A Rainha da Beleza escrita por Meewy Wu


Capítulo 8
VIII - Gatos Negros e Segredos




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A primeira coisa que senti foram meus pés. Doíam como se um trem tivesse passado por cima deles, eu sentia perfeitamente onde as tiras da sandália haviam me apertado na noite anterior. Sentia no meu calcanhar a dor da pressão de apoiar meu corpo sobre aqueles saltos finos. Sentia por toda a extensão das minhas pernas um fincão terrível.

E então, veio à dor de cabeça. Meu cérebro estava estourando, e quando abri os olhos á luz do quarto, refletida por todos os espelhos, só a fez latejar ainda mais.

Alguém riu.

—Você está péssima – abri um olho, vendo Isabel sentada a alguns metros de mim, lendo uma revista despreocupadamente – Bem pior do que as outras.

—Outras? – perguntei, mas ela pareceu não ouvir. Ou fingir não ouvir – O que está fazendo aqui?

—Alicia me colocou de babá por que tinha "muito que fazer" – ela revirou os olhos – Não pense que estou aqui por que me importo com o que acontece com você, Suíça. Mas você precisa tomar uma colher desse negócio a cada duas horas!

Ela estendeu a longa perna, apontando para o criado mudo ao lado da cama. Um frasco de xarope e uma colher estavam ali, assim como um bilhete de Alicia.

"Desculpe por te deixar com ela, volto logo. Tome o remédio e coma alguma coisa, venho as sete – Alicia".

—Eu não me importo se você quiser ir embora – falei, olhando para Isabel mexia em seus próprios cabelos olhando em um dos espelhos. – Não é como se eu de fato apreciasse sua presença.

—Ah, pobre de mim, a Bethany não me ama – ela dramatizou, jogando as pernas sobre o braço do sofá e o corpo para trás sobre o outro – O que eu farei agora? Não me importarei nem um pouco?

—Por que você é assim? – perguntei. Minha cabeça estava ardendo, meus pés pareciam inertes e meu corpo estava prestes a cair na cama de volta, eu não estava com humor para aquilo – Você é cruel comigo desde que eu cheguei aqui. O que eu fiz para você?

—Por favor, pare de agir como se fosse tudo sobre você, certo? Eu sou assim com todos – ela revirou os olhos – Então me desculpe Bethany, por não ser um cachorrinho babando em você como todos os outros. Você pode achar que estar no palácio é um conto de fadas, mas essa é a vida real. Eu não vou ser a primeira pessoa a ser um pouco cruel, na verdade, talvez eu seja a única a ser apenas um pouco, então pare de se fazer de coitada.

—Me fazer de coitada? – grunhi, arregalando os olhos, ela tinha que estar brincando – Eu estou confusa. Minha família morreu, e eu...

—E você está tão perdida nesse mundo novo e estranho, e só quer se encaixar – Isabel completou cheia de sarcasmo – Uma novidade para você, todas já aqui já passaram por isso. Outra novidade? Alguns de nós tinham famílias de verdade!

Aquilo doeu. Doeu mesmo, de verdade, de uma forma que eu não devia ter deixado ela me atingir. Ela saiu do quarto batendo os sapatos de salto. Meus pés latejavam ao som de cada passo, como ela conseguia passar o dia inteiro com aqueles sapatos?

Tomei o remédio e me deitei de novo, rolando na cama até acabar quase em cima de Romeu. Ele gemeu em protesto enquanto eu me afastava e se aninhou ao meu lado.

—Você é minha família, não é mesmo?

...

Eu não estava totalmente acordada quando Alicia voltou, mas ela me deu uma colherada de remédio e saiu, voltando logo em seguida com uma bandeja de queijo e frutas picadas e me acordando as pressas.

—Vamos Bethany, eu ainda tenho que ir me arrumar – ela falou, enquanto eu me sentava – Você precisa comer.

—Você daria uma boa enfermeira – foi tudo o que falei, pegando um pedaço de queijo e enfiando na boca. Ela riu. – Quem mais está doente?

—Você foi quem ficou pior, imagino que não esteja acostumada a beber – falou ela, e eu concordei – Mas as gêmeas estão bem mal ainda, vomitaram a tarde inteira. Elas se entupiram de álcool. Annie está com bastante dor de cabeça, mas está bem.

—As outras estão bem? – perguntei, ela riu.

—Como Isabel mesmo me disse, ela está maravilhosa! – Alicia falou, cheia de pompa – Jin passou mal ontem de noite, mas ela disse que se sente bem para descer, e Tina e Kali não bebem, então está bem. De qualquer forma, provavelmente vão ter poucas pessoas aqui hoje, o... Um soldado me falou que depois que subimos muitos convidados passaram mal também.

—Não sabem quem fez isso? – perguntei, e ela balançou a cabeça negativamente.

—Não é algo frequente, se estiver se perguntando – ela garantiu – Mas às vezes alguns engraçadinhos aprontam coisas assim, não é nada que possamos evitar. Só é uma pena que tenha acontecido justo na sua primeira noite, eu estava ansiosa para te apresentar para o príncipe.

—Por quê? – não pode deixar de rir. Ser apresentada para o príncipe não era exatamente minha prioridade no momento.

—É meio que uma tradição, dançar com o príncipe no primeiro baile – ela deu os ombros – É claro que ele entendeu quando eu disse o que havia acontecido.

—Imagino que o príncipe não tenha bebido nenhum drink adulterado – brinquei, e nós duas rimos.

—É claro que não – ela deu uma exagerada revirada de olhos, e depois se levantou – Eu tenho mesmo que ir, só passei para garantir que você iria colocar alguma coisa no estomago e... Para entregar isso!

Ela me deu um caderno grosso, com capa de couro preto. Em branco.

—Um diário? – perguntei um pouco cética. Eu nunca foi exatamente o tio de garota que escrevia em diários.

—Todas ganham um quando chegam, na biblioteca tem alguns diários de musas antigas, eu nunca li, mas as garotas dizem que são bem interessantes – ela deu os ombros – Acho que se tivesse da Veronicca, eu leria.

— Obrigada.

—Não precisa escrever se não quiser – ela falou, apressadamente – Mas sabe, se um dia você precisar colocar pra fora. Agora eu tenho mesmo que ir, nos vemos amanhã!

Ela saiu correndo, batendo a porta atrás dela. Olhei para o livrinho de capa preta, mas o soltei de lado e voltei ao prato de frutas. Eu estava faminta.

Levantei-me, tomei banho e dei um jeito no meu rosto antes de pegar o caderno de novo. Olhei para as páginas em branco, mas não me ocorreu um bom início. Talvez eu simplesmente não fosse interessante o suficiente para ter um diário.

O sinal das oito e meia tocou, esperei alguns minutos depois dele e sai do quarto. A Casa estava deserta, passei pelo quaro das gêmeas e pela porta semiaberta eu as vi dormindo. Pareciam bem pior do que eu.

A porta do quarto de Isabel também estava aberta, mas eu não era corajosa o suficiente para aprontar algo com ela. A verdade é que eu nem sabia como fazer isso, imagino que essa seria a hora em que Isis me chamaria de covarde e armaria algo, mas agora eu estava sozinha. E o palácio não era como Corippo, provavelmente eu ficaria bem encrencada.

Dei a volta no corredor três vezes, tentei olhar televisão, mas eu não sabia trocar os canais. Havia cestas de frutas na sala de jantar, mas eu não estava com fome.

Vi-me desejando descer para a festa, apesar de tudo havia sido divertido dançar e conversar com as pessoas, mas meu estomago ainda estava um pouco embrulhado, e para mim mesma eu não podia negar isso.

Era estranho ter um tempo livre depois de tanto tempo. As aulas ocupavam quase todo o tempo livre, e no restante, eu ficava com as meninas na sala de estar conversando, rindo e assistindo programas de televisão.

Eu já havia desistido de descobrir o que tanto Tina desenhava, ou por que sempre era Kali ou Jin a ficar com o controle da televisão, mas era bom estar na companhia dela. Eu nunca tive esse tipo de amigas antes. Minhas amigas – não meninas do orfanato que moravam comigo, ou amigas de Isis que riam de mim na escola e eram obrigadas a me suportar.

Mas no meio de tudo isso tinha algo que eu sentia falta. Ler. Andar pelo castelo, com toda aquelas pinturas te observando, e todas as paisagens da cidade de Paris pelas janelas me dava uma estranha cede de conhecimento que antigamente me fazia me esconder na biblioteca de Marian.

Eu queria saber quem eram aquelas pessoas, quem elas foram, o que fizeram e por que mereciam ter um retrato seu pintado. Quais as cidades que os quadros retratavam e os segredos da cidade do outro lado da janela. O que aconteceu nas ruas da cidade, o que aqueles postes luminosos já iluminaram. Quantos casais já teriam se beijado no topo da Toe Eiffel? Por que ela estava lá e quem a construíra? Paris me despertará esse novo tipo de curiosidade e pela primeira vez em semanas eu estava livre para começar á preenche-la com fatos.

A biblioteca era gigantesca. Nenhuma das meninas se deu ao trabalho de me levar ao lado de dentro em todos os nossos passeios, e meio que me arrependi por não ter pedido para ir. Se em todo esse palácio, havia um pequeno lugar que eu poderia chamar de lar, era ali.

Estantes do chão ao teto, separadas por janelas com a visão mais linda impossível dos jardins iluminados com lâmpadas em meio à noite, escadarias em espiral subindo infinitamente até o topo da torre, mesas de madeira escura com vasos de flores, globos mundiais e mapas estendidos nos poucos espaços de parede que sobravam. Era o único lugar onde eu não vira nem um espelho sequer.

—Imagino que seja a garota nova, já que nunca lhe vi por aqui – me virei, vendo uma senhora sentada atrás de uma bancada. Tinha cabelos loiros presos em um coque firme e usava um ar de óculos grandes. – Sou Francesca, a bibliotecária. Procura algo em especial?

—Bethany – falei, rapidamente. – E não, só estou dando uma olhada... Esse lugar é incrível!

—Que bom que gostou, a maioria das garotas daqui estão mais interessadas em hobbies que possam impressionar rapazes – ela me confidenciou com um sorriso pretencioso – Mas você não me parece uma romântica, então o que gostaria de ler hoje?

—Talvez... Alguns livros de história – dei os ombros.

—Uma estudiosa, então? – ela perguntou, sorrindo – No quinto andar está todo nosso arsenal de história mundial, pode procurar lá, só... Sem animais na biblioteca.

Antes que eu pudesse me virar, um longo miado encheu a sala. Romeu estava sentado logo atrás de mim, me olhando inocentemente balançando a longa cauda negra.

—Me desculpe, ele deve ter me seguido – falei para Francesca, mais constrangida impossível – Eu vou leva-lo de volta para o quarto.

Mas ele foi mais rápido. Antecipou meus planos e sal correndo em disparada, passando por cima de uma mesa, e subindo as escadas, não me deixando outra escolha além de ir atrás dele igualmente desesperada. Eu nunca virá aquele gato gordo correr tanto em dois anos.

Subi seis lances de escada até encurrala-lo em um canto escuro no sexto andar, tentando arranhar a parede.

—Você é mesmo um belo probleminha, não é? – perguntei, pegando ele no colo, pronta para descer de volta e me desculpar com Francesca quando algo me chamou atenção. Diferente dos outros andares, o sexto tinha teto baixo o suficiente para alcançar se esticando bem – imagino que para alguém mais baixo do que eu, subindo em algo.

Havia uma falha no teto logo acima onde eu encontrará Romeu. Um buraco grande o suficiente para passar uma mão. Coloquei o gato embaixo do braço e me estiquei, colocando a mão no buraco.

Talvez fosse o destino me dizendo algo, ou talvez eu simplesmente tivesse lido muitas histórias de aventura, com palácios cheios de passagens secretas. O fato que assim que eu segurei a falha, e meus pés já não se aguentaram nas pontas, o teto se abriu, derrubando uma escada de corda e muita poeira sobre mim.

Romeu miou e tentou se soltar, o segurei mais firme enquanto subia a escada, com uma mão só e um gato inquieto na outra. A torre era escura, poeirenta e tinha um rato. Nunca fui o tipo de garota que grita por qualquer coisa, mas isso não quer dizer que eu não ache ratos nojentos. Segurei um grito e segurei Romeu, que se alucinou ao ver o animal.

A luz da lua passava pelos vitrais, jogando uma luz colorida naquele lugar abandonado. Ninguém deveria ir ali há muitos anos. O pó começou a fazer minha cabeça doer, e meu estomago revirou. Puxei as escadas para cima novamente e desci em um pulo, derrubando Romeu no chão. Ele não parecia propenso a fugir novamente, então lhe dei as costas e fechei a entrada para a torre.

—Bethany? – ouvi passos na escada, ao mesmo tempo em que ouvi a voz de Francesca – Está tudo bem ai?

—Está, está sim – falei, pegando meu no colo novamente e seguindo para as escadas – Achei o fugitivo, acho que ele não bagunçou nada.

—Tudo bem, dei-me ele aqui – ela estendeu os braços, me encontrando durante a descida – Eu fico com ele enquanto você olha os livros no quinto andar. Pegue-o comigo antes de voltar para seu quarto.

—Obrigada – agradeci, enquanto ela seguia a descida e eu permanecia no quinto andar. Perguntei-me que tipo de livros haveriam no primeiro, onde tudo era tão vivo e colorido. Os livros dali eram de capas escuras, a maioria bastante velhos pelo visto. O cheiro de livro antigo enchia o ar da sala.

Andei perto das estantes, olhando alguns títulos. Era tanta coisa. Tanta informação, tanto conhecimento tanta história. Havia muito a se saber naquele mundo.

Tantos livros pareciam fascinantes, com títulos brilhantes nas capas antigas chamando a atenção dos meus olhos para todos os lados. Peguei um livro preto, "História da Velha França", mas o livro ao lado me chamou outra atenção.

Era um livrinho marrom, sem nenhuma gravação na capa. Abri-o por um minuto, encontrando uma caligrafia elegante e antiga, apenas uma palavra em tinta negra no meio da folha antiga e amarelada: Paris

Passei para a próxima folha, percebendo fascinada que não era um livro. Era um diário. Um diário que pertenceu a alguém da família Paris.

"

"Catherine Parish, Paris, França. 04/10/2122.

Pergunto-me quando o mundo tornou-se esse lugar cruel em que estamos vivendo. Os mais velhos dizem que a guerra demorou para chegar até nós, penso que podia ter demorado mais.

Neste mundo de bombas e soldados, seria onde eu gostaria de criar meu filho? Seria justo para essa criança em meu ventre que já está destinada a crescer sem um pai, ser forçada a viver em um mundo como esse?

Eu entendo a guerra. Entendo o quão perigosas essas ameaças se tornaram, mas nem por isso sou obrigada a aceita-la. Ninguém deveria ser obrigado a aceitar viver com medo de acordar todos os dias.

Meu bebê, espero estar com você quando ler isso, mas caso eu não esteja, quero que saiba que não é essa vida de guerra que desejei para você. Por favor, meu filho, fique longe desta guerra. Não seja como seu pai, movido por nobreza. Não seja como eu, movida pelo amor. Só seja uma criança, cresça, se apaixone e viva uma vida saudável e feliz.

Com amor, mamãe."

 

".

Engoli em seco, fechando o livro e colocando de volta na estante. Eu estava tremendo.

2121. Isso foi escrito há duzentos anos, provavelmente durante a terceira guerra mundial. A aniquilação dos grandes inimigos, como a chamavam na escola. Nunca fiquei sabendo muito detalhes sobre isso, apenas que os países da Eurásia e da América se juntaram para aniquilar dois dos seus maiores inimigos. Um país pequeno, destruído e afundado em meio à alta dos mares, chamado Coreia do Norte, e grupos de fanáticos religiosos – os que nos contavam como terroristas.

Eu sabia que havia sido brutal. Bombas e tiroteios diários por todos os países, espiões infiltrados nas sedes inimigas destruindo armamentos e projetos, sacrificando a própria vida pelo futuro dos que restassem.

Mas não era isso que me tocava, era ver que apesar do desespero daquela mãe que passou por isso, o General Paris ainda sim se tornou um guerreiro, um herói, e viveu tempo o suficiente para morrer de causas naturais.

Peguei o livro na estante e o soltei novamente. Ficamos só nós ali, eu e aquele diário, olhando um para o outro. Eu sentia como se ele pudesse me queimar se eu tocasse, então apenas o coloquei embaixo do braço e desci, pegando Romeu e me despedindo muito desajeitadamente de Francesca.

—Por que não podemos simplesmente lidar com isso do meu jeito? – perguntou um rapaz, com a voz cheia de algo entre a raiva e o afeto.

—Você pode parar de agir como um idiota mimado e aceitar pela primeira vez na vida um não? – arregalei os olhos, assim que dobrei o corredor e vi os dois. O rapaz estava discutindo com ninguém menos do que Annie. Ela levantou os olhos, olhando para mim, bufou e marchou em direção à casa das musas.

—Idiota mimado? – ele resmungou, consigo mesmo, e oportunamente Romeu escolheu àquela hora para dar mais um dos seus incríveis miados. O rapaz se virou, surpreso – Olá.

—Oi... Hã... Olá, é... – Meus olhos voaram para a coisa dourada em cima da cabeça dele. Uma coroa. Fiz a reverência mais desajeitada que já deve ter sido vista, com um gato e um livro, um em cada braço – Alteza.

—Então, estava ouvindo? – perguntou ele, franzindo a testa.

—Só ouvi o final, eu... Eu não queria me desculpe, eu estava... – comecei a falar

—Voltando da biblioteca? – ele oportunamente me cortou antes que eu tropeçasse nas palavras.

Me cérebro parou por um minuto. Eu devo ter parecido uma boba, ou uma adolescente de doze anos, olhando para o príncipe com seus olhos e cabelos muito negos e em contraste a pele de papel. Olhos muito negros, muito difíceis de ler, muito estranhos e familiares. Como fotos em revista. Como...

—Foi você quem me segurou ontem no baile... Quer dizer, vossa Alteza... Quer dizer, obrigada...

—Você parece melhor – ele falou, calmamente – Senhorita... ?

—Bethany – estendi a mão para cumprimenta-lo, percebendo no mesmo momento que era um erro. Primeiro, por que não se cumprimentava príncipes com apertos de mão, é claro, mas segundo por que foi justamente o braço com que eu segurava Romeu, que deu um pulo até o chão e outro até o colo do príncipe – Romeu!

Eu estava paralisada. Eu deveria tirar Romeu de cima dele, mas era permitido encostar em um príncipe? Alicia não falou algo sobre isso? Ou isso era sobre os vasos? Minha cabeça estava girando ainda, e dessa vez não era por causa do pó daquele porão.

Quando voltei a raciocinar eu percebi que o príncipe estava com Romeu acomodado nos baços, fazendo carinho na cabeça daquela coisa gorda e peluda que um dia levou o nome dele.

—Desculpe por ele, ele não se acostumou com o castelo – falei, enquanto ele me entregava à bola de pelos.

—E você já se acostumou? – ele perguntou, enquanto Romeu jogava as patinhas sobre meus ombros.

—Não – confessei, um pouco envergonhada.

—Então, boa sorte com isso – ele deu um meio sorriso – Gostaria de ficar e conversar, mas com tão poucas musas creio que todos queiram saber onde eu estou.

—Desculpe por isso – falei, torcendo a boca.

—Não é culpa de vocês que tenham batizado os drinks – ele falou, e depois sorriu – De novo.

Eu estaria mentindo se dissesse que isso não me fez rir também.

Ele se foi, pelo corredor, sumindo na curva em passos silenciosos. Olhei para Romeu, ronronando e para a parede ao meu lado, onde um retrato do rei estava pintado.

O príncipe tinha os cabelos da mãe, e os olhos do pai.


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