Uma Adorável Mulher. escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 17
Capítulo 17 - Aparentemente.


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Ponto de vista: Castiel Blancherd.

Suponho que a parti do momento que você nota que se importa com alguém e que a ideia de que de alguma forma essa pessoa pode se afastar de você te aterroriza, quer dizer que você está ferrado, completamente ferrado. Saiu do seu controle, você já está envolvido em uma relação que você anteriormente não estava disposto a fazer parte. Foi assim com Lynn, eu não tinha a intenção de me aproximar dela, quando a conheci naquele incidente, e então, agora só não queria que ela saísse da minha gravadora. Em um momento, ela se fecha completamente para mim e me repele. No outro, ela diz que sente muito por sem quem é, e me pede desculpas. São extremos, que se contrariam rápido demais. Lindsay Gilbert é em si um extremo preocupante.

                 Acho que o que mais denuncia  que ultrapassamos algum nível grave é que, deixou de ser uma coisa que eu só sentia, aparentemente ela também se importa. A mulher que não se importa com nada e nem ninguém, se importa com a tentativa de amizade que temos.

            Gosto de como me sinto com a Lynn, por mais assustador que seja admitir; Ela me faz rir, ficar bravo, chateado, frustrado, orgulhoso, tudo em questão de segundos. Uma confusão a mais que eu considerava não precisar,  mas, que aprendi a gostar. Na maior parte do tempo, damos errado juntos, só brigamos...Mas, há outra parte existente, aquela que sem percebermos nos força a nos reconciliar, por meio de atos surpreendentes e fala impulsivas.

             E agora, todos os sentimentos estão misturados dentro de mim, como ingredientes em um liquidificador. Ingredientes que levariam a uma fórmula, que eu não tinha ideia do gosto. Digo, tudo estava conflitando, coisas que eu acreditava não poder sentir mais, coisas do passado, e coisas que nunca senti antes. Aumentadas. Intensas. Desafiadoras.

         Isso porque, agora, havia um novo elemento acrescentado de surpresa na situação; Lynn parecia ter saído da rede de manipulação do seu pai, e era visível, que se desapegar desse contato, fez com que a mesma se machucasse, e mais, ainda existia a possibilidade do seu pai ser um babaca pior do que já é, e ferrar com a carreira dela, por ela ter saído tão abruptamente do escritório. Eu não sabia lidar com aquela sua imagem frágil e quebrada, eu gostava da mulher forte e decidida que ela sempre era. Liam não merecia nem um pingo do amor dela, por ser capaz de a deixar naquele estado.

            Enquanto pela brecha da porta do estúdio, eu tinha uma visão privilegiada, de Lynn se desmanchando em lágrimas nos braços de seu irmão, eu soube que precisava fazer alguma coisa por ela, alguma coisa que a fizesse perceber que droga...Ela não estava sozinha. Eu havia me tornado incapaz de abandonar aquela jovem de olhos astutos verdes.

                   Liam não ia continuar acabando com ela. Não mesmo.

[...]

               Tudo se passou em um flash, em um segundo eu estava pegando minha moto na garagem da gravadora, no outro eu já estava saindo de dentro do elevador do escritório Gilbert. Ele estava repleto de gente, um grupo de engomadinhos, era guiado até uma sala no fim do corredor por Florence, mais conhecida como o mais próximo de uma melhor amiga que Lynn tinha. Quando ela notou minha presença,  e viu em mim uma fúria avassaladora, arregalou os olhos, e segurou firmemente a prancheta em suas mãos, antes de pedir licença aos babacas e vir até mim.

—O que está acontecendo? Primeiro Lynn vem aqui atordoada, e invade a sala do Liam, e depois saí transtornada, e agora você está aqui, parecendo que vai explodir a qualquer momento. — a loira empina o nariz, e exige uma explicação a altura do nosso comportamento.

—Não se preocupe, eu só preciso falar com seu chefe. — não dou muita importância a ela, sigo meu caminho, rumo a sala do pior idiota da terra, aparentemente depois de mim.

           Minha ação é impedida, quando Florence segura meu braço.

—Não vou deixar que faça isso. Está na cara que não está pensando muito sobre o assunto...Olha, seja lá o que está acontecendo entre eles, não se intrometa, esses dois tem maneiras quase inexplicáveis de se resolverem. — ela me instrui calmamente.

—Lynn pediu demissão, então isso está longe de se resolver...Se você se importa de verdade com ela, deve saber que ninguém nunca a defendeu dele...Me deixe fazer isso por a Lynn. — peço aquilo com sinceridade, e completamente surpresa, por minha primeira revelação, Florence me solta aos poucos.

—Há um motivo para o Liam ser esse advogado tão famoso; Ele nunca sai perdendo em uma discussão. — Florence me comunica quase preocupada.

—E há um motivo para eu ter uma fama de encrenqueiro tão grande; Sou bom em brigas. — dito essa frase, ela simplesmente deixa que eu vá cumprir o que vim fazer aqui.

            Queria dizer que fui educado, ao abrir a droga daquela porta, mas, ai, eu mentiria. Abri de forma nada gentil, esperando que Liam já notasse logo de cara, o quão feliz eu estava pela situação que ele colocou Lynn. O homem de olhos tão azuis quantos os meus, não pareceu surpreso com a minha em presença em si, mas, sim com minha audácia de invadir sua sala assim.

—Se minha filha te conhecesse há mais tempo, até diria, que sei com quem foi que ela aprendeu seus péssimos hábitos. — céus! Ele nem parecia abalado sobre o fato de que deixou sua filha em pedaços agora pouco. Soava inabalável e cínico, enquanto me encarava.

                 Eu era um idiota, disso eu tinha um real entendimento, mas, aquele cara, ele ultrapassava qualquer conceito sobre isso.

—Como você pode ser tão cruel com sua própria filha? — aquela foi a primeira pergunta que soltei, porque em base, todo o conteúdo da conversa que eu teria com ele, se resumia unicamente naquela questão. Não podem haver razões que englobem o fato dele ser desse jeito com ela.

—Como é? — se faz de sonso, e isso me irrita a um ponto, que preciso fechar minhas mãos em punho e as aperta-las com força, tentando me controlar para não socá-lo com vontade.

—Não importa. Quer saber? Não importa mesmo. O que importa é o que eu vim aqui para te avisar; Se você ousar, até em pensamento, acabar com a carreira da Lynn somente por capricho, você vai se ver comigo. — lhe informo com convicção, e com as sobrancelhas franzidas, ele se levanta de sua imponente cadeira.

                   Liam me surpreende com uma gargalhada de escárnio.

—Qual a moral que você tem para invadir meu escritório e me ameaçar? Se contenha e guarde seus avisos inúteis para quem estiver disposto a ouvir um garoto desobediente, que passou da hora de se tornar um homem...Você não era ninguém, então eu ordenei que minha filha te fizesse ser alguém, e só porque, aparentemente, para você, ela executou bem esse trabalho, não quer dizer que você tenha algum direito insignificante de me desafiar. — era aquilo que Lindsay enfrentava, um puro ditador. Pena que eu não temia ele.

—E você qual a moral que você tem para tentar soar tão digno e inalcançável, quando na verdade é tão burro que não nota que a sua filha é a melhor advogada dessa cidade? Você pega um talento nato, e humilha, pisa, destrata e ainda quer ser respeitado por isso? — devolvo na lata, com a voz tão firme quanto a dele.

—Sabe a mulher forte que você conhece? Eu moldei ela. Seu talento? Eu o lapidei. Suas emoções? Eu a ensinei a controlar. As emoções dos outros? Eu mostrei a ela, como manipulá-las. Seus limites? Fui eu que lhe instrui a não segui-los. — a determinação com a qual ele dizia aquilo, era quase igual a que Lynn usava para quase tudo. Eles eram assustadoramente parecidos. De um jeito estranho.

—E ainda sim, aparentemente, parece que você quer destruir o que construiu. — ironizo, odiando isso. — Se você próprio reconhece todas essas qualidades nela...Por que não consegue simplesmente se orgulhar delas, e dizer em voz alta que a admira? — questiono, pois devia ter uma explicação. Só ali noto, que ao menos um pouco de mim mudou por Lynn. Em um passado não muito distante, eu nunca tentaria resolver um problema com uma conversa civilizada.

—Por que você acha que eu não admiro minha filha? — okay com aquela, eu olhei para ele quase estático. Ele falou aquilo de um modo natural, como se minha acusação camuflada fosse patética.

—Suas atitudes meio que denunciam isso. — debocho, e ele dá um sorriso de canto.

—Lindsay Gilbert é teimosa, revolucionária, destemida...Pelo menos nas coisas que a maioria de nós tem medo...e brilhante. Eu nunca conheci ninguém como ela...Provavelmente nunca vou. — sua declaração me deixa confuso.

—Se sente tudo isso por ela, por que humilha-la e não valorizar tudo que ela realmente é? — Okay, aquele cara está passando de idiota para louco.

—Porque acima de tudo isso, ela é corajosa de uma maneira estúpida... — me conta sério. — Me diga Blancherd, desde que conheceu Lindsay e ela tornou-se sua advogada, quantas vezes não a viu se arriscando em situações perigosas, com pessoas com quem ela não devia se envolver? — olho para ele, e me lembro de como, ela não temeu o assediador que eu bati no bar, nem o dono da boate que eu estava, mesmo ele sendo perigoso. Eram situações de riscos, se colocadas por esse ponto de vista.

—Você acha que eu não sei que aquela garota é incrível? Ela não merece o sobrenome Gilbert, só por ter meu sangue...Ela o merece por honrar toda a linhagem de advogados da minha família. Ela é sagaz, curiosa e interessada,  como eu era na idade dela, e sim, eu tenho orgulho de suas escolhas, mas, não gosto do caminho que prevejo para ela, se continuar as tomando...Lindsay desafiou a Corton, eles não são bandidos de meia tigela, estamos falando de negociações internas com projetos de armas nucleares...Eu não a deixo em casos como esse, porque não quero que as consequências recaiam nela. — aquilo era mais do que surpreendente.

—Tem certeza que isso tudo não é só por ela ser mulher? — quero esclarecer.

—É claro que é por ela ser mulher também...Ela não é qualquer mulher, é minha filha. A garota que eu vi crescer, que eu criei. E a única pessoa no mundo, a qual eu ainda me dou o trabalho de me importar. — ele dizia tudo aquilo como se devesse ser obvio. Mas, não era, para ninguém.

—Se temia tanto os riscos que ela correria ao se tornar-se uma advogada, por que deixou ela seguir com isso, quando escolheu essa faculdade? — indago, pois aquela história ainda tinha furos.

—Você conhece a minha filha; Acha que alguém nesse mundo, pode a convencer a fazer o contrário do que ela quer? — questiona, depois ri com desdém.

—Você era pai dela. Seu mestre. Conseguiria esse feito. — argumento.

—Lindsay era uma adolescente quase rebelde na época que decidiu isso...Cometeu erros graves, se posso ser claro...Não havia opção se não aceitar isso. — tenta esclarecer. —Um dia você entenderá. — diz com um ar misterioso.

—Como é? — fico confuso.

—Foi por sua causa que ela terminou o noivado com Kentin, não foi? — quando ele me indaga aquilo de forma séria, eu arregalo os olhos e engulo a seco. Lynn terminou seu noivado? — Um dia, você terá uma filha também, Castiel e pelo que posso prever dado os recentes acontecimentos, existem grandes chances de ser com a Lindsay...Você imagina essa garota? Com a sua personalidade, junto com a da Lindsay? Um furacão, uma força da natureza...Controle, essa será a palavra chave para ela...Essa foi a palavra chave para a Lindsay. Enquanto a mantenho nesse escritório, a mantenho em controle...A parti do momento que ela sai daqui, ela assume riscos que não gosto nem de cogitar... — tenta me explicar.

                Ainda incrédulo pela previsão dele, dei um suspiro.

—Ela não é um brinquedo, não é uma coisa, não deve ser controlada...Ninguém tem o direito de fazer isso. — deixo claro minha opinião. — Meu pai sempre foi incrível comigo, e foi só eu descobri um segredo dele, para quase ter repulsa do mesmo...E você, sempre foi horrível com a Lynn, e ainda sim, ela te ama...Acho que você encara de uma errada, proteção em relação a ela. Não acha que seria mais fácil lhe encher de elogios, e simplesmente dizer que se preocupa? — questiono sério.

—Eu não sou uma pessoa fácil, por assim dizer...A forma que a Lindsay foi criada moldou ela...A forma como eu fui criado me moldou...Essa é minha maneira de educá-la. — aquilo era sádico.

—E é por proteção que pretende acabar com a carreira dela? — indago quase com nojo.

—Eu não vou acabar com a carreira dela...Aliás, tudo bem para mim se ela ficar com a conta da gravadora, eu te libero do compromisso, caso não conte a ela sobre esse fato. — suas palavras me deixam surpreso. — Mas, meu conselho para você, se gosta um pouco sequer da minha é que a convença a voltar, eu exerço um poder aconselhável sobre a Lindsay, você não vai querer se sentir culpado, caso algo aconteça com ela. — deixa claro seu posicionamento, dada a situação.

—Não vou fazer isso...Não vou reprimir ela...Você fez isso por toda uma vida com ela. — também deixo claro meu posicionamento. Dito isso, dou meia volta, decidido a ir embora.


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Notas finais do capítulo

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