Page 23 escrita por JM


Capítulo 5
V - Did you ever fall in love?


Notas iniciais do capítulo

Oiii oii pessoas!
Aqui está mais um capitulo pra vcs, e espero sinceramente que gostem!
Obrigaada a querida Cath Locksley Mills pelo comentario no capitulo anterior, obrigada miga, por todo o seu apoio e pelo carinho que vc tem comigo, e tbem com essa história!

Boa leitura a todos!



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— Vai sair de novo? – a voz de Will Scarlet chegou aos ouvidos de Robin quando este estava prestes a deixar o acampamento para encontrar-se com Regina. Ao ouvir que o amigo falava com ele, e sem deixar de notar o tom divertido da voz do outro, o loiro se virou para encara-lo antes de responder, encontrando Will parado a poucos metros da entrada do acampamento, um sorriso genuíno estampado em seu rosto.

— É, vou sim. – respondeu, ligeiramente incerto sobre o que dizer, sentindo o nervosismo e a ansiedade apertarem-lhe a boca do estomago. Desde o dia anterior, quando voltara do encontro com a morena que ele estava assim, irrequieto e ansioso, ansioso para descobrir quais surpresas a vida lhe reservava para aquele dia.

Quase não conseguira pregar o olho aquela noite, seus pensamentos indo e voltando para o sorriso doce e os olhos brilhantes de Regina, a imagem do quase beijo que acontecera na tarde anterior rodando em sua mente. Como ele queria que tivesse acontecido, como desejava ter podido provar do gosto dela, sentir seus lábios contra o dele...mas infelizmente não acontecera, e de certa forma ele se sentia com medo.

Como seria hoje? Como seria aquele novo encontro, depois do que havia acontecido entre eles? Será que Regina passara uma noite tão ruim quanto a dele, seus pensamentos também presos ao momento interrompido? A verdade era que ele não tinha como saber. Não tinha como ter certeza do que a morena sentia por ele. Tudo que lhe restava era ir ao encontro dela e esperar para ver o que iria acontecer.

Apesar de suas incertezas e inseguranças, no entanto, à noite mal dormida lhe servira para que ele tivesse certeza de uma coisa: nutria fortes sentimentos com relação a Regina, sentimentos que em certa medida o assustavam por conta de sua dimensão e de sua força, mas que eram inegavelmente presentes.

Robin foi arrancado de seus devaneios sobre o que sentia por Regina com a voz de Will Scarlet chegando aos seus ouvidos novamente. – Essa moça deve ser realmente especial hein? Nunca te vi assim, tão feliz, nem mesmo com Sarah. Parece que alguém finalmente conseguiu roubar o coração do ladrão. – brincou Will, recebendo um olhar de zanga como resposta.

— Eu não....- começou a responder o loiro, desejando dizer ao amigo que ele estava enganado, que não existia nada além de amizade entre ele e Regina, mas interrompeu suas palavras antes mesmo de pronuncia-las, sabendo perfeitamente que eram falsas.

Will tinha razão, Robin sabia disso. Aquela era a mais pura verdade: a morena roubara o coração do ladrão, e não havia mais nada que ele pudesse fazer quanto a isso, apenas ter a esperança de que em troca de seu coração, pudesse receber o dela.

Percebendo que o amigo ainda permanecia em silencio, a espera de sua resposta, o loiro voltou a falar, finalmente admitindo para Will, e para si mesmo, o que seu coração já sabia ser verdade há muito tempo. – É Will, você está certo. Parece que meu coração não me pertence mais.

— E eu estou extremamente feliz que isso finalmente ter acontecido. Já estava na hora de você deixar de ser esse solteirão sem graça. – brincou o outro, em um tom divertido e zombeteiro.

— Eu não vou me casar William, pare de criar fantasias. Por enquanto tudo que tenho dela é a amizade, o que já está muito bom. – respondeu Robin, em um tom de voz que mesclava zanga e divertimento.

— Você disse bem meu amigo. Você só tem a amizade dela, por enquanto. – foi à resposta de Will, frisando as ultimas duas palavras, como se quisesse dizer que aquela situação estava prestes a mudar. Notando as palavras não ditas na frase do amigo, Robin desejou intimamente que ele estivesse certo em suas previsões.

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Regina fechou a porta de seu quarto com cuidado e seguiu pelo corredor, desejando mais do que tudo sair logo daquele lugar, ir para longe daquelas paredes sufocantes que pareciam querer se fechar sobre ela.

Caminhava apressada, torcendo para que não encontrasse ninguém em seu caminho, para que pudesse sair do castelo sem ter que responder a nenhum questionamento.

Sentia seu coração acelerado martelar em seu peito, tendo como única companhia o som de seus passos precisos contra o piso de mármore. Sua mente girava, ainda perdida nas memorias da tarde anterior, presa no momento em que estivera presa aos braços de Robin, seu olhar fixo no dele.

Por mais que tivesse se esforçado, ela simplesmente não conseguia tirar aquela imagem de sua cabeça. Quase não conseguira dormir, passara a noite toda se revirando na cama, perguntando-se o que tudo aquilo significava, dividindo-se entre teorias e perguntas sobre como seria o encontro deles no dia seguinte e duvidas sobre o significado daquele sentimento que dia a dia ela sentia crescer dentro de si, parecendo ganhar mais força a cada hora que passava.

No fim das contas, ela tinha ao menos uma resposta, ou  parte de uma. Ela estava se apaixonando. Depois daqueles tempos de trevas e dores nos quais ela pensara que nunca mais seria feliz de novo, que não teria mais a chance de viver um amor, ali estava ela, deixando que suas defesas fossem desfeitas, tornando-se vulnerável para alguém de novo, abrindo mão de seu coração sem saber com certeza o que seria feito dele. O mais estranho de tudo isso era que, por mais que sentisse medo com  que poderia acontecer e com o que teria que enfrentar caso decidisse viver esse amor nascente, ela estava surpreendentemente feliz.

Agora faltavam poucos passos para que ela alcançasse a porta lateral do palácio, a saída mais rápida para fora daquele labirinto irritantemente grande onde ela vivia desde que se entendia por gente.

Antes que alcançasse a porta, no entanto, uma vozinha fina de criança a chamou, fazendo com que ela estacasse onde estava e se virasse para trás, para a pequena Snow White, que a encarava com os olhos brilhantes e um sorriso enorme.

Pobre criança, mal imaginava que até umas duas semanas atrás o maior desejo de as futura madrasta era se vingar, fazer com que ela pagasse por ter a língua grande e por ter estragado sua vida, faze-la pagar por não saber guardar um segredo.

Diferentemente do que geralmente acontecia quando encontrava a menina, no entanto, Regina não foi mais acometida por uma onda de raiva ou revolta. Não, tudo que ela sentiu naquele momento foi pena, tristeza e culpa.

Em que tipo de monstro a dor a estava transformando, para que ela jogasse toda a culpa por sua infelicidade nos ombros de uma pobre garotinha? Uma criança, que pensara que a estava ajudando e fora manipulada por Cora? Não, Snow não tinha culpa alguma. A única responsável por tudo de ruim que tinha acontecido em sua vida até aquele dia era sua querida mamãe, e era dela que Regina queria manter a maior distancia que pudesse.

— Snow querida! Como você está? – perguntou à morena, aproximando-se da menina e lhe dando um abraço afetuoso, que tentava de alguma forma, servir como um gesto de desculpas pelo modo frio como a tinha tratado desde a morte de Daniel.

— Estou bem. Estava com saudades de você! Moramos no mesmo lugar agora, e mesmo assim, não a vejo muito. – respondeu a garota, abrindo um largo sorriso e retribuindo o carinho que recebia.

— Sinto muito por isso, querida. Prometo que vamos passar mais tempo juntas, está bem assim? – falou Regina, recobrando o afeto que inicialmente sentira pela menina. Snow era realmente uma criança afetuosa e encantadora, era muito difícil encontrar alguém que não gostasse da pequena princesinha.

— Tudo bem! – foi à resposta de Snow, aumentando ainda mais seu largo sorriso. – Está indo passear? – perguntou em seguida, indicando com a cabeça a porta para a qual Regina se dirigia antes de ser interceptada por ela.

Diante da pergunta da menina, Regina sentiu seu corpo irrigecer, a tensão a atingindo em cheio. Ela não podia dizer para Snow onde estava indo, muito menos quem iria encontrar. Por mais que estivesse deixando de considera-la culpada pelo que havia acontecido, já tivera provas suficientes de que sua mãe sabia muito bem como manipular alguém, e não queria de jeito algum que Cora descobrisse sobre ela e Robin.

— Vou dar uma volta. Estou precisando de um pouco de ar fresco e, como muito em breve vou me tornar rainha, achei que faria bem se saísse um pouco e conhecesse a realidade dos camponeses. – respondeu, sentindo seu estomago se embrulhar com as próprias palavras.

— Posso ir com você? – a fala de Snow fez com que Regina sentisse sua garganta se fechar por um instante, um suor frio brotando em sua pele. Sem que realmente pensasse sobre n que sentia, uma pontinha da antiga raiva que sentia pela garota se reacendeu. Porque Snow tinha que ter aparecido justo naquele momento?  Porque tinha que querer acompanha-la, só para complicar as coisas?

Respirando fundo e controlando o que sentia, a morena sentiu a raiva aos poucos evaporar de sua mente, ficando mais tranquila. Não, ela não tinha que pensar daquela forma. Snow não tinha como saber para onde ela estava indo. Apenas oferecera sua companhia por querer agrada-la.

— Obrigada pelo carinho querida, mas desta vez prefiro caminhar sozinha está bem? Prometo que da próxima vez te levo comigo e que quando voltar vou ao seu quarto pra brincar com você. Está bem assim? – falou, torcendo para que suas palavras fossem suficientes para dissuadir Snow da ideia de acompanha-la.

— Tudo bem. Boa sorte na caminhada! – respondeu a menina, dando-lhe um rápido abraço e se virando para o outro lado. Sem saber exatamente porque, Regina esperou até que Snow estivesse novamente dentro do castelo para se virar e seguir porta a fora, sua mente rapidamente retornando para o que a esperava além daqueles muros.

—------

Robin chegou primeiro na clareira onde havia dado aulas de arco e flecha para Regina no dia anterior, e sentou-se em um toco de arvore para esperar que ela chegasse, sentindo seu corpo reclamar pela noite mal dormida.

Seu coração e sua mente continuavam um turbilhão, e ter finalmente aceito que nutria um sentimento forte pela morena não parecia ter ajudado muito para atenuar o seu estado de confusão.

Sim, ele tinha certeza do que sentia, e sim, ele sabia que Regina sentia algo por ele também, mas as duvidas e os medos ainda estavam ali, zonzando feito moscas ao redor de um pote de mel.

A verdade era que ele não sabia muito sobre Regina. As conversas que haviam travado durante aqueles dias haviam sido na maioria sobre assuntos banais, e por mais que aos poucos ele estivesse aprendendo a desvenda-la, a conhecer suas expressões e seus olhares, o fato era que não sabia praticamente nada sobre ela, e vice-versa.

Antes que pudesse pensar mais sobre o assunto ou decidir o que faria para que aquela situação se alterasse, como faria para descobrir mais obre a estonteante morena que lhe roubara os pensamentos, Robin ouviu passos que se aproximavam, e sua visão se escurecendo de imediato.

— Adivinhe. – falou Regina, bem baixinho, perto do ouvido dele. Mesmo que ela não tivesse dito nenhuma palavra, ele teve certeza de que saberia a resposta só pelo perfume. O perfume característico dela, que inebriara seus sentidos logo que seus olhos haviam sido tapados pelas mãos da morena.

Sem responder, Robin ergueu suas mãos e as pousou nas mãos dela, que ainda vendavam seus olhos. Ao sentir o toque dele em sua pele, Regina estremeceu de leve, sentindo um arrepio percorrer seu corpo, seu coração se acelerando de imediato, como se pretendesse saltar para fora de seu peito.

— Eu não sou muito bom em jogos de adivinhação sabe? Prefiro um jogo de perguntas e respostas. O que acha? – perguntou o loiro, enquanto falava tirando as mãos dela de seu rosto e a guiando até que Regina estivesse de frente para ele, encarando novamente aqueles oceanos azuis que lhe roubavam o ar.

— Me parece um jogo lega. Regras? – foi a resposta da morena, sentando-se na grama verde de frente para o loiro. Assim como Robin, Regina estava ansiosa para descobrir mais sobre ele, queria conhece-lo de verdade, e aquela brincadeira lhe parecia ser a oportunidade perfeita para que isso acontecesse.

O loiro permaneceu em silencio durante um momento, pensando em como aquela dinâmica poderia funcionar, feliz por Regina ter aceitado participar. – Uma pergunta para cada um por rodada. Dizer somente a verdade. Concorda? – falou por fim, não conseguindo pensar em mais nenhuma regra que achasse necessária.

— Concordo. Quem começa? – respondeu a morena, animada com a possibilidade de conhecer mais sobre aquele loiro que invadira seus pensamentos.

— Damas primeiro. – disse Robin, abrindo um largo sorriso, curioso para saber qual seria a primeira pergunta que Regina iria lhe fazer.

— Sempre um cavaleiro não é?! – começou a falar a moça, pensando no que mais queria saber a respeito de Robin. -   Qual a sua cor favorita?

— Sério? Minha cor favorita? Essa é a primeira coisa que quer saber sobre mim? – questionou o loiro, um riso divertido ecoando em seus lábios, ligeiramente surpreso por aquela ser a pergunta escolhida. Estava esperando que Regina fosse começar com uma pergunta mais seria, mais intima, sobre sua família talvez...mas não, ela optara por sua cor favorita.

Diante da reação de Robin, a morena não conseguiu reprimir sorrir também, dizendo logo em seguida: - Não zombe de mim! A cor favorita de alguém diz muito sobre uma pessoa sabia? Mais do que você pode imaginar. Veja o meu caso por exemplo: minha cor favorita é o preto. O que sugere que sou uma pessoa que absorve tudo, tal como a sombra da noite absorve a luz do sol. Sinto tudo com muita intensidade, muita força. Tenho dificuldade para controlar meu temperamento, tenho medo de perder...medo de me perder de mim mesma.

Robin ouvia fascinado, encantado com como Regina podia extrair informações sobre alguém apenas sabendo a cor favorita dessa pessoa. Estava impressionado com a sutileza, a delicadeza que ela usara em suas palavras, falando de si mesma sem medo de ser julgada, dizendo o que sente sem se importar com quem a houve.

— Isso é impressionante milady. Me ensinou muito sobre você, e eu nem mesmo tive que fazer uma pergunta. – brincou o loiro, em um tom de voz delicado e gentil, que demonstrava a veracidade de suas palavras. – E você me convenceu. A cor favorita de alguém é realmente importante, e a minha é o vermelho. O que isso diz sobre mim? – perguntou, ansioso para saber o que ela leria sobre ele com aquela informação.

— Escolha interessante. E acredite, isso diz muito sobre você, mas não vou revelar minhas descobertas. Agora é a sua vez de fazer uma pergunta. – foi a resposta da morena, que abriu um largo sorriso, os pensamentos ainda presos a resposta de Robin.

Vermelho. Isso realmente dizia muito sobre a pessoa que ele era. Tal como ela, o loiro provavelmente era uma pessoa que sentia tudo com muita intensidade, alguém que amava e lutava por seus amores. Uma pessoa que defende os seus valores e vive por eles. Alguém justo, mas que não perdoa com facilidade. Não, Robin não tinha noção da quantidade de informação que ela conseguira com aquela simples resposta.

— Certo, você me pegou desta vez. – o loiro começou a responder, ainda sorrindo. – Como é a sua família? Como é a sua relação com seus pais?

— Robin seu ladrão! Você fez duas perguntas em uma, isso não é justo! – resmungou a morena, exibindo uma expressão de falsa irritação que logo se desmanchou em uma gargalhada. – Mas tudo bem, como sou uma pessoa muito legal, vou responder as duas. Minha família é pequena, mas não se engane por sermos poucos, temos a nossa cota de confusões e mágoas. Somos só eu, meu pai e...- por um momento Regina parou de falar, seu pensamento se prendendo a figura de Cora, sua mãe, a mulher que fora responsável por tanta dor e sofrimento em sua vida, e ela não conseguia forçar a deixar que as últimas palavras deixassem sua garganta. Por fim, respirou fundo e terminou sua frase. - ...e minha mãe. Minha relação com meu pai é maravilhosa, ele sempre me apoiou em tudo, sempre procurou me entender. Já minha mãe...digamos que ela é uma pessoa um pouco mais difícil de se lidar.  

Percebendo o desconforto e a tristeza que haviam se instalado nos lindos olhos da morena, Robin se odiou por ter feito aquela pergunta, por ter trazido lembranças amargas à mente da morena. Porque ele não perguntara algo simples? Porque não perguntara sobre a comida favorita dela, ou seu maior sonho? Porque tinha escolhido começar logo com a família?

Mesmo com essas perguntas girando em sua mente, o loiro sabia perfeitamente bem a resposta para a última delas. Perguntara sobre a família de Regina porque há muito tempo deixara de ter a sua, e queria um gostinho daquela vida familiar, queria se lembrar como era ter alguém que cuidasse e se preocupasse com o seu bem estar. Queria se lembrar como era não estar sozinho.

 Afastando suas próprias lembranças dolorosas, Robin olhou para a morena a sua frente, percebendo que ela continuava em silencio, parecendo perdida em seus pensamentos. Sentindo-se mal pela pergunta que havia feito, ele voltou a falar, esperando que as palavras conseguissem distrair Regina das memórias que enchiam seus olhos de pesar. – Desculpe por isso. Eu não tinha ideia de que falar sobre sua família pudesse lhe trazer algum desconforto.

Sensibilizada com a preocupação demonstrada pelo loiro, Regina levantou o olhar e seus olhos encontraram os dele, o que a fez abrir um tímido sorriso. – Não tem problema, foi bom falar sobre eles, mesmo que eu não tenha apenas coisas boas pra dizer. Vamos continuar? É a minha vez de fazer uma pergunta, certo?

— Certo. – respondeu Robin, sentindo certo alivio invadir seu coração ao notar que Regina parecia bem.

— Qual a história por trás dessa tatuagem de leão? Porque você a tem? – perguntou, deixando que a curiosidade guiasse suas palavras.

Aquela foi à vez do loiro de ficar em silencio, perdido em seus próprios pensamentos, em suas próprias memórias. Depois de se passarem um ou dois minutos durante os quais Robin permaneceu em silencio, pensando no que iria dizer, ele finalmente começou a falar, decidido a contar tudo desde o começo. 

— Meu pai. Ele morreu quando eu tinha sete anos, e quando estava morrendo, em um dos últimos momentos em que estive em sua companhia, ele contou uma história. Me disse que era uma lenda antiga, sobre um homem corajoso e forte, que se sacrificou por quem ele amava. Segundo meu pai, a moça que ele amava havia sido enfeitiçada, e para quebrar o feitiço era exigido um sacrifício. Ele teria que se deixar transformar em um leão, que seria morto e servido e um jantar para o seu povo. Para salvar a mulher que amava, ele aceitou e foi enfeitiçado, morto e servido como alimento. A moça voltou a seu estado normal e chorou por dias, pedindo que seu amado retornasse. Ele não voltou, e ela passou o resto de seus dias vivendo sozinha, sonhando com o dia que o reencontraria. Até que um dia ela acordou diferente, leve e transparente. Quando olhou para baixo, viu seu corpo velho desacordado na cama, mas quando se olhou no espelho estava jovem novamente. E seu amado estava lá, parado na porta do quarto, observando-a, de braços abertos para recebê-la. Ele a esperara todos aqueles anos, estivera com ela em cada momento, mesmo que ela não pudesse vê-lo. Quando meu pai me contou essa história, pediu que eu fizesse a tatuagem, para que eu me lembrasse de lutar por quem tivesse o meu coração, para que eu me lembra-se de nunca desistir de quem eu realmente me importasse.

— Que história mais linda. Sobre amor verdadeiro, confiança, destino...são tantas as lições que podem se tirar dessa história, não é? – Regina se pronunciou, visivelmente emocionada.

— Sim....de certa forma ela me serve como um lembrete sabe? Um lembrete dos ensinamentos do meu pai e do que ele representou na minha vida....mas chega de falar de mim. Está na hora de voltarmos a falar de você. Minha vez de fazer perguntas. – falou o loiro, pensando em qual seria a próxima pergunta que faria a morena.

Sem que ele realmente pensasse no que estava dizendo, como se as palavras saltassem de seus lábios por vontade própria. – Você já se apaixonou por alguém?

A pergunta fez com que Regina sentisse como se todo ar tivesse sido tirado de seus pulmões. Ela sentiu seu coração gelar, o rosto de Daniel voltando a sua mente instantaneamente e fazendo com que lágrimas brotassem em seus olhos.

Sim, ela já se apaixonara. Sim, ela já entregara seu coração a alguém, e realmente acreditara que pudesse ser feliz. Acreditara que o amor seria sua força, e que faria de tudo por ele. Mas o destino fora bastante eficiente em mostrar que ser feliz e lutar pelo amor não era tão simples quanto ela imaginara. E ela falhara, perdera a batalha e deixara seu amor partir.

— Eu....já. já me apaixonei uma vez. – respondeu simplesmente, ainda sem saber se era seguro falar mais sem deixar que as lágrimas que se acumulavam rolassem por seu rosto.

— E o que aconteceu? – Robin perguntou, levantando-se do toco onde estivera sentado até aquele momento e se sentando ao lado de Regina na grama. Aquele gesto foi suficiente para que a morena compreendesse que já não estavam mais jogando. Aquela era uma conversa seria, ele realmente queria saber o que aconteceu, e surpreendentemente, ela estava disposta a falar. Mais do que isso, Regina precisava falar, desabafar, se abrir com alguém, e naquele momento percebeu que não tinha pessoa melhor do que Robin para quem ela poderia se abrir.

— Eu o perdi. Minha mãe não aprovava nosso relacionamento, achava que eu merecia alguém melhor, com posses e títulos, mas eu nunca liguei pra isso sabe? Pra mim tudo que conta é o amor. E bom, eu estava vivendo um amor com ele. Quando minha mãe decidiu que seria uma ótima ideia me tornar noiva do Leopoldo, uma vantajosa aliança politica construída a partir do casamento, nós decidimos fugir. Iriamos para bem longe, sumir no mundo, desaparecer das vistas da minha mãe, mas...- Regina se interrompeu novamente, sem saber se conseguiria continuar. Falar trazia lembranças dolorosas demais, era como jogar sal em uma ferida aberta. Ela sentiu seu coração queimar e quis gritar, implorar para que aquilo parasse, para que a dor fosse embora, mas ela continuou calada, e a dor continuou ali, no mesmo lugar em que sempre estivera desde a morte de Daniel, fazendo seu coração sangrar. As lágrimas finalmente vieram. Primeiro uma única, solitária e sofrida, mas que logo foi seguida por outras mais, tão doloridas e quentes quanto às outras.

Ao vê-la daquele jeito, tão desolada, ferida, Robin sentiu seu coração se apertar, como se fosse ele quem sofresse, e não ela. Tudo que ela mais desejou naquele momento foi poder fazer alguma coisa para que ela se sentisse melhor, para que ela soubesse que não estava mais sozinha, que não precisava mais guardar tudo apenas para si mesma. Mesmo que lhe doesse, entretanto, ele sabia que ela precisava continuar, precisava por tudo pra fora.

Com o objetivo de conforta-la, de dar apoio a ela e dizer que estava ali para ouvir o que ela tinha a dizer, o loiro estendeu sua mão e pegou a dela, segurando-a junto a sua com extrema delicadeza e carinho. – O que aconteceu depois? – perguntou baixinho, esperando que a morena voltasse a falar, e foi exatamente o que ela fez.

— Nós planejamos tudo, estávamos prontos pra partir, mas a minha mãe apareceu. Ela...ela me enganou. Disse que aceitava meu relacionamento, que não iria mais tentar interferir na minha vida, que só tinha aceitado o noivado com o rei porque pensava no meu melhor. Falou que eu estava livre, que podia ir embora e viver minha vida com quem eu escolhera, e eu...bom, eu acreditei nela. Ela se aproximou dele, disse que queria lhe dar um abraço e um conselho. Eu podia ter impedido que ela se aproximasse Robin, podia ter desconfiado dela, mas não foi isso que aconteceu. Eu acreditei nela e ela se aproximou dele e arrancou seu coração, esmagando-o com suas próprias mãos. Eu gritei, implorei para que ela parasse, para que o deixasse em paz, mas ela não quis me ouvir. Eu...eu não pude fazer nada. Eu o vi morrer por minha culpa Robin, porque eu o amava ele morreu e eu não fiz nada para impedir.

As últimas palavras foram as mais difíceis de serem ditas, mas depois que tudo havia saído, que ela admitira em voz alta a culpa que carregava dentro de si, Regina sentiu seu coração um pouquinho mais leve. A culpa e a tristeza ainda estavam ali, e ela suspeitava de que ficariam para sempre, mas de certa forma um capitulo estava se encerrando. Ao menos agora seu fardo não era unicamente seu, tinha alguém que conhecia sua história, alguém que instintivamente ela sabia que estava disposto a ajuda-la.

Por um momento Robin permaneceu em silencio, estagnado, processando tudo que ouvira Regina dizer, pensando na melhor forma de conforta-la, de tirar ao menos um pouco daquela imensa dor que ela carregava. Ele sabia que ela se sentia culpada, responsável pelo que acontecera, mas na perspectiva na qual ele via os acontecimentos que a morena havia narrado, ela era apenas mais uma, e talvez a principal, vitima das crueldades que sua mãe havia cometido.

— Ei, olha pra mim. – falou o loiro, se aproximando ainda mais de Regina e tocando seu queixo com a mão livre, fazendo com que ela virasse o rosto e o encarasse nos olhos. Antes de continuar a falar, Robin limpou delicadamente uma lágrima solitária que escorria pela bochecha dela, afagando seu rosto com extremo carinho.

— Me escuta: sei que você sente culpa, acha que tudo aconteceu por causa das suas escolhas, mas o mundo, o destino, não é tão seletivo quanto gostamos de pensar Regina, Coisas ruins acontecem com pessoas boas, enquanto pessoas que não são tão boas quanto deveriam continuam por ai, vivendo suas vidas como se nada tivesse mudado. Mas você não pode carregar a culpa de tudo que acontece ao seu redor. Não pode carregar o fardo do mundo entende? Você é tão vitima em tudo que houve quanto o homem que era possuidor de seu amor. Não se culpe dessa forma. Não desista de viver, não viva pela culpa, porque eu prometo uma coisa: não vou desistir de você. – falou, colocando seu coração em cada palavra que dizia, torcendo para que Regina o aceitasse e deixasse que ele cuidasse e curasse aquelas feridas, que pareciam tão recentes e profundas.

As palavras de Robin fizeram com que a morena sentisse um leve sopro de esperança se inflar para o seu coração. Ele dissera que não iria desistir dela. O que isso significava? Que ele sentia o mesmo que ela? Que eles teriam uma chance, ou melhor, que ela teria uma nova chance de viver o amor?

— Você já se apaixonou Robin? – as palavras saíram de sua boca sem que ela realmente tivesse pensado nelas. De repente, queria saber tudo da vida do homem que estava sentado ao seu lado, segurando sua mão. Queria cada detalhe, cada qualidade e cada fraqueza. Desejava que ele fosse para ela um livro aberto, assim como ela acabara de se tornar para ele.

A pergunta da morena o pegou de surpresa. Sim, ele pensara ter se apaixonado uma vez, com Sarah. Mas a verdade era que os dois nunca chegaram a viver esse amor, não houve nem mesmo tempo para que ele tivesse certeza do que sentia ou se ela sentia o mesmo. Mas agora, com Regina, ele não tinha mais duvidas ou questionamentos.

Nunca se sentira daquela forma antes, tão vulnerável e ao mesmo tempo tão forte. Sentia que não tinha mais controle sobre o seu coração, que ele agora pertencia a linda morena de olhos castanhos. Sem precisar se perguntar como ou porque, teve certeza de que faria qualquer coisa por ela, que viveria para ver um sorriso brilhar naqueles lábios, para fazê-la feliz.

Ele não respondeu de imediato. Ao invés disso, se aproximou ainda mais dela. Agora poucos centímetros os separavam um do outro. Seus corações se aceleraram, parecendo encontrar seu próprio e único ritmo. Suas respirações se misturaram, e tal como acontecera antes, o azul se confundiu com o castanho e o castanho se fundiu ao azul.

— Estou prestes a descobrir. – Robin finalmente deu sua resposta para a pergunta que Regina havia lhe feito. Agora não havia quase nenhuma distancia entre eles. Regina sentia o coração de Robin martelar contra o seu, enquanto ele sentia a respiração quente e acelerada dela bater em seu rosto, leve como uma brisa de outono.

Seus rostos estavam praticamente colados um ao outro, as testas encostadas, os narizes se tocando de leve. Robin sentiu a maciez da pele da morena, quente e ainda molhada pelas lágrimas. Regina por sua vez, sentiu o contato da fina barba do loiro contra sua pele.

Seus lábios se procuraram feito imãs que se atraem, e se colaram um ao outro. Inicialmente, foi apenas isso, a união de seus lábios em um selinho temeroso, como se cada um deles esperasse para ver qual seria o próximo passo, para descobrir o que aconteceria.

Mas depois desse contato inicial, todo o resto se apagou de suas mentes. Todas as preocupações, os temores, as culpas e as incertezas que carregavam foram esquecidas, simplesmente desapareceram, como se nunca houvessem estado ali.

O que começara como um simples encostar de bocas se transformou em um beijo apaixonado, um primeiro beijo recheado de promessas e esperanças. Robin sentiu como se pudesse flutuar, enquanto Regina sentia como se pela primeira vez depois de muito tempo estivesse de volta a terra firme.

O beijo aos poucos se intensificou, o desejo, a fome que sentiam um do outro, crescendo a cada segundo que passava. As mãos de Regina foram parar no cabelo e no pescoço de Robin, e ela o puxou para ainda mais perto. Queria senti-lo, saber que aquele momento era real. O loiro, por seu turno, obedeceu ao comando que lhe era dado, e colou ainda mais seu corpo ao da morena, uma de suas mãos presa aos longos cabelos dela enquanto a outra descia por suas costas, prendendo-a a ele.

A necessidade de ar finalmente se fez presente, e eles se afastaram alguns centímetros, arfando, tentando puxar o ar de volta aos seus pulmões. A mão direita de Robin passeou pelos cabelos da morena, tirando uma mecha do rosto dela. Ele voltou a unir sua testa a dela, um sorriso largo brotando em seus lábios.

— Sim Regina, eu já me apaixonei. Aliás, isso acabou de acontecer. – respondeu, olhando fundo nos olhos castanhos que descobrira amar, e encontrando ali a resolução para a pergunta que não fora feita, mas para a qual os dois sabiam a resposta.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Estou ansiosa pela opinião de vocês, então mandem um oi pra mim ok?!
Beijooos