A Rainha da Beleza escrita por Meewy Wu


Capítulo 20
XIX - A Décima Musa




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"04/03/2192 

Cordélia está morta. Morreu nesta madrugada.

Não consigo ficar triste. Meu anjo finalmente está no seu lugar. E ela me deixou um lindo menininho risonho de olhos azuis.

Meu segundo orgulho. Meu pequeno Cameron."

......

Nisha era linda. Mesmo com todas as cicatrizes e hematomas, ela tinha uma beleza feroz, como se tivesse acabado de sair de seu próprio campo de batalha - e era muito provável que realente ela houvesse. O cabelo negro caia até abaixo do quadril, em cachos brilhantes e os olhos assustados e em alerta eram de um dourado hipnotizante. Ela era mais baixa que a maioria de nós, o que ficou mais evidente quando uma por uma, nós nos levantamos.

Chocadas, apavoradas, confusas e enojadas. E ao menos eu, em particular, até mesmo um pouco maravilhada.

Por que Veronicca definitivamente não nos preparará para aquilo, ela não nos contará o mais importante sobre Nisha. Afinal, já não importava quão linda ela era ou quão ferida ela tinha sido.

Por que Nisha era negra.

Incontestavelmente negra, com escura brilhante e macia, exceto as mãos de aparência ásperas, ainda repletas de marcas esbranquiçadas, que nem mesmo o palácio conseguiu eliminar em tão pouco tempo.

Negra. Esperei que Isabel falasse algo, mas não foi ela a primeira a se pronunciar. O copo de Tina foi de encontro ao chão, manchando o piso de suco cor de rosa, e eu mal consegui ver as lágrimas nos olhos dela antes que ela saísse da sala tropeçando em seus próprios pés.

Todas nós nos entreolhamos, antes de enfim todas acabarmos voltadas para Alicia, que parecia ainda mais confusa.

—Seja bem vinda Nisha - Alicia falou por fim, mais para Veronicca do que para Nisha em si - Ela está sobre nossos cuidados Veronicca, não há nada com que se preocupar.

—Você tem certeza, Alicia? - Veronicca parecia tanto aliviada quanto receosa - Talvez eu deva ir falar com Valenttina...

—Ela precisa de um tempo, está tudo bem - Alicia arrumou os ombros - Falo com ela mais tarde.

 

—Como preferir Alicia. Tenham um bom dia meninas, todas vocês - E então ela saiu, seguida dos guardas que a acompanhava, deixando-nos ali em é, encarando umas as outras.

—Sim, será um ótimo dia - Ironizou Isabel, saindo tão bruscamente que derrubou sua cadeira. Livie foi a primeira a ir atrás dela, e então foram Jin e Kali, carregando um pedido de desculpas no olhar.

—Pode sentar-se Nisha - pediu Alicia, fazendo o mesmo assim como o resto de nós - Desculpe, é estranho para nós, nenhuma de nós esperava por nada disso, digo... E geral a chegada de uma nova musa é uma comemoração, mas não esperávamos por uma nova garota ainda mais...

—Negra - Nisha completou. - Está tudo bem, eu não esperava nada diferente. Vocês podem ir também, se quiserem.

—Eu não quis dizer isso Nisha, é só um momento complicado. E as garotas só estão surpresas, Nisha - Alicia tentou manter-se serena, mesmo que não conseguisse olhar nos olhos da garota - Tenho certeza de que em alguns dias...

—Alicia, as camas da enfermaria não são um lugar agradável para passar a noite - Annie, com a sua incansável delicadeza, cortou Alicia entre um gole de seu chá - Talvez devesse mostrar a Nisha seu quarto e deixa-la descansar um pouco.

Alicia piscou, como se não esperasse por aquela intervenção. Se não tivesse visto Annie com Fox, diria que ela era incapaz de repreender alguém - mas percebi, depois, que talvez aquilo fosse ainda pior que uma repreensão.

—Sim, eu gostaria de dormir - Nisha cortou o silêncio na mesa - Não que alguém tenha perguntado.

—Nos perdoe, mas não é necessário ser rude - Annie continuou, se levantando - Só estamos tentando cuidar de você, como fazemos com todas aqui.

—Ah, vocês estão? - Nisha ergueu uma sobrancelha, olhando para a cadeira de Isabel ainda jogada no chão.

 

—Eu não posso dizer que todas aceitarão você facilmente, mas nós estamos dispostas a lhe ajudar - Annie tomou um último gole de chá, gesticulando para o resto da mesa - Você não vai ser tratada de maneira diferente por causa da sua cor, mas vai ser tradada de forma rude se insistir em ser rude.

—Annie! - Exclamou Lilie, com os enormes olhos azuis-gelo arregalados.

—Eu estou atrasada para minha aula de esgrima, nos vemos no almoço - Annie saiu da sala flutuando nos próprios tornozelos, e mais uma vez o silêncio permaneceu até que Lilie se levantasse.

—Bethany, por que não me ajuda a arrumar um quarto para Nisha? - Ela jogou o cabelo loiro sobre o ombro, ficando de pé, e olhando para Nisha - Vou pegar algumas roupas minhas para você, acho que temos algumas medidas parecidas.

Sim, elas tinham. Mas enquanto seguíamos pelo corredor, escolhendo o mais afastado dos quartos vazios, não pude deixar de pensar em por que Lilie havia ficado.

—Acha que ela veio pra ficar? - ela me perguntou, guardando as roupas no armário e olhando dentro de algumas gavetas, tirando frascos e toalhas e levando para o banheiro.

—O que quer dizer? - perguntei, estendendo a cama com as cobertas que ela me instruíra.

—Não é como se eu estivesse querendo que ela fosse embora, digo, parece que ela passou por coisas bem ruins - ela mordeu o lábio inferior - Mas acha que ela vai aguentar ficar aqui?

—Acho que o que ela passou foi pior do que alguns olhares feios - dei os ombros. Era lindo, para falar a verdade, o quanto a pequena Lilie parecia realmente preocupada por uma garota que nem conhecia.

—Não são só olhares, Bethany - ela suspirou, se sentando na cama – Eu sei bem que Livie deve estar em fúria com isso, e muitos outros além dela. Vão culpa-la pelas cidades queimadas e pelas pessoas mortas.

 

—Nada disso é culpa dela - tentei acalma-la, e por fim, ela concordou, antes de irmos buscar Nisha, que seguia em silêncio com Alicia, enquanto duas empregadas tiravam a louça e limpavam o chão da sala.

Depois de Nisha estar em seu quarto, deixada para descobrir seu novo refúgio e para compreender o que pudesse daquele mundo, como eu meses atrás fora deixada, Alicia se permitiu um longo suspiro ao sentar-se na sala de estar.

—Elas devem estar me odiando - ela falou, por fim, se afundando no sofá - Tina deve me odiar neste momento. E Isabel. E...

—Você fez o que tinha que fazer Alicia! - sentei ao lado dela - Você não podia simplesmente ter abandonado a garota sozinha no mundo. E afinal, ela É bela o bastante para ser uma mus...

—ELA NÃO PODE SER UMA MUSA BETHANY, ELA É NEGRA - a voz dela, dura e controlada ao máximo, parecia prestes a desabar - Você não entende a posição em que eu me encontro. Eu respondo pelas Musas, mas nunca esperei uma situação como essa... Minha cidade não foi queimada, minha família não foi morta. Sai de Madri depois de minha irmã morrer em um hospital em um aborto espontâneo. Não tenho direito de responder por elas numa situação como essa!

—Alicia, isso não é verdade - me perguntei onde Lilie havia ido, mas éramos só nós duas - Elas estão assustadas e com raiva. Mas minha cidade também foi queimada! E a de Lilie! E Annie...

—Nunca esperei que Annie agisse daquela forma - ela parecia assombrada - Annie, depois de tudo... Se ela pelo menos tivesse coragem o bastante, ela poderia... Ah, e Tina? Nem sei onde ou como ela está!

—Isabel deve estar com ela, provavelmente só vai piorar tudo - falei, enquanto ela balançava a cabeça.

—Ela tem motivo para esse ódio, todas na verdade tem, mas Isabel... - Alicia passou as mãos no cabelo, os colocando para longe do rosto - Isabel viu da janela de seu quarto, o peito do pai ser atravessado. Viu quando arrancaram seu coração e ergueram como um troféu. Não é apenas um ódio vazio, não posso tirar a razão de nenhuma delas... Mas você, Lilie e Annie. Vocês foram muito fortes e muito boas hoje. Sei que você também perdeu pessoas que amava.

 

—Sim, mas não foi Nisha quem matou Mariam e Isis – falei. Meus olhos se enchendo ao nome delas. Alicia me lançou um olhar confuso por um minuto, antes de parecer realmente voltar a me ouvir - Mas Nisha é uma vítima assim como elas, e como nós.

—Queria que mais pessoas pensassem como você - ela se levantou, secando as mãos na calça - Me desculpe Bethany, eu preciso encontrar uma pessoa, e acho que você tem aula também não?

—Sim, tenho - confirmei olhando no relógio - Mas, e Nisha?

—Vou pedir que Lilie mantenha um olho nela - ela endireitou os ombros - Depois, vou tentar encontrar Valenttina para o almoço. Até mais Bethany.

Mal levantei o braço, e ela já tinha sumido. Sente-me sozinha no sofá, olhando para o relógio, pensando em todas as maneiras que aquilo tudo poderia acabar. Nenhuma delas eram boas.

E o melhor que eu poderia fazer naquele momento era ir a minha aula de espanhol, antes que eu conseguisse outro sermão de Veronicca.

......

Foi de Fox o bilhete que eu recebi assim que minha aula acabou. Eu soube disso antes mesmo de abrir o envelope, mas não saberia explicar o porquê.

Era um pedido simples para o almoço, sem nenhum presente excessivo ou nenhum indício do que me esperava, nada além de uma letra F extremamente pomposa no fim da folha, no lugar de uma assinatura.

A empregada me levou por dois lances de escadas até o primeiro andar, para uma sala pequena, toda em tons de azul. Havia um conjunto de poltronas, e uma mesa pequena o bastante para parecer informal, mas ainda grande demais para duas pessoas, estava colocada perto de uma grande janela, com vista para os jardins brancos cobertos de neve.

A sala inteira parecia gelada, mesmo com a lareira crepitante há apenas alguns metros, em frente aos sofás que parecia muito mais aconchegantes que as cadeiras.

Sentada em uma das pontas da mesa, sozinha, me perguntei se talvez devesse ter me arrumado melhor para almoçar com o príncipe. Se deveria ter ido pentear o cabelo, ou trocar de sapatos. Mas nada disso importou quando Fox entrou na sala, rindo de alguém de alguém - provavelmente Dylan - que não o acompanhou para dentro da sala, havia dito. Ele usava suas roupas de montaria, e tinha uma mancha de lama em sua perna direita.

—Desculpe por tê-la feito esperar, Bethany - ele sorriu, sentando-se ao outro lado da mesa - Mas espero que esteja com fome, teremos um almoço muito especial hoje.

—Não faz muito que cheguei - confessei, erguendo o bilhete dele entre meus dedos - Mas me intriga vossa Alteza, que tenha tanto medo da rejeição que sequer assine o próprio nome.

 

—Eu tinha certeza que você saberia que o bilhete era meu - ele rebateu, com um sorriso presunçoso, enquanto serviam a mesa – Então, por que eu deveria assinar?

—Por que não deveria? - era uma pergunta idiota. Mas ele riu, e eu peguei a taça de agua recém-deixada em minha frente.

—Um príncipe tem uma assinatura muito poderosa, não deve deixar seu nome em lugares que podem facilmente sair voando por ai - ele pegou um pequeno garfo, fazendo um movimento circular no ar - Mesmo se for em um bilhete para a garota de quem gosta...

Foi nesse momento. Nesse exato momento, que eu esqueci toda a etiqueta e compostura, e em vez de beber a água da taça que eu acabara de levar a minha boca, eu a cuspi de volta.

—A garota de que você...

—Sei que teve uma série de péssimas primeiras, e até mesmo segundas e terceiras impressões de mim Bethany - ele começou lentamente seu almoço, e me concentrei no som da sua voz enquanto fazia o mesmo - Quis te dar algum espaço depois do casamento de meu tio, e do nosso beijo. Mas passei os últimos dias me torturando se isso foi à coisa certa a fazer, ou se isso só pioraria o que você pensa de mim. Mas não sou esse homem que beija um dia uma garota e no outro, outra. Não estou tentando brincar com você Bethany, ou te colocar em algum jogo. Eu não tive um pai para me ensinar sobre se apaixonar por uma mulher ou governar um reino, mas acho que estou me apaixonando por você, e queria saber se te alguma possibilidade de você vir a se apaixonar por mim?

E ali estava. Aquela era a pergunta. A pergunta à qual todas as outras dezenas sempre levavam. A pergunta que eu havia fugido de responder a mim mesma por dias. A pergunta que ignorava todos os motivos de Isabel querer aquela coroa. A pergunta que apagava todas as coisas que eu não sabia, não entendia ou não concordava a respeito de Fox. A pergunta que fechava os olhos há tudo que eu já havia visto ou sabia.

Eu podia me apaixonar por Fox?

 -Isabel... - Comecei, por que parecia o jeito mais fácil de argumentar com ele. Eu estava fugindo mais uma vez. Não por que não queria responder pra ele, mas não queria responder pra mim. Eu tinha mais medo daquela resposta do que qualquer uma das outras.

 

—Vou falar com Isabel, mas acho que ela mesma já entendeu sozinha a situação - ele suspirou, mexendo em seu prato - Sei que com a chegada da nova garota, tudo deve estar confusa no salão das musas. Não quero que tenha mais problemas.

—Nisha não é um problema, ela só está assustada - me deixei acreditar que era eu quem jogava com Fox naquele momento, enquanto sua expressão mudava, todos os traços em torno daqueles ilegíveis olhos negros traindo-o.

—Todos estão, Bethany - ele sorriu, brincando com as ervilhas no seu prato - Mas você está certa. Fui ver a garota assim que chegou, ela jogou um abajur em mim, achando que eu iria abusar dela... Foi muito traumatizada. Eu espero... Sei que ser difícil, pensei em manda-la sozinha para algum lugar no interior, mas... - ele parecia muito longe dali – Tivemos uma garotinha negra no palácio, muitos anos atrás. Ela foi encontrada muito doente, mas não queriam deixa-la na enfermaria, e um dia esqueceram de levar seus remédios e ela simplesmente... – ele suspirou, terminando a taça de água em um gole - Não consegui deixar de pensar, quando vi Nisha, que deveria ter lutado por aquela garota, mas estava muito preocupado em orgulhar minha mãe para isso. Dylan diz que eu era uma criança, mas seu que não era. Acho que ter Nisha aqui pode ser bom para todos.

—Você não gosta de ervilhas, príncipe Fox? - perguntei, quebrando a atmosfera que se formará em volta dele, olhando para as minhas próprias ervilhas separadas no prato quase intocado.

—Não se eu puder vê-las - ele admitiu, as empurrando todas para o mesmo lado do prato vazio.

—Talvez não seja impossível que eu me apaixone por você, Fox - falei, por fim, empurrando o prato e me levantando, tentando não olhar para trás, e tentando não sorrir enquanto os guardas do lado de fora, de alguma forma, abriam as portas para que eu saísse da sala, deixando para trás Fox e as ervilhas.

......

Eu não fazia ideia de quanto tempo Tina estava sentada ali, com o lápis parado no ar, olhando para a página em branco de seu caderno de esboços. Ela já estava daquela forma quando eu e Romeu nos refugiamos na sala de estar, para que pudessem arrumar nosso quarto, e segui u assim por todo o tempo que passou até que Alicia entrasse na sala, completamente suada, e arrancasse o caderno de suas mãos.

—Nós precisamos conversar – Anunciou Alicia, o livro pousando ao meu lado no sofá contrário, enquanto ela sentava-se junto a Tina.

—Agora você quer conversar Alicia? – ela ergueu uma sobrancelha fina, girando o lápis cor de rosa entre seus dedos – Não acha que tínhamos que ter conversado antes que você tomasse uma decisão que afetasse todas nós?

—Me desculpe Tina, sei o quanto deve estar chateada, mas você precisa entender que...

—Eu não estou chateada Alicia, seria melhor se eu estivesse – Tina respirou fundo, colocando uma mecha atrás da orelha. Perguntei-me se deveria sair, mas apenas tentei seguir invisível, acariciando a orelha de Romeu enquanto ele ronronava no meu colo – Eu não sei se consigo entender Alicia, e sinceramente, não sei se consigo seguir sendo uma Musa... Não assim.

—O que? – Jin entrou na sala com os olhos arregalados – Tina, você disse que... Você não pode nos deixar!

—Ela não está falando sério – Alicia parecia tentar convencer a si mesma – Está Valenttina?

—Como você espera que eu fique no mesmo lugar que ela, Alicia? – Tina não parava de piscar, com os olhos cheios de lágrimas – Ela é só uma garota Tina, não muito diferente de Kali quando chegou ao palácio!

—Não compare a situação de Kali com isso, Alicia – Jin suspirou, sentando-se no braço do sofá onde eu estava – Kali foi bem educada, criada em uma família que por pior que fosse. Quem nos garante que podemos confiar nesta garota, quem sabe nos dizer o que foi ensinado a ela?

Respirei fundo, uma ou duas vezes antes que, como se previsse que estaria melhor longe das minhas mãos nervosas, pulasse do meu colo e corresse para se deitar na ponta do tapete, do outro lado da sala.

—O nome dela é Nisha – falei, por fim, olhando para Jin – Você não precisa confiar nela, não precisa gosta dela, mas ela não fez nada para nenhuma de nós. O mínimo que deveria fazer é respeita-la.

—Me desculpe Bethany, mas que você acha que é para falar isso? – ela me perguntou, com um ar cansado – Você nem mesmo tinha uma família...

—Jin! – Tina se levantou, com os olhos arregalados, deixando o lápis cor de rosa cair no chão.

—Jin, retire o que disse – pediu Alicia – Bethany está certa, se tem uma coisa que Nisha não deve ter sido nos últimos anos, essa coisa é respeitada.

— Minha mãe foi queimada dentro de uma igreja! – exclamou Jin, com os olhos cheios de lágrimas.

 

—Eu também perdi pessoas, pessoas que eu amava – eu não deveria responder. Não deveria me importar, eu sabia que não era da natureza de Jin ser cruel, mas ainda sim os meses no palácio me fizeram ver que assim como Isabel, as emoções a deixavam dura e rancorosa. E as mesmas emoções, me faziam levantar e reagir – E talvez eu nunca tenha conhecido meus pais por causa de rebeldes negros. Não pense que eu nunca cogitei isso – continuei - Mas eu não ou deixar minhas perdas, meu medo e a minha dor me definirem.

—Me desculpe Bethany – Jin suspirou, se encolhendo – Eu não tinha o direito de ter falado desse jeito com você. Não queria minimizar suas perdas.

—Sei que foi difícil para vocês duas, assim como para a maioria das garotas aqui – Alicia falou, olhando de Tina para Jin – Mas vocês duas sempre foram as, mas gentis das musas, eu só peço que deem algum tempo para que tudo...

—Eu me tornei uma musa, por que não queria ser a garota que perdeu os pais Alicia. Por que eu poderia recomeçar, e criar uma nova história aqui – Tina falou, apertando os punhos – Mas isso... Não sei se estou pronta para lidar com isso.

—Eu entendo – Alicia deixou os ombros caírem – A decisão é sua.

—Está escolhendo ela a nós? – Jin perguntou, parecendo genuinamente ferida.

—Não estou escolhendo ninguém, não estou em posição de fazer escolhas – Alicia engoliu em seco, olhando para Tina – Vocês todas sãos livres para fazerem as suas. E eu as amo, como minhas irmãs, mas agora Nisha é uma de nós, e a não ser que ela me dê um motivo, não vou expulsa-la. Mas também não posso forçar vocês a ficarem.

Alicia saiu, batendo a porta atrás de si, e em seguida Jin, mais silenciosamente, se afastou pelo corredor até seu quarto. Perguntei-me se meu quarto já estava limpo, mas quando olhei para Tina, reconheci nela algo que eu não vira há muitos meses; o mesmo olhar de Isis quando falava de seu pai, o olhar de quem acreditava que alguém, em algum lugar se decepcionara com ela.

 


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