Dois meses haviam se passado. Dois meses que meus pais me contaram que eu não poderia mais jogar, dois meses que mudaram todo o rumo de decisões que eu havia tomado anos atrás. Dois meses que eu e Logan não nos falávamos, e que por tudo o que eu sabia: ele não fala com ninguém.

Minha cabeça dava voltas quando eu pensava sobre os acontecimentos daquela noite, era como se somente eu – quem sofreu o acidente, e outras poucas pessoas, entendesse que Logan Scamander não era o culpado pelo meu acidente. E para mim era terrível que ele se sentisse culpado, porque nesse momento eu precisava dele mais do que qualquer outra pessoa. Eu precisava de alguém que não estivesse sentindo pena de meus sonhos serem destruídos em minha primeira oportunidade de mostrar quem eu realmente era, e o que mais doía é que essa pessoa nunca seria ele.

Suspirei pesadamente ao me levantar da cama rapidamente, senti uma leve fisgada no meio da coluna e revirei os olhos quando estava de pé ao lado da cama.

— Merda de fratura na coluna – resmunguei, levando minhas mãos aos meus cabelos e amarrando-os em um rabo de cavalo solto – Merda de Dementadores – murmurei irritada ao sair do meu quarto e andar pela casa de meus pais, vendo papai Albus na cozinha, dando um pequeno sorriso para mim.

— Vejo que você acordou, pequena Eve – ele me cumprimentou e eu lhe dei um sorriso acanhado – Está se sentindo melhor hoje? Eu...

— Nós ficamos preocupados – a voz de papai Scorpius se fez presente e eu virei meu corpo para vê-lo sentado em sua poltrona tomando um gole do chá em sua caneca branca com o símbolo de Slytherin – Ouvimos você gritar – ele disse por fim – Estava tendo pesadelos de você, pequena? – ele me perguntou com a voz doce e eu sorri levemente para ele, virando meu corpo para papai Albus.

— Foi só um pesadelo sobre o jogo – disse com a respiração pouco pesada – Nada que um chá de menta e cookies logo pela manhã não ajudem a acalmar.

Dei alguns passos até o balcão e observei Albus Potter colocar água em minha caneca verde e logo depois jogar o sachêt de chá, esperei alguns minutos até tirar o sachêt e dar um gole em meu chá. Fechei os olhos saboreando o sabor de menta e assim que os abri pude ver cookies em pequeno prato. Dei um sorriso para meu pai e ele piscou o olho para mim, enquanto pegava seu casaco e dava a volta no balcão da cozinha.

— Eu estou indo para o Ministério – papai Potter comentou – Terminar a papelada da minha sessão e levar sua irmã para o primeiro dia de trabalho dela.

— Repórter Investigativa – a voz de Lisa se fez presente assim como sua imagem.

Ela tinha um sorriso enorme e orgulhoso em seus lábios, fazendo-me sorrir junto com ela. Elizabeth vestia uma saia cinza e uma camisa branca, um terno por cima da camisa e um pequeno broche da Ravenclaw levemente ajeitado por cima do único bolso de seu terno.

— Como você está se sentindo? – Scorpius perguntou para ela – Aparentemente muito animada e pouco nervosa – ele disse sorrindo orgulhoso de minha irmã.

— Por Merlin, papai – eu falei chamando atenção dos três para mim – Ela está tremendo de nervosa – observei fazendo Lisa mostrar a língua para mim.

— Eu não estou nervosa – ela resmungou como uma criança.

— Oh, claro – falei segurando a risada – Você vai ser a melhor repórter investigativa do Profeta Diário – exclamei me aproximando de minha irmã – Afinal, você é uma Potter-Malfoy.

— E não há nada que uma Potter-Malfoy não faça direito – papai Albus falou com um sorriso nos lábios.

— Agora vá lá e mostre que você não entrou por conta de seu sobrenome, Potter – disse sorrindo e pisquei o olho para Lisa, dando um leve abraço nela.

— Obrigada, Eve – ela disse rapidamente e assim que se afastou de mim, abraçou papai Scorpius e lhe deu um sorriso – Até mais tarde.

Ela se despediu de nós e andou com papai Albus até a porta de casa, assim que eles sumiram pela porta, vi papai Scorpius me olhar com um sorriso no rosto. Seu sorriso era um pouco preocupado.

— O que houve? – perguntei semicerrando os olhos – A última vez que você me olhou assim foi para me dizer que eu não poderia mais jogar Quadribol.

— Oh, não – ele disse tentando amenizar sua expressão, o que me fez soltar uma leve risada – É que temos um jantar hoje.

— E... – tentei continuar por ele, fazendo-o suspirar.

— Será na casa de Louis e Lysander – ele falou por fim – Eu gostaria de saber se você quer ir.

— Logan estará lá? – eu perguntei, feliz ao ver que minha voz não soou como desespero.

— Eve, você sabe que não foi culpa de... – ele começou e eu revirei os olhos.

— Papai eu culpo Logan por muitas coisas, mas ele não conseguir conjurar o Patrono e ter petrificado... – eu suspirei e fechei os olhos – Eu não o culpo por isso.

— Ele estará lá – ele disse com um pequeno sorriso nos lábios.

— Talvez eu consiga falar com ele – murmurei, dando um gole em meu chá.

— Os Scamanders contam com isso – ele suspirou para mim – Logan se fechou para todos.

— Ele não deveria ter feito isso, ele não... – ouvi minha voz ficar fraca e senti a mão de papai Scorp em meu ombro.

— Você sabe disso e eu também, mas há pessoas que... – Malfoy murmurou – Amigos de vocês que acreditam que ele poderia ter feito mais.

— Eles não estavam na pele de Logan, eles não saberiam o que fazer também – o tom de minha voz partiu para raiva.

— Talvez você deva mostrar isso a eles – Scorpius suspirou – O fato de Logan não ter salvado você, não quer dizer que...

— Ele não fez tudo em seu alcance para tentar fazê-lo – completei a frase de meu pai e suspirei – Que horas iremos na casa dos Scamander? – perguntei tentando conter minha alegria por sair de casa e ver Logan.

— Sete horas da noite – ele me falou e eu sorri – Vá fazer suas coisas, eu arrumo aqui e vou para o Ministério – disse e levou seus lábios até minha testa, beijando-a rapidamente – Cinco horas estarei em casa com seu pai e sua irmã.

— Tudo bem papai – falei e comecei a andar até meu quarto, parei no meio do caminho e virei meu corpo, observando-o – Obrigada por tudo.

— Eu amo você, pequena Eve – ele murmurou com um sorriso nos lábios.

— Eu amo você, papai Scorpius – eu disse dando um sorriso e me virando novamente, começando a caminhar até meu quarto.

[...]

Bati a mão em minha calça pela quinta vez enquanto esperava Lisa ficar pronta.

— Você sabe que não é seu casamento, correto? – perguntei com os braços cruzados ao ver Lisa sair de seu quarto, terminando de arrumar seu vestido.

Ela me olhou com cara de poucos amigos e passou a mão em seus cabelos, dando um leve sorriso ao seu olhar no espelho – como se gostasse do que visse.

— Aparentemente é o seu – ela comentou.

— E por que seria? – indaguei fechando minha expressão.

— Porque você está com muita pressa – papai Albus falou com uma voz cheia de diversão.

— Ansiosa para encontrar alguém, Eve? – Lisa perguntou divertida – Talvez até resolver esse relacionamento estranho que vocês têm?

— Oh, cale a boca – murmurei irritada e andei até a porta da sala de casa, abrindo-a rapidamente – Eu odeio vocês.

— Não odeia – a voz de papai Scorpius se fez presente ao meu lado e ele sorriu – Nós somos a melhor coisa de sua vida, só depois vem o rapaz Scamander.

— Acho que nós estamos empatados com Logan – Albus disse sorrindo ao passar por mim e eu revirei os olhos.

— Vocês poderiam ficar quietos e não me fazerem passar vergonha na casa dos Scamander, sim? – eu perguntei tentando manter minha postura.

— Claro que podemos, pequena – minha irmã disse com a voz debochada ao passar por mim e segurar a mão de papai Albus – Vamos?

Observei meus pais e minha irmã fecharem os olhos e em questão de segundos eles não estavam mais em casa, peguei minha varinha e apontei-a para a porta, fazendo o feitiço de segurança ao tranca-la e deixei minhas mãos descansarem ao lado de meu corpo, fechei os olhos e pensei na casa dos pais de Logan, assim que os abri (depois de sentir os famosos puxões que somente aparatar fazia você sentir) pude observar a pequena casa dos Scamander, sorri ao ver que meus pais estavam entrando e andei rapidamente até eles.

— Eveline, querida – a voz de Louis Weasley-Scamander me chamou assim que passei pela porta da sala de entrada e eu lhe dei um sorriso antes de lhe dar um abraço rápido – Você está linda.

— Obrigada Louis – agradeci e caminhei até a sala de estar daquela pequena casa que eu conhecia tão bem.

Encontrei Charlotte e Francis conversando animadamente com Candice e Archie, sorri para meus amigos e me sentei na poltrona de canto. A poltrona de Logan. Dei um pequeno sorriso ao ver Ethel e Stacy sentarem-se no sofá ao lado da poltrona e começarem uma conversa animada com Celina, Dandelion e Claire.

Elijah, Lisa e Ethan conversavam em um outro canto e eu pude observar meus pais e os pais de Logan conversarem animadamente enquanto tomavam um pouco de vinho. Percebi meu olhar cair sob a porta de entrada, esperando Logan abri-la.

Por Merlin, você está sendo ridícula Eveline Malfoy.

— O que você acha, Eve? – a voz de Candice me trouxe de volta a realidade e eu lhe encarei sem saber o que era o assunto abordado – Você não acha que eles estão muito novos para casar? Mesmo que um seja o amor da vida do outro?

— Eu acho que... – comecei a falar e parei ao ouvir um barulho na porta.

Encarei a pessoa que passava por ela e pude perceber as olheiras profundas abaixo dos olhos de Logan, ele me observou e sua expressão fora um misto de felicidade e de surpresa, acenou a cabeça levemente para mim e cumprimentou meus pais, deixando uma garrafa de vinho na mão de Lysander após dar um beijo na bochecha de ambos os pais.

— Você estava falando? – Delacour perguntou, e percebi que era como se todos os outros estivessem ignorando a presença de Logan, ali.

— Eu acho que Lots e Francis sabem o que estão fazendo e que eles querem estar juntos – comentei, abaixando o meu olhar quando vi que Logan se aproximava e se sentava em um banquinho afastado de todos – E ninguém pode querer entender isso.

— Mas é muito cedo – Archie falou.

— Para você talvez – murmurei irritada – Não para os dois.

— Então você quer dizer que está tudo bem casar-se assim que saí de Hogwarts? – Candice perguntou novamente.

— Não Potter – eu falei e fechei os olhos irritada – Eu estou falando que cada um faz o que quiser com a merda de sua vida, e nenhum de nós pode julgar – reclamei e abri os olhos, observando o olhar assustado de Claire em mim.

— Nenhum de nós pode julgar? – a voz grossa de Logan perguntou com um certo receio e eu levantei meu olhar até o seu.

— Nenhum – eu murmurei, tentando dar um leve sorriso para ele.

— Eu julgo – Archie falou – Como você não conseguiu salva-la? – ele perguntou olhando para Logan.

Eu fechei meus olhos com raiva e pude ouvir Charlotte bufando de frustração, assim que abri os olhos vi Candice em pé e indo em direção ao seu primo.

— Como você não salvou ela? – ela perguntou – Eveline não era a pessoa que você mais amava? – sua voz se tornou mais alta – Isso não era o suficiente para você não estragar a vida dela?

Scamander se levantou e eu pude ver seus olhos lagrimejando, ele os fechou com força e direcionou seu olhar em minha direção.

— Me desculpe, eu... – ele começou a falar.

— Não peça desculpas por algo que você nunca vai poder mudar – a loira em sua frente gritou apontando o dedo em direção a ele.

— Candice – eu a chamei tentando controlar minha voz.

— Você é o culpado dos sonhos dela não se tornarem realidade – ela falou nervosa.

— POTTER! – eu gritei nervosa chamando a atenção dela para mim.

Vi Logan desviar seu corpo do dela e andar até a saída da sala, entrando no pequeno corredor que levava aos quatros, percebi que Francis iria até ele e eu neguei com a cabeça assim que ele me encarou (como se pedisse permissão para ir até Logan), dessa vez eu iria ajeitar tudo de uma vez.

— Pare de agir como uma louca que acha que a culpa de tudo isso é do Logan – eu falei tentando segurar as palavras que saiam de minha boca.

— Mas a culpa é dele – ela falou.

— Quem sabe de quem é ou não a culpa sou eu, quem deveria estar julgando alguém sou eu, a diferença é que ao invés de tirar conclusões precipitadas eu penso que o Logan Scamander que eu conheço desde pequena nunca, eu repito, nunca me deixaria cair daquela vassoura porque ele quis – comecei a falar e me levantei, andando até ela – E se vocês realmente se preocupassem e amassem o Logan saberiam assim como eu sei que ele nunca seria capaz disso, de me machucar ou de machucar qualquer um de vocês, nunca – suspirei e passei por ela, andando até o corredor – E Candice – a chamei antes de ir até o quarto de Logan – Você não estava no lugar dele e não sabe o que ele sentiu, não venha encher sua boca com palavras baixas quando na verdade você teria saído correndo e gritando como uma criança.

Terminei de falar e virei meu corpo novamente andando pelo pequeno corredor e descendo alguns degraus, virei pela primeira parte do corredor a esquerda e parei em frente a porta azul. A porta do quarto de Logan. Suspirei e dei algumas batidas na porta.

— Vá embora Nott – a voz embargada de Logan soou do outro lado da porta.

— Por seu azar não é o Francis – murmurei – E eu não vou desistir até você abrir essa maldita porta, Scamander.

O ouvi amaldiçoar alguma coisa e tropeçar em algo enquanto andava até a porta, ele a abriu enquanto passava a mão direita nos cabelos, bagunçando-os.

— No que posso ajuda-la, Eve? – ele perguntou tentando fazer sua voz soar normal.

— Eu quero conversar – disse simplesmente e o vi me encarar enquanto engolia seco.

— Sobre? – se fez de desentendido e eu revirei os olhos quando entrei em seu quarto e me joguei, com certo cuidado, em sua cama.

— Sobre você se martirizar – eu lhe respondi.

— Você não se martirizaria? – Logan perguntou após fechar a porta e dar alguns passos, deitando seu corpo ao lado do meu.

Parei um pouco olhando para o teto e suspirei pesadamente.

— Você sabe que sim – respondi em um sussurro – Mas eu não deixaria o que as outras pessoas falassem se sobressaísse ao que você falaria – disse por fim, virando meu corpo e encarando Logan que encarava o teto do quarto.

— Era seu primeiro jogo e....

— Era sua primeira missão – falei e levei minha mão até o cabelo dele, acariciando-os levemente.

— Enquanto eu tentava conjurar o patrono... – ele começou e fechou os olhos com raiva – Flashes de quando nós terminamos vinham em nossa mente – suspirou e abriu os olhos, virando seu corpo e deixando seu olhar cair sob o meu.

— Acho que teremos que trabalhar em suas memórias felizes – murmurei.

— Me desculpe – Scamander falou em um suspiro – Por ter tirado isso de você – o vi morder a bochecha – Eu sei o quanto jogar significava para você – disse dando um leve sorriso – Nunca era sobre seu avô Harry ou Draco, e sim por conta de sua avó Ginny – completou – Me desculpe.

— Eu te desculpo, Logan – lhe disse com um tom de voz mais sério e leve; e levei minhas mãos em seu rosto, acariciando ambos os lados do rosto do rapaz em minha frente – Eu só não te desculpo por não estar no Hospital quando eu acordei.

— Eu tinha que manter meu ponto – ele murmurou e deu uma risada leve ao encarar meu rosto sem sorriso – Eu não queria saber o estrago que eu tinha feito.

Balancei minha cabeça negativamente e dei um sorriso para Logan. O sorriso que ele facilmente tirava de mim em momentos assim. Levei meu corpo para cima do dele, e coloquei suas mãos em minha cintura. Ele arqueou a sobrancelha e eu revirei os olhos.

— Você quer fazer algo aqui? – ele perguntou tentando soar divertido.

— Eu quero que você me prometa que não vai mais me deixar sozinha – suspirei e o vi fechar os olhos – Meus pais e Lisa foram boas companhias, mas minha vida é um tédio sem você, Logan Scamander.

— Eu amo você, Eveline – ele disse com os olhos fechados – E eu tive medo de nunca mais te ter perto de mim.

Revirei os olhos novamente e deixei meu corpo ir de encontro ao dele, abraçando-o com o meu corpo por cima do seu, meus lábios foram em seu pescoço e deixei um leve beijo ali. Levei meus lábios até o queixo de Logan e mordi-o levemente.

— Eu amo você, Logan – murmurei e juntei nossos lábios rapidamente – E eu sempre vou estar aqui.

— E fico feliz que você sempre estará aqui – ele disse puxando-me para um abraço e apertando meu corpo contra o seu – Você não sabe quão feliz eu...

— Logan – o chamei, fazendo-o ficar quieto – Não estrague o momento, por favor – pedi antes de juntar meus lábios aos dele novamente, em um beijo urgente.