Progênie Maldita escrita por MarcosFLuder


Capítulo 15
Passado revelado


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, eu queria me desculpar sinceramente com os que acompanham essa história, por ter atrasado em uma semana a postagem deste capítulo. Não vou dar desculpas, embora possa afirmar que esse atraso nada teve a ver com qualquer negligência da minha parte, ou mesmo desinteresse pela história. A minha previsão inicial de que seria o último capítulo também acabou se provando errada, mas creio que já posso confirmar que o próximo efetivamente será o encerramento desta história. Daqui a 15 dias deveremos então ver o fim dessa jornada. Aproveitem a leitura.



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Eles viam tudo de longe, mas pelo menos para Tom ainda era uma visão impressionante. Foram vários minutos onde a poeira ocultava tudo, embora o estrondo pôde ser ouvido por todo o bairro. O prédio desabara em menos de um minuto e todos escaparam por um triz de estarem sob toneladas de escombros. Estavam no alto de um prédio vizinho, protegidos por um feitiço de invisibilidade, enquanto viam a movimentação que ocorria ao redor do terreno onde agora se amontoavam madeira, concreto e vidro. Era possível ver um grupo de Trouxas, vestidos em uniformes vermelhos, mexendo com muito cuidado no local. Uma espécie de cercado fora feito por outro grupo de Trouxas, com uniformes diferentes, mantendo o restante da população a uma boa distância.

            Tom mal ouvia o bruxo, que sabia ser um Auror, falando para ele, encantado que ainda estava com o resultado do feitiço de Grindelwald. Ele não o ouvira recitar qualquer palavra, mas sabia que o desabamento tinha sido obra sua. A melhor forma de escapar do cerco que fizeram contra ele. O jovem aluno da Sonserina ainda podia ouvir o desespero dos outros bruxos na hora do desabamento. Apenas um deles soube o que fazer. Sua relação com Dumbledore só agora Tom descobrira. Nos breves segundo em que tudo ocorrera, ainda foi capaz de ver o seu odiado professor se recuperar dos efeitos da luta contra Grindelwald. Foi trabalhando juntos que ele e seu parceiro garantiram o tempo necessário para que todos pudessem sair a salvo do lugar.

— Eu não vou perguntar outra vez meu jovem – a voz do bruxo que se dirige a Tom é irritante, mas não se compara ao que sente ao ver quem decide intervir em seu favor.

— Está tudo bem, Clarence – Dumbledore se dirige ao outro bruxo – esse rapaz é meu aluno em Hogwarts.

— Eu preciso saber o que ele estava fazendo aqui, Alvo. No mínimo preciso entrar em contato com os pais dele – disse o homem.

— O rapaz é órfão – Tom corou ao ouvir a resposta de Dumbledore, para depois ferver em ódio ao notar o olhar, agora penalizado do bruxo – eu creio que terei de responder por ele.

— Está tudo bem Alvo, mas e quanto aos dois ali? – Clarence aponta para Adam e Ivy, os dois sentados juntos, olhando, ela principalmente, assustados em volta, enquanto permaneciam abraçados – o que vamos fazer com eles?

— Não tenho a menor dúvida que você saberá tomar as melhores providências a respeito dos dois – Dumbledore respondeu – do rapaz aqui pode deixar que eu mesmo cuido.

            Tom sabia que nada havia a fazer. Embora em seu interior ele estivesse cheio de ódio por estar nas mãos de Dumbledore, tinha a consciência de que não poderia contrariá-lo. A simples idéia de ser expulso de Hogwarts o deixava apavorado. Precisava deixar claro ao seu odiado professor que fora apenas uma vítima das circunstâncias. Ele deu uma última olhada em Ivy, que sorriu para ele de longe. O jovem bruxo desviou o olhar, não poderia, de forma alguma, dar qualquer demonstração a Dumbledore do que estava sentindo naquele momento. A idéia de que ele percebesse a sua fraqueza por aquela Trouxa o repugnava, mais até do que assustava.

— Está tudo bem com você, Tom? – Dumbledore interrompe os seus pensamentos.

— Sim senhor, eu estou bem – Tom deu o seu melhor para parecer humilde diante dele – eu só gostaria de explicar...

— Não precisa explicar nada agora – Dumbledore o interrompeu. Tom viu outro bruxo se aproximando.

— Podemos ir agora? Não creio que aja mais nada a fazer aqui.

— Você tem razão Flamel – Tom ouviu Dumbledore responder ao outro bruxo – a essa hora ele já deve estar longe da Inglaterra.

— E o garoto? – o bruxo que Tom agora sabia chamar-se Flamel olhou para o jovem, ainda que sem demonstrar grande interesse.

— Eu preciso resolver a situação dele – Dumbledore respondeu – creio que já sei o que fazer.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

            A imponente visão do castelo ainda era capaz de fazê-lo olhar com admiração, mas nem de longe causou o mesmo impacto da primeira vez. Embora a construção fosse impressionante, era um olhar mais calculista que movia a atenção de Tom. O jovem bruxo mapeava os lugares, contava as torres, procurava memorizar cada característica específica das janelas, ao mesmo tempo em que verificava suas localizações. O pequeno barco onde estava lhe permitia visualizar as sombras que se projetavam da imponente construção. A mente dele, no entanto, não se preocupava com os momentos de lazer nos dias de sol, e sim a melhor forma delas lhe permitir transitar sem ser visto. Era um claro final de dia, ao contrário da outra vez, quando chegaram já de noite. O sol ainda não estava se pondo, suas luzes banhando as paredes sólidas.

Havia mais três outros alunos no barco, todos da Sonserina como ele, os quatro tendo passado juntos pelo chapéu seletor no ano anterior. Dessa vez o clima era mais amistoso, pois Tom Ridlle Jr. não era mais o pobre órfão criado entre os Trouxas, que chegava para o seu primeiro ano na escola. Agora ele era o aluno que ganhara a admiração de seus colegas e dos professores, quase todos pelo menos. Os três jovens alunos da Sonserina que olharam para ele com desconfiança, e um certo desprezo, na primeira vez, agora o viam como alguém a ser seguido. Em seu primeiro ano na escola, Tom não soubera aproveitar tal situação. Mas agora estava ele aqui, o aprendizado que tivera na sua volta ao orfanato, a experiência que vivenciara, tudo isso, ele podia ver agora, lhe seria de grande utilidade nesse segundo ano em Hogwarts.

Ele passara as últimas semanas hospedado num quarto no Caldeirão Furado, seus dias se limitando a circular pelo Beco Diagonal. O tédio só não foi pior que os momentos em que teve de lidar com Dumbledore e as perguntas sobre a razão dele estar envolvido no conflito dele com Grindelwald. Tom precisou ser muito cuidadoso em suas respostas. Ele sabia que não poderia ser totalmente inocente na história que contou ao seu odiado professor. Ao final de tudo, a sua versão de que teria sido obrigado a participar dos roubos sob a coação de Adam ganhou credibilidade, até mesmo por não ser totalmente inverídica. Tom sabia que Dumbledore desconfiava que havia muito mais nessa história, que certamente ainda ficaria de olho nele, mas nada mais pôde fazer além das recomendações que o jovem aluno da Sonserina ouviu por pura formalidade. Ainda assim, o jovem órfão chegava em Hogwarts sabendo que teria de tomar muito cuidado com seu professor de Transfigurações, ao longo do ano letivo.

MESES DEPOIS

            Era difícil acreditar que o segundo ano de Tom em Hogwarts passara tão depressa. Ele seguia pelo corredor do expresso de Hogwarts, buscando a cabine onde normalmente ficava com seus colegas da Sonserina. Sua caminhada era feita com segurança, os outros alunos, até mesmo alguns mais velhos, lhe abrindo passagem com um temor quase reverente. O rosto não expressava qualquer sentimento, mas em seu interior, sentia-se muito feliz. Aquele tinha sido um ano muito proveitoso, de grande aprendizado e experiências. Foi a ano em que realmente começou a formar sua rede de seguidores, aquele que o viam com seu líder inconteste.

Ao longo do ano letivo, esse grupo que ele selecionou com todo o cuidado, circulou pelo castelo como uma sombra ameaçadora. Eram jovens que queriam divertir-se às custas dos outros, mas para Tom havia muito mais do que isso. O que para os outros eram brincadeiras de mau gosto divertidas, para o jovem órfão eram os seus primeiros experimentos. Seus primeiros contatos reais com o poder. Tom os manteve sob controle, enquanto praticavam azarações, provocavam pequenos incidentes. Era preciso tomar muito cuidado para evitar os excessos que poderiam denunciá-los, principalmente à vigilância de Dumbledore. Era uma forma também de Tom testar o seu próprio controle sobre o grupo, o que ele teve de fazer em algumas oportunidades, quando sua liderança chegou a ser desafiada. Nas poucas vezes em que isso ocorreu, ele soube dar conta da situação, até que os desafios cessaram de vez.

No entanto, nem tudo correu como ele quis neste segundo ano de Hogwarts. Mais uma vez Tom vasculhou a escola em busca qualquer vestígio da presença de seu pai em Hogwarts. Nada ter sido encontrado, era uma grande frustração para ele, algo com o que estava tendo dificuldade em lidar. Nenhum dos professores com quem conversou se lembrou de qualquer Tom Ridlle que tenha estudado em Hogwarts antes dele. Muito a contragosto, ele foi obrigado a admitir que era mesmo filho de um Trouxa. Agora mais do que nunca, o jovem aluno da Sonserina estava determinado a saber quem de fato fora a sua mãe.

            Esse pensamento foi deixado de lado ao entrar no vagão onde ficavam os alunos do segundo ano da Sonserina. Seus três outros colegas já estavam acomodados, alegres e falantes, mas se calaram ante sua entrada. Era uma sensação muito boa esse temor que causava. Tom sentou-se junto a eles, perguntando o motivo da alegria, não que estivesse curioso, muito longe disso. Era apenas uma forma de puxar assunto, conhecer mais aqueles garotos da mesma idade que ele, os três de famílias ricas e importantes do mundo bruxo, todos sangue-puros. Era para Tom ser um brinquedo nas mãos deles, certamente era o que pretendiam que ele fosse, no início do primeiro ano de todos em Hogwarts, mas isso ficou no passado. Todos ali o temiam, o respeitavam e o admiravam. Mais importante de tudo para o jovem órfão, todos ali aceitavam a sua liderança sem contestação.

            Nada disso, entretanto, aconteceu de imediato. Em seu primeiro ano, Tom teve de lutar contra o estigma da orfandade, de ter sido criado num orfanato de Trouxas, além da visível pobreza, num meio repleto de filhos de famílias ricas de sangue-puro. Não fosse as extraordinárias habilidades mágicas, desde o início reveladas, sua incrível facilidade para assimilar o aprendizado de feitiços, principalmente azarações, ele estaria em maus lençóis. Ainda assim, seu primeiro ano em Hogwarts não fora nada fácil. O mesmo não poderia ser dito do segundo ano, graças principalmente ao que aprendera na convivência com Adam e na experiência com Grindelwald. Ao mesmo tempo, ele também teve de lidar com descobertas inesperadas sobre si mesmo.

Houve muita coisa para manter Tom ocupado em Hogwarts, ao longo do seu segundo ano. As aulas, a convivência com os colegas, suas primeiras experiências formando um grupo de seguidores, até mesmo o cuidado para se manter longe da vigilância de Dumbledore, tudo lhe ajudou a manter Ivy longe de seus pensamentos. Apenas durante a noite, com ele sozinho em sua cama, é que a visão da jovem ameaçava dominar sua mente, e seus sonhos. A lembrança daquele rosto simetricamente perfeito, o sorriso que lhe era dirigido com constância, os toques dela, aquele momento, depois dela ter beijado os outros dois, quando se encaminhara em sua direção. Tudo aquilo passara a povoar suas noites na escola, levando-o a explorar seu corpo de um jeito que não imaginara ser possível.

            As lembranças daquelas sensações ainda estavam frescas em sua mente, por mais que ele tentasse suprimi-las. O vazio e a sensação de náusea, depois de tudo o que fazia consigo mesmo, deixava Tom irritado, inconformado com o que considerava uma terrível fraqueza da sua parte. Toda a manhã, sempre que acordava, ele se prometia não sucumbir mais a esses momentos de descontrole, mas voltava a fazê-lo na noite seguinte, incapaz de resistir à lembrança dela, aos sentimentos e desejos que ela despertava nele. A partir de determinado momento, todas as suas noites se tornaram preenchidas pelas fantasias que sua mente criava, e os dias pelas lembranças de tudo o que vivera na noite anterior.

Tom queria muito convencer a si mesmo que a decisão de explorar o castelo durante a noite tivera um motivo prático da parte dele. No entanto, ele sabia muito bem que era apenas uma forma de manter seus pensamentos longe dela. Ocupar sua mente com algo que o mantivesse longe das sensações e desejos que ela lhe despertava, cansando seu corpo para dormir um sono sem sonhos, assim que deitasse na cama. Ele queria mesmo conhecer aquele castelo, explorá-lo, mas queria também não permitir que suas noites fossem tomadas por fantasias tolas, anseios indesejados, desejos que ele sabia, não conseguiria controlar. Inicialmente explorou o castelo sozinho, mas outros logo se juntaram a ele. Tom era destemido, não se deixando intimidar pelos corredores escuros, pelas ameaças feitas aos alunos que ficavam fora dos dormitórios após o horário permitido. Tudo isso reforçou ainda mais a liderança que firmara entre seus colegas, alguns deles até mais velhos.

            O segundo ano terminara e já não havia mais dúvida, naquele vagão repleto de garotos orgulhosos de sua origem bruxa, da riqueza de suas famílias, de que, apesar de tudo isso, todos ali se submetiam a liderança de um jovem órfão criado entre os Trouxas. Tom sentia-se muito feliz com isso, uma sensação de muito orgulho tomando conta dele. Olhando para os seus colegas, que ele agora via mais como simples seguidores, o jovem órfão conseguia vislumbrar um futuro que entendia ser o seu por direito. No entanto, ele sabia que havia situações em sua vida que precisavam ser resolvidas antes. Por esse motivo ele, ao contrário do ano anterior, ansiava pela sua volta ao orfanato onde fora criado.

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            A visão do velho sobrado despertou nele um sentimento diferente do que tivera no ano anterior. Não era mais um órfão inconformado que voltara de Hogwarts para passar o seu período de férias num lugar que desprezava. Tom queria estar ali, não por qualquer sentimento de pertencimento ao lugar, algo que nunca teve. Ele buscava respostas sobre sua mãe. Reconhecer o fato de que seu pai fora um Trouxa o obrigava a admitir que ela fora uma Bruxa, pois se recusava a aceitar ser o que seus colegas de Hogwarts chamavam de Sangue-Ruim. O simples fato de ter de se admitir como um mestiço já era desagradável para ele.

Havia mais uma coisa também, algo que ele relutava em admitir para si mesmo, que ele buscava reprimir sempre que surgia em sua mente, mas que, para sua irritação, sempre retornava. Era uma sensação que cresceu quando se viu de frente para a entrada do orfanato. Dessa vez a senhora Cole não veio recepcioná-lo à porta. O jovem aluno da Sonserina teve que sozinho abrir o portão e caminhar pela estreita calçada que levava a porta de entrada do grande sobrado onde nascera. Ele o fez com a segurança que cada vez mais se tornava uma segunda natureza nele. Entrou na casa, ouvindo o som abafado de vozes bem jovens.

— Veja só quem voltou – a voz da senhora Cole continuava a mesma para Tom – de volta da sua escola chique que ninguém sabe direito onde fica.

— Como vai senhora Cole? – a voz de Tom soa o mais suave, educada e gentil possível.

— Você pode se reunir aos demais no grande salão, enquanto esperam o jantar – ela responde, fazendo menção de se virar e ir.

— Um momento por favor, senhora Cole – Tom a vê se voltando, no rosto uma expressão ao mesmo tempo curiosa e não muito simpática.

— É bom que não seja nenhuma bobagem sua, Tom. Eu tenho mais o que fazer.

“Beber outra garrafa de whiscky, com certeza”, Tom pensou, mas escondeu esse pensamento atrás de um sorriso.

— Se não se importar, eu gostaria de saber o que a senhora pode me dizer sobre a minha mãe – Tom viu o olhar da senhora Cole sobre ele, era visível a sua confusão e surpresa.

— Me procure após o jantar e eu lhe direi tudo o que sei – ela manteve o olhar desconfiado enquanto se virou, assim que terminou de falar, mal dando a Tom a chance de fingir-se agradecido.

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            Ele entrou no salão onde os órfãos ficavam, os olhos espreitando em volta, visualizando os grupos, não que procurasse onde se encaixar, mas querendo encontrar um lugar onde pudesse ficar isolado. Uma cadeira estava localizada junto a uma janela, ninguém sentado nela. Tom tratou de acomodar-se enquanto ouvia a algazarra do lugar. As vozes adolescentes o irritavam. Os graves e agudos que formavam uma grande cacofonia no ambiente o distraiam de uma forma que considerava desagradável. Os olhares sobre ele mal demoraram os poucos segundos que lhe permitiu retribuir com sua total indiferença. O jovem aluno da Sonserina sentia mais uma vez que aquele lugar não lhe dizia nada. Uma parte dele queria estar longe dali, mas outra parte ardia pela curiosidade de vê-la mais uma vez.

            Tom olhou em volta com discrição, mas não a viu em lugar algum. Em verdade, notara também que não havia nenhum garoto mais velho que ele no lugar, nenhum sinal de Adam e dos outros dois, cujos nomes nem mesmo se esforçou para tentar lembrar. Por mais que odiasse admitir, ficara frustrado por não vê-la. Nos minutos seguintes não foi capaz de resistir em olhar para a entrada do salão, esperando vê-la entrar como no dia em que a vislumbrou pela primeira vez. Mas ela não entrou. A ruidosa alegria em volta dele o irritava ainda mais, queria que parassem, mas nada havia que pudesse fazer, pois o impedimento de usar mágica fora da escola era algo que ele não se atrevia a burlar.

— Está procurando por ela? – a voz aguda o tirou de seus pensamentos. Tom olhou para a jovem diante dele, reconhecendo Amanda Benson de imediato – ela e os outros três garotos maiores foram todos embora do orfanato, no mesmo dia em que disseram que você ficaria o restante das férias com um parente distante.

— Foram embora para onde? – Tom procurou disfarçar sua ansiedade por respostas, congratulando-se consigo mesmo por sentir que conseguira.

— Ninguém sabe, certamente para um orfanato com garotos e garotas da idade deles – Carlinhos se aproximou dos dois, mas nada disse, apenas olhando Tom de forma desconfiada.

— A senhora Cole deve saber – Tom respondeu.

— E porque ela lhe diria? – Carlinhos rompera o seu silencio, Tom notou uma mistura de agressividade e zombaria na forma como falou – ela não contou para nenhum de nós, apenas nos comunicou disso.

— Algum de vocês por acaso perguntou pelo sumiço deles, ou do meu? – Tom se levanta, um gesto que faz os dois recuarem com discrição.

— Estávamos todos muito aliviados para nos preocupar com isso – Tom não saberia dizer se Carlinhos estava falando dele ou do grupo de Adam.

***********************************

            Tom caminhou até o escritório da senhora Cole logo após o jantar. Ele procurava manter uma postura de absoluta calma, mas por dentro havia muito nervosismo nele. O jovem aluno da Sonserina não saberia ao certo dizer se esse nervosismo era sobre como reagiria ao descobrir a verdade sobre sua mãe, ou se teria coragem de pedir informações sobre Ivy. Uma parte dele queria esquecer a jovem trouxa, esquecer que conhecera Adam e tudo o que viveram no ano anterior. Mas ele sabia que era inútil negar, ainda mais a si mesmo, o que toda aquela experiência lhe representava.

            Nada disso importava agora, não enquanto caminhava até o escritório de uma Trouxa bêbada, de moral muito elástica. O jovem aluno da Sonserina bateu na porta com um pouco de hesitação, irritado consigo mesmo por isso. Ele respirou fundo enquanto esperava a porta abrir. O coração dele batia acelerado quando a senhora Cole lhe permitiu acesso ao escritório de onde dirigia o orfanato. Havia um meio sorriso nos lábios dela, algo que Tom não sabia definir, se era caso de ficar contente ou assustado. O jovem órfão entrou no escritório. Por um breve instante procurou se lembrar de quando entrara ali pela última vez, mas nada vinha a sua cabeça sobre isso.

— Sente-se Tom – não havia exatamente gentileza na forma como ela o convidou, mas Tom sentou-se assim mesmo – eu não quero perder muito tempo com essa conversa, então vou logo falando sobre sua mãe.

— Obrigado pela atenção senhora Cole – Tom queria que ela o visse da mesma maneira que a maioria dos professores de Hogwarts o via, mas havia um quê de Dumbledore nela, pois a senhora Cole sempre olhava Tom com desconfiança.

— Não havia documentos com ela, mas sua mãe nos disse o seu nome antes de morrer – a senhora Cole não perdeu tempo com rodeios, tratando logo de começar a contar o que sabia. Essa objetividade agradava a Tom – tudo o que sabemos sobre ela e seu pai é o que a pobre mulher nos contou pouco antes de morrer.

— O que ela contou? – Tom não conseguiu evitar a ansiedade ao perguntar, mas deixou isso de lado naquele momento.

— Ela nos disse o seu nome, falou algumas coisas desconexas sobre uma relíquia de família que teria vendido, e claro, sobre o seu pai – a senhora Cole interrompeu a narrativa para tomar um gole de whiscky, mas logo voltou a falar – o seu nome já indica como o seu pai se chamava. Ela não disse mais nada sobre ele além disso, embora fosse visível que ela falasse dele com grande paixão.

— Meu pai se chamava Tom Ridlle, eu sei, procurei por vestígios da passagem dele pela minha escola, mas nada encontrei – Tom disse – achei que fosse por causa dele que ganhei o direito de estudar lá – um grunhido leve foi tudo o que a senhora Cole disse.

— O seu nome completo é Tom Servolo Ridlle Jr. – a senhora Cole continuou a falar, depois de mais um gole de whiscky – o Servolo, segundo ela, era o nome do seu avô materno. Servolo Gaunt. O que significava que Gaunt seria então, o sobrenome de solteira de sua mãe, o nome dela, aliás, era Merope. Ela mesmo fez questão de dizer que seu nome completo era Merope Gaunt, o que indicava que ela e seu pai não eram casados.

— Gaunt? – Tom ignorou completamente o tom de julgamento da senhora Cole, ao se referir ao estado civil de sua mãe. O que chamara a sua atenção de verdade era o sobrenome Gaunt dela. Esse nome de família não era estranho a Tom, mas ele não lembrava de onde o vira, ainda que estivesse certo que fora das inúmeras pesquisas que fez em Hogwarts, mas em busca de vestígios de seu pai. Outra informação também o intrigara – a senhora falou sobre uma relíquia de família.

— Foi algo que sua mãe disse pouco antes de morrer – Tom notou no rosto da senhora Cole a incredulidade dela sobre essa informação – me pareceu um delírio, pois ela se referiu a algo que teria grande valor e que fora obrigada a vender. Ela disse que era uma espécie de medalhão e citou alguns nomes que não consegui entender, coisas como “Burke” e “Travessa do Tranco”.

            Eram informações desconexas para a senhora Cole, mas para Tom pareciam ser preciosas. Ele certamente teria muito a fazer com elas. Agora mais do que nunca queria estar em Hogwarts, verificar na biblioteca todos os livros que consultou, achar o nome Gaunt que agora o intrigara. Ainda é difícil para ele aceitar que sua magia vinha de sua mãe fraca, mas não havia muito o que pudesse fazer em relação a isso. Um novo grunhido, dessa vez mais alto, da senhora Cole, o desperta de seus pensamentos. Tom se dá conta que nada mais há para ser contado e trata de ir embora. Em sua mente agora, apenas um objetivo, descobrir sobre a família de sua mãe, e o que tanto lhe chamou a atenção no sobrenome Gaunt.


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Notas finais do capítulo

É isso ai pessoal, creio que daqui a 15 dias a nossa jornada se encerra. Nos vemos lá.