A Rainha da Beleza escrita por Meewy Wu


Capítulo 9
IX - Sob as Máscaras




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718603/chapter/9

Eu queria poder dizer que eu não era esse tipo menininha boba. Queria dizer que eu tinha um nível de maturidade maior do que esse e que não estava agindo exatamente do jeito que todas as meninas que me esnobavam em Corippo agiam. E eu queria poder dizer que eu não fiquei pensando no príncipe até pegar no sono.

Mas eu realmente não podia dizer nada disso.

No dia seguinte as gêmeas ainda estavam terrivelmente adoentadas, vomitando aos baldes e com febre alta na cama. Ajudei Alicia a cuidar delas boa parte da manhã, e finalmente elas tinham pegado no sono. Infelizmente, como eu tinha que estar 100% para o baile daquela noite, Alicia acabou me fazendo ficar sem as aulas do dia.

Todas as meninas estavam muito ocupadas com as próprias atividades para me fazer companhia, então acabei pegando o diário de Catherine Parish e na esperança de consegui lê-lo sem Romeu se esfregando nas minhas pernas acabei indo para a sala de estar, encontrando Annie olhando televisão no mudo.

—Ah, oi - falei, sentando no outro sofá e encolhendo as pernas.

—Oi - ela respondeu, sem se virar para mim. Abri o livro, e fechei de novo, olhando para ela e depois para a tela da televisão. Na tela um grupo de pessoas bebia algo de uma lata vermelha, riam e brindavam ao por do sol. Fiquei curiosa, mas não perguntei a ela o que era aquilo. Em vez disso, minha boca se moveu voluntariamente ao que estava a dias me incomodando - Olha, sobre ontem...

—Você não parece ser do tipo que se mete na vida dos outros, então se vai dizer que não estava ouvindo, eu acredito - ela me cortou, a voz dela tinha algo familiar, embora eu nunca tivesse a ouvido falar mais do que monossílabos. Engoli em seco, mas ela não pareceu perceber.

Abri o livro de novo, passando pelas mesmas frases que tinha lido ontem. Um clique sinalizou que a TV tinha sido apagada, mas ela não se mexeu.

—Desculpe - ela falou por fim - Não é nada com você, eu só sou um pouco desconfiada. Pode só esquecer o que viu ontem?

—Claro, eu não vi quase nada - dei os ombros, fechando o livro novamente.

—Obrigada - ela sorriu - Imagino que as coisas sejam bem difíceis sem o meu desprezo, mas Alicia deve ter explicado que sou um pouco mais reservada, certo?

—Sim, ela falou algo sim - assenti, tentando pensar em algum outro assunto - O que era aquilo que você estava olhando?

—Era um comercial antigo, de uma bebida chamada Coca-Cola - ela deu os ombros - Era uma grande marca, já deve ter conhecido um ou dois Cokes na vida, eu imagino?

—Sim - concordei, era um sobrenome bem frequente nos bailes.

—É, era uma das maiores marcas do mundo, muitos usaram como sobrenome na quinta guerra... - ela virou a cabeça, olhando para meu livro - Talvez encontre algo sobre isso ai.

—Pouco provável - falei, olhando para o livro. Não achava que Catherine sobreviveria tanto assim.

—É um livro de história, não? Eu já o vi com outros na biblioteca - ela falou, franzindo a testa ao se virar para o relógio e em seguida se levantando e sorrindo - Eu tenho que ir para a aula, mas foi bom conversa com você Bethany, acho que eu tinha me enganado ao seu respeito.

Não perguntei o que ela quis dizer com aquilo, e ela nem deu tempo para isso antes de sair ela porta com a postura perfeita e graciosa. Eu nunca conseguiria aquilo, disso eu tinha certeza. Era algo que poucas das garotas ali tinham, na verdade, nem mesmo Alicia conseguia aquela delicadeza no andar.

Suspirei, me encolhendo mais e abrindo o livro novamente, aproveitando o silencio que a casa das musas emanava.

Não demorou para que eu percebesse que o diário não pertenceu apenas a Catherine. Ela teve apenas sete páginas, antes de seu lugar ser cedido ao filho, Paris Parish. Era um diário de família, que ultrapassou gerações e sobreviveu há três guerras.

"16/12/2162

Faz meses desde que achei este diário. A guerra segue avançando sobre nós e o povo está em pânico. Nossos países irmãos ameaçam se voltarem contra nós, e nosso presidente já não sabe mais o que fazer. Mesmo nosso povo, os franceses, parecem à beira de nos destroçar com unhas e dentes se não resolvermos esta situação logo.

Os Estados Unidos nos ameaçam cada vez mais frequentemente, e não acho que estejam blefando desta vez. Quando eles atacarem será com tudo, a não ser que façamos primeiro. Eles nos temem tanto quanto nós tememos a eles, e pro mais que o tolo do presidente não ouse admitir a morte dos prisioneiros de guerra foram apenas uma desculpa para eles terem a chance de nos destruírem.

A guerra está batendo a nossa porta dia após dia, e o primeiro a abrir está porta começará a que provavelmente será chamada um dia de quarta guerra mundial. As crianças não terão natal este ano, e provavelmente não terão nos próximos que virão.

Perdoe-me mãe, por me envolver na guerra tal como você temia.".

—BETHANY - o grito me fez despertar. Soltei o livro e me virei no sofá.

Tina estava parada na porta, com uma grande caixa azul nas mãos rindo - Eu te chamei umas quatro vezes, por que estava tão distraída?

—Nada, só estava lendo - tateei o sofá até encontrar o livro e mostrei para ela - O que é isso?

—As outras meninas ainda não voltaram? - ela perguntou, sentando ao meu lado - Bem, você vai ver em primeira mão. São as mascaras para o baile de hoje, acabaram de entregar.

Ela tirou a tampa da caixa toda sorridente. Na primeira olhada, pareciam todas iguais, metal dourado e pedras coloridas, mas assim que ela começou a tirar uma por uma da caixa eu percebi quão únicas eram. Uma parecia às asas de uma borboleta, e outra parecia centenas de folhas douradas. Cada uma tinha um design e era enfeitada com um tipo específico de pedra.

—São lindas - falei, estendendo a mão para tocar em uma. Era tão leve quanto papel.

—Fico feliz que tenha gostado, por que essa é a sua - ela sorriu - Fiquei com medo que não gostasse, tive que desenhar de última hora e o ourives estava furioso por eu ter pedido outra tão em cima da hora.

—Espera você desenhou elas? - perguntei surpresa. De repente as peças pareciam ainda mais lindas e surreais - Sozinha?

—É, é o que eu faço sabe? Meu talento - ela deu os ombros. - Sou a estilista particular das musas!

—Isso é incrível - falei, ainda sem conseguir tirar os olhos da máscara em minhas mãos - Então é você quem desenha as joias que nos usamos? E as roupas e os sapatos também?

—É isso mesmo. Quer dizer, eu não desenho todas as roupas e joias e sapatos, e não costuro quase nenhum, mas uma parte deles sim - ela falou com uma pitada de orgulho na voz - Como o vestido azul que você usou no baile.

—Você desenhou aquele vestido? - perguntei incrédula.

—Desenhei e costurei - ela falou, e depois torceu o lábio - é claro que era para Alicia, por isso ficou tão apertado. Mas já estou tentando criar algo para você.

—Não precisa se preocupar com isso - falei rapidamente, mas ela sorriu.

—Não é preocupação, essa é a melhor parte das garotas novas... Nova inspiração - ela deu os ombros e olhou para as máscaras - Mas isso fica para outro dia, hoje, meu trabalho está feito!

—Olha só o que temos aqui - Isabel riu entrando na sala com o rosto suado, e parando atrás do sofá, se apoiando no encosto - Belo trabalho Valenttina, finalmente seus rabiscos saíram do papel. Qual é a minha?

—Você não consegue não é? Simplesmente me elogiar sem ser nem um pouco rude? - Tina perguntou, mas em vez de responder Isabel simplesmente revirou os olhos e estendeu a mão - Aqui está, madame.

—Obrigada - ela sorriu, indo até o espelho mais próximo e colocando a máscara em frente ao rosto. Era fina e longa, com pequenas pedras vermelhas, e dava um aspecto ainda mais felino ao rosto dela - Eu vou me arrumar, vocês duas deveriam fazer o mesmo.

—São seis horas - Tina falou, enquanto Isabel tirava o prendedor e balançava os cabelos castanhos brilhantes - Esse é o meu prendedor?

—Não - Isabel falou, rindo, antes de sair da sala.

—Eu já volto - falou Tina, soltando a caixa ao meu lado e correndo atrás da outra - Entrou no meu quarto de novo?

Não pude deixar de sorrir com aquilo. Eu não passaria a gostar de Isabel tão cedo, mas aquilo era mesmo divertido. Era uma boa vida aquela.

—O que deu nelas agora? - perguntou Alicia, entrando com Kali e Jin na sala - Ah, as máscaras chegaram!

—Algo sobre um prendedor de cabelo - dei os ombros, enquanto elas se reuniam em volta de mim.

—Valenttina fez um trabalho incrível desta vez - falou Kali, pegando uma máscara com centenas de pedrinhas laranja penduradas balançando no ar - Não é linda?

—É claro que é linda, agora tire suas mãozinhas dela - Tina voltou com um elástico de cabelo com pedras brilhantes - Mantenham suas portas fechadas, Isabel está invadindo os quartos novamente.

—De novo? - Jin deu um gemido - Ela realmente não entende o conceito de privacidade.

—Esqueça isso, vocês sabem como ela é - Alicia deu os ombros e se virou para mim - Isabel gosta de bisbilhotar as coisas alheias, eu sugiro que deixe seu quarto fechado e o seu diário bem escondido, caso tenha escrito algo nele.

—E esconda as joias também - falou Kali, sentando no chão e cruzando as pernas. - Ela gosta de pegar as melhores "emprestadas"

—"Ela" em questão está ouvindo - Isabel falou, entrando de volta usando um lingerie vermelho sob um robe preto e saltos altos, com as gêmeas logo atrás dela - Olha só quem eu encontrei!

—Vocês duas deveriam estar de cama - Alicia as encarou, tentando parecer brava.

—Nós não vamos perder o baile de máscaras! - Uma delas afirmou. Estavam tão igualmente doentes que eu não conseguia identificar qual delas ela.

—Estamos esperando por isso há semanas - concordou a outra.

—Vai ter outro baile em breve, vocês ainda não estão bem - falou Alicia firme - Para a cama, antes que eu dope vocês de novo!

Elas saíram murmurando, enquanto Alicia encarava Isabel que fingia não perceber olhando para as próprias unhas - Não me culpe, elas estavam no corredor e piraram quando viram a máscara.

—Você voltou a invadir os quartos dos outros, Isabel? - perguntou Alicia, cansadamente.

—Você me faz parecer uma cleptomaníaca, Lícia - ela fez um biquinho, e depois suspirou - Eu estava atrasada para o balé, precisava de um elástico, grande coisa...

—É uma grande coisa quando você entra no quarto dos outros sem permissão e pega o que bem entende - Alicia apontou desesperada para provar seu ponto.

—Tudo bem, desculpe certo? - ela grunhiu - Achei que era para isso que serviam as irmandades, vou pedir para alguém me trazer mais prendedores.

Ela saiu da sala fincando os saltos finos no chão como se fossem facas sendo enfiadas em cada uma de nós, eu via todas as outras estremecerem a cada passo dela.

—Você não vai falar com ela? - perguntou Jin para Alicia, de deu os ombros e jogou os cabelos ruivos sobre o ombro.

—De novo? Faz semanas que estamos nessa, vocês sabem como Isabel é, quando ela cansar ela para - ela deu os ombros.

—Mas...

—Alicia está certa Jin, deixe pra lá - falou Tina, se levantando - Eu vou dormir um pouco antes de me arrumar, aqui as máscaras de vocês. Alguém entrega a da Annie?

—Eu - Alicia estendeu a mão pegando uma segunda máscara - Ela deve estar voltando da aula, estou indo resolver algumas coisas para lá. Vejo vocês logo... Você acha que pode se arrumar sozinha, Bethany?

—Claro eu me viro - falei, enquanto as duas saiam. Kali ligou a televisão e colocou em um canal de culinária, enquanto Jin tirava seus novelos de dentro da bolsa. Eu devo ter ficado por ali mais um minuto ou dois antes de me levantar e sair. Se alguma delas percebeu, não se importaram.

Imaginei que seria melhor começar logo a me arrumar, sem Alicia eu estava por conta própria e isso não traria sucesso sem algum esforço. Eu já estava com um pé dentro do quarto quando voltei atrás. O quarto de Alicia era em frente ao meu, por um minuto imaginei que era dali que vinha o choro, mas vinha do quarto ao lado.

Era o quarto de Tina? Ou Annie? Eu não tinha certeza... Aproximei-me mais da porta, para ter certeza do que ouvia, quando a porta se abriu. O quarto era todo madeira escura, ouro, e tapeçarias verdes e vermelhas com brasões bordados. Era clássico, luxuoso, quente...

—O QUE VOCÊ QUER AQUI? - me virei assustado, procurando Isabel por todos os lados, até enfim encontra-la me encarando do outro lado da cama, pelo reflexo de um espelho. O cabelo estava bagunçado e os olhos vermelhos, ela parecia ter chorado.

—Você está bem? - perguntei, dando um passo para dentro. Havia uma dezena de envelopes rasgados ao meio no chão. Abaixei-me para pegar um, mas só conseguir ler a palavra "Aniversário" antes de ele ser arrancado das minhas mãos e eu ser empurrada para fora.

—Nunca mais entre no meu quarto, ragazza! - ela me empurrou para fora e bateu a porta com força.

Pisquei, tentando entender o que foi aquilo, mas talvez fosse melhor fazer como todas as outras e ignorar as mudanças de humor de Isabel. Ela seguia gritando coisas em Italiano que não fazia sentido nenhum para mim, mas como ninguém mais apareceu para ver o que estava acontecendo, deixei para lá e voltei a minha missão de me arrumar para o baile.

O primeiro desafio foi deixar Romeu longe da minha máscara. Ele pareceu gostar tanto daquele novo brinquedo brilhante que ia atrás de mim a onde eu fosse. Acabei deixando dentro do armário embaixo de algumas outras roupas. Como é que em tão pouco tempo aquele armário tinha ficado tão bagunçado? Eu mantinha uma casa em ordem, mas ali mesmo um único comodo parecia demais.

Tomei banho e queimei boa parte do meu couro cabeludo tentando usar um secador antes de secar todo meu cabelo. Nenhuma das meninas tinha cabelo curto, então imaginei que essa não era uma opção para mim.

A roupa foi à parte fácil. O vestido era longo, brilhante e dourado, o decote era maior do que qualquer coisa que eu já imaginará usar, mas era solto no resto do corpo e, sendo sincera, eu não tinha peito o suficiente para aquele decote parecer, de fato, exagerado. Imaginei que não seria a primeira opção de Alicia, mas era bom o bastante para mim.

Meu cabelo? Missão impossível! Se não bastasse meu couro cabeludo estar ardendo, estava bastante obvio que eu não aprenderia tão cedo a usar alguma das outras ferramentas elétricas. Meu braço doía tentando segurar a prancha de alisar; E o cacheador? Bem, ele não acertou minha perna por poucos centímetros.

Abri e fechei pelo menos três vezes cada gaveta da penteadeira antes de chegar à conclusão que não havia bobs ali. Bem, teria que ser da maneira antiga. Passei uma quantidade significativa de creme para pentear até que o volume do secador diminuísse, e depois comecei a trabalhar. Atei, desatei. Enrolei, desenrolei. Eu estava prestes a jogar a escova de cabelo longe quando meus dedos sozinhos começaram a trabalhar no padrão que estavam acostumados.

A trança começou a ganhar forma em poucos minutos. Coloquei alguns prendedores com perolas no meio, puxei alguns fios para que parecesse mais volumosa e enchi de spray até meu cabelo ficar duro, mas se a ideia era parecer artificial e exagerado, ele estava perfeito.

E tinha a maquiagem... Se o cabelo foi difícil, é por que eu ainda não tinha tentado usar um delineador. Eu quase enfiei a caneta dentro do olho, o em tinta manchou todo meu rosto e o lápis era extremamente seco. Fiquei feliz por ter coberto o vestido, por que o lençol estava todo manchado quando eu acabei de limpar meus olhos pela quarta vez. Tudo bem, nada de delineador, mas eu consegui compensar com as cores. Foi uma das primeiras coisas que Isis me ensinou a saber: as cores que ficavam bem em mim. O batom foi laranja, e só depois de misturar e misturar cores de sombra eu percebi que eu usaria uma máscara a noite inteira. Pelo menos o rímel eu consegui passar sem problemas, e sendo um pouco confiante, até que ficou muito bem.

—Bethany, estamos quase indo, você precisa de aj... Uau! - Valenttina parou na porta maravilhosa e com os olhos brilhando - Eu desenhei esse vestido para mim, mas eu tenho que admitir... Ficou maravilhoso em você.

—Como estou? - perguntei, erguendo os braços ao lado do corpo e girando. Ela bateu palminhas, maravilhada.

—Muito bem para uma primeira vez - ela assentiu - Mas você precisa de joias... E sapatos, a não ser que pretenda dançar descalça a noite inteira.

Reprimi um gemido ao som da palavra dançar e outro quando ela tirou uma sandália de tiras de dentro do armário. Ela deve ter percebido meu sofrer por que começou a rir - são mais confortáveis do que parecem, eu prometo!

—Tudo bem - não parecia ser algo que valia a pena discutir - Me dá às sandálias e me ajuda a escolher as joias... Isso sim é uma missão impossível para mim.

—Ok, vamos ao básico... Em primeiro lugar, nada prateado - ela pegou o colar que estava na minha mão e colocou de volta na penteadeira - em uma ocasião comum, nada muito brilhante seria bom por que o vestido já chama bastante atenção, mas... Bem, o que nós queremos é chamar atenção mesmo, então acho que esses... E essas...

Ela me entregou um par de brincos e um conjunto de pulseiras, revirando a caixa de joias enquanto eu os colocava.

—Estes aqui - ela me entregou meia dúzia de anéis, espalhando dezenas de joias sobre a bancada da penteadeira - Ah, esse aqui. Perfeito!

—Não está um pouco demais? - fiz uma careta, olhando o colar de pedras amarelas nas mãos dela, mas ela o jogou em volta do meu pescoço e prendeu antes mesmo que eu pudesse pensar em como deveria estar parecendo um lustre.

Mas eu não estava. Na verdade, percebi, olhando no espelho, eu estava mesmo bonita. Um pouco exagerado, eu tiraria aquelas pulseiras e o colar, mas ainda sim... Eu entendia o que Alicia dissera, sobre criar um personagem. Por que nem em mil anos eu me sentia eu mesma naquele minuto.

...

Assim que nos juntamos as outras, Isabel cochichou algo para Jin que concordou, mas nenhuma das duas falou nada depois disso. Isabel riu, e não pude deixar de encara-la.

—O que? - ela perguntou, me desafiando por trás da máscara.

—Nada - dei os ombros, e ela deu outra risadinha - Do que você está rindo?

—Nada - ela me imitou, dando um sorrisinho cínico - Você ficou tão linda nesse vestido Bethany - ela suspirou, enquanto o relógio tocava e Alicia nos chamava já da escadaria - Seria uma pena se...

Mas em vez de acabar a frase, ela deu outro longo suspiro e me empurrou contra parede - Se entrar no meu quarto de novo, eu juro que você vai sofrer por longos anos - ela grunhiu, passando na minha frente e sumindo assim que entramos no salão.

Eu queria odiá-la. Queria mesmo, tanto quanto eu odiava as meninas de Corippo que riam de mim na escola, mas a verdade é que eu sabia que havia algo a mais por trás daquela fachada de garota má. Eu só não tinha certeza se queria descobrir, por que pelo modo com que as outras meninas lidavam com ela não parecia valer o esforço.

O salão estava tão lindo quanto na última vez, mas tinha apenas metade das pessoas, o que ainda eram muitas pessoas, mas pelo menos não estavam prensadas uma contra as outras enquanto dançavam. Tudo parecia mais leve, e mais nobre e glamoroso, mesmo as pessoas estavam bebendo menos e rindo mais devagar. Por trás das máscaras, todos pareciam cumprir seu papel em meio a todo o luxo e nobreza. Até a música parecia mais clara, e as luzes mais brilhantes.

Valenttina estava certa, as sandálias eram mesmo muito confortáveis, eu dancei com pelo menos duas dezenas de pessoas - de crianças, há homens, há grupos histéricos de meninas adolescentes - e andei por todo o salão conversando com outras.

Não havia rostos conhecidos ali além das outras meninas, por quem eu passava de tempos em tempos. Nem Elizabeth, nem Domenic, nem Dylan. Mas havia uma dezena de Sabrina s - de todas as idades, com todas as cores de cabelo e vestidos - e três melhores amigos ambos chamados John's.

Eu desejei poder esquecer- me da última noite e lembrar daquela festa de máscaras como meu primeiro baile no castelo. Talvez em muitos anos, quando eu lembrasse como tudo isso começou, eu pudesse lembrar este baile e não do outro.

A noite passou voando. Uma da manhã passou como se passasse meia hora. Eu estava morrendo de sede de tanto girar, falar e rir, mas a ideia de beber qualquer drink era inconcebível. Parei ao lado de uma mesa de frutar e peguei um pedaço de abacaxi, o que parecia muito mais seguro. Não era exatamente um copo de suco, mas melhorou bastante, infelizmente antes que eu pudesse comer mais um pedaço Alicia brotou ao meu lado como um furacão vermelho.

Seus olhos brilhavam por trás da máscara como os de uma criança no Natal, o que já era o suficiente para me deixar muito desconfiada.

—Tem alguém que quer dançar com você - ela anunciou- Alguém muito especial!

—Estou cansada de dançar - falei, sentindo meu rosto inteiro se encolher em uma careta enquanto olhava para os olhos brilhantes dela - Talvez outro dia?

—Venha logo - grunhiu Alicia, me puxando pelo braço por entre a multidão e me jogando contra alguém. Dei um passo para trás, olhando para os olhos negros do príncipe por trás de sua máscara - Oi... Quer dizer, boa noite... Alteza!

—Gostaria de dançar? - ele perguntou, cheio de etiqueta, estendendo uma mão para mim.

Eu não queria. Eu estava cansada de girar e ser prensada entre outras pessoas, e manter conversas das quais eu não entendia nada, mas imaginei que não pudesse dizer não ao príncipe. Afinal, estavam todos olhando.

Tentei esconder minha falta de entusiasmos ao sorrir e pegar sua mão - Mas é claro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Rainha da Beleza" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.