Uma Adorável Mulher. escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 11
Capítulo 11 - Sentimentos Contraditórios.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Não sei se vocês perceberam, mas, os últimos capítulos tem sido mais curtos do que o de costume. O caso é que estou tão focada na escola, que só posso escrever em alguns intervalos de tempo que consigo, e por isso, consequentemente escrevo menos. Mas, esse em específico está longo como de costume!

Espero que gostem!
Boa Leitura!



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            Ponto de vista: Lynn.

Posso sentir minha mente protestar pelo cansaço, a medida que avalio mais um relatório, e tento encontrar uma solução para o problema nele. Tenho que admitir que não é só o psicológico, meu físico também está destruído, pelo meu excesso de esforço e o trabalho não está nem perto de terminar. Quero dizer, a auditoria da gravadora, já está quase toda finalizada, o fato é que mesmo não sendo da minha conta, continuo a insistir em resolver as burradas do Parker, e isso me consome um tempo e compromisso que acaba comigo.

             Era aquele senso estúpido e justo da minha parte advogada, que sempre quer impedir que pessoas que não merecem, sofram com a incompetência de um cara que se formou em algo, mas, não consegue exercer isso de forma correta, apitando. Esses que investiam confiança, dinheiro e expectativa no escritório Gilbert, devem ser recompensados com nada menos que sucesso em seus casos.

              Mas, Lindsay Gilbert é sou uma, por mais que queira resolver todos os problemas do mundo, até mesmo eu, me canso e saio um pouco fora dos trilhos. Só que desistir, não é uma opção para mim, não nesse momento. Então, continuarei aqui, trabalhando. Ultrapassando essas dificuldades.

              Enquanto grifava alguns pontos que achei interessantes, e bons para serem usados na defesa, escutei uma batida na porta de vidro da sala de reuniões da gravadora Blancherd. Essa havia oficialmente virado minha sala, afinal passo a maior parte do meu dia aqui, afundada em papeis. É, sempre o que me sobra é a democracia, isso é um saco.

           Ergui meus olhos, e por conta da transparência das paredes e de todo o resto da estrutura, vi Lysandre, suspirei, larguei a caneta que estava em minhas mãos, me acomodei melhor na cadeira estofada, e finalmente, acenei para que ele entrasse.

—Bem, não quero bancar o irmão preocupada, a qual você acha irritante, mas, fazem horas que você está aqui, quero dizer, chegou logo pela manhã, e até agora não saiu daqui. Você por acaso comeu algo? — sua pergunta, fez com que eu revirasse os olhos, e um desejo de voltar ao trabalho crescesse em mim.

        Será que é difícil entender, que eu não preciso de alguém que supervisione minhas ações? Desde que me entendo por gente, sou só eu e pronto. Aprendi a me cuidar, e sei meus limites, mesmo que de vez em quando eu os ignore.

—Eu estou bem, sou advogada, meu corpo está acostumado a ser mantida somente com café. — faço uma piada sem humor, e é a vez de Lysandre suspirar.

—É tão difícil assim para você, aceitar que alguém se importa com você? — questiona, indo em um ponto, que até agora, ele não havia ousado ir.

—Não é querendo bancar a rude, Lysandre, mas, já sendo...Não preciso que você se importe agora. Talvez, eu tivesse precisado, quando era só uma adolescente assustada, a qual a mãe abandonou sem hesitar, talvez, eu tenha precisado quando Liam, repetidas vezes, me fez notar o quão indesejada eu sou...Mas, agora, o que preciso fazer é trabalhar, virar uma referência para todos os advogados do mundo, e um dia, olhar para trás, e notar que tudo pelo que eu passei, fez de mim o melhor que eu podia ser. — meu discurso, que é resultado da minha irritação pela exaustão e por Lysandre querer me acusar por ser fria, faz com que meu irmão me lance um olhar decepcionado, junto com um meio sorriso forçado.

—Boa sorte com isso, mas, sinceramente, eu espero de todo coração, que quando olhar para trás tenha conquistado mais do que um legado. — ele é educado demais para me xingar por meu orgulho e comportamento insuportável, mas, isso não o impedia de poder afetar alguém, sendo grosso com verdadeiro cavalheirismo.

—Um legado. É tudo que preciso. — pisco para ele, e sem mais, ele sai da sala, afim de não destruir a boa relação, quase profissional, que estabelecemos nos últimos tempos.

                     Jogar de novo aquelas garrafas de Castiel contra a parede, parece uma ideia tão boa agora. Preciso tirar esse estresse de dentro de mim. Achei que tivesse tirado todo ele, dois dias atrás quando me reconciliei com Florence, e tive aquele momento desconstrauido na cobertura de Castiel, mas, não, tensão deve ser meu segundo nome.

                    Falando no Blancherd, ainda venho processando a história do mesmo ter me sugerido sem hesitação alguma, que eu redecorasse sua residência. Sei lá, ele sempre pareceu tão apegado as suas coisas, em tudo ser do jeito que ele quer. Por que raios ele me passaria a liberdade de mudá-las? Em todo caso, nem procurei pensar muito sobre o convite, tenho coisas mais importantes para decidir e fazer agora.

—Uau, isso é realmente um momento inusitado; Lindsay Gilbert distraída. — dei um pulo, quando escutei a voz de Castiel. Eu nem ao menos havia notado o momento que ele entrou aqui, acho que antes disso, estava parada, olhando para um ponto qualquer, enquanto lembrava do momento que tive com ele.

      Logo, fingi uma tosse para me recompor.

—Minha mente estava trabalhando nessas...Soluções...Sabe como é, muitos argumentos, defesas, pontos e observações. — lógico que eu não falaria que estava pensando nele.

            O Blancherd me avaliou, tentando procurar em mim a verdade, porque para ele, parecia claro que eu menti. No entanto, resolveu deixar para lá, e apenas assentiu.

—Sabe, no que estou estava pensando agora a pouco? — questiona sério, e sem aviso prévio, se senta na cadeira a minha frente, que lhe dá uma visão direta de mim.

—Não. Não sou Edward Cullen. — Castiel franze as sobrancelhas. Ao que parece ele nunca assistiu Crepúsculo, na verdade, eu me envergonho de ter assistido. Logo, trato de explicar.  — É só um cara de um filme, que lê os pensamentos das pessoas...Florence me forçou a assistir uma vez...Mas, não importa...Enfim, no que você pensou? — por fim indago.

                            Castiel ri levemente pela minha confusão anterior.

—Em como temos nos dado bem, nunca pensei que me daria bem, com uma pessoa como você... — começa meio incrédulo.

—Uma pessoa inteligente, talentosa e competente? — brinco arqueando uma sobrancelha. Ele revira os olhos.

—Não, algo mais como uma versão feminina de mim; Orgulhosa, atrevida e esperançosa. — me conta para minha surpresa, mas, eu só presto atenção em uma coisa.

—Esperançosa? — repito sem entender, parece errado para ambos os lados.

—Você é a pessoa mais esperançosa que eu conheço, mesmo que você própria não admita, nunca conheci ninguém que acreditasse tanto em algo, que fizesse acontecer de qualquer maneira como você...Isso é força sim, mas, é mais esperança do que qualquer outro sentimento...E sabe, por que eu sou esperançoso? Eu acredito, em não acreditar. — dou risada por suas últimas palavras.

—Como assim?  — quero que ele me explique.

—Eu não quero mais objetivos e lutar e lutar até chegar neles, como se tivesse que acreditar em algo, entende? Em algum momento, decidi que deixar acontecer, é mais divertido. — me comunica como se fizesse sentido.

—Deixar ao acaso? — basicamente é aquilo. — Eu não costumo fazer isso. Eu faço meu próprio acaso.  — deixo claro.

—Tem funcionado? — questiona com deboche.

—Sim. — respondo de forma direta.

—Então, no dia que sofremos aquele acidente, e nos conhecemos, você planejou que acontecesse? Controlou aquela situação? — ele tenta argumentar, mas, em todo caso, Castiel sabe com quem está lidando.

—Não. Fazer seu próprio acaso, não tem haver com planejar coisas como essa, tem haver com o que você faz a respeito, depois que elas acontecem. Eu não fui com sua cara desde que te conheci, mas, isso não me impediu de aceitar trabalhar com você, porque eu sei, que para conseguir o que eu quero, esse é um passo essencial. — lhe explico e ele ri do meu convencimento.

                Em seguida,  Castiel parou de rir, e as orbes cristalinas que são seus olhos, focaram nos meus. Mordi os lábios, ficando tão séria quanto ele, tentando ali, decifrar um pouco, somente um pouco daquele homem, que claramente mexia tanto comigo.

—Lynn, você tem visita. — só desviamos o olhar, quando Iris gentilmente colocou a cabeça para dentro da sala, e me avisou isso.

—É...Quem é? — consigo perguntar, a medida que Castiel me olha com diversão quando nota meu estado de nervosismo.

—Diz ser uma amiga sua, Florence, posso mandar ela entrar? — indaga, e eu assinto.

—Claro...E obrigada, Iris. — agradeço, e fico a espera de Flore.

                Castiel não se dá ao trabalho de sair da sala, ao contrário, parece até bem confortável depois dessa troca de olhares estranha. Não demora muito para minha melhor amiga surgir dentro da sala, trazendo consigo uma expressão de desaprovação logo de cara.

—Adivinha, acabei de esbarrar no seu irmão, e quando ele descobriu que sou sua amiga, porque eu meio que tagarelei isso, ele me contou que você não tem almoçado. Você é louca por acaso? Você está dormindo? Você está vivendo? — já vem cheia de acusações. Típicas dessa versão Florence Elliott super-protetora.

—Você tem uma babá, que legal. — Castiel zomba se levantando.

—É o que parece. — concordo com deboche e Florence revira os olhos.

—Okay, garotas, esse é o momento que eu as deixo sozinhas. E você loirinha, caso se arrependa de não ter ficado comigo da última vez, Lynn tem meu número. — jogo uma caneta que não estava usando nele, quando o mesmo diz isso, e Castiel ri disso, me fazendo rir também.

              Não demora muito para já estar no corredor.

—O que foi? — questiono, quando noto o olhar desconfiado de Florence para mim.

—Nada...É só que...Achei que você não o suportasse, e agora te vejo assim, rindo com ele...É estranhamento confortante. — me comunica um tanto confusa, e eu engulo a seco.

—Okay...É...O que você veio fazer aqui? — mudo de assunto, assim que ela se acomoda, na cadeira que fica ao lado da que Castiel sentou.

—Bem, estava com o horário de almoço livre, e pensei em passar para te dar um “Oi”, já que agora não nos vemos com tanta frequência... —começa a tagarelar, mas, eu reconheço essa tática nela.

—Certo, agora é o momento, que você me diz a verdade. — peço direta e elas suspira.

—Eu não deveria te dizer isso, mas, adivinhei que assim que você soubesse, ficaria revoltada por eu não ter contado...— começa hesitante e frustrada. — Se lembra de Kane Sommers? — essa pergunta me faz ficar em alerta.

—Sim. Ele era um cliente do escritório, morreu há mais de um mês. Ele tem uma construtora muito lucrativa, e é o fundador daquela instituição, que dá casas gratuitas, aos moradores de rua. — Eu conhecia sua ficha. Era um bom homem.

—Sim, a “Direito de um lar”... Só que parece que as finanças dele estavam bastante desorganizadas, o fato é que agora que sua mulher assumiu o comando de suas empresas e instituições, ela encontrou um rombo de mais de 500 milhões na instituição...Todos de lá estão desesperados, sem esse capital, as obras desandam, e tchau tchau casas para aqueles que precisam. — a situação era preocupante.

—Eles tem suspeitos? — indago, querendo saber mais.

—Erin Cornélio. Era o diretor das finanças, seu posicionamento quanto a acusação é o mais tranquilo possível, mas, a viúva do Kane, insiste em dizer que ele é o ladrão...A policia obviamente já está envolvida, eles checaram todas as contas do Cornélio do jeito deles, mas, não encontraram nenhuma prova, o dinheiro não estava lá...Kentin conseguiu um contato por fora, ele também fez suas pesquisas, mas, não adianta, não tem dinheiro nenhum...Só que a mulher do Kane, parece tão sincera, Lynn... E o mais assustador você não sabe... — me levanto com essa última parte.

—O que? — tenho que ser informada.

—Liam entrou no caso, com a equipe da “Cavalaria”, ao que parece ele tinha uma consideração inexplicável pelo Kane, e não acha que ele merecia ser roubado...E está claro, que seu posicionamento também é acusar o Erin. — arregalo os olhos por essas palavras.

—Céus...A cavalaria? É a equipe dos melhores advogados do escritório...Liam está mesmo focado em ganhar. — minha vontade de fazer algo a respeito é bem grande.

—Ele vai trancar o escritório hoje a noite, ninguém sai de lá, até achar um argumento bom, ou uma prova convincente para acusar Erin. — me dá detalhes e eu mordo os lábios preocupada. — Lynn, eu só te contei, porque achei justo que soubesse, mas, olha, esse não é o momento para você se intrometer nesse caso, se ele te quisesse nele, teria te chamado...Não faça besteira, não o desafie nessa situação. — ela me conhece o suficiente para saber que eu quero agir. Mas, de toda forma, ela está certa.

—Tudo bem. — cedo, e ela arregala os olhos. Não esperava ser tão fácil assim, mas, o que posso fazer? Hoje eu não conseguiria nada concreto, esgotada como estou; Mas, amanhã é outro dia, e minha concordância só dura por vinte e quatro horas.  — Pode me manter informada sobre isso? Ele com certeza, vai pedir pela sua presença hoje a noite. — solicito e ela suspira, antes de assentir.

—É claro.

[...]

                     Encarava aquele celular posto sob a mesa de centro da sala do meu apartamento, sentindo minha expectativa e ansiedade crescer cada vez mais. A noite já estava ai, meu expediente no trabalho terminado e nada de Florence me ligar, com informações. O que eu deveria estar fazendo era descansando, mas, não conseguiria com toda essa situação não resolvida, só me dei ao prazer de tomar um banho e jantar, o resto deixei para depois.

               Imperativa, e a ponto de cogitar roer as unhas, peguei o aparelho telefônico e digitei um número específico, afim de me distrair para não cometer a loucura de ligar diretamente para meu pai, e exigir que ele me colocasse nesse caso.

             Coloquei-o sob minha orelha, e esperei sem paciência alguma que a pessoa do outro lado da linha atendesse, e foi o que aconteceu alguns segundos depois.

—Lynn? — me ajeitei no sofá quando a voz grossa chegou aos meus ouvidos, e suspirei antes de responder.

—Oi, Castiel...Então, o que...Espera, que som é esse? Não me diga que está com alguma vadia em uma boate. — até ia começar  a conversa civilizadamente, mas, só a menção de todas aquelas vozes, e de uma música alta no local que ele estava, fez com que eu me alterasse. Ao que parece, seus hábitos péssimos ainda continuavam lá.

—O que? Eu...Não estou em boate nenhuma, estou com os meninos da banda em um bar no centro...E não que seja da sua conta, mas, não estou acompanhado de nenhuma mulher...Ainda. — esclarece em seu melhor tom de desdém, mas, antes que eu possa retrucar, ele questiona: — Espera...Por que me ligou? — só estranha isso agora.

—Ahn...Eu estava aqui trabalhando e pensei em um novo termo que podíamos acrescentar aos contratos da gravadora e achei que seria bom...Te ligar, para  contar. — levantei aturdida ao contar aquela mentira. Só o que eu queria na verdade, era discutir com ele para colocar minha cabeça em uma coisa que não fosse o caso de Liam.

—Trabalhando a essa hora? Você vive por acaso? — seu deboche, me fez respirar aliviada, afinal isso me fazia acreditar, que minha mentira não tinha saído tão ruim assim.

—Me desculpe por ser algo parecido com perfeição. — debocho e mesmo não o vendo, sei que minhas palavras o fizeram  revirar os olhos.

—Eu posso listar para você, os motivos que te fazem não ser perfeita. — me avisa sério.

—Faça isso agora, estou com tempo. — na verdade, realmente espero que ele faça.

—Lynn...Tem certeza que não me ligou, por que sentiu minha falta? — indaga do nada, e eu faço uma careta, caminhando em seguida para a varanda do meu apartamento.

—Absoluta. — respondo rapidamente.

—Suponho então, que se eu te convidar para vir para o bar agora, você irá negar. — seu tom se tornou divertido.

—E...Se eu não fizesse isso? E se eu aceitasse? — questiono só para saber.

—Ai você confirmaria que sentiu minha falta. — dou uma risada por isso.

—Como se eu me importasse com o que você pensa de mim...Okay...Só me mande o endereço. — finalmente peço, pois ele era a melhor distração que eu podia ter.

[...]

                  Não me sentia confortável ali por diversos motivos; Essa calça jeans que estou usando agora, realmente não faz parte do meu estilo, mas, ao que parece, ir a bares com um vestido social, soaria estranho. Segundo, esse bar não é meu tipo de ambiente, quero dizer esse fedor de cigarro impregnado no ar, esse barulho de música ruim e sem sofisticação, e o excesso de pessoas que parecem serem amigos de Castiel, devido seu estilos. Tudo isso é demais para mim.

               Carregando minha jaqueta, mapeio o lugar em busca do Blancherd, que me convidou, e o lugar que o encontro é previsível demais; No balcão das bebidas. Sem a menor cerimônia, ou algum cumprimento, me sento em um daqueles bancos altos ao seu lado e o encaro. Castiel sorri de lado ao notar minha presença, antes de tomar um gole de sua cerveja.

—Achei que não viesse. — me conta, olhando para uma mesa de sinuca próximo as mesas maiores do estabelecimento. Lá os meninos da banda, jogam animadamente. Os meninos simplesmente acenam quando me veem, e eu aceno de volta. —Relaxa, estão tomando refrigerantes, estou supervisionando. — debocha, quando nota onde meus olhos estão.

—Pode me trazer uma taça de vinho tinto, por favor. — peço ao garçom, ignorando as palavras de Castiel, o Blancherd simplesmente ri, e encara o homem a quem solicitei minha bebida. — Ela vai querer uma cerveja gelada. — me corrige, e eu simplesmente suspiro, me virando para ele.

—Eu não quero cerveja. — afirmo, mesmo que o garçom já tenha se afastado.

—Eu sei! Mas, você está em um bar antigo e clichê, tem que passar por essa experiência, com a bebida do povo. Já tomou alguma cerveja diretamente da garrafa? — meu silêncio, serve como resposta para ele.  — Eu te desafio a fazê-lo. — fala, e eu arqueio a sobrancelha, antes de tomar sua própria cerveja, e sem a miníma cerimônia engolir todo o líquido amargo restante dela. Quando acabo, limpo minha boca com os dedos. — Bem, isso foi sexy. — comenta sério.

                    Puxo meu celular do bolso da calça e o coloco sob o balcão, ainda esperando ansiosamente por uma ligação de Flore. Castiel notando meu interesse no aparelho, simplesmente o pega e o guarda no bolso interno de sua jaqueta de couro. Quando percebe meu protesto no olhar, explica.

—Você está aqui para se divertir, nada de trabalho agora. — me dou por vencida, pois sinto que de qualquer forma, Florence não irá mais ligar hoje. Quero dizer, se fosse, já teria o feito.

                Logo me rendo, aquele momento ridículo, e beberico um pouco da minha cerveja que acabara de chegar. Castiel, ao meu lado, permanece em silêncio, ocupado com sua própria bebida.

—Pode me dar uma luz sobre algo? — questiono, pois aquilo, aquela falta de palavras, estava começando a ficar estranha. Ele assente sem dar muita importância. —Desde aquele dia...Que você me sugeriu, que eu poderia dar um jeito na sua cobertura, tenho me perguntado por que o fez. Você parece tão apegado as suas coisas...Eu só queria respostas. — falo sobre algo que vem me incomodando.

—Você é apegada as suas coisas? — estou ciente, que ele só que me enrolar, mas, resolvo encarar aquilo, como somente um cara puxando assunto com uma garota no bar.

—Não! Nunca fui a pegada a coisas...Nem a lugares...Nem a pessoas. — sou sincera e ele brinda comigo por isso. Rimos em seguida.

—Então a que você é apegada? — parece curioso.

—Ao futuro. — sou sincera de novo.

—Ah já sei, todo aquele papo de um dia orgulhar seu pai e tal...Sempre foi assim? — é estranho que ele pareça querer saber tanto sobre mim.

—Acho que sim...às vezes, acho também que esse foi meu propósito ao vir para esse mundo. — zombo e em seguida reviro os olhos.

              De repente, uma cerveja se torna duas, três, quatro e logo não posso contar mais. Começamos a conversar sobre coisas completamente aleatórias, mesmo depois dos meninos — que ficaram conosco por um tempo — irem embora. Agora, Castiel me contava algumas de suas táticas patéticas para levar uma mulher para cama.

—Eu não cairia nisso...É tão...Ridículo. — lhe comunico, rindo da inocência delas.

—Quer saber? Eu acho que você cairia sim...Caso não convivesse comigo.  — ri junto comigo.

—Você é tão idiota. — acuso, ainda as gargalhadas.

—Gosto dessa imagem, sabia? Você rindo,  não é algo que acontece com frequência. — paro quando ele fala isso, não para contrariar o que ele gosta, mas, apenas porque surpreendentemente fico sem graça.

          Voltamos a conversar, dessa vez sobre os meninos da banda, e aquilo continuou por mais alguns minutos. Isso até um carinha desconhecido, subir no palco improvisado do bar, e anunciar para todos os presentes a atração da noite.

—As inscrições para o Karaokê dessa noite, já vão abrir, pessoal, soltem suas lindas vozes. — ele avisou animadamente no microfone e as pessoas gritaram animadas.

          Olhei para Castiel, que fitava ao palco com um sorriso contido. Em seguida revirei os olhos, antes de falar o que estava prestes a dizer.

—Deveríamos cantar. — Castiel engasga quando digo isso.

—O que? — se encontra incrédulo.

—Se vou passar pela experiência de me embebedar em um bar brega, tenho que ter o pacote completo, certo? — o questiono, assim que me levanto, e deixo minha cerveja de lado.

—Não vou cantar com você, Lynn...Eu não canto...Não mais...Por ninguém. — parece meio sombrio ao me dizer isso, mas, essas palavras não me impedem de nada.

—Não estou pedindo que coloque paixão nisso, ou que me faça uma serenata, é só diversão...Pode me ajudar a me divertir? — pergunto sorrindo, a medida que estendo minha mão na direção dele.

                  O Blancherd parece estar em uma luta interna, sobre fazer ou não isso, mas, em algum ponto, parece que eu valho a pena para ele, pois ele simplesmente chama um palavrão, antes de aceitar minha mão e ir comigo se inscrever.

                       Com um microfone em mãos, lado a lado a Castiel, em cima de palco, me encontro balançando meu corpo logo que a melodia da música se inicia. Minha voz sai ridiculamente feia, tanto pelo excesso de bebida, quando por minha falta de talento, quando começo.

Eu tenho vivido com uma sombra sob mim

Eu tenho dormido com uma nuvem em cima da minha cama

Eu tenho estado sozinho por tanto tempo

Preso no passado, parece que eu simplesmente não posso seguir em frente

                   Assim me posiciono dramaticamente de frente para Castiel quando canto isso, e o mesmo ri, antes de começar sua própria voz.

Eu tenho escondidos todas as minhas esperanças e sonhos

Apenas em caso de eu precisar deles de novo um dia

Eu tenho reservado tempo

Para limpar um pequeno espaço nos cantos da minha mente

                     Acho que fiquei estática quando ouvi a voz dele, nunca fui do tipo que gosta de música, mas, quer saber? Da voz dele, eu realmente gostava; Era algo rouco, sensual, porém viciante, e ele não fazia o minimo esforço para ser bom naquilo, ele simplesmente era. Logo me perguntei, por que uma pessoa com tanto talento, simplesmente parou de usá-lo e resolveu deixar a vida chegar em um ponto, em que o pai precisa contratar uma advogada para consertá-lo.

Tudo que eu quero fazer é achar um caminho de volta para o amor

Eu não posso conseguir sem um caminho de volta...

Para o amor

             Cantamos juntos dessa vez, sem afinação alguma da minha parte, mas, ainda sim, havia alguma conexão ali. Logo para melhorar tudo aquilo, desci do palco, seguida por Castiel e sem a menor sutileza, usei um dos bancos como apoio, para subir no balcão.

                    O ritmo da música aumentou, e Castiel apenas usou uma de suas mãos firmes para me puxar contra ele, enquanto eu gargalhava avidamente por toda a situação. A parti desse ponto, nem eramos mais nós que cantávamos, eram as pessoas que se animaram com o que fizemos. Então simplesmente começamos a dançar, joguei os microfones para o garçom, e agarrei uma mão de Castiel a medida, que ele enlaçava minha cintura e logo começamos a nos mover de acordo com a melodia agitada.

               Ríamos mais que qualquer outra coisa, logo, Castiel me rodou em seus braços, e sem a menor sutileza me inclinou para trás, enquanto eu o encarava sorrindo. Achei que o passo havia acabado ali, mas, me enganei tremendamente, pois após aquilo, o Blancherd me colocou em seu colo, como um marido seguraria sua mulher na lua-de-mel deles, e loucamente começou a girar junto comigo. Só o que pude fazer, foi segurar em seu pescoço com força e esperar que não caíssemos...E bem, nós com certeza não caímos.

[...]

          Eu estava descabelada, sem minhas botas, e dentro do carro de Castiel, enquanto ele dirigia rumo ao meu apartamento. Ao que parecia, ele finalmente mandado alguém conserta-lo, e deixou aquela terrível moto de lado. Eu havia vindo de táxi, já que estava sem paciência para dirigir, então não tive desculpas quando o Blancherd me ofereceu a carona.

               Falando nele, o mesmo até parecia alguém responsável enquanto dirigia dessa vez. Se encontrava concentrado no volante, logo que manobrava o automóvel, pelas ruas agitadas de New York.  Já estávamos alguns minutos nisso, e pelo que parecia, não faltava muito para chegarmos no endereço que eu passei para ele.

—Ainda estou assustado, com o fato de que você me forçou a cantar em um Karaokê. — ele quebra o silêncio, e eu procuro uma posição no banco, que me faça olha-lo melhor. —Sério, é a primeira vez que comete uma loucura assim? — indaga zombando.

—Eu aceitei trabalhar com você, suponho que não haja uma loucura maior que essa. — retruco com diversão.

—É, mas, quer saber? Eu duvido que já tenha feito algo que realmente tirou seu controle, algo que tenha feito você ir contra quem você é, aquele tipo de loucura, na qual você conserva um arrependimento que vale a pena... — eu sei que ele continuou, mas, eu também sei que não prestei atenção em mais nada do que o mesmo disse. Só o que se passava em minha mente, era o momento que tivemos no bar, quando pela primeira vez na minha vida, eu abri a guarda e me diverti. Castiel fez isso comigo. Ele simplesmente fez.

                               É pensando nisso, que seguindo meus impulsos, tiro meu cinto de segurança, olho ao redor, notando que agora passávamos por um bairro com pouca movimentação— mas, não perigoso— que inicio a loucura que Castiel me acusou de nunca ter cometido, pois em uma ação rápida, puxo o freio do carro, e faço com que ele estanque no lugar.

—Que porr... — não deixo que Castiel comece, ao mesmo tempo que não deixo que ele termine, simplesmente sigo os tais instintos que tenho.

           Me deparando com sua expressão assustada, fiz algo que ia totalmente contra quem eu era, em um movimento habilidoso me sentei no colo de Castiel, enroscando uma perna minha em cada lado do banco e o encarei. Ele ia falar algo, mas, novamente eu o interrompi, só que dessa vez fiz isso, colando meus lábios nos seus. Sentindo logo em seguida, uma corrente elétrica percorrer todo meu corpo.

              Ele demorou um pouco para reagir, mas, quando por fim, processou o que eu acabara de fazer, resolveu assumir o controle da situação. Deixei que ele aprofundasse aquele beijo, logo que sua língua invadia minha boca. Parecíamos duas pessoas sedentas no deserto. Mas, estávamos sedentos um do outro, não de água. Ele é tão quente, digo, realmente sabe o que está fazendo, ele tem isso de conseguir me dominar, mesmo eu sendo a mulher mais indomável de todas.

                 Anteriormente só usávamos nossas bocas, mas, quando nos separamos ofegantes, resolvi que eu podia ir além, e aparentemente Castiel também. Segurei seu queixo com firmeza e voltei a beijá-lo com vontade a  medida que suas mãos apertavam minha bunda. É, a calça jeans soou como uma ótima ideia agora.

            Eu já tive alguns parceiros em minha vida, no tempo da faculdade, eu era bem adepta a sexo casual e essas coisas. Não como Castiel é com as mulheres, deixando elas se iludirem achando que ganharão algo a mais depois disso. No meu caso, ambos estavam cientes, de que aquilo era só um momento. Mas, com Castiel era diferente, do que eu já tive com qualquer outro em minha vida. Nem com Kentin, eu senti todo aquele desejo exagerado, misturado com desespero, com ele, eu só transava por necessidade de relaxamento e por querer carinho.

           Com Castiel era tudo além das expectativas, além de tudo que já senti. Podia entender agora, o fascínio que as mulheres tem por ele, ele te toca de uma forma, que te faz se sentir desejada. E eu adorei essa sensação.

                     Ele me beijava como se quisesse tomar posse de mim. Com raiva por ter cedido,  ao mesmo tempo que estava feliz por tê-lo feito. Como se sentisse tão vivo, quanto eu me sentia. Não existia Liam ali, não existia um passado triste, era só eu, seguindo algo além da minha mente. Era como se eu tivesse sido atingida por um tsunami. Cheio de energia e força, que derrubou tudo, tudo que lutei para construir, para fingir que sou forte, mas, nesse momento não importa.

                Praticamente rebolava em seu colo, enquanto erguia meu corpo sob o seu, e deixava com que ultrapassássemos qualquer barreira entre nós. Só que podíamos escutar era nossos gemidos e grunhidos, que se misturavam enquanto trocávamos beijos salientes e quase sem pausas.

           Eu precisava de mais, por isso passei a morder seu pescoço, enquanto ele gemia de satisfação, e mostrava seu desejo por mim lá embaixo, demonstrando o quão animado seu amiguinho estava. Mordi seu queixo, dominada por toda aquele tesão e em seguida tomei sua boca de volta para mim, aproveitando-me cada vez mais daquela sensação intensa que dominava meu corpo.

           

Senti um ardor me consumir, quando não satisfeito com  o que estava tendo, Castiel ergueu meus braços para cima, e simplesmente tirou minha blusa. Após um tempo, apertei meus seios, agora somente cobertos pelo sutiã em seu tórax, e também sem a menor cerimônia, me livrei da sua jaqueta, e rasguei sua camisa.

          Os olhos dele não demonstravam nada além de luxuria, ele me queria naquele momento, tanto quanto eu o queria. Mais um beijo repleto de entusiasmo  e ímpeto. Mãos tocando ali, lá, peles se chocando, cheiros se misturando, coisas sendo sentidas. Coisas que por um momento, não foram identificadas...Até certo ponto, em que uma delas se sobrepôs; A culpa.

               Eu sou noiva...Kentin está em um escritório agora, trabalhando e sendo alguém coerente, enquanto eu estou aqui, me agarrando insanamente, com um cara que desde que eu conheci só me deu dor de cabeça e instabilidade.

       Foi pensando nisso, que lutei para me afastar, e finalmente consegui.

—Oq.... — Castiel não conseguia formular uma palavra sequer, parecia tão aturdido com aquilo quanto eu. Desesperada, saí do colo dele, peguei minhas coisas; Incluindo meu casaco, bota e celular que anteriormente estava em sua jaqueta, e me pus para fora do carro.

—Onde... onde..para onde você vai? — ainda estava confuso e ofegante.

—Para longe...Por favor, não me siga. — foi o que falei, a medida que tampava minha quase nudez com meu casaco.

        Lhe dei as costas, completamente assustada, e passei a caminhar sem olhar para trás, já que meu apartamento é há algumas quadras daqui, não será perigoso ir até lá.

             Após alguns minutos andando, notei que Castiel atendeu meu pedido e não me seguiu. E foi nesse momento também, que meu celular começou a tocar; Era Florence.

                  Encarei o aparelho e suspirei antes de rejeitar a ligação.

—Nada de trabalho agora. — repeti atordoada.

“Porque eu te apoio, eu te amo, e sempre estarei aqui se precisar de mim, é por isso que te pedi para casar comigo. Quero que seja minha parceira e quero que quando sentir medo, frustração ou raiva, venha até mim e daremos um jeito disso melhorar”  — As palavras de Kentin torturam a minha mente, ao surgirem ali.

Você vai ficar desesperada para uma noite de sexo comigo...E quando isso acontecer, depois que isso acontecer, eu vou te humilhar e você por fim vai notar que é só qualquer uma também.” — E essas eram as palavras de Castiel sobre mim. Porque esse, é ele, e quem eu sou? Depois de hoje, uma idiota.


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Notas finais do capítulo

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