Page 23 escrita por JM


Capítulo 6
VI - Shadows


Notas iniciais do capítulo

Oii oii pessoas!
Não tenho muito pra falar hoje, acho que o capitulo vai falar por si mesmo, então espero que vocês gostem!
Obrigaada a querida da Cath Locksley Mills pelo comentario do capitulo anterior. Obrigaada por todo o apoio e carinho que você tem com essa história miga, é por causa do seu apoio que tenho força e animação para continuar escrevendo.

Booa leitura a todos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719248/chapter/6

— Nós precisamos conversar, você sabe disso não é? – a voz de Regina soou baixa e temerosa, como se ela sentisse receio do tipo de conversa que aquelas palavras poderiam iniciar.

Ela e Robin estavam novamente em seu refugio favorito, a clareira que fora palco do inicio da amizade e do relacionamento deles, onde haviam dado seu primeiro beijo, finalmente aceitando o forte laço de amor que os unia.

Desde aquele dia, o relacionamento deles havia crescido, se intensificado, ganhando força a cada novo encontro. Assim como o amor e a necessidade de estarem juntos crescia, aumentava também o medo. Medo de se perderem, de que algo acontecesse e quebrasse a bolha de felicidade no qual estavam emersos.

O dia de seu casamento se aproximava, e Regina se sentia cada vez mais irrequieta, sem saber o que fazer, como se livrar daquele compromisso. Tudo em que ela conseguia pensar era que não podia se casar com alguém que não fosse Robin, não iria aguentar passar a vida presa a outro quando sabia que ele estava ali, de coração e braços abertos para ela.

— Eu sei. Mas tenho medo do que vamos dizer. Tenho medo do significado das palavras que serão ditas. – respondeu o loiro, sentindo seu coração afundar sobre o peso do que estava por vir. Ele não se enganava, sabia que aquela conversa iria acontecer uma hora ou outra. Tinha plena consciência de que precisavam conversar, resolver o que iriam fazer, mas a verdade era que ele tentara de tudo para retardar que aquilo acontecesse o máximo que pode, o medo do que poderia acontecer fazendo seu estomago se embrulhar.

— Eu também. Estou morrendo de medo. Queria que essa conversa nunca acontecesse. Queria que pudéssemos ficar aqui, escondidos do mundo. – foi à resposta da morena, que se aconchegou mais no colo de Robin, implorando em sua mente para que pudesse ficar ali, nos braços dele, para sempre.

— Eu sei. – começou a responder o loiro, beijando a lateral da cabeça da morena e aspirando o perfume que ela exalava, desejando, assim como ela fizera, que eles não se perdessem um do outro. – Mas não podemos. Temos que resolver as coisas, resolver o que nós vamos fazer.

— Você se importa? – perguntou Regina, finalmente permitindo que as palavras que rodavam em sua mente há dias saíssem de sua boca. Ela precisava saber. Precisava ter certeza de que o fato de ser uma princesa, te ter títulos e riquezas não era um empecilho para que a sua história com Robin florescesse.

Nunca se importara com títulos e riquezas, trocaria tudo que tinha pela chance de viver aquele amor, pela chance de passar o resto de sua ida ao lado dele, mas precisava ter certeza de que Robin pensava da mesma forma, que estava disposto à aceita-la somente pelo que ela era como pessoa, e não com posses ou nomes.

Robin ficou em silencio por um momento, colocando na balança tudo que havia remoído em sua mente nos últimos dias. Ele a amava, tinha certeza disso agora. Amava-a muito. Mas seria esse amor suficiente para aplacar o abismo social que existia entre eles? Estaria ela disposta a abrir mão de tudo, de seus luxos e do conforto no qual vivia para fugir com ele, para ir embora sem levar nada, deixando toda a sua antiga vida para trás? Essa era a pergunta para a qual ele ainda não tinha uma resposta certa, mas aqueles dias de reflexão tinham servido para que o loiro tivesse certeza de uma coisa: nada daquilo importava para ele. Titulos, terras, compromissos de casamento...ele poderia esquecer de tudo, desde que soubesse que Regina não se importava. Desde que tivesse certeza que ela o aceitava como ele era, ele também não se importaria com mais nada a não ser o que sentia por ela.

Ao invés de responder a pergunta que havia sido feita, ele a devolveu, ansioso para saber qual seria a resposta da morena. – Você se importa que eu seja um ladrão? Que não tenha nem mesmo uma casa para te oferecer? Que tenha apenas o meu coração para lhe dar?

— Nem por um momento. Tudo que preciso é saber que tenho seu amor. O resto não interessa, não importa mais. – respondeu Regina, sem hesitar nem por um instante, sentindo a veracidade de suas próprias palavras. Sim, era exatamente isso o que ela sentia. Largaria tudo, desde que ele estivesse ao seu lado.

— Então ai está a sua resposta. Se você não me importa nada disso, se não se importa que eu seja um ladrão, porque eu me importaria de roubar uma princesinha mimada de seu castelo? – falou Robin, seu tom de voz dividido entre o riso e a seriedade.

— Ei, eu não sou uma princesinha mimada! – ralhou a morena, virando-se para encarar os olhos azuis com  uma expressão que misturava descontentamento e brincadeira.

— Claro que não é, estou só brincando. Não fique zangada. – foi à resposta de Robin, que a puxou para mais perto dele, apertando seus braços em torno dela. – Mas você tem um gênio um pouquinho difícil...- continuou a brincar o loiro, se divertindo com a expressão da morena, que se alterava entre a risada e a braveza.

— Ah é? Então é isso que você acha de mim, que tenho um gênio difícil? – provocou Regina, aproximando seu rosto do de Robin, seus olhos ainda fixos nos oceanos azuis que eram os olhos dele.

— É. É exatamente isso que eu acho. E sabe qual a melhor parte? Eu amo esse seu gênio difícil, é simplesmente encantador. – ele voltou a falar, em seguida rompendo os últimos centímetros de distancia que ainda os separava, colando seus lábios aos dela, em um beijo terno e cheio de promessas.

Quando se afastaram, as respirações aceleradas e ofegantes, Robin encontrou os olhos castanhos de Regina, cheio de preocupações e duvidas que ainda não haviam sido sanadas.

— O que vamos fazer Robin? Meu casamento está marcado para daqui a dez dias e eu não...- as palavras dela morreram sem que a frase se completasse. Regina simplesmente não conseguia se obrigar a continuar a falar. Tinha medo de suas palavras, temia perder o amor novamente, temia sofrer de novo.

— Ei, para com isso. Não sofra assim, por antecipação. Você não vai se casar, eu prometo. – foi à resposta do loiro, que levou sua mão ao rosto de Regina e o tocou de leve, demonstrando um carinho extremo. – Não vou deixar isso acontecer, está ouvindo? Eu não vou desistir de você, nunca.

— Eu sei que não. Mas como vou me livrar desse casamento? Por mais que eu tente, simplesmente não consigo encontrar uma solução.  – falou a morena, em um tom triste que evidenciava toda a preocupação que sentia.

— Vamos embora. Vamos fugir pra longe daqui, Regina. Deixar tudo isso pra trás. Começar de novo, sem preocupações, sem medo. Só eu e você. O que me diz? Aceita? – disse Robin, finalmente deixando que a ideia de fuga, que o vinha atormentando durante todos aqueles dias de encontro furtivos, fosse colocado para fora.

Sim, eles tinham que fugir. Aquele era o único jeito de serem livres, de ficarem juntos. Era o único caminho que lhes restava, e ele esperava de todo o coração que Regina aceitasse sua proposta, mesmo sabendo o quanto essa história de fugir já tinha trazido coisas ruins para a vida dela.

— Fugir? E para onde nós iriamos? – questionou a morena, ainda ligeiramente incerta de que aquela ideia pudesse dar certo. Afinal, sua ultima tentativa de fuga acabara se revelando uma verdadeira tragédia, da qual ela ainda carregava as cicatrizes.

— Para qualquer lugar. Levantaríamos acampamento e simplesmente iriamos embora. Ninguém vai sentir falta de um ladrão como eu, e quando notarem sua ausência, já estaremos longe. Eu sei que está com medo. Sei que sua mente voltou a tudo que você já passou, a tudo que você sofreu. Mas confie em mi, esse é o único jeito. Precisamos tentar, temos que lutar por nós. – respondeu Robin, na esperança de que suas palavras fossem suficientes para convencer sua interlocutora que aquela era a melhor chance que eles tinham.

Lutar por nós. As palavras de Robin ressoaram na mente de Regina, que se perdeu em seus pensamentos. É claro que ele estava certo. Se ela queria realmente viver aquela historia, tinha que lutar por ela, mesmo que as probabilidades de sucessos fossem poucas, tinha que tentar. Se não fosse, se não aceitasse aquela proposta, o que lhe restaria? Um casamento de aparências? A solidão e a saudade, já que teria que assistir a Robin seguir em frente, seguir com sua vida, enquanto ela continuaria ali, vivendo uma vida que nunca tinha pedido.

Não, ele tinha razão, ela precisava escolher lutar por eles, lutar por si mesma, pelo que queria e pelo que sentia. Os tempos de lágrimas e lamurias estava terminando, era hora de recomeçar, e fugir de sua antiga vida era o primeiro passo para que isso acontecesse.

— Tudo bem. Então vamos embora, vou para qualquer lugar para o qual você me acompanhe. – declarou, abrindo um tímido sorriso. – Mas tem um problema. Todo o acampamento vai nos acompanhar? Não me leve a mal Robin, eu gostei de conhecer todos os seus amigos, mas tive a impressão de que alguns deles não gostaram muito de minha presença...- ela soltou as palavras, finalmente expondo em voz alta a preocupação que  assolava sua mente desde o dia em que Robin a levara para conhecer os amigos, algumas luas antes.

                                                                                      Alguns dias antes....

Regina sentia seu estomago se revirar, o nervosismo subindo por sua garganta e fazendo com que ela sentisse sua cabeça girar. Já faziam alguns dias que ela e Robin haviam iniciado um relacionamento real, bem diferente da amizade que os ligara inicialmente, e ela se sentia, pela primeira vez em algum tempo, genuinamente feliz.

O laço que compartilhava com o loiro era especial, o sentimento que nutria por ele crescendo a cada dia, se tornando mais forte a cada momento que compartilhavam. Por mais que tivessem temperamentos ligeiramente diferentes um do outro, os dois pareciam se completar, se entender de uma forma que ela nunca pensara ser possível, nem mesmo com Daniel.

Aquele dia, entretanto, nem a perspectiva de reencontrar seus amados oceanos azuis estava ajudando para que ela se acalmasse. Sentia a tensão e a ansiedade se acumulando dentro dela desde a noite anterior, o que era realmente péssimo. Em geral ela era uma pessoa segura firme em suas decisões e em suas ações, mas hoje em especial, a morena se sentia extremamente vulnerável, sem saber o que esperar.

No dia anterior, Robin a convidara para conhecer o acampamento onde estava vivendo com os amigos, dizendo que todos estavam ansiosos para conhecer a famosa Regina, e ela aceitara o convite, é claro.

Agora, que o momento havia chegado, porém, ela começava a se preocupar. Será que eles se importariam por ela ser uma princesa (se é que sabiam disso) ? Como será que ela seria tratada, como seria vista por eles? Seria bem recebida ou vista como uma intrusa?

Essas perguntas rodavam em sua mente enquanto ela caminhava distraída, deixando que seus pés a levassem pelo caminho que já sabia de cor, deixando que caminhassem ao encontro de Robin.

Seus passos foram interceptados por braços fortes que a seguraram pela cintura. Ela ouviu a voz dele, ao pé de seu ouvido antes que tivesse tempo de reagir a surpresa. – Um beijo ou a vida.

Antes de responder, ela se virou nos braços dele, envolvendo o pescoço de Robin com seus braços e fitando os oceanos azuis que faziam seu coração se agitar como um barco a deriva.

— Achei que fosse me esperar na clareira. – respondeu baixinho, aproximando seu rosto do dele.

— Eu ia, mas não resisti a encontra-la no caminho. Não sei o que você faz morena, mas não consigo mais ficar longe de você. – se declarou Robin, um belo e sincero sorriso brotando em seus lábios.

— Acho que estou sofrendo do mesmo mal. – falou Regina, eliminando a pouca distancia que ainda os separava e selando seus lábios aos do loiro.

Quando se separaram, estavam ofegantes e sorridentes, os corações batendo em um descompasso sincronizado e os olhares travando a sua própria conversa, o seu próprio dialogo silencio.

— Está pronta para conhecer os meus amigos? Tenho certeza de que vai gostar deles, são muito boa gente. – Robin recomeçou a falar, pegando a mão de Regina e voltando a andar na direção na qual ele e seu pessoal estavam acampados.

— Tenho certeza que sim. A única duvida é se irão gostar de mim. – soltou a morena, conseguindo finalmente expressar em voz alta as preocupações que a haviam assolado durante toda aquela noite.

— E porque não iriam gostar? Você é incrível, especial. Não tema, eles vão adorar você, eu juro que vão. – respondeu o loiro, tentando tranquilizar Regina.

Ele sabia que ela estava apreensiva, isso era natural, nunca é uma situação facil conhecer gente nova, mas tinha a certeza que aquele desconforto logo iria passar quando ela conhecesse o resto das pessoas que o acompanhavam.

Eram todos pessoas boas e corretas, cada um com a sua dose de peças cruéis pregadas pelo destino. A maioria ali não tinha mais família, ou se tinham eram desprezados por estas, então de certa forma, encontravam no grupo a sua família, o seu lar, e Robin tinha certeza que todos iriam receber e aceitar Regina muito bem, ou ao menos esperava sinceramente que isso acontecesse.

Andaram por alguns minutos em silencio, cada um formando as suas próprias expectativas sobre o que os esperava quando chegassem. O acampamento não era longe, e depois de uns 10 minutos de caminhada, os dois chegaram à entrada,  sendo recebidos por um sorridente Will Scarlet, que os recebeu com palavras alegres de boas-vindas.

— Finalmente a famosa Regina veio até nós! É um prazer conhece-la senhorita! – falou, aproximando-se do casal e os cumprimentando de forma afetuosa. – Você tem razão parceiro, ela é realmente muito bonita. – continuou, virando-se para falar com Robin, que apenas balançou a cabeça em um sinal de negação com os modos efusivos e amistosos do amigo, logo em seguida o apresentando a morena.

— Esse é Will Scarlet, ele é uma peste, mas trata todo mundo assim, como se os conhecesse a anos. – falou para ela, sem deixar de notar que ela estava um pouquinho vermelha, em um claro sinal de vergonha e constrangimento, mas do qual ela rápido se recuperou, retribuindo as palavras de Will, feliz com a recepção calorosa que estava recebendo. – É um prazer conhecer você também Will.

Enquanto a atenção de Regina estava concentrada em Will, os demais moradores do acampamento, os outros amigos de Robin, se aproximaram, e quando ela se deu conta, estava cercada de rostos desconhecidos. Alguns exibiam expressões de simpatia e olhares amáveis, enquanto outros ostentavam expressões de desconfiança e inquietação.

Sentindo-se ligeiramente desconfortável por ter todas as atenções voltadas para si, a morena apertou forte a mão de Robin, colando mais seu corpo ao dele em busca d conforto e tranquilidade. O loiro por outro lado, um pouco surpreso em notar que nem todos ali pareciam felizes com a chegada de Regina, passou o braço ao redor da cintura dela, em um gesto instintivo de proteção e cuidado.

Regina foi apresentada a cada um dos presentes, notando que a única mulher presente no grupo era uma moça morena e um pouco baixa, de nome Marian, que a recebeu com um sorriso amigável e palavras amáveis, mas que lhe dirigiu um olhar que podia dizer tudo, menos que ela estava feliz em conhecê-la.

Depois das apresentações, Regina, Robin, Will e dois outros homens se sentaram na grama verde, e ficaram por ali, conversando, enquanto os demais se espalhavam pelo acampamento, de volta aos seus afazeres.

Mesmo que tentasse se concentrar somente na conversa agradável e animada que estavam tendo, Regina estava percebendo que essa seria uma tarefa difícil. Por mais que tentasse não ligar, ela não era idiota, e notava os olhares furtivos e os cochichos que circulavam pelo lugar, e tinha certeza de que qual era o assunto: ela.

A morena não foi à única que notou o que estava acontecendo ao redor de sua roda de conversa. Robin percebeu de imediato o burburinho e os olhares de soslaio que algumas pessoas lançavam na direção deles, e não gostou nada do que estava vendo.

Ele podia entender que alguns deles ficassem um pouco mais reservados com a presença de alguém estranho, entendia até mesmo certo receio com relação à morena que estava ao seu lado, mas não podia crer no comportamento desconfiado que testemunhava naquele momento. Quando decidira levar Regina até ali para conhecê-los, e para que eles a conhecessem também, em nenhum momento imaginara uma situação tensa e desconfortável como aquela, começando a se perguntar se aquela fora realmente uma boa ideia. 

                                                                                                            Atualmente...

Regina foi retirada de seus devaneios sobre o dia em que conhecera os amigos de Robin pela voz do loiro, que voltava a falar com ela depois de alguns segundos de silencio arrastado.

— Sinceramente? Eu não sei se todos eles vão querer vir junto com a gente, e não posso obriga-los a isso. Não entenda como pessoal Regina, eles apenas não a conhecem direito ainda, e mesmo que isso seja errado, de certa forma a julgam por ser uma princesa, acham que você só me vê como um brinquedo, que irá me descartar assim que se cansar de brincar. – notando a expressão de verdadeiro horror que surgiu no rosto e nos olhos da morena, Robin interrompeu suas palavras, com medo d tê-la magoado de alguma forma, com medo de que ela achasse que aquilo era também o que ele realmente pensava sobre ela.

O loiro abriu a boca para recomeçar a falar, mas Regina foi mais rápida, deixando que as palavras fluíssem como sempre tivessem estado ali, apenas esperando o momento certo para serem ditas. – Não acredite nesse absurdo nem por um segundo Robin. Eu não ligo para luxos ou riquezas, nunca me importei com isso. Não me importo que seus amigos desconfiem de mim, de certa forma acho até natural que isso aconteça, afinal eles só me viram uma vez e não me conhecem, mas eu....- ela se interrompeu por um momento, lutando para que sua voz continuasse firme quando sentia seu coração se apertar com a simples possibilidade de que Robin desconfiasse dela, que duvidasse do que ela sentia.

Obrigando-se a se controlar, ela voltou a falar, repentinamente desesperada para que ele soubesse com toda a certeza tudo que ela sentia. – eu não vou aguentar se você desconfiar de mim Robin. Não vou suportar ver duvidas em seus olhos, porque o que sinto por você é real. É a única coisa real e verdadeira que sobrou em mim. – Regina despejou as palavras, sentindo-se um pouco mais leve assim que todas elas tinham deixado seus lábios. Sim, ela precisava dizê-las, tinha que ter certeza que nenhuma dúvida restasse, nenhuma sombra permanecesse entre eles.

Percebendo a inquietação e o desconforto que se apossara da morena, Robin se apressou em tranquiliza-la com gestos e palavras, falando em seu ouvido enquanto a abraçava forte, esperando que seu abraço fosse suficiente para que Regina ficasse mais calma, para que ela percebesse que em nenhum momento ele duvidara do que ela sentia.

— Eii, Ssshhh meu anjo. Não se preocupe com isso está bem? Esqueça essa besteirada toda, nada disso importa. Eu não tenho nenhuma duvida do que você sente por mim, nunca cheguei a ter. Eu conheço você Regina, conheço seu coração, e com o tempo eles vão conhecer também, e se não conhecerem paciência, eles é que estarão perdendo de ver a pessoa maravilhosa que você é.  – enquanto falava, o loiro se desvencilhou do abraço e encarou os olhos castanhos dela, segurando seu rosto com as duas mãos e acariciando as bochechas dela com delicadeza.  – Escute o que estou dizendo está bem? Nada disso importa. Vamos nos concentrar apenas em nós, e deixar que o resto do mundo se resolva por si mesmo, está bem? Promete pra mim que você não vai se deixar abalar pelo que aconteceu lá no acampamento. Não deixe que as pessoas digam quem você é morena. Mostre a eles o seu verdadeiro eu.

— Eu prometo. – Regina respondeu, bem baixinho, encostando seu lábios aos de Robin e deixando que suas preocupações, apreensões e temores desaparecessem, que tudo sumisse e só restassem eles dois, permitindo que tudo que sobrasse fosse aquele momento, aquele beijo.

—-------

— Onde você estava? – a voz de Cora chegou aos ouvidos de Regina assim que a morena abriu a porta de seu quarto, fazendo com que ela se sobressalta-se e girasse os olhos pelo aposento, a procura da figura alta e de cabelos ruivos feito fogo de sua mãe.

Não demorou a encontra-la, parada perto da porta da sacada, encarando a filha com uma expressão de desconfiança brilhando nos olhos frios. Desde a morte de Daniel, quase um ano antes, elas pouco tinham se visto, não trocando mais do que algumas palavras, e com aquele súbito reencontro, Regina desejou imensamente que as coisas tivessem continuado do jeito que estavam.

Simplesmente não conseguia olhar para Cora sem ver todo o mal que aquela mulher havia causado em sua vida. Não podia encarar o olhar de sua mãe sem que as imagens daquele dia horrível voltassem a sua mente. A morena sentiu uma forte náusea a atingir, sentiu sua cabeça girar e o chão oscilar sobre seus pés, mas se forçou a manter o controle, não queria mostrar nenhuma fraqueza diante da mãe.

— Acho que a pergunta certa a se fazer é o que você está fazendo aqui no meu quarto. Nunca te ensinaram que deveria bater no quarto e esperar que permitissem sua entrada antes de entrar em um lugar que não te pertence? – falou Regina, em um tom cortante, forçando a tontura e a náusea para longe de si e fechando a porta ao entrar no quarto.

O silencio pairou entre as duas por um momento, e Regina se sentou na cama, ainda encarando a mãe com uma expressão fria em seu olhar. Tudo que queria era descobrir logo o motivo da visita inesperada e fazer com que Cora fosse embora. Ficar no mesmo aposento que sua mãe, mesmo que fosse por poucos minutos, havia se tornado uma experiência deveras desagradável e sufocante, da qual ela desejava se livrar o mais rápido que pudesse.

Por fim a voz de Cora voltou a soar pelas paredes do quarto de sua filha, em um tom amável, mas que não escondia a pose de superioridade e orgulho que a mais velha sempre conservara. – Vim ver você, saber como estava. Faz tanto tempo que não conversamos filha. Eu sei que provavelmente você ainda está magoada comigo, por conta de seu casamento com o rei e também pelo que eu fiz ao seu...ao cavalariço, mas tente ver o meu lado. Eu só quero o melhor para você Regina, quero que tenha a sua melhor chance.

— Ah claro. Você só quer o melhor pra mim. E matar o homem que eu amava, ser a responsável por eu chorar praticamente todos os dias durante quase um ano, chorar até sentir que já estava seca por dentro, que não havia mais de onde tirar minhas lágrimas foi o jeito que você encontrou de me dar a minha melhor chance, acertei? Poupe-me dona Cora, eu sei muito bem que tudo que você fez não foi por mim, mas por você mesma. Afinal, com uma filha como Rainha você teria inda mais poder e influencia não é? – as palavras de Regina explodiram para fora, e a morena sentiu que finalmente estava liberando toda a mágoa e o ressentimento que sentia pela mãe, que finalmente estava conseguindo dizer tudo que precisava ser dito, tudo que estava trancado dentro dela há tanto tempo.

Diante das palavras de Regina, Cora sentiu seu coração afundar. De certa forma, sabia que a filha estava certa no que dizia. Por mais que amasse Regina, esse amor estava preso por amarras fortes, enclausurado pelo desejo de poder que a ruiva sentia. Sim, ela estava pensando no futuro da filha quando planejara o casamento dela com o rei, mas sua mente não estava somente nisso. Como mãe da rainha ela ganhara ainda mais notoriedade, influencia, riquezas...teria tudo que sempre quis para si, viveria seu sonho através de Regina, o sonho que lhe fora roubado tantos anos atrás.

Sem deixar transparecer o conflito de emoções pelo qual passava, Cora se aproximou de onde Regina estava, sentando-se na beira da cama enquanto pensava no que iria dizer para tentar se reaproximar de sua filha. Sabia que a morena estava sofrendo muito, e em parte se odiava por ser a grande responsável por todo aquele sofrimento, mas tinha esperanças de que ainda podia convencer Regina a acreditar em suas boas intenções, se usasse as palavras certas, talvez conseguisse se reconciliar com ela.

— Filha, me escuta. Eu sei que ai dentro você ainda está muito machucada, mas vai chegar o dia em que você vai perceber que tudo que eu fiz foi para o seu próprio bem, foi pensando no que é melhor pra você. Eu...eu sinto muito por toda a dor eu lhe causei, e peço desculpas. Peço perdão a você por meus erros, peço perdão por ter te causado tanto sofrimento... – falou, esperançosa de que suas palavras abrissem uma brecha no coração de Regina, um fiozinho que ela usaria para se reaproximar.

A morena permaneceu em silencio, sem saber o que dizer. Por mais que quisesse acreditar naquelas palavras, por mais que seu coração desejasse que sua mãe se mostrasse realmente arrependida, mas simplesmente sentia que seu desejo não era possível. Sabia que aquilo não era real, era como se pudesse ver o cérebro de Cora maquinando a melhor forma de sensibiliza-la, de fazê-la se abrir para uma reaproximação. Uma reconciliação para a qual ela não estava disposta. Não importava mais o que sua mãe dissesse, ela não conseguiria deixar de ver a luz se apagando dos olhos de Daniel quando ela o matara.

Interpretando o silencio de Regina como um sinal de que a filha estava começando a amolecer diante de seu pedido de desculpas, Cora se aproximou mais da morena, tocando seu ombro de leve e voltou a falar: - Por favor Regina, não me corte da sua vida desse jeito. Deixe eu voltar a fazer parte da sua vida, permita que eu cuide de você.

— Já está um pouco tarde para um pedido de desculpas, mesmo que ele fosse sincero, o que não é o caso deste aqui. Chega dona Cora. O tempo em que eu era uma menina ingênua que acreditava em cada palavra sua, ou realmente me importasse com o que você diz acabou. O que você fez não tem perdão, não tem justificativa. Nada do que você faz tem justificativa ou motivo, alias, tudo gira sempre em torno de acumulo de poder pra você. E eu simplesmente estou cansada de ser seu peão. Agora por favor, saia do meu quarto. Estou precisando descansar e você não é bem-vinda aqui. – foi à resposta de Regina, que se levantou da cama e foi se sentar na penteadeira, sem dirigir o olhar novamente na figura de sua mãe.

— Regina...- Cora começou a falar de novo, parecendo se dar conta de que uma reaproximação com sua filha seria bem mais difícil do que ela imaginara.

A fala da ruiva foi cortada pela voz de Regina, que saiu furiosa, como se toda a raiva e a tristeza que ela sentia explodisse naquela única palavra de quatro letras, atingindo sua mãe com força total. – Saia!  

Derrotada e sentindo que aquela era uma batalha perdida, pelo menos por aquele momento, Cora se levantou da cama e andou até a porta do quarto de Regina. Parou com a mão erguida para a maçaneta e se virou para fitar a figura de Regina uma ultima vez.

A morena continuou exatamente onde estava, sem mover um musculo, apenas esperando ouvir o barulho da porta se fechar quando sua mãe saísse por ela. Quando finalmente ouviu o clic metálico, ela finalmente se permitiu soltar o ar que estava preso em sua garganta. Finalmente se permitiu desabar, as lágrimas, suas velhas conhecidas, turvando sua visão quase que instantaneamente.

—---------

— Parabéns Cora querida, você conseguiu fazer com que sua filha a odeie com todas as forças. – a ruiva ouviu a voz de Rumplestilskin antes de vê-lo, sentindo seu coração se acelerar de imediato, em parte pela raiva que sentia por aquela criatura que parecia se divertir atazanando sua vida, e em parte porque, mesmo depois de todo aquele tempo, o maldito e repugnante sentimento ainda estava ali, por mais que ela se esforçasse para reprimi-lo, para fingir que não existia.

— E você está adorando essa situação não é? Está se divertindo em ver que ela está se afastando de mim. Está achando ótimo me ver sofrer, acertei? – falou a mulher, virando-se para encarar os olhos brilhantes e o sorriso zombeteiro do Senhor das Trevas.

— Você não sabe o quanto, queridinha. Ver você provando do próprio veneno é realmente espetacular! – foi à resposta de Rumple, em um tom de voz debochado e vitorioso. Ele não podia negar, ver a relação de Cora e Regina se deteriorar sem que ele precisasse se esforçar minimamente para que isso acontecesse era realmente gratificante, excelente, para dizer o mínimo.

— Porque você não me deixa em paz e volta pro inferno de onde nunca deveria ter saído?! – esbravejou Cora, momentaneamente se esquecendo de que eles estavam no corredor, em frente ao quarto de Regina, e que alguém poderia acabar escutando aquela pequena discussão.

— Sinto muito Cora, eu não atendo mais o seus pedidos como antigamente. – falou Rumple, rindo histericamente da expressão de raiva que via no rosto da mulher antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça negra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Quero muuito saber a opinião de vocês, o que estao achando e o que esperam para essa história, então espero ansiosamente por reviews!
Beijooos