Depois disso virei uma garota depressiva. Tentava ser normal o máximo possível na frente das pessoas, mas sofria ao pensar que tinha que escolher entre os dois homens que mais amei na minha vida.

-Larissa, não precisa fingir que não está sofrendo. – Disse Jenny quando me pegou de surpresa chorando na frente do espelho no banheiro.

-Desculpa, Jenny, mas me sinto tão... horrível. Me sinto um monstro ao pensar como deve ser amar alguém e essa pessoa não saber se te ama do mesmo jeito. Acho que não mereço nenhum dos dois...

-Não diga besteiras. Isso acontece com qualquer um. E se não der certo, bem, você não tá casando com o cara, vai só namorar ele. E mesmo que tivesse casando, divórcio é tão mais fácil hoje em dia...

-Mas mesmo assim... A gente não tá falando de namorico de adolescente, é amor. Amor mesmo. Porque minha vida nunca é fácil, hein? – Disse isso brincando, mas com um misto de verdade.

-Viver nunca é fácil amiga – Jenny me abraçou – Mas não se preocupe, a gente dá um jeito. E se não der certo com nenhum dos dois, bom, você ainda tem a mim, não é?

-É claro, um dia ainda caso com você.

-Com certeza, a duvida é quem seria o marido e a mulher aqui – Ela disse já de costas para mim e saindo do banheiro.

#

As coisas pioraram depois daquele dia. Voltando para casa, Andrew falava como o habitual, mas de uma hora para a outra começou a me dar indiretas:

-Hein, não acha que as garotas do colégio esperariam você na porta depois de terminar a aula pra te bater?

-Porque elas fariam isso?

-Ué, porque não agüentariam te ver com o cara aqui, não é baby?

-Nossa, garanhão, tá todo mundo derretido por você.

-Fala sério, eu sou o cara, todas me querem. Mas não entendem que eu só quero uma – Ele me puxou para perto, com aquele sorriso de galanteador que adorava fazer.

-Me solta, seu safado – Eu me soltei dele e nós dois rimos. Continuamos o caminho, mas Andrew não falou mais nada, o que achei estranho.

-O que aconteceu pro senhor fechar a matraca subitamente?

-Eu ando meio pensativo ultimamente.

-Sério? Não deu pra perceber.

-Haha, acha mesmo que só porque fico falando quer dizer que não penso?

-Olha... quer que eu realmente responda? – Ele me deu um tapinha de leve no braço. Demos mais uns cinco passos e ele parou de andar.

-Sasá, eu preciso te confessar uma coisa. – Estava de cabeça baixa, e eu estava com medo do que viria a seguir.

-O que foi Dedé?

-Eu... eu sei. Sei que sou um idiota.

-Do que está falando?

-Egoísta. Egoísta e imaturo. É isso que sou. Por não querer somente o seu bem. Por querer apenas o que eu desejo. Não sou o homem perfeito. Não sou nada assim. Sasá – Ele segurou minhas mãos, e percebi que se continha para não chorar.

-Andrew, o que está acontecendo, o que você tá querendo dizer com isso?

-Sasá, eu sou horrível. Horrível por tentar negar o que sentia por você, horrível por fazer tanta porcaria pra você, dizer aquelas idiotices, pegar outras garotas enquanto você tava aí, do meu lado, desde o inicio. Eu fui muito sem noção, e hoje sei que aquele dia que apostei, que corri atrás de você no caminho pra casa, de conversar contigo e incomodar até você fazer aquele beicinho lindo, foi pra tomar vergonha da cara e crescer.

-Andrew...

-Não, escuta. Deixa eu terminar de falar, se não não vou conseguir. Sasá, eu fui uma criança, um inútil desde sempre, e foi você que me mudou. Foi por sua causa que eu mudei, que eu vi meus erros, que eu percebi como sou idiota e cabeça dura. Sasá, eu te amo mais do que algum dia já amei alguém, eu nunca amei ninguém. Se o que eu sinto por você é amor, então eu realmente nunca, nunca amei ninguém. Esse sentimento, essa dor na barriga quando eu vejo você, essa dor no peito quando penso em você junto daquele retardado do David... desculpa dizer isso, mas estou sendo sincero, e o David é um retardado sim. Eu te amo Sasá, te amo muito. E... quanto ao egoísmo... não vou pedir desculpas por ser assim, e vou continuar sendo egoísta, querendo você só para mim, apenas minha, de mais ninguém. Mas quando eu perceber que não está mais dando certo, e perceber que você já não é só minha e que nunca mais a terei... bem... não irei prender você, e desejarei, com rancor, toda a felicidade para você e qualquer que seja o homem que você decidir. Ou garota, não me importo. Até o David, se você acabar ficando com ele. Mas enquanto eu puder lutar, eu vou lutar. Eu te amo, Sasá.

-Dedé! – Então eu caí nos braços de Andrew e chorei até não poder mais. Ele me abraçou forte, e quando o olhei novamente, seus olhos estavam vermelhos, mas secos. Andrew segurou delicadamente meu queixo, sorrindo um pouco.

-Me arrependo de não ter percebido tudo antes desse idiota aparecer na sua vida.

Eu molhei mais um pouco a camisa de Andrew com minhas lágrimas, e logo depois continuamos a caminhar. Na nossa esquina, Dedé me abraçou de novo e me beijou na bochecha, sorrindo. Um sorriso triste, vago, mas que reconfortou meu coração.

Enquanto isso, David estava do outro lado da calçada, olhando distante tudo que ocorria à minha volta.