Uma Adorável Mulher. escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 6
Capítulo 6 - Trégua Falsa?


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Esse capítulo é pelo ponto de vista do Castiel, e espero que vocês gostem!
Boa Leitura!



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Ponto de vista : Castiel Blancherd.

      Adentrei aquele apartamento, quando o dia finalmente amanheceu, e pela primeira vez em muito tempo me encontrei sozinho nele. Tendo como companheiro um silêncio que como a petulante advogada pontuou, era perturbador. Joguei minhas chaves e meu celular sobre a mesa de centro, e logo eu, também já estava jogado no sofá confortável da sala.

                   Olhei para o teto, em meio a pensamentos bobos, e em determinado momento, o discurso decidido de Lynn se passa pela minha cabeça. O que ela sentia sobre mim não era esperança. Era desespero. Ela queria de uma forma preocupante, que eu me tornasse alguém digno.

                     Lembrei-me do olhar cheio de desapontamento que ela me lançou, assim que me encontrou no depósito daquela boate, e soltei uma risada cheia de escárnio. E se ela soubesse que eu não comecei briga nenhuma dessa vez?  Bem, essa era a verdade. Hoje, eu havia decidido dar paz a advogada resmungona, porque notei que ela realmente ficou cansada com todo trabalho que teve, ao avaliar aqueles contratos e portanto decidir ir a boate só para beber um pouco, já que fazer isso sozinho seria deprimente.

          Estava até considerando dormir sozinho dessa vez, sem nenhuma garota me acompanhando. O caso é que Viktor apareceu, e ficou me enchendo o saco, falando coisas sobre ela. Me controlei de uma forma que eu nem sabia que podia, só que quando eu passei a provoca-lo, foi ele que não aguentou e partiu para cima de mim, tudo que eu fiz foi me defender.

                Só que no fim, a minha fama me define. E é obvio que a rainha da sabedoria, nem questionou se eu fiz besteira mesmo, sempre é mais fácil acusar, julgar, antes de saber a verdade. Odiei aquela expressão de superioridade que ela usou para me questionar sobre meu comportamento, e usando a raiva que mantive por Viktor e o fato de que ela estava me irritando, descontei todas minhas emoções negativas nela.

                Só que ai, cometi um erro, eu a toquei, segurei seu pulso com uma força desnecessária, e fui arrebatado com emoções na mesma intensidade. Não era sobre sentir sua respiração perto do meu rosto, era sobre encarar as esmeraldas atrevidas que eram seus olhos. Aquela mulher metida a inteligente, era atraente demais para o próprio bem dela.  E eu era homem, afinal, haviam sensações que eu não podia conter, e sim, é uma verdade universal, eu a acho gostosa e cada vez que a olho de relance e vejo seu corpo sensual, envolto aqueles vestidos apertados, fico excitado e tenho pensamentos impróprios.

            Penso em despi-la, acariciar sua pele, que aparentemente é muita macia, e faze-la refém dos meus desejos mais insanos e secretos.

            Droga, de repente noto que meu amiguinho lá de baixo acordou, e reviro os olhos. Eu precisava de uma ducha e de controle, para usar, enquanto estivesse na presença de  Lindsay Gilbert.

[...]

               Não dormi nada, depois que tomei meu banho, apenas escolhi outro terno, tão elegante quanto o que eu usava anteriormente, e dei um jeito da minha cafeteira funcionar, para fazer uma bebida que me mantivesse acordado. Já, que eu não havia ficado, com nenhuma garota essa noite, portanto não teria que dispensar ninguém agora, não seria mal, por um milagre, eu ir até a gravadora mais cedo e tentar fazer algo como “Trabalhar”

               Tomei meu café rapidamente, e em questão de alguns minutos, me encontrei procurando a minha maleta. Droga! A empregada sempre coloca minhas coisas, em lugares as quais eu não as acho. Tinha que ter uma conversinha com ela, sobre isso depois.

          Procuro atrás do sofá, e na enorme estante decorada por discos que tenho na sala, mas, nem sinal dela. Bem, se não está aqui, deve estar no meu quarto. Entrando lá, caço até debaixo da cama, só que nada do acessório aparecer. Aquilo estava começando a me irritar.

                  Vou até o closet, e praticamente o reviro, não me importando com a bagunça que deixei fazendo isso, a empregada organizaria aquilo tudo, como castigo por sempre ter que que esconder o que preciso.

                  Ali também não estava. Bufei frustrado, prestes a fazer algo que eu não fazia com frequência; Desistir, mas, desisti de desistir, quando avistei o armário bege, em que as almofadas, edredons e afins costumavam ficar. A maleta só podia estar enfiada ali.

            Abri a porta, sem a miníma cerimônia e sorri satisfeito ao me deparar com o que eu procurava, no entanto, meu sorriso se desmanchou no mesmo instante que encontrei outra coisa. Larguei a maleta que já estava em minhas mãos, no chão, e segurei a caixa azul que eu tanto conhecia, a colocando sob a cama com cuidado.

             Tirei a tampa, de forma hesitante, e uma sensação de incomodo se instalou em meu peito, quando encarei o conteúdo de dentro dela. Haviam fotos, várias delas, letras de canções, palhetas de guitarras antigas, ingressos de shows de muitos anos atrás e outras coisas tragicamente nostálgicas. Passei a mão por meus cabelos, antes de escolher uma foto em especial para pegar e encarar ela mais tempo do que o necessário.

                 Eram tempos felizes, mas, também tempos de farsas, uma daquelas coisas que te fizeram mal, mas, foram tão especiais, ao ponto de você querer que aconteçam de novo, só para aproveitar a sensação de paz, antes da tempestade.

            Era por isso que eu sempre estava acompanhado de uma mulher no apartamento, tendo uma dessas garotas fáceis para aproveitar, eu não tinha oportunidades de visitar meu passado, enquanto estivesse sozinho. Porque sim, ele sempre achava uma maneira de voltar. Era como se um imã me atraísse até ele, e mesmo quando eu não o procuro, eu o acho.

—Senhor Castiel, eu só queria dizer que já cheguei...Como sempre venho mais cedo nesse dia da semana, aproveitei e trouxe um café da manhã para o senhor. — a voz da empregada surgindo por trás da porta fechada do meu quarto, fez com que eu despertasse do meu estado de volta as memórias boas e ruins.

                 Larguei a foto dentro da caixa, e ajeitei minha gravata, mesmo que ela não estivesse torta,  logo peguei a maleta, antes de me por para fora do cômodo. Não demorou para eu dar de cara, com a mulher de cinquenta e poucos anos que sempre limpava meu lar, e que claramente tem muito medo de mim.

               Pensei nos xingamentos que anteriormente quis direcionar a ela, por não ter achado a maleta logo, mas, naquele momento, não fui capaz de dize-los em voz alta, por isso apenas suspirei.

—Você é ótima em sumir com as minhas coisas, certo? Então, pegue aquela maldita caixa azul, e a guarde em um lugar desse apartamento, em que eu provavelmente nunca vou ter a infelicidade de achar. — foi tudo que ordenei, e assim, passei por ela como um borrão, com intenção de sumir daqui logo.

                                   Coloquei meu óculos de sol, quando entrei no elevador, e contei os segundos, até ele parar na garagem subterrânea do prédio. Foi em passos decididos, que caminhei até onde minha moto estava, tentando a todo custo deixar a droga do passado no passado.

        Por que eu não tomei whisky para relaxar? Ah, lembrei, porque eu não queria ter a chance de atropelar mais alguém, e trazer mais uma louca para minha vida. Ocupando esse papel, já basta Lindsay Gilbert.

                        Peguei meu capacete em cima da moto com maestria. — Eu o deixava aqui, porque o prédio era tremendamente seguro. — E ai notei, que uma loira platinada que acabara de descer de um carro caro, me encarava com curiosidade e desejo. Eu podia muito bem, usar as horas que me restam, até de fato alcançar o horário que sempre chego na gravadora, e então pegar aquela gostosa de jeito. Mas ai, surpreendentemente, me lembro da Gilbert petulante, e noto que será bem mais interessante gastar meu tempo a irritando. Pelo menos hoje.

                      Sem mais delongas, coloco meu capacete, garantindo minha segurança e acelero pelas ruas sinuosas de New York.

           Tenho que dizer, que assim que cheguei a gravadora, surpresa foi pouco para definir o que os funcionários demonstraram ao me ver tão cedo lá, e com um sorriso divertido nos lábios, entrei no elevador panorâmico e me direcionei ao meu andar.

                     A primeira pessoa que encontro é Iris, que está devidamente teclando algo em seu computador como sempre, quando a ruiva nota a minha presença, morde a caneta, que se encontra em suas mãos, e faz uma careta.

—Pela hora que me ligou ontem, para que desse um jeito de resolver seu drama, achei que fosse aparecer aqui pelo menos uma da tarde. — debocha, preferindo se utilizar da ironia, do que da devida surpresa.

—Não me enche o saco, ainda não superei o fato de ter chamado a advogada metida para ir até a boate...Onde está seu patrão? — questionei, antes de sem a permissão dela, capturar uma das torradas que estavam sob sua mesa, e comê-la rapidamente.

—Ele não virá hoje, tem uma reunião em Massachusetts, com alguns universitários de Harvard, que criaram aqueles jogos nerds que rendem muito dinheiro. Ele  quer negociar uma parceria. — Ele ia se dar bem, Armin era um eterno adolescente gamer.

—Certo, vou para minha sala então. — aviso sinalizando para a mesma.

—Se fosse você, eu ia para a sala de reuniões, Lynn está lá, chegou alguns minutos depois que eu cheguei, e já está trabalhando. — me comunica séria, antes de voltar a tarefa que fazia, quando comecei a conversar com ela.

             Franzi as sobrancelhas, para sua informação ; Lynn não havia me dito que teve uma noite difícil? E, durante a madrugada a mesma deve ter dormido pouco, já que foi me resgatar...E bem, da hora que eu abandonei o táxi que dividíamos para agora, era pouco tempo. Sabia que a veria logo, mas, não tão logo.

               Essa mulher não descansa, por acaso?

—Certo. — resolvi só concordar, ao invés de pedir que ela clareasse minha mente sobre o comportamento da senhorita sabedoria.

                      Pelos vidros modernos que rodeavam a sala, tive uma visão antecipada de Lindsay,  mesmo sem entrar lá. A mulher esbelta e respondona, se encontrava sentada, por trás da grande mesa, que ocupava quase toda sala. Lia alguns papeis de forma distraída, e tinha seus cabelos castanhos claros, presos em um rabo de cavalo, permitindo que seu rosto com ausência de defeitos, fosse visto completamente. Um copo de isopor, que continha provavelmente café, a acompanhava nessa jornada.

                           Fiquei por um tempo preocupante, parado a observando, antes de fato decidir entrar. E quando fiz isso, empurrando as enormes portas, a atenção dela se voltou toda para mim. O que encontrei em seus olhos, foi raiva, surpresa e...Medo.

—É surpreendente que esteja aqui agora...E que pareça um ser humano... Pensei que só te encontraria aqui mais tarde, isso caso viesse, bêbado, ou ao menos com ressaca. — é sincera o dizer isso, e brinca com seus próprios dedos, de uma maneira que me deixa nervoso.

—Não que seja da sua conta, mas, desde que cheguei no meu apartamento, não bebi e o que o consumi no bar não me deixaria nem zonzo. — a comunico, colocando minha maleta sob uma das cadeiras vazias.

—Eu devo te parabenizar por isso? — ironiza, me desafiando a responder, e eu suspiro. É, meu plano inicial era vir logo, para enche-la de ofensas e essas coisas, mas, eu não conseguiria agora que notei que algo não está certo com ela.

                 Por fim, optei por ignora-la e a mesma revirou os olhos.

           De forma rápida, ela deslizou algumas pastas em minha direção, e me olhou de um jeito sério.

—Essas são as fichas de algumas secretárias que eu me dei ao trabalho de procurar para você, antes de vir para cá, hoje mais cedo...Elas tem ótimas qualificações, e o motivo da saída de seus últimos trabalhos são fúteis...E todas sãos mulheres casadas respeitáveis, com idade para serem sua mãe, e tem filhos e netos...Então, não precisa se preocupar com a tentação. — me explica, mostrando pela milésima vez sua maldita, porém admirável, competência em basicamente tudo que faz. — Afinal, não posso consertar o presidente, sem ter uma secretária boa o bastante para mantê-lo nos eixos. — faz uma careta ao dizer isso.

           Me ergo para pegar as pastas, fingindo interesse, e é ai que noto sua mão estendida sob a mesa, aliás, noto outra coisa especificamente. Há uma mancha roxa em seu pulso, um machucado feio, e o que mais me assusta, é a constatação de que fui eu que fez aquilo. Cacete! O quão estúpido eu sou?

           Lynn nota para onde os meus olhos estão direcionados, e engole a seco, antes de puxar sua mão para si, e assumir sua postura de indiferença de sempre.

—Isso está ai por minha causa? — preciso de uma confirmação, e ela desvia os olhos dos meus.

—E se estiver, importa para você? — questiona, quando volta a me olhar, e arqueia uma sobrancelha.

—Importa. Porque eu posso ser um idiota, cheio de defeitos e falhas, mas, ser adepto a machucar uma mulher fisicamente com certeza não se encaixa em minhas características. — retruco sem me preocupar em ser sútil.

—Pois está na hora de acrescentar isso a sua lista de más ações. — diz e se levanta bruscamente, acho que procurando uma fuga daquela conversa.

             Passo a mão por meus cabelos como de costume e solto um xingamento para o ar.

—Eu...Sinto muito. — me incomodo ao falar aquilo, ah como me incomodo, mas, nesse caso, soou certo fazê-lo. Lynn arregala os olhos, incrédula por minhas palavras.

—Eu não aceito suas desculpas. — diz simplesmente.

—Por quê? — qual é! Tudo com ela é complicado. Pessoas normais perdoam as outras, quando elas demonstram sentirem muito, e eu sinto, ao menos por isso.

—Só serei capaz de te desculpar, no dia que me pedir perdão por tudo que fez a minha pessoa, desde o dia que colocou os olhos em mim...E estar tremendamente, quase desesperadamente, arrependido por isso. — decreta, como se em alguma realidade, algo a semelhante a esse comentário, pudesse acontecer.  É absurdo!

—Tanto faz. — eu não iria insistir, e não é como se eu precisasse que ela aceitasse.

—Ah, e Castiel! — ela me chamou, quando eu peguei minha maleta, decidido a finalmente ir para minha sala e me livrar dela. — Se quando me atropelou, tivesse realmente me processado por estar falando ao celular, enquanto dirigia...Você iria perder. — comunica e eu franzo as sobrancelhas.

—Por que está me dizendo isso agora? — quero uma explicação.

—É que eu não tive a oportunidade de te dizer antes, que a infração de ultrapassar um sinal vermelho é mais grave que falar ao celular enquanto dirige, portanto eu teria um bom argumento contra você...E também porque achei que seria interessante, terminar essa nossa conversa com eu saindo por cima. — ai está o sarcasmo que ainda não havia aparecido essa manhã.

                 Olhei para ela, com uma satisfação disfarçada, por ela estar voltando ao estado de personalidade que sempre me irrita, e apenas suspirei.

—Tchau Lynn. — foi tudo que eu disse, assumindo a expressão fechada de novo, e saindo dali.

[...]

       Durante toda manhã e tarde, eu a vi trabalhando. Parecia que a mesma estava fazendo uma auditoria individual, em que ela iniciava, executava e finalizava a avaliação de cada contrato daquela gravadora, e os constantes erros que lá estavam.  Não a vi saindo para almoçar, nem pedindo comida, mas, em algum ponto decidi somente ignora-la.

      Eu estava ocupado, lendo algumas composições novas, que uma banda que negociamos contrato semana passada criou. Eram cinco caras, cada qual com uma função que exercia com maestria; Eles eram bons e as canções deles seriam fenômenos, porque eram repletas daqueles clichês adolescentes, sobre garotas incríveis que não podíamos ter na adolescência. Pelo menos não eles. Eu tive todas as que queria.

                  Esses garotos tinham uma essência de pop rock que renderia muito para a gravadora. Afinal, sendo sincero, dinheiro era a única parte que importava para meu pai, nesse negócio todo. Para mim era diferente. Eu me satisfazia em saber, que por menor que fosse minha participação nisso, eu estava ajudando alguém a realizar seus sonhos. Não um sonho qualquer, mas, um sonho envolvendo música. O meu antigo sonho.

            Umas três da tarde, Iris fez o favor de me comunicar, que essa tal banda, já estava na gravadora, pronta para ensaiar. Como, estava com paciência e com saudade de ouvir uma boa música, me encaminhei até o estúdio do penúltimo andar, pronto para acompanhar tudo.

         Quando cheguei lá, encontrei os garotos, brincando com seus respectivos instrumentos, enquanto o produtor principal da gravadora; Dimitry, olhava para cena de forma divertida. Ali era só o começo, a parte boa e fácil, antes da previsível e complicada fama surgir. Logo, a brincadeira seria trocada por responsabilidades.

         De frente para mesa de som, continuei a observá-los através da parede de vidro, que nos separava, e impedia os sons exteriores interferirem lá dentro. O que posso dizer? O isolamento acústico da gravadora, era algo parecido com perfeito.

        Depois de mais alguns minutos de diversão, o ensaio começou. E lá estavam eles lá, arrasando, e mostrando tudo o que tinham para ganhar o público. Mandei Dimitry para o lado, e resolvi dar-lhes uma ajuda extra.

—Kevin, corte o agudo na segundo estrofe...Sua voz é suave demais para se destacar nessa parte...Daremos um refrão só para você. — decidi, os avisando pelo microfone de fora. Eles assentiram, parecendo concordar com minha ideia. — Dylan você está tocando um baixo, não um pandeiro, pare de se balançar e foque mais na emoção. Não queremos erros. — ordenei para o moreno de olhos chocolates, e ele concordou meio a contra gosto. Aquele com certeza, era o mais marrento de todos.  — Owen por favor, acompanhe a voz de Simon enquanto ele canta, nada de se precipitar ou se atrasar.  — disse com certa irritação. — Ótimo, vamos começar de novo. — comuniquei.

   Cliton era o único que conseguia exercer sua função de baterista bem, sem interrupções.

                   Eles fizeram tudo que eu mandei e até uma parte foi dando certo. Só que ai, eu notei que faltava algo a mais. Eles precisavam de mais. Fui em direção a mesa de sons, e apertei em alguns lugares específicos, sabendo exatamente o que faria. Logo alguns acordes da música se tornaram baixos, para em seguida  o volume aumentar aos poucos.

          Mordendo a pele de meu dedão, eu observava a animação deles, contagiar a todos que estavam naquela sala, e tenho que admitir que fiquei surpreso, quando Lynn abriu uma das portas vermelhas estofadas, e entrou no estúdio, logo se posicionando ao meu lado.

                  Ignorando ela, como faço na maioria das vezes, continuei a dar instruções e a controlar a mesa de sons, sabendo que sua atenção estava em mim.

—Você é bom nisso. — ela nota, mas, não parece abismada.

—Você é boa em acusar e defender nos casos judiciais...Eu sou bom em ouvir e reconhecer uma boa música. — retruco, pela última fala dela ter saído com escárnio.

—Acho que isso me faz melhor que você. Meu papel no universo é mais importante. — afirma com desdém, direcionando seu olhar aos garotos.

—Vem cá, senhorita petulância, já acabou seu trabalho? — indago, mudando de assunto, antes de iniciarmos uma discussão, que eu surpreendentemente não quero agora.

—Sim...E tenho que admitir, que mesmo com toda a confusão presente aqui...Essa gravadora dá lucros. Muitos para ser específica. — seu comentário, me faz sorrir com deboche, até a primeira parte. — Ao que parece, as pessoas gastam muito dinheiro com música. — fala fazendo uma careta.

—A música move o mundo, Lynn. — era uma frase de efeito piegas, mas, era a verdade.

—Não, Castiel. Pessoas movem o mundo e é por isso que eu lido com elas e venço casos. —  me diz com firmeza.

—Achei que lidasse com fatos. — a corrijo, com base nas vezes que a avaliei desde que ela começara a resolver alguns dos meus problemas.

—Bons Advogados se preocupam com os fatos, os ótimos com os seus oponentes. — mostra seus pontos. —Eu os olho, descubro o ponto fracos deles e os derrubo. Ser advogado é como ser médico...você tem que apertar até doer, aí vai saber onde olhar! — me comunica como se fosse uma grande lição e considero que de fato é.

—Então, qual é meu ponto fraco? — indago a provocando, ignorando o fato de que tem pessoas ao nosso redor, observando a cena.

—Eu não sei, e é por isso que eu ainda não te venci...Você é diferente, quanto mais eu aperto, mais longe eu fico de saber.  — sua sinceridade, quase me deixa de queixo caído. Achei que ela fosse retrucar com alguma resposta cheia de superioridade, não apenas com a verdade.

—Talvez só consiga saber, se ao invés de tentar me forçar a te mostrar, me pedir para que faça isso. — continuo nosso jogo de provocações.

—Você o faria se eu pedisse? — ela sabe a resposta, mas, quer ouvi-la.

—Não! — sou direto, com um sorriso malicioso nos lábios. — Mas, adoraria vê-la tentando me convencer a faze-lo. — lhe comunico disso.

—Eu não tento. Eu consigo. — após essa frase, se vira completamente para os meninos, enquanto eu a observo divertido.

          Sem explicação, ou mostrar um motivo, ela continuou ali ao meu lado, assistindo o ensaio, e aquilo de certa forma me incomoda. Pois assim, como eu claramente a afetava quando me aproximava, ela também fazia isso comigo.

—Se eu fosse você, colocaria o moreno esquentadinho para cantar o penúltimo refrão com o loirinho fofo, Kevin certo? A voz dos dois ficariam agradáveis juntas. — em certo momento, ela diz aquilo de súbito.

—Quer bancar uma de espertinha no meu trabalho também? — indago achando graça.

—Não! É só que eu sou mulher, e se essa música é direcionada a nós, sei o que eu gostaria de ouvir. — me conta como se fosse um bom argumento, mas, não é. Mesmo assim, peço para os meninos fazerem o que ela pediu, e incrivelmente soa bom no fim.

      Lynn riu convencida, e eu revirei os olhos. Foi ali, que eu notei uma coisa; Se estivéssemos no ensino médio juntos, Lynn seria a garota para quem eu escreveria as canções de amor impossível, e quem devidamente eu nunca teria.

[...]

      A advogada resmungona, anda ao meu lado, pelos corredores espaçosos da gravadora, assim que a noite chega, e o expediente é dado por encerrado. Estamos em silêncio, e pela primeira vez, na presença um do outro, no sentimos confortáveis com isso.

                   Ela havia sido apresentada aos garotos da banda assim que o ensaio acabou, e eles a adoraram. Claro que sendo os adolescentes que eram, seus hormônios se agitaram com a beleza dela. Também quem pudera, a mulher mexia com as estruturas até dos cara mais velhos, o que eram moleques perto disso?

                Lynn os tratou super bem, e até seu deu ao direito de divertir-se, debochando do fato do nome da banda ser “Sintonia explosiva” Okay, admito que o nome era realmente péssimo, mas, eles se recusaram a mudar, dizendo que havia um motivo especial para escolherem, e que um dia me contariam.

              A Gilbert também acabou revelando uma coisa que eu não sabia; Ela contou que seu irmão era músico e que provavelmente curtiria o som deles. Foi naquele momento que constatei que no fim, eu realmente não sabia nada sobre a vida dela e pela primeira vez, não saber algo sobre a vida de alguém me incomodou.

—Eu sei o que fez hoje. — ela me comunicou, quando chegamos em frente ao elevador, e eu franzi as sobrancelhas. — Fingiu uma trégua, só porque por dois segundos a sua consciência resolveu dar as caras, e se sentiu culpado depois de ter me machucado. Fingiu ser um pouquinho legal, assim como fez antes de me dizer aquelas coisas ridículas quando te resgatei na boate. — Lynn sempre queria ser a sabichona. Acho que advogados tem algum tipo de senso de grandeza.

—É! Você está certa. — dito isso, quando a cabine se abriu, deixei que ela embarcasse sozinha, e em questão de segundos, as portas se fecharam e eu suspirei.

                   Ela estava errada. Não fingi uma trégua, realmente me diverti essa tarde, enquanto ela estava no ensaio. Mas, isso, ela nunca irá saber. Lynn Gilbert não precisa saber de tudo. Mesmo, quando acha que sim.


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Notas finais do capítulo

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