos para casa rápido, liguei para minha mãe e contei o que aconteceu, e esperei que ela fosse até mim, mandando para o inferno o fato de que não falava mais com meu pai, eu queria que ela me mimasse, e fizesse chocolate quente, mas, não aconteceu, ela só mandou um cartão de melhoras...Algo quebrou dentro de mim ali, e é duro e até deprimente admitir, mas, desde aquele dia...Eu não me importo com eles, Castiel, entende? Eu nem sei se os amo...Eu nunca tive ninguém. Eu aprendi a ser sozinha....Eles não são minha família, me recuso a acreditar nisso, família dever ser outra coisa. — meu desabafo tão extenso o deixa surpreso e sem reação. — Todo mundo tem aquela pessoa, aquela que quando algo bom acontece, é a primeira na qual você pensa para contar, aquela que quando as coisas estão complicadas você vai até ela em busca de apoio...Eu não tenho isso, não tenho essa pessoa, desde que comecei a ganhar casos, e quando tenho essas inúmeras vitórias, não há ninguém que se passe em minha mente para comemorar...Eu acho que sou vazia, não é? — indaguei, quando uma lágrima solitária desceu por minha bochecha.

—Olha, Lynn, eu não tenho lá a família mais firme e normal de todas também...Todos cometem erros, e eles nem sempre estão lá, quando se precisa. Família mente, família machuca, família omite... Mas, família é família... Acho que não tem como não se importar, se importar vem no pacote sobre fazer parte de algo... Eu sou um cretino com toda família, alguns membros da minha também foram, ou ainda são comigo...O fato é que não podemos mudar isso, e por mais que fugir pareça ser a melhor coisa a se fazer, por mais que ignorar pareça bom...O fácil nem sempre é a melhor opção. Anda estou trabalhando no meu perdão, e acho que você advogada marrenta, também deve começar o seu. — quando Castiel disse aquelas palavras, olhei para ele fixamente, notando certa pena disfarçada. Então, simplesmente comecei a gargalhar e com um movimento rápido, limpei a lágrima que antes molhava meu rosto.

           Me levantei, sob o olhar confuso de Castiel, e o encarei com escárnio.

—É família. Seu ponto fraco é sua família...Ao menos uma parte dele. — notei ainda rindo.

—Você me manipulou. — Castiel nota um tanto abismado.

—Sim. Isso foi para você aprender a nunca querer decidir algo por mim. Eu não quero o Lysandre tão perto assim de mim, não quero aproximação com ele. Sim, eu o ligo de vez em quando, e banco a irmã em busca de um novo contato, mas, isso é só um passa-tempo. Eu estou livre dessa família, Castiel...Eu sou uma Gilbert, não uma Campbell. E isso, que você acaba de ver, eu te manipulando, é o que eu faço. Você não vai ser uma incógnita para mim eternamente, mas, eu sempre vou ser para você, você joga bem, aceito isso, mas, eu fui criada por alguém não adepto a sentimentos, então, eu te digo algo; Se fizer algo ruim, vou fazer pior. — dito essas coisas, reuni minhas coisas, agora sendo observada por ele, que estava mais que furioso. — Ah, e assine o maldito contrato que pedi para Iris te entregar dessa vez, enquanto você não decide quem será sua secretária, e amanhã chegue cedo, temos uma reunião importante, com seus antigos clientes. — deixo ele após essa palavras, sabendo que essa batalha, eu ganhei. E se dependesse de mim, a guerra também estaria ganha logo mais.

                No fim, Kentin estava certo, eu só conseguiria o Castiel, se mostrasse as minhas fraquezas a ele. O caso é que só precisei mostrar um nuance, para que ele deixasse obvio parte das suas.


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Notas finais do capítulo

Esperavam isso da Lynn? Mas, espera, foi tudo fingimento mesmo?
Comentem o que acharão do capítulo!



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