Blindspot escrita por Princesa Leia


Capítulo 4
Propriedade de Kylo Ren


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários! Espero que gostem :)



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Kylo esperou que Via aparecesse durante quarenta minutos. Estranhou a demora excessiva da mulher, uma vez que tinha dado ordem expressas para um trooper acordá-la há mais de uma hora. Estava prestes sair procurando por ela quando Phasma entrou na sala de treinamento com Via em seu encalço.

— Ela se perdeu, Ren. Parece que algum idiota informou a todos na Base que é proibido falar com ela, porque ela é “propriedade de Kylo Ren” — Phasma explicou e indicou para Via o vestiário, para que colocasse roupas adequadas. — Acredito que isso foi uma brincadeira de Hux, porém vou reverter à situação.

— Não foi Hux — Kylo disse simplesmente, a máscara escondendo seu rosto envergonhado. — Eu mesmo resolverei essa situação. Cabeças vão rolar, Capitã.

Phasma assentiu e saiu da sala. Via voltou rapidamente, utilizando um robe preto parecido com o de Kylo. Deu um sorriso fraco para Ren e ficou parada, esperando ordens.

— Você está atrasada — ele disse sério, a voz robótica zumbindo no ouvido de Via.

— Ninguém quis me dizer o caminho, senhor — ela tentou se explicar e mordeu o lábio inferior. — Sinto muito, não vai acontecer novamente.

— Use a Força — Kylo disse suave. — Eu posso sentir você, você pode me sentir?

Via não entendeu o que ele estava querendo dizer. Negou com a cabeça, fazendo Ren bufar. Ele se aproximou dela e indicou para que ambos se sentassem no chão, um de frente para o outro.

— Feche os olhos — mandou e ela obedeceu. — Não abra!

Kylo tirou o capacete e colocou-o nas mãos de Via, que segurou sem saber o que era.

— Concentre-se e tente sentir algo, uma energia... — A voz natural de Ren fez com que Via abrisse os olhos no mesmo instante, dando de cara com os olhos escuros dele. — Eu disse para você não abrir os olhos.

— Você não disse que ia tirar a máscara — Via sorriu fraco e analisou o objeto em suas mãos. Correu os dedos por todos os detalhes, tentando sentir a tal energia. Ficaram em silêncio por alguns minutos, até ela possuir seu veredito. — Não gosto da sensação que isso me traz.

Kylo recuou institivamente.

— O que quer dizer? — Perguntou desconfiado.

— Você disse para eu procurar uma energia, certo? Eu encontrei, e eu não gosto — Via explicou e devolveu o capacete para Kylo. — É ruim.

Ele entendeu o que ela queria dizer. Uma vez, há muitos anos, tinha sentido a mesma coisa. Era pequeno e estava mexendo nas coisas de seu tio Luke. Encontrou um capacete destruído e sentiu energia ruim, exatamente como Via. Aquele objeto era o capacete de seu avô, que hoje ficava em um pedestal em seu quarto.

— Então você sente energia ruim emanando de mim? — Questionou com a garganta seca.

— Não de você, da máscara — ela disse. Olhou nos olhos de Kylo e sorriu fraco. — Eu sinto a sua presença agora. Sinto sua presença vinda do seu corpo, e não da máscara.

— Que tipo de presença? — Ele tentava estimular a jovem.

— Você parece confuso — Via contou, com medo da reação do homem. — Você tem algo que te prende ao passado. O senhor está com... Medo?

Kylo levantou-se imediatamente, o rosto queimando de raiva. Quem ela pensava que era para falar aquelas coisas sobre ele? A mulher afastou-se instintivamente.

— Mentirosa! — Gritou e puxou seu sabre de luz. — Você não sabe nada sobre mim! Você não me conhece!

Via estava estática, com medo de que qualquer movimento pudesse fazer com que Kylo a atingisse com sua arma. Seus olhos se encheram de lágrimas. O rosto de Ren sem o capacete não parecia mais tão belo, agora era assustador. Desejou que ele estivesse usando-a.

— Eu poderia acabar com a sua vida nesse instante — ele sussurrou. Via conseguia sentir o calor do sabre de luz próximo ao seu rosto. — Mantenha em mente que você está viva porque eu permito. Ninguém tem mais poder que eu sobre o que acontece com você. Hux tentou se aproximar, mas no segundo em que eu disse que quero você morta, ele não hesitará, assim como todos. Agradeça a mim por sua vida. Agora.

— Obrigada, senhor — Via disse sem vontade alguma. Sentiu ódio. Como alguém podia mudar sua atitude dessa maneira? Em um segundo, Kylo era agradável e paciente, no outro, era o mostro que todos falavam. Ela estava confusa, com medo e decepcionada.

Ficaram em silêncio. O sabre tremulando próximo ao rosto da jovem, a luz vermelha contornando suas feições de medo e ódio. Kylo sabia que o medo era descartável para o treinamento, porém o ódio não. Esse sentimento a faria mais forte. Talvez tivesse errado ao tentar aproximar-se da jovem de maneira gentil. Talvez, pensou, fazer com que ela nutrisse ódio e raiva fosse mais benéfico para o uso da Força.

— Levante-se — ordenou, abaixando seu sabre e o guardando em suas vestes. — A Força é forte com você, Via. Posso te ensinar a usá-la para satisfazer quaisquer vontades que tenha. Entretanto, você deve saber da existência dos dois lados da Força.

Kylo apertou os olhos, tentando fazer a melhor leitura que podia da jovem parada a sua frente. Não seria uma conversão fácil, mas seria necessária.

— Existe o lado dos que aceitam e almejam poder, o meu lado, e o lado dos fracos, que possuem medo de usar a Força para seu total benefício — continuou. — É preciso ter coragem de abandonar sua vida pelo Lado Negro. A notícia boa é que você não se lembra do que um dia foi sua vida, então não há muito que abrir mão.

Via sentiu-se levemente ofendida. As palavras que saiam da boca de Kylo Ren não ornavam com seus olhos, de maneira nenhuma. Apenas assentiu com a cabeça, sem disposição de tentar qualquer tipo de argumentação ou discussão com Ren. Se ele queria lhe ensinar os caminhos da Força, ela iria aprendê-los da melhor forma que pudesse. Sentia que isso lhe traria mais perto de quem ela realmente era.

— Pegue seu sabre de luz, está no bolso das suas vestes — Kylo ordenou e Via obedeceu. — Ligue-o. Sinta sua energia. Deixe isso fazer parte de você.

Via apertou o botão e sentiu seus olhos arderem, tamanho o brilho da luz azul que emanava de seu sabre. Apertou-o entre as mãos, sentindo a Força correr entre o objeto e seu corpo. Olhou para Kylo, esperando suas próximas instruções.

— Tente me matar — ele disse de forma séria.

A mulher brandiu o sabre na direção de Kylo, acertando o dele com um golpe que denunciava sua vontade decepcionante de realmente matá-lo.

— Tente me matar como se você realmente quisesse — ordenou mais autoritário, partindo para cima de Via com seu sabre, forçando-a a se defender. — Numa batalha, se você não matar, você será morta.

Os sabres gingavam de um lado para o outro, tocando-se várias vezes. Via se defendia bem, com destreza admirável. Kylo avançava mais e mais e, apesar dos bons movimentos de sua combatente, conseguia encurralar a moça em uma das paredes da sala, tirando o sabre de suas mãos e vencendo. Isso se repetiu por incontáveis vezes ao longo do dia. Sem muitas palavras, eles retomavam a posição inicial e começavam tudo de novo.

— Nada mal — ele elogiou, devolvendo a arma ao bolso do robe de Via ao ganhar a disputa mais uma vez. Caminhou para colocar seu capacete, enquanto a moça observava cada passo. — Falta-lhe coragem, paixão e vontade para tornar-se uma luta minimamente justa. Mas, para sua primeira vez, nada mal mesmo.

— Obrigada, Mestre Ren — Via agradeceu sem expressão no rosto. Não sabia o que tinha sentido enquanto duelava com Kylo, mas definitivamente era algo. Uma força que lhe guiava sem que ela precisasse pensar em seus movimentos.

Os dois caminhavam lentamente até os aposentos de Via, para que Kylo lhe ensinasse o caminho para a sala de treinamento. A jovem ia tentando guardar pontos de referência, mas aquele lugar era enorme para sua cabeça ainda tão frágil. Kylo percebeu a confusão que estava sua cabeça.

— Você nunca estará perdida, ou sozinha — disse calmamente. — A Força está com você.

— E se eu não souber como usá-la? — Via questionou preocupada.

— Via — Kylo disse e parou em frente à porta do quarto. Mal havia percebido o percurso passar. — Você sabe como usá-la. Você só precisa sentir e deixar que ela corra por seu corpo. Depende de você. Eu posso te ensinar poucas coisas comparadas com o que a Força pode te dar.

Ela assentiu, com a mente cansada.

— Você sabe que eu posso sentir se você precisar de mim. Não pense duas vezes antes de me chamar — a voz sintética não era muito convidativa para Via, porém ela sorriu fraco.

Abriu a porta do quarto e deu uma última olhada para Kylo antes de entrar.

— Obrigada, Mestre Ren.

A porta fechou-se atrás de seu corpo e Via finalmente estava sozinha. Banhou-se com calma, e por mais que olhasse a ferida em seu tórax, a marca de Bem Solo, pela primeira vez não pensou em Kylo Ren, mas na Força. Queria aprender seus meios, usá-la, talvez lhe posse útil para descobrir como e porque se encontrava em tal situação. Não percebeu o quão dolorido estava seu corpo até deitar-se na cama. Caiu no sono logo em seguida, sem ter tempo de refletir todos os acontecimentos do seu longo dia.

[...]

Com o passar das semanas, Via estava obtendo resultados cada vez melhores em seu treinamento. Quando não estava gingando seu sabre de luz, estava em seu quarto, treinando o uso da Força para levantar objetos. Queria ter o domínio completo de seu corpo, mente e habilidades. Ren dizia que somente assim ela poderia usar a Força para seu bel-prazer.

Ren.

Mesmo vendo o homem pelo menos algumas vezes por semana, ele ainda era uma incógnita para ela. Nos duelos, mantinha-se quieto, só falava com ela para lhe dar ordens, ia embora sem se despedir. Via não entendia o comportamento de Kylo, entretanto, estava decidida a deixar isso de lado para que pudesse prosseguir com êxito em seu desenvolvimento. Para ela, segurar o sabre, usar a Força, quase parecia natural. Não era necessário muito esforço para lapidar seus talentos e, Via não sabia, mas isso assustava Kylo.

O mestre dos Cavalheiros de Ren, durante os poucos treinamentos de combate físico com Via, sentia que ela lutava como igual. A mulher obtivera um avanço absurdo, o que o deixava perplexo muitas vezes. Era como se ela tivesse nascido para se tornar um Jedi. Kyo Ren usava o termo Jedi, pois não via a paixão necessária e a maldade para que Via se convertesse ao Lado Negro da Força. Ele sabia disso, porém nos encontros com o Supremo Líder Snoke, ocultava essa informação da melhor forma que conseguia. Não poderia deixar que ele descobrisse que Via não tinha o que era preciso para juntar-se a ele, pelo menos não tinha por agora.

Mais uma vez, Kylo encontrou-se observando Via em seu quarto pelos monitores de segurança. O jeito como ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha denunciava que ela iria começar a meditar. Porém hoje, diferente dos demais dias, Via não conseguia se concentrar. Pelo visor do computador, Kylo percebeu como a mulher estava inquieta. Tinha algo lhe incomodando, a ponto dela não conseguir parar de andar de um lado para o outro. O que poderia ela estar sentindo que passou despercebido por ele?

Via deu um pulo quando Ren abriu subitamente a porta do quarto. Ele não precisou falar para que ela soubesse o porquê da visita. A inquietação da mulher só aumentou.

— Tem algo de errado, Mestre Ren — ela disse encarando a máscara, como se pudesse ver os olhos negros atrás dela.

— O quê? — Kylo perguntou, sem muita paciência. Começou a sentir o desconforto também.

— Seu mapa está incompleto — Via disse, sem entender de onde vieram as palavras. Olhou para Kylo confusa. — O pedaço que falta irá para as mãos da Resistência

A mulher balançou a cabeça. Não sabia o que estava dizendo. Não sabia de mapa algum, de Resistência alguma. Percebeu que suas palavras causaram ódio em Ren, que saiu do quarto furioso. Via sentiu medo entre os sentimentos de seu mestre, só que desconhecia o motivo. Qual mapa era esse e por que ele parecia ser tão importante a ponto de causar um leve tormento na Força sentida por Via? Naquela noite, ela foi dormir sem respostas. Diferente de Kylo Ren, que colocou toda a Base para realizar apenas uma tarefa: encontrar o pedaço do mapa para a localização de Luke Skywalker.

[...]

O sorriso do homem de pele bronzeada fazia com o coração de Via se acalmasse. Estavam os dois, numa praia deserta, mal se via o Sol devido à nebulosidade do dia. Ele veio caminhando destemido em sua direção, agarrando-a em seus braços no instante em que estava próximo o suficiente. Ficaram minutos assim, Via não entendia porque, porém o homem não era desconhecido. Ela o conhecia, não se sentia estranha em seus braços e nem sentiu vontade de recuar quando ele colocou os lábios nos seus. Pelo contrário, sentiu-se em casa, segura, familiarizada. Não estava mais perdida.

— O que você vai fazer é muito corajoso — o homem disse sem se afastar de Via.

— Do que está falando? — Via perguntou. Suas mãos seguravam forte nos braços do rapaz, não queria lhe deixar partir, porém sentia que aquilo não duraria muito.

— Ninguém mais conseguiria — ele continuou, ignorando-o. Depositou um beijo em sua bochecha. — Que a Força esteja com você.

[...]

Via acordou assustada. E com mais questionamentos do que quando fora dormir. Quem era o homem de seu sonho? Os traços lhe pareciam tão familiares que era quase como se ela sentisse saudades daquele rosto. Não teve muito tempo para pensar sobre o sonho, porque Kylo Ren entrou como um furacão em seu quarto, porém surpreendeu-se ao ver a jovem acordada. Via percebeu que era o meio da noite.

— Vista-se — ordenou jogando um par de vestes na cama aos pés da mulher. — Estamos saindo para Jakku em cinco minutos. Para o seu bem, sugiro que não se atrase. FN-2187 vai acompanhá-la até a base de decolagem. Seja rápida, Via.

Ela obedeceu. Correu para o banheiro, onde vestiu as roupas. Prendeu seu sabre de luz na cintura e saiu apressada do quarto, encontrando o trooper parado em sua porta. FN-2187 estava com a mente bastante bagunçada, e o radar aguçado de Via percebia isso. Caminhou ao lado do homem tentando ignorar o medo extremo que ele emanava.

— Se sente tanto medo, por que se alistou a Primeira Ordem? — Ela perguntou a poucos metros de onde todos os aguardavam.

— Não estamos autorizados a falar com a Propriedade de Kylo Ren sem que seja de extrema necessidade — ele respondeu automaticamente, como se tivesse repetindo essa frase para si mesmo durante todo o percurso. Via bufou, cansada. — Nós não temos escolha, senhorita.

— Como assim? — Ela perguntou baixo, para que somente FN-2187 ouvisse.

— Somos tirados de casa ainda crianças e treinados para servir a Primeira Ordem — ele respondeu em um sussurro urgente. — Por favor, eu não posso dizer mais nada.

Via assentiu. Percebeu que tinha ficado tão obcecada com a aprendizagem da Força que tinha se esquecido de todo o resto. Sentiu-se nauseada. Repudiava a Primeira Ordem. Não sabia o que iria fazer em Jakku, mas sabia que ao voltar, não poderia continuar passiva aos acontecimentos e passiva a Kylo Ren. Via não era propriedade dele, nem de Snoke ou mesmo da Primeira Ordem. Via pertencia a ela mesma e estava na hora de tomar-se de volta.

Ren a esperava na entrada da nave e esticou a mão para ajudá-la a subir. FN-2187 ficou para trás, porém continuou na mente de Via. Ela estava tão apavorada quanto ele. Tomou seu lugar ao lado de Kylo, que ordenou a partida da nave.

— Algum problema, Via? — Ele perguntou mantendo o olhar fixo à frente.

— Não, Mestre Ren — ela respondeu insegura.

— Não minta para mim — Kylo pediu suave, surpreendendo Via.

— Estou com medo, senhor — Via falou encarando o chão.

— Me chame de Kylo — Ren disse calmamente.

Para a surpresa ainda maior de Via, ele esticou a mão e segurou na dela, dando um aperto firme. Ela olhou para seus dedos entrelaçados e depois para Kylo. Mesmo com a máscara, ela sentia que os olhos dele estavam nos seus. Ela não escondia a confusão em seus pensamentos.

— Não tem nada a temer comigo ao seu lado, Via.


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Notas finais do capítulo

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